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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ativos no México ... tsc tsc tsc


A imprensa é useira e vezeira em fornecer informações incorretas ao leitor. 
O problema é que a gente só percebe quando entende do assunto.

Veja a manchete de ontem no Estadão on-line.

Eis um erro recorrente. Há 3 anos, a UOL fez uma reportagem que me fez mandar-lhes uma carta (neste link) em que se cometeram os mesmos erros (erros 1 e 3 da carta). Só que agora é o Estado de São Paulo, muito mais grave. Aliás, transcrevo aqui a carta, até  porque as explicações são as mesmas.

QUOTE
"Britânicos acham poço gigante de petróleo em área da Petrobras no México"

Caros amigos da UOL,


A manchete sobre a descoberta da Petrobras no Golfo do México veiculada no UOL on line tem erros imperdoáveis a uma página de notícias respeitável, a saber:

1. Não foram 'os britânicos' quem 'descobriram' seja lá o que for, mas sim um consórcio de três companhias de petróleo (conhecido como 'Joint Venture') operado por uma delas, a britânica BP; aliàs, há muito que a razão social da BP não é mais British Petroleum, como consta do corpo da mensagem, mas sim apenas BP, como está na nota da Petrobras;


2. Não é 'O POÇO' que é gigante, amigos. A nota da Petrobras dizia que o poço descobriu indícios de que se trata de um CAMPO gigante.

3. Finalmente, apesar de o Golfo ser 'DO MÉXICO', ele banha também outros países, e a descoberta foi feita na porção AMERICANA do Golfo do México, não sendo portanto 'NO MÉXICO', e sim, nos Estados Unidos. Ademais, nem a Petrobras nem nenhuma outra empresa de petróleo tem áreas de exploração no México. A constituição daquele país proíbe a participação de empresas estrangeiras no setor.

Sinceramente, a manchete apresentada chega a ser constrangedora.

UNQUOTE

E aqui, na de hoje, a manchete e o texto colocam acento em Petrobras, coisa que foi eliminada há mais de 10 anos.... 

Homerix Revoltado com Educação Ventura

13 comentários:

  1. Pois é, Homerix, sou um admirador da nossa imprensa, mas quando vemos tanto erro em notícia de assunto do nosso domínio, ficamos em dúvida quanto à credibilidade das demais ... Abraço, Camargo

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  2. Algum tempo atrás, cancelei assinatura do jornal O Globo, devido a uma série de erros nas informações veiculadas nesse jornal, principalmente relacionadas à Petrobras.

    Itamar

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  3. Inteira razão, Homerix. Há alguns anos, ocupei uma função que me colocou num 'spotlight' de certa importância (meus famosos 15 minutos de fama...) Na época, dava muita entrevista aos jornais e NUNCA, NUNCA o que publicavam tinha qualquer remota semelhança com o que eu havia dito...

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  4. Homero, finalmente levantou um assunto que ja ate cansei de explicar!

    Nao me refiro ao Mexico, GoM, 'descobrir pocos' etc. Estou me referindo à BP.

    Quando ainda estava na INTER, por mais de uma vez, em DIP e press release, me obrigaram a alterar BP para British Petroleum. Mesmo explicando que nao estava correto, fui voto vencido.

    Para ter certeza, busquei na internet e conversei com pessoas da BP (inclusive o Shafe, que vc conhece).

    Enfim, feliz de saber que mais alguem se importa com esses "detalhes".

    O proximo "detalhe" que torco para nao ver mais escrito em documentos internos é Petrobrás. Mas esse buraco ja eh mais embaixo...

    Um abraco,

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  5. Homerix,

    Dado que o Golfo do México (GoM) é uma região geográfica compartilhada entre o México, os EUA e Cuba, é melhor dizer setor mexicano do GoM, setor americano do GoM e setor cubano do GoM, respectivamente. Simples assim, sem confundir.

    Por vezes a culpa é do técnico que cria expressões que dificultam a compreensão pelo público, a exemplo da tal de "lâmina d´água" (SIC), em conflito com o conceito que as pessoas têm de lâmina, como algo delgado. E num poço de 6000 m, em que 1/3 seja de água, por exemplo, na cabe a lâmina. E já li até mesmo excrescências como "espelho d´água" (SIC, SIC, SIC). Cabe registro, também, quanto à forçada aplicação do termo xisto, que é uma rocha metamórfica, para a rocha sedimentar argilosa (folhelho em português) portadora de querogênio (kerogen shale, que é explotado em São Mateus, na Bacia do Paraná) que quando convertido no tempo geológico em hidrocarbonetos pode ser produzido como shale gas ou shale oil, exitosos como o Barnett e Bakken, nos EUA. Chamar de xisto uma rocha sedimentar dessas é um erro técnico, cujo uso no Brasil está consagrado pela distração ou pela falta de conhecimento. Os jornalistas não têm culpa nestes casos.



