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quarta-feira, 30 de março de 2022

O Oscar - Antes - Durante - Depois

 OSCAR 2022

3 Visões


Antes da cerimônia

Posicionei meu distanciamento, em alguns grupos.

Essa pandemia me fez perder o pique do cinema…

Costumava ver muitos dos filmes candidatos e fazer minhas resenhas.

A melhor cobertura de todas foi justamente a de 2020, logo antes da pandemia.

Asssisti a todos os candidatos e fiz resenhas para 13 filmes!

Fiquei orgulhoso…

Quem tiver curiosidade, deixo aqui…. O post dá acesso a todas elas!

https://blogdohomerix.blogspot.com/2020/01/ifoidadalargadaparuoscardoismilivinte.html

O de 2021 foi um fracasso

Neste ano, vi apenas dois filmes:

Não Olhe Para Cima e King Richard

O primeiro, uma sátira política sobre fake news, o último, baseado em fatos reais.

O Oscar Homerix vai para este último. 

Sensacional a história do pai das tenistas Venus e Serena Wiliams, a obsessão dele pela carreira delas, as lutas sontra o preconceito. E Will Smith está perfeito. Como não vi mais nenhum candidato a Melhor Ator, o Oscar Homerix vai também para ele!!

E premia uma ótima carreira…. Já concorreu duas vezes, uma na pele de Muhammad Ali e outra no Em Busca da Felicidade. Merecia nas duas.


Durante a cerimônia

Um momento me arrepiou sobremaneira.

E anunciei em algumas redes…

O Oscar celebrou os 60 anos de 007!!

Criaram uma sensacional montagem de cenas dos 25 filmes e, digam-me, qual música escolheram para fundo?

Live And Let Die, de Paul McCartney, tema do primeiro filme de Roger Moore, de 1973!! 

Neste LINK, a sensacional homenagem!

Um grande dia para mim, fã visceral dos fenômenos Bond e Beatles, que vieram ao mundo exatamente no mesmo dia: 5 de outubro de 1962.

Claro que escrevi sobre essa coincidência cósmica!

https://blogdohomerix.blogspot.com/2010/12/5-de-outubro-de-1962-que-dia-1998.html

E a canção do Bond 25, Sem Tempo Para Morrer, último de Daniel Craig, ainda levou o Oscar! É o que chamo de cereja do bolo!


E, claro, veio aquele momento em que não entendemos... 

  • uma piada de Chris Rock, 
  • e vemos Will Smith sorrindo, 
  • mas notando o semblante sério de sua esposa, 
  • próxima cena é o candidato ao Oscar de Melhor Ator caminhando para um sorridente Chris Rock 
  • e desferindo-lhe tremendo tabefe, 
  • e etornando ao assento, 
  • enquanto Chris Rock mostra seu espanto, 
  • e observamos um Will Smith não microfonado mandando o apresentador tirar o nome de sua esposa da p---- da boca dele, duas vezes. 

Uau, estupefação mundial! Um bilhão de pessoas viram a agressão, boa parte delas ficou pensando que se tratava de encenação, só que não, acho que não...

  • Chris Rock é um inconsequente ao fazer piada sobre a doença da mulher? É! 
  • Ele sabia da doença? Não sei! 
  • Will Smith devia fazer algo? Sim! 
  • Dando um tabefe? Não! 
  • Enfim, alguma forma diferente? Decerto…. 
Foi o momento mais marcante de uma cerimônia boa...


Depois da Cerimônia

Listei os seguintes highlights.

  •     As presenças de Francis Ford Coppola, Robert De Niro e Al Pacino, respectivamente, o Diretor de o Poderoso Chefão, o ator que fez Don Corleone jovem, em O Poderoso Chefão II, e o ator que fez o filho de Don Corleone, e o próprio chefão nos outros dois filmes da Trilogia. O melhor filme de todos os tempos completou 50 anos!
  •     As presenças de Samuel L Jackson, Uma Thurman e John Travolta celebrando aniversário de Pulp Fiction, para apresentar o Oscar de Melhor Ator
  •     Lisa Minelli velhinha, com Lady Gaga, celebrando os 50 anos de Cabaret
  •     Os 60 anos de James Bond, com ótimo clipe e acompanhado da canção de Paul McCartney, Live And Let Die, como já falei ali em cima
  •     A vitória de Billie Eilish cantando a canção tema de James Bond.
  •     Gostei de ver Anthony Hopkins finalmente recebendo os aplausos pelo Oscar que ganhou no ano passado mas não foi à cerimônia por conta da pandemia!
  •     Fiquei feliz que o único filme que eu vi, proporcionou ver o desempenho do ganhador do prêmio de melhor ator.
  •     Achei tremendo mau gosto colocarem um coral animado, para acompanhar a seção In Memorian, com as homenagens aos que se foram no ano passado.
  •     Gostei muito também do discurso de Kevin Costner para apresentar os candidatos a melhor diretor. Pena que a diretora vencedora não fez jus ao tremendo discurso, dando uma gozada na dramaticidade dele
  •     O discurso de aceitação de Will Smith foi muito bom. Pediu as devidas desculpas (não a Chris Rock) à Academia, a seus colegas, e à Família Williams, que retratou em seu filme (era filme dele mesmo, ele era o produtor). Associou muito bem a imagem de protetor da família do personagem à sua própria condição para justificar um pouco sua atitude. Com  lágrimas nos olhos!
  •     Mesmo sem ter visto o filme ganhador do Oscar (Coda, ainda verei), adorei o prêmio ao ator surdo, com direito a discurso traduzido imediatamente ,e foi incrível como o tradutor consegui saber os nomes das pessoas. E também gostei do que fizeram quando foram receber o Oscar Principal, com dois tradutores, um para traduzir para câmera e outro para traduzir para a comitiva que estava lá.
  •     Não percebi quem ganhou o Oscar popular. 


Pode até ter sido bem fraquinho, mas foi muuuuito superior ao do ano passado.

quarta-feira, 23 de março de 2022

OUÇA e LEIA - Happiness Is A Warm Gun

Esta é a 11ª edição de OUÇA e LEIA


Clique neste LINK para ouvir

E siga lendo o texto abaixo!


Olá, Viajantes do Submarino Angolano, aqui é Homero Ventura, direto do Brasil!


Um libelo contra as Armas, num jeito super divertido.

Meus estudos sobre o universo das canções dos Beatles começaram com a identificação dos assuntos das letras de suas composições. Consegui identificar 7 Assuntos, um deles acomodou as histórias que os autores contaram. Foram 26 as Story Songs, dentre as 186 canções que compuseram. Paul foi o maior Storyteller do grupo, com 16 entradas, mas foi John quem começou, ainda em 1965, em Rubber Soul, com Nowhere Man

I1º Verso de Nowhere Man

John contou outras 9 histórias (George fez as outras duas). Quatro delas eram bem-humoradas e todas ele compôs em 1968. Duas dessas 4, entretanto, escorregaram para o ano seguinte, e saíram em Abbey Road

Final de Mean Mr Mustard

Início de Polythene PAM

As outras duas saíram no Álbum Branco, a primeira delas foi The Continuing Story of Bungalow Bill, escrachando com um caçador americano que matou um tigre, em meio a um ambiente de elevação espiritual, pois estavam na Índia, aprendendo Meditação Transcendental. Outras 17 canções que compuseram naquele período se materializaram no duplo LP.

Trecho da canção ‘So Capitain Marvel zapped in right between the eye, all the children sing: Hey Bungallow Bill, what did you kill, Bungalow Bill’

E a outra Funny Story Song é sobre a qual eu vou contar agora!


Happiness is a Warm Gun (de John Lennon)


A inspiração para John escrever esse libelo contra as armas foi de uma propaganda que tinha os dizeres do título e mostrava um revólver fumegante, após disparar um tiro. Mas a música foi banida das rádios por causa da conotação sexual de algumas palavras. O que interessa é que é uma genial canção, na verdade um medley.

Começa com uma balada sobre uma garota (‘She's not a girl who misses much tchurururururu oh yeah'... até ...'a soap impression of his wife which he ate and donated to the National Trust'), ao violão de John naquele mesmo dedilhado de Julia.

1º Verso de Julia

Profusão de frases desconexas, até mesmo pela forma como John a compôs. Dele mesmo, apenas a primeira frase, apresentando a garota. Agora, as demais, que falam em toque de veludo, em lagarto na janela, espelhos multicoloridos, botas de pregos, impressão em sabão, e outras coisas aparentemente sem relação umas com as outras, realmente nada têm umas com as outras. Foi resultado de um 'brainstorm' entre John e alguns amigos, numa noite regada a LSD, em que John provocou os demais para falarem frases que viessem na cabeça, John ia anotando, escolheu algumas, e colocou na letra. Mérito para o compositor que conseguiu colocar aquilo tudo numa métrica agradável de ser ouvida. Acho que ele era o único clean naquela noite, na verrdade.

Aí muda a batida e vem uma guitarra magnífica, distorcida, com a melodia do 2º trecho,

Guitarra distorcida de George, início do 2ºtrecho 

introduzindo ('I need a fix, cause I'm going down' ), e tudo finaliza num sensacional clima de anos 50, com os backing vocals de Paul e George, acompanhando o 'Happiness is a warm gun' de John com 'Bang Bang Shoot Shoot'. Simplesmente perfeito!

Backing vcals de Paule George

Tudo em menos de 3 minutos, com variações frequentes de tempo (Ringo teve trabalho).

A primeira vez que a canção foi mostrada aos demais foi no final de maio, na casa de George em Esher, ainda sem aquela definição de felicidade, havia apenas o segundo trecho terminando em . ‘Mother Superior jump the gun'), sendo que a Madre Superiora seria a Yoko, e o gun que ele pedia para ela jump (sacar), era o tal fix que John estava needing, e que seria uma picada de injeção de heroína, droga que o casal embarcou, e que nenhum dos outros três Beatles experimentou. John jura de pés juntos que não tinha nada a ver isso.

Demo de Esher

Bem, o fix podia ser também um drinque, aprendi isso em I'm So Tired.’

Trecho "I wonder should I get up and fix myself a drink, no no no”

Enfim ... O trecho final da canção, que dá o tom de humor a que me referi anteriormente, veio já no período que estavam já em estúdio, quando John leu um artigo de uma revista de George Martin com essa manchete. Ele achou aquilo o máximo do absurdo, e resolveu colocar mais um trecho na canção que finalmente ganhou seu nome, acompanhado pelos deliciosos bangs e shoots. E aquele trecho maravilhosamente gritado entre os 'refrões', se é que podemos chamá-los assim

Vocal gritado de John "When I hold you in my arms (oooh yeah!) and  I feel my finger on your trigger (oooh yeah!) I know you can't do me no harm  (oooh yeah!) Because HIAWG BBSS"

O tal ‘when I feel my finger on your trigger (oooh yeah!)" (quando sinto meu dedo em seu gatilho) teria um duplíssimo sentido, uma conotação sexual, pois ‘you’, (você) pode ser o revólver, ou a garota, e o trigger, seria o gatilho ou aquele órgão sexual, que dispara sensações femininas.

Após aquela mostra inicial de Esher, quase quatro meses se passaram, até que se encontraram no estúdio para ensaiar a canção, em 23 de setembro. E foi duro! Foram 45 takes, em 8 horas, muito por causa da variação de tempo entre os três trechos, bem complexo. Note que o tempo passa de 4/4 no Trecho 1 para uma valsa (3/4) no Trecho 2, volta ao 4/4 no começo do trecho final e migra para a valsa novamente, na fala gritada de John, com os "Ooo Ooooh yeah". Os entendidos notam outras microvariações, para um 5/4, um 6/4 e até um 6/8, mas meu ouvido não é treinado o suficiente para identificá-los e passar aqui pra vocês.

Bateria isolada de Ringo

Entretanto, nada se aproveitou daquele dia oficialmente! Depois de algumas horas de sono, voltaram à batalha, e foram mais 25 takes, dois dos quais foram considerados apropriados para seguirem adiante! Uma bolha num dedo de John fez com que interrompessem a sessão, e decidissem por juntar as melhores partes daqueles dois takes selecionados, e no dia seguinte, estava pronta a base da canção, com o mix dos Takes 53 e 65. Dá até pra notar, percebam um resto de ‘down’ antes de "I need a fix...", quando entra o outro take. Até essa falha é charmosa! Até então a base tinha os tradicionais duas guitarras, baixo e bateria, puro Beatles, na veia!!

E depois vieram os overdubs, John, em seu extraordinário vocal principal, Paul harmonizando na parte final do Trecho 1 a partir de "Lying with his eyes while his hands are busy working overtime..." e em uma 8ª acima em n-1 "Mother Superior jump the gun...", Paul e George 'conversando' com John no "Hapinness" e nos "Ooo Oooo Oh yeah", enquanto John dá aquele show nas falas gritadas com voz alterada dos "arms, finger and trigger", e nos "Bang Bang Shoot Shoot", ai, ai, ai, é a terceira vez que eu falo neles, mas é que são tão especiais. E teve um órgão de John logo no começo, pouco audível, e nova linha de baixo de Paul, que também acrescentou um piano no hilário trecho final, além do pandeiro especial de Ringo.

Órgão de John

Eu já elogiei o vocal de John? Já, mas repito e acrescento e amplifico, não há adjetivos suficientes para qualificar! Que final apoteótico é aquele "Guuuuun" no final??!!

A sessão daquele dia foi eleita pelos quatro Beatles como a mais divertida das sessões do Álbum Branco! O clima estava tão bom que Paul até arriscou uma tuba que estava por ali, mas pouco se a identifica.

Complexa estrutura, premiada com um banimento inicial, mas também com o elogio da crítica (consideraram-na a segunda melhor do álbum, apenas perdendo para While My Guitar Gently Weeps).

Agora, vão me perdoar porque não pude deixar de notar uma triste relação da arte com a vida real.

Ironia do destino... 12 anos depois...

Uma arma ficou muito quente...

cinco vezes fumegante...

às 22:30 h de 8 de dezembro de 1980...

na portaria do Edifício Dakota,

72 Central Park West, New York, NY, USA...

Mark Fucking Chapman estava feliz…


mas esqueça isso, e venha se divertir, como os Beatles, em

Happiness Is A Warm Gun

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Demais edições do OUÇA e LEIA

  1. A Origem dos Beatles neste LINK
  2. Homenagem a Buddy Holly neste LINK
  3. 1º Capítulo do Projeto Medley neste LINK.
  4. 2º Capítulo do Projeto Medley neste LINK. 
  5. 3º Capítulo do Projeto Medley neste  LINK. 
  6. 4º  Capítulo do Projeto Medley neste  LINK. 
  7. 5º  Capítulo do Projeto Medley neste  LINK. 
  8. O Projeto Medley neste LINK.
  9. O 6º Compacto, neste LINK
  10. The Ballad Of John And Yoko neste LINK

 

 

  1.  

 

ENJOY!!

domingo, 20 de março de 2022

O Submarino Angolano tem a última BBC + Happiness is a Warm Gun + Carefrees e Cézar Rossini


Esta é minha 30ª viagem como Contramestre do Submarino Angolano! Uau! 

Mais de meio ano viajando nas águas plácidas da obra dos Beatles!

Mais uma vez, grandes inserções do DJ Paulo Seixas!!

E hoje, tem mais uma edição da nova seção com as canções que mencionam Beatles em seu título ou na letra! 

19/03/2022 | 23º Versões na BBC 2 | O Submarino Angolano | LAC - 95.5 FM | Angola

-  "Kansas City" - Little Willie Littlefield - 1952 |

- "Kansas City - Hey-Hey-Hey-Hey!" - Little Richard - 1956 | The Beatles - 1964

- O contramestre Homerix, a partir do Brasil, traz-nos os Songfacts de "Happiness Is A Warm Gun", de 1968, do álbum The Beatles.

- "We Love The Beatles" - The Carefrees - 1964 | Canções que citam os Beatles

- "Hey Mr. John" e "O Sonho Acabou" - Cesar Rossini - 1981 | Canções que citam os Beatles

TUDO AQUI, neste PODCAST!

https://m.mixcloud.com/tokeluanda/19032022-23o-vers%C3%B5es-na-bbc-2-o-submarino-angolano-lac-955-fm-angola/

Nosso comandante Seixas é o responsável por inserir os trechos de áudio conforme minhas 'deixas' ou mesmo outros que achar convenientes em seu enorme arsenal de ficheiros (como lá por aquelas bandas chamam os nossos 'arquivos') de sons dos Beatles. A liberdade é plena!! Nossa sintonia é ótima!!!







E aqui, pra quem quiser conhecer, estão LINKS para todos as minhas outras 29 viagens no Submarino Angolano!

https://blogdohomerix.blogspot.com/2022/03/minhas-27-viagens-no-submarino-angolano.html


Então, está combinado!! 

No próximo sábado às 13 horas, 

mais uma edição do Submarino Angolano, 

com mais uma nova atração

Se ligue em lacluandafm.blogspot.com e dê um Play!

No celular, é melhor com este LINK


Aqui, os links dos primeiros áudios que cruzaram o Atlântico..

Já são 28!!!

http://blogdohomerix.blogspot.com/2022/03/minhas-27-viagens-no-submarino-angolano.html


Minha Pilha Sonora agora tem She Said She Said

 Apareçam hoje no link abaixo, às 19 Horas!

                                         Marque no seu Alarme!!!

É o programa Beatlemania da UNIARA FM.

http://radio.uniara.com.br:88/broadwavehigh.mp3 


Acrescentei mais um na minha Pilha Sonora! 

(neste LINK, as demais canções da pilha)

Desta vez, é She Said She Said, uma canção Labo B de Revolver, no sentido de que não é uma das mais conhecida do mundo dos apenas admiradores dos Beatles, que sabem apenas de Something, Yesterdat, Hey Jude e quetais. Esta, entretando é sensacional! Sua história e principalmente sua gravação inusitada!!

Minha fala será mais pro final, a partir de 19:30!

Foi minha 16ª contribuição na seção Songfacts!

Mas antes tem muita coisa boa... e depois também!

VEJA A PROGRAMAÇÃO!

PARECE ÓTIMAAA!!





Como sempre... são seções sensacionais com aspectos diferentes do Mundo Beatle!

O ÁLBUM DO DIA, foi o que Paul na época em que veio ao brasila primeira vez. Vi várias canções dele ao vivo!!

E tem a Seção Giveaways, que mostra as composições dos Betles que eles deram para outros cantores!

E tem mais um espetcaular cover de Joe Cocker.

E muito mais!

Venha comigo!

E com o ótimo condutor Beto Neves!!

E tem reprise na quinta-feira, 21 Horas!

Veja que programação legal!!!

Minha semana com Elis Regina

Na quinta-feira, eu estava pronto para lançar meu novo post sobre Beatles, quando um poder mais alto se alevantou. Seria o aniversário de Elis Regina. Portanto, eu teria que republicar, como sempre faço, nos aniversários de morte e nascimento de ídolos, um post que eu tenha escrito sobre a vida dele, ou dela, no caso, mas nem isso ia fazer... porque o que me lembrou da data foi a edição de hoje do Sala de Música, programa diário sobre música (claro), que vai ao ar diariamente, ao vivo, no Estúdio CBN, programa cultural da CBN, comandado pela fenomenal Tatiana Vasconcellos. 

Mas não  foi em o fato da lembrança da data.... mas sim, a edição que ouvi. 

O comandante do programa é João Marcelo Bôscoli, primogênito da Rainha. E foi uma jorrada de emoção e dados técnicos, espetacular, insuperável! Ele já vinha oferecendo trechos A Capella da voz da Mamãe, mas o de aniversártio foi especialíssimo. 

Gente, eu estava no carro e comecei a chorar... ao terminar a audição, um interminável silêncio de alguns segundos, inconcebível em tempo de rádio, se fez na transmissão, pois todos estavam embasbacados, emocionados também com o que haviam acabado de ouvir. Era o verso final de Como Nossos Pais, de Belchior. Depois, ele desfila um monte de informações interessantíssimas sobre a canção e sobre o espetáculo teatral onde ela apareceu, o show Falso Brilhante, a que eu assisti, em 1976. Ele terminaria com um pequeno trecho do verso inicial da mesma canção, quer dizer, seria pequeno, mas os apresentadores não conseguiram interromper e ela foi quase até o final da canção.

Enquanto não saía o podcast, deixei aos leitores minha homenagem a ela, um pouco modificada em relação ao original, que alguns leram por ocasião da celebração de 40 anos de sua morte, que veiculei em 19 de janeiro. 

https://blogdohomerix.blogspot.com/2012/01/i-miss-elis.html

No dia seguinte, anunciei!

"Como prometido, eis o podcast do Sala de Música de ontem... São 18 minutos que valem cada segundo ... por favor me digam se exagerei nos sentimentos... sei que ouvi de novo agora e chorei de novo... Resumindo, é o filho de Elis Regina apresentando a voz da Rainha, sua mãe, A Capella e explicando tudo o que está por trás!! A música é como Nossos Pais....  Ouça, e me diga!!! Neste LINK!"

No dia seguinte, segui na onda Elis, por causa desta palavras que recebi de um profissional da música muito próximo a João Marcelo. Ele disse:

"Bom dia, Homerix!

Muito lindas suas palavras e sua homenagem à nossa rainha Elis. 

Assim como eu, tenho certeza que muitas outras pessoas se emocionaram com seus textos.

Parabéns pela homenagem." 

Depois, dei uma reclamadinha básica por nao ter recebido qualquer feedback dessa pérola que eu havia oferecido. E complementei com mais um link:

Hoje, pela manhã, forneci o link para o podcast, assim que foi disponibilizado pela CBN, mas até agora, ainda ninguém declarou nenhuma opinião sobre ele. Será que estou me emocionando com coisa pouca? 

Vamos lá, minha gente!!! São 18 minutos imperdíveis!!

Sigo hoje ainda com Elis, na verdade, com minha resenha sobre o livro de seu filho João Marcelo, que também me emocionou muito, incorrigível que sou!!

Vejam aqui: 

https://blogdohomerix.blogspot.com/2020/01/ele-eu-e-elis.html

Para seguir na onda, publico aaui minha resenha sobre o filme ELIS, brilhantemente atuado por Andréia Horta! Eu o chamei de Ela é ELIS!

https://blogdohomerix.blogspot.com/2016/12/ela-e-elis.html

E deixo também, a primeira vez em que mencionei ELIS em meu blog, falando sobre aquela inesquecível Noite de 1967, no festival da Record.

http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/01/uma-noite-de-67.html

ENJOY 

Ela é ELIS!

Em mais uma semana de aniversário de Elis Regina, r
evivo mais um texxto meu sobre nossa Rainha.
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Arrepios constantes, lágrimas aqui e ali, esse é um resumo das sensações que senti ao ver ELIS revivida em Andréia Horta, num filme imperdível, seja para os fãs como eu, que a idolatravam, mas principalmente para os novos, que só ouviram falar dela, e não têm idéia do que ela representou!

Nunca existirá cantora como Elis Regina.... cantora mesmo .... com potência e suavidade ... com raiva e sensualidade ... intérprete sem igual... Escrevi sobre ela aqui neste post, modéstia à parte, muito bom....

Fiquei muuuito sensibilizado ao saber que foi o paizinho dela quem a trouxe ao Rio lá do Sul,  no começo da carreira .... claro que me coloquei no papel dele .... vocês sabem por que....

Não lembrava dos episódios da repressão, nem da declaração sensacional em Paris, muito menos do Madalena para o exército... sinistro .... como o interrogatório .... assustador...

Acertaram em manter a voz dela com dublagem de Andréia Horta, e coube à atriz 'receber' o espírito da cantora no gestual, e muito no visual. Impactante a cena em que ela aparece pela primeira vez com o cabelo a la garçonne, não sabia que havia sido Bôscoli a dar a idéia!! 

A escolha do elenco foi perfeita, Miéle e Bôscoli, Jair Rodrigues e Lennie Dale, estão muito bons, Caco Ciocler merece menção especialíssima por 'tocar' César Camargo Mariano, sem saber tocar piano, e sem 'dublar' as mãos. Mas é Andréia quem dá o show!!!

Faltaram canções? Sim, claro, impossível colocar tudo de uma carreira de 20 anos de sucessos, falta Milton, falta Gil, falta Águas de Março, e tal, mas estão lá Upa Neguinho, Arrastão, o pout pourri do Fino da Bossa, Cinema Olímpia, Fascinação, Como Nossos Pais, O Bêbado e o Equilibrista (história super legal), Madalena, Atrás da Porta, Velha Roupa Colorida... aliás, esta última toca nos créditos, sendo que não há vídeo com a ELIS real cantando a música, mas agora temos... Andréia fez uma interpretação espetacular!!!

Decerto que vou ver de novo!!

quinta-feira, 17 de março de 2022

I Miss Elis ...



 
Sinto falta de Elis Regina. 

Hoje, ela faria 77 anos!


No dia 19 de janeiro de 1982, ela foi encontrada morta em seu apartamento, intoxicada por álcool e cocaína. Aos 36 anos de idade...

Naquela data, eu ficava órfão de novo, pouco mais de 13 meses depois da partida de John Lennon. Portanto, agora, órfão musical de pai e mãe. Lembro-me do momento em que ouvi a notícia. Estava na Bahia, começando meu estágio de campo como Engenheiro de Petróleo.

Não apareceu até hoje, nenhuma cantora que se equiparasse a ela.

Algumas bateram na trave, mas faltavam detalhes, que se encontravam todos nela, uma conjunção cósmica. Uma Pelé de saia e com voz.
 
Gal? Bethania? Simone? Fafá? Zizi? Joana? Marina?

No way!!

Eu a vi, pela primeira vez, no Festival da Record de 1965, quando defendeu "Arrastão", com seus braços giratórios qual dois ventiladores anti-sincronizados, berrando 'J'ouviiiii, olha o arrastão entrando num mar sem fim...", com um cabelo horroroso todo armado, coisa da época. Em 1967, no maior festival de todos os tempos (neste LINK), defendeu "O Cantador", ganhando o prêmio de melhor intérprete, coisa que a partir daí não necessitaria disputar nunca mais. Primeiro que não disputaria mais mesmo, segundo que, se participasse de algum concurso do gênero, seria considerada 'hors-concours', sem qualquer contestação.



A década de 1970 viu uma Elis maior que o samba e a bossa nova a que se dedicou no começo de carreira, em que teve um de seus grandes duetos, com Jair Rodrigues. Uma Elis aprimorando seu domínio vocal até um ponto inalcançável por nenhuma outra. Uma interpretação visual diferenciada, com sentimento teatral. E um visual diferente, com cabelo curtinho. .
 
Ali, ela começava a lançar compositores que se mostrariam monstros sagrados, como Milton Nascimento "Maria, Maria!", João Bosco "O Bêbado e o Equilibrista", Ivan Lins "Madalena", Renato Teixeira "Romaria", Zé Rodrix "Casa no Campo", Marcos e Paulo Sérgio Valle "Black is Beautiful". Comprei o meu primeiro LP  de Elis em 1971, justamente o primeiro desta fase, ótimo 'ELA', aonde me marcou a interpretação da canção dos irmãos Valle, com gritos lancinantes e afinadíssimos. Como brinde, uma brilhante interpretação de "Golden Slumbers", dos Beatles.
 
Claro que os velhos  e já então consagrados compositores tinham em Elis sua maior intérprete. GIlberto Gil, Tom Jobim, Chico Buarque, entregavam a ela coisas como "Se eu quiser falar com Deus", "Águas de Março" e a espetacular "Atrás da Porta"... Isso só pra mostrar uma canção de cada um deles, que sempre a procuravam para cantar, digo, interpretar suas obras. Isso mesmo: Elis interpretava, como ninguém, sentia e transmitia o clima da música. Uma interessante exceção nesse rol de monstros sagrados foi Caetano Veloso. Sim, ele deu a ela 'Cinema Olympia', mas se não me engano, ficou quase que só nisso. Caetano privilegiava sua irmã Bethania e sua conterrânea Gal. O que não o impediu de fazer uma grande declaração. Em um festival de 1973, em que Elis foi recebida com frieza pela platéia, Caetano pegou o microfone e disse: "Um pouco mais de respeito, por favor, pela maior cantora desta terra!". DEcerto ele quis dizer, da nossa terra, Brasil, mas eu colocaria um T maiúsuclo sem pestanejar. Até hoje, os especialistas se curvam diante do incomparável talento da baixinha fenomenal, boquiabertos e se perguntando: 'O que é isso?!"

Em 1975, Elis lançou um marco na história da música, o espetacular "Falso Brilhante", que teve mais de 1.200 apresentações em São Paulo. Numa delas, teve minha presença, em 1976, quando cursava o 1º ano da Poli. Pude presenciar duas das melhores canções de Belchior, outro que ela lançou ao estrelato, as ótimas "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida", em que ela arrasou, ainda que incomodada com "a ponta de um torturante bandaid no calcanhar" (genial sacada de João Bosco, na verdade, Aldir Blanc, o letrista da dupla).

Não se esquecer jamais das grandes interpretações que teve do celestial Adoniran Barbosa, em especial quando dava um tiro no Árvaro. E, seguindo na linha do humor, entrego aqui, neste LINK, um dueto tão inesperado quanto magnífico, dela com o humorista Chico Anysio, outro iluminado, interpretando Canto de Ossanha, aliás, uma ótima oportunidade de relembrar mais um dos deuses da música que 'usaram' Elis, Vinicius de Morais, aqui numa parceria com Baden Powell.

Vida pessoal? Complicada, muito por sua língua ferina, honrando seu apelido de 'Pimentinha'. Do primeiro casamento, com Ronaldo Bôscoli, que não deve ter sido fácil, como vimos no seriado "Maysa", teve um filho, João Marcelo, hoje elogiadíssimo produtor musical. Do segundo, com César Camargo Mariano, teve os filhos Pedro, cantor e compositor, e a hoje famosa Maria Rita, que até tem o mesmo timbre da mãe, mas a potência, quanta diferença!!!

Encontramos um novo Pelé? Não!

Encontraremos um novo Pelé? Não!
 
Se trocar Pelé por Elis,
e adaptar-se o gênero
nas duas frases acima,
aplica-se ypsis literis.
Pra mim, sem dúvida.


 Homerix Lembrando Elis Ventura

segunda-feira, 14 de março de 2022

A Semana 590 do Blog do Homerix - Metonímia, Mulheres e ... Beatles

Eis um resumo que fiz para um grupo de assunto específico, que abre para discussõs culturais no fim-de-semana. 

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A semana no blog começou com o Dia da Mulher, celebrado com meu já tradicional tratado sobre um artefato feminino, 

O Bolso ou A Vida, aqui, neste LINK.


e com uma intrigante pesquisa sobre nomes de mulheres nas canções dos Beatles, até como um lamento de como o mundo tratou o ‘sexo frágil’ ao longo da história.

Men and Women in Beatles Songs, neste LINK.


Encontrarão lá também  um apanhado sobre as mulheres ‘de verdade’ das vidas dos Beatles, suas namoradas, casos e esposas.

As Cometências dos Beatles, aqui, neste LINK.


Teve uma campanha para doação de plaquetas para um amigo

Plaquetas para Vinicius, aqui, neste LINK.


Mas o carro-chefe seguiu sendo Beatles, em especial, minhas contribuições vocais ao Submarino Angolano, tradicional programa sobre Beatles que completou 21 anos em uma FM de Luanda. 

O 6ª Compacto dos Beatles, em 22 minutos, aqui, neste LINK.

O programa todo, de uma hora, aqui, neste LINK.



Eu gosto muito de tudo o que eu escrevo, mas nada disso tudo suplantou uma satisfação pessoal: a de ver minha filha, my pride and joy, virando um exemplo de Metonímia do Autor pela Obra. 

Não foi uma questão de ENEM, mas certamente foi uma distinção a ser celebrada. Para quem não conhece, são 3 livros (em 4 volumes) somando 2.000 páginas sobre ética, valores, geografia, história e problemas brasileiros, tendo como pano de fundo de uma escola de magia com sedes espalhadas pelo país. Outros dois livros virão para completar a saga, que passeia pelas 5 regiões do Brasil. Já foram ‘varridas’ as regiões Sudeste, Nordeste e Norte. Virão ainda as regiões Sul e Centro-Oeste. Em que pese o público-alvo ser a faixa de 15 a 25 anos, ela tem admiradores de 8 a 80, literalmente. Fãs ardorosos, como essa professora  do Ensino Médio de São Paulo que adotou a obra em sala de aula, assim como muitas outras. Nada como passar mensagens importantes à formação da juventude, imiscuídas em aventuras cheias de magia.

Bem, para adentrar ao Mundo Escarlate criado por minha filha, o melhor jeito é adquirir sua obra, que foi recentemente lançada em um Box liiiindo, pela Editora Novo Século, nesta semana em preço promocional (70 reais a menos!) na Amazon, 

aqui, neste link https://amzn.to/35OP6bZ

Aliás, gostei tanto deste relato sobre a semana no Blog, que transformei neste post, chamado 

A Semana 590 do Blog do Homerix - 

Metonímia, Mulheres e ... Beatles

fornecendo, como viram, os LINKs para os textos citados!! 

Sim, comecei esta minha seara em 21 de novembro de 2010, com um post adivinha sobre o quê, Beatles, o carro-chefe dentre os temas, presente em 720 dos 2.561 posts, nestes primeiros 11 anos de atividade blogueira. Na verdade, era a resenha de um ótimo filme sobre a juventude de John, chamado Nowhere Boy, 

que deixo aqui, neste LINK

The Beatles' 1964 - O LP A Hard Day's Night

Neste relato do ano de 1964, a primeira parte contou o que ocorreu até a partida para conquistar América, neste LINK, 

A 2ª Parte contou sobre a Conquista da América e a envoltória do lançamento do compacto Can't Buy Me Love / You Can't Do That, neste LINK.

A 3ª Parte iria até o lançamento do EP Long Tall Sally, que veio com mais uma original dos Beatles, mas estava tão grande (veja neste LINK), então parei antes, e virou o relato das filmagens do 1º filme, e da Excursão Mundial!

A 4ª Parte, então, destrinchou as 4 canções do EP Long Tall Sally, neste LINK, o 1º de compacto duplo com inéditas, e seria praticamente o único, quando surgiu o Double EP Magical Mistery Tour lá em 1967, na verdade duas bolachinhas com 3 canções em cada uma, com a trilha sonora do filme homônimo.

A 5ª Parte durou poucos dias mas registrou um fenômeno! Ela contou sobre o lançamento do filme A Hard Day's Night, a revolução que foi na vida dos Beatles e na vida de uma geração inteira. Diz-se que o filme iniciou a aura dos Anos 60! Tudo sobre esse impacto, neste LINK.

Bem, lembra que comemoraram até a manhã seguinte à estreia do filme, em 6 de julho? Pois bem, dormiram pouco pois, às 2:00 da tarde do dia do aniversário de Ringo, estavam todos na BBC para gravarem até às 5:00 o Scene At 6:30, que iria ao ar apenas no dia seguinte, com direito a bate-papo sobre o filme, claro. Dublaram por sobre os playbacks de A Hard Day's Night, Things We Said Today e Long Tall Sally, sempre ela, presente em tantos shows dos Beatles. Falando em canções, talvez seja uma boa hora para resumir qual foi o papel delas no filme que fora lançado um dia antes, e no álbum que seria lançado. Já vimos algo ao longo dos últimos parágrafos mas é sempre bom detalhar, não percamos a conta! Can´t Buy Me Love, And I Love Her, I Should Have Known Better, If I Fell, I'm Happy Just To Dance With You e Tell Me Why foram as primeiras canções compostas (as duas primeiras por Paul  e as quatro últimas por John) são a trilha sonora cantada no filme. Também You Can't Do That e I'll Cry Instead, ambas de John, foram compostas antes das filmagens, sendo que a última chegou a ser considerada para aparecer no filme, na cena das micagens dos quatro no aeroporto (que acabou com Can't Buy Me Love) mas Richard Lester considerou a letra muito down e fora do espírito do filme. Ela ficou no Lado B do álbum, fora da trilha, mas foi recuperada em 1982, quando acompanhou um jogo de imagens estacionárias do filme, na promoção do relançamento nas telas, em homenagem ao seu recentemente finado compositor. You Can't Do That chegou a ser filmada, mas teve que ser coratada quando chegou a canção título, e foi para o Lado B do álbum. Outras 4 canções foram compostas durante as férias de maio, após as filmagens, e entraram no Lado B do álbum, sendo três de John no Tahiti (Any Time At All, When I Get Home e I'll Be Back) e uma de Paul nas Ilhas Virgens (Things We Said Today). A última canção composta, por John, foi justamente a canção título, A Hard Day's Night, lembre-se do malapropismo de Ringo, e na gravação veio seu espetacular acorde inicial, que abre o filme, impactando os espectadores, acompanhando as cenas de abertura, com aquelas centenas de garotas correndo atrás dos rapazes! Não sei se fizeram as contas, mas, das 13 canções do LP, pela primeira e única vez sendo todas de Lennon/McCartney, 10 foram compostas por John e 3 por Paul. Nosso amado estava em um um período altamente criativo!

E foi uma boa hora para detalharmos essa cronologia toda pois, no dia 10 de julho, finalmente foi lançado o LP na Inglaterra (já havia sido lançado alguns dias antes no Estados Unidos uma versão diferente, sem as canções do Lado B britânico, e contendo outras peças instrumentais que aparecem no filme), com enorme sucesso de vendas. No mesmo dia, os Beatles estavam presentes na estreia do filme em Liverpool para nunca antes vista recepção de seus conterrâneos. Eles estavam receosos quanto à recepção dos conterrâneos, que estariam magoados por não terem feito a estreia mundial na cidade natal. Foi um espanto o fato de ser um álbum inteirinho com composições originais, sem duvida um marco na história do rock. Constituía-se verdadeiramente num novo patamar. Já na primeira semana de agosto, o LP figurava no topo das paradas inglesas e americanas simultaneamente, ficando lá por 14 semanas consecutivas os Estados Unidos e 21 semanas em UK. 

Finalmente, vamos à análise, canção a canção, das remanesces 11 canções do álbum britânica. Lembrem-se, as canções 33 e 34, Can' Buy Me Love e You Can't Do That também fazem parte do LP, lançadas no 6º compacto em março, e já foram anteriormente analisadas! As canções 35 a 38 foram as lançadas no EP Long Tall Sally. Então vamos lá, às canções numeradas 39 a 49 na carreira oficial britânica. Sua composição, estrutura, gravação serão detalhadas a seguir.

LADO A

39. A Hard Day's Night  (Body Self Song by John Lennon)

'Hoje foi um dia difícil, eu tenho trabalhado como um cachorro. Hoje foi um dia difícil Eu deveria estar dormindo como uma pedra mas quando eu chego em casa, eu descubro que você me faz sentir tão bem   
 
Foi a primeira Self Song dos Beatles. Na Classe Body... segundo minha classificação de assuntos das letras dos Beatles. 
 
Imagine as filmagens do primeiro filme dos Beatles, 1964, ainda sem nome, dia cansativo, chega a noite, Ringo senta-se numa daquelas cadeiras de Diretor e fala: “It’s been a hard day ... 's night...”, sendo que o 'night' ele falou quando percebeu que já estava de noite.. Dick Lester, o diretor, soube da frase, olhou pra Paul, e pensou: “That’s the name!” Numa carona pra casa, ele encomendou a John, que compôs a música na mesma noite, no verso de um cartão que seu filho de um ano recebera de um fã, e virou o nome da música, do disco e do filme.  Foi um de vários 'Ringoisms' da história Beatle. Sendo muito simples, ele soltava uma dessas de vez em quando, frases ligeiramente incorretas, aparentemente estranhas, mas com um sentido cômico, isso tem até nome, malapropismo! Fato interessante é que John escreveu a letra, quase finalizada, e a acabou  num táxi a caminho do estúdio, aos olhos de um amigo boquiaberto que o pegara em sua casa, e que depois acompanhou a gravação da canção, em apenas três horas de estúdio, onde John passou a ponte ("When I'm home, everything seems to be right") para Paul cantar, porque não atingia o agudo da canção que ele mesmo compusera! Apesar de a letra ressaltar a importância da mulher de John que o abraça firme quando ele chega em casa, cansado de um dia duro, preferi focar no estado físico do autor, de pleno cansaço. Uma conotação sexual também se entende em "the things that you do will make me feel all right" "You're gonna give me everything". Após um acorde revolucionário, dois versos de 12 compassos com letras diferentes abrem a canção, vem a ponte de 8 compassos (aliás, os Beatles preferiam chamar a ponte de 'middle eight' por causa disso), e repete o Verso 1, e depois o verso 2, mas agora com um sensacional solo nos primeiros 8 compassos, e a letra nos 4 últimos, e vem mais uma ponte e mais o Verso 1 (de novo) com uma conclusão matadora. O acorde inicial, o solo e a conclusão serão explicados a seguir. Antes, mais uma observação: note que, instado a compor a partir de uma frase, a primeira imagem que vem à sua cabeça é machista, como era o mundo naquela década (era?), pois diz que o marido trabalha muito pra trazer dinheiro e comprar coisas pra esposa, e tem certeza de que à noite, quando ele chegar cansado, ela vai dar tudo a ele. Coisas dos anos 1960...

Musicalmente, como disse, são notáveis a abertura e o fechamento da canção. Ao que parece, foi o diretor do filme quem encomendou. O filme precisava disso, e ele foi para o estúdio! O acorde poderoso e estridente que abre a canção (e o LP, e o Filme) mereceu análises profundas nos anos seguintes ... houve até um artigo publicado numa revista científica, intitulado "Mathematics, Physics and 'A Hard Day's Night'", em que o cientista analisa o incrível som segundo Transformadas de Fourier!! E ainda foi contestado por outro matemático que atribuiu outro enfoque, mas também utilizando as tais Transformadas. Mas não é pra menos. Dá só uma olhada nas notações possíveis, identificadas pelos especialistas: G7add9sus4 ou G7sus4 ou G11sus4 ou ainda Dm7sus4, mas também poderia ser um 'simples' Fadd9... ufa! Aquele primeiro ali pode ser explicado como 'Sol com Sétima e Nona, com a Quarta em vez da Terceira', ou seja, G-B-D-F-A-C, tá fácil procê? Ou seja, quase todas as notas da escala! O Mi (E) deve ter ficado chateado por não participar de mais esse momento genial dos Beatles. O efeito magistral foi obtido por duas guitarras, de John e George, o baixo de Paul, o piano de George Martin e ainda Ringo, na caixa e prato.  O fundamental do acorde é o baixo em Ré (D) do Paul. Uau! 
 
O acorde, que mais parece o despencar de 1000 sinos, como definiu um amigo, imaginado por John, já estava quase pronto ao começarem a gravar, e foi tocado sempre, mas depois ainda vieram overdubs, para dar mais corpo. George sempre se admirou como John conseguiu tirar aquele coelho da cartola. Vejam aqui no Take 1, neste LINK, ele já está lá, as harmonias de Paul estão ok, e até fez umas outras que não vingaram, mas notem como ainda há erros em letras, Paul erra no baixo na 2ª ponte, o solo do George está pífio, tanto que depois de algumas tentativas, ele desistiu e deixou-o para os overdubs. Nos acréscimos, também veio o sensacional solo da canção e notem que ele é dobrado por guitarra e piano, cada George cavalgando seu instrumento. E veio com requintes de capacidade máximos: ele teve que ser tocado pelos dois ao vivo, na última trilha que faltava, e saiu perfeito, os dois realizando os triplets sem máculas. E no mesmo take, George Martin tocou as notas de piano que faltavam no acorde supremo.  
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Pausa para cowbell count
Outro que arrebentou nos overdubs foi Ringo, também com uma trilha só para fazê-lo, usou bongôs nos versos, mudando rapidamente para cowbell nas pontes (ah como eu gosto de cowbell!!) faz as contas: 2 pontes x 8 compassos por ponte x 4 tempos por compasso = 64 vezes aquele delicioso instrumento de percussão foi tocado em A Hard Day's Night, uma de 11 canções da carreira Beatle em que foi utilizado. 
Fim da pausa  
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Finalmente, um belíssimo arpejo de George Harrison, em loop, que segue até a próxima música do disco, ou até a próxima cena do filme, foi pra isso que foi criado!!! Dick Lester ficou satisfeitíssimo!  

A canção. foi lançada em compacto, com Things We Said Today na Inglaterra, no mesmo dia do lançamento do LP. Nos Estados Unidos, o Lado B era I Should Have Known Better. Ela foi muito tocada ao vivo, desde 11 de julho de 1964 a 30 de agosto de 1965, incluindo os históricos shows no Shea Stadium em New York e no Hollywood Bowl em Los Angeles. Deixo aqui, este LINK. Adoro ver a reação da garotada, meninos E meninas! Principalmente quando Paul canta "fee-ling-you-hol-ding-me-tight-oh-yeah" assim separadinho, diferente da versão do disco. E note como George não titubeia mais no solo. e como John quase tropeça no cabo da guitarra! Demais! 
 
Como ilustração desta análise não poderia deixar de lembrar do jeito que a canção foi conhecida nos países de língua hispânica.... Anochecer de Un Día Agitado, e tendo no Lado B, Sally La Lunga.... se não sabem, foi como o clássico de Little Richards Long Tall Sally saiu naqueles países. É muito legal!!

 


40. I Should Have Known Better (Love Girl Song by John Lennon)

John declara: "Eu deveria ter imaginado, com uma garota feito você, que eu adoraria tudo que você faz. E eu adoro, hey, hey, hey, E eu adoro.
Pois que John declara seu amor à garota, mas depois acha que ela lhe pode dar mais pedindo que ela seja dele, ai, ai ai, enfim.  No filme, ela aparece na cena do trem (LINK) e depois também no estúdio. Ponto altíssimo da canção é a gaita de John, que retomou após Love Me Do e Please Please Me, e depois voltaria em I'm A Loser. Ela abre todos os versos, e fecha a canção na ponte final. Falando em ponte ("And when I tell you that I love you"), ali aparece, pela primeira vez a guitarra Rickenbacker de 12 cordas de George, que voltaria no verso instrumental adiante, e em praticamente todas as canções daquele LP a partir de então. Interessante que a gaita das duas primeiras canções mencionadas foi especificamente mencionada como a razão pela qual a Capitol Records americana não levava fé na música dos Beatles, e demorou tanto a render-se, seu dirigente achava muito blues demais. Um ano depois, como tudo mudou! No ano seguinte, ao escolher a canção que seria o Lado B de A Hard Day's Night, foi justamente a canção com a proeminente gaita a escolhida. 
 
A estrutura é na base de versos e ponte. São dois versos com letra diferente, sendo que o 2º é uma 'ponte' para a ponte principal, depois o Verso 2 é repetido, e vem um verso instrumental com a guitarra de George aparentemente simplória, repetindo a melodia, mas terminando com um acorde dissonante sensacional, depois mais uma vez a ponte, e a conclusão, também acompanhada pela gaita! A letra, sim, é simplesinha, bonitinha