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  6. Estimado Homero ,
    - Percebemos estes " enganos " pois são fatos e informações que conhecemos bem , ou pelo menos temos mais informações; agora imagine o que "engolimos" de coisa errada dos assuntos que temos menor domínio ou informações ! ! !
    Um forte abraço !
    Mauri

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  7. Terminei meu curso de Engenharia de Petróleo em 1986 e, como passei a conhecer o assunto, comecei a perceber nas notícias vários erros como estes que você relatou.
    Na verdade, percebi que em TODAS as notícias sobre petróleo eu era capaz de identificar algum erro.
    Desde erros bobos, como o que você relatou, em que o repórter descreve a "descoberta de um poço" em vez de campo até "erros" propositais, notícias plantadas para fazer subir a bolsa ou derrubar ministro.
    As mais comuns são:
    A descoberta de poços: provavelmente escondidos desde a era dos dinosauros e achados por sorte por algum petroleiro;
    Confundir vazão com reserva: "no poço descoberto estima-se uma produção de 5 bilhões de barris por dia" (!!!)
    Misturar poço, campo, plataforma;
    Confundir números. Qualquer coisa terminada em ÃO é apenas uma quantidade enorme. Milhão, bilhão, trilhão, aparentemente é a mesma coisa. E isso tabém serve ao exagero na notícia. Reportar um vazamento de 3 mil m3 não tem o impacto de 3 milhões de litros, embora seja exatamente a mesma coisa.
    A maioria desses erros é imperdoável pois a informação correta não requer saber Engenharia de Petróleo, basta saber o significado das palavras em português, que é a ferramenta de trabalho do jornalista.
    Há uns 4 ou 5 anos, um gerente da Petrobras fez uma apresentação na Rio Oil&Gas sobre unitização. O assunto estava "em moda" por conta das incertezas na mudança do regime de concessão para partilha no pré-sal. Este sim (unitização) é um termo bem específico da indústria petrolífera e se refere ao acordo necessário entre empresas produtoras, detentoras de blocos sob os quais existe um mesmo reservatório, para poder explorá-lo conjuntamente.
    Pois no dia seguinte sai a notícia: o gerente "XYZ" da Petrobras palestrou sobre unitização, que é o processo pelo qual cargas de diferentes naturezas são acondicionadas e embarcadas num mesmo container (!!!). É o que está no dicionário e é um termo também usado no setor de transporte marítimo!
    COnclusão: o jornalista nem se deu ao trabalho de assistir à palestra. Pegou o título da apresentação e foi ao "pai dos burros" saber o que era unitização.
    Se eu consigo identificar erros em TODAS (essa estatística continua até hoje) as matérias de uma área de conhecimento que eu conheço, porque o resto do jornal seria diferente?
    Assim cheguei à conclusão que para ler as notícias, basta ler as manchetes para saber que alguma coisa está acontecendo em torno daquele assunto, não necessariamente o que está escrito. Para saber com maior precisão é preciso pesquisar...
    Segunda conclusão: não dá pra confiar em notícias que tenham números. Porcentagens então, nem pensar. Já vi notícia dizendo que "no período, os trabalhadores tiveram perda salarial de 130%". Como assim? além de perderem o salário todo ainda pagam aos patrões 30% do que recebiam para poder continuar trabalhando?
    Só há 3 números confiáveis num jornal: a página, o preço e a data.

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    1. Prezado Fernando Nagle, estou prá dizer que nem no número da página dá prá confiar. Tempos atrás , num periódico aqui da Regiao de Macaé, a página 5 "não existia" e com a 6 houve duplicidade.

      Um abraço,

      Flávio Kneipp

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  8. Tenho muito medo da seção "saúde e ciência" nos jornais e revistas.

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  9. Outro caso estranho foram as reportagens sobre o acidente com voo 1907 da Gol que caiu na Amazonia matando seus 154 ocupantes.
    O estranho no caso foi o tratamento dado pela mídia para relatar o acidente: o Boeing 737 da Gol foi atingido por um jato Legacy 600 da Embraer.
    Ora, o Boeing era da Gol, mas o Legacy, fabricado pela Embraer, era da ExcelAir.
    Na maioria da reportagens o nome da empresa americana foi omitido, só aparecendo as empresas brasileiras Gol e Embraer.
    Para a manchete ficar coerente deveria ser "um choque entre um 737 da Boeing e um Legacy da Embraer" ou "entre um Boeing da Gol e um Legacy da Excelair".
    Erro de lógica e coerência dos jornalistas ou omissão proposital?
    Tive que pesquisar bastante no Google para descobrir a ExcelAir.

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    1. Infelizmente, acredito que a 2ª opção tenha sido a escolha neste caso.

      Flávio Kneipp

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  10. Alessandro Gomides3 de maio de 2013 às 14:36

    Imagino que para outros assuntos sobre os quais não temos maior conhecimento, também haja gente especializada dizendo o mesmo: "como podem confundir celulose de eucalipto com celulose de pinho!, as aplicações são completamente diferentes!". Mas, em não se tratando de imprensa especializada, devemos mesmo esperar informações precisas? Para o leitor médio, talvez não faça lá tanta diferença se é poço ou é campo, ou se é México ou EUA. Sei lá!

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  11. Prezado Homerix, antigo tema de cafezinhos nossos, em nossa Companhia, incluindo aquela lenda de que a Glória Maria, ao visitar a nossa UO-BC, perguntou onde se "encontravam os barris boiando no mar". Coisa exagerada, obviamente, além de preconceituosa...Mais uma belíssima aula de nosso amigo João! Só discordo do final: na maioria dos casos, os jornalistas têm culpa sim, e deveriam estudar um pouco mais, fazendo os seus respectivos "deveres de casa"...Parabéns por mais um excelente e polêmico tema abordado! Saudações cruz-maltinas ! A2.
    p.s.: em tempo, parabéns à grande torcida por mais um vice carioca do grande rubro-negro!

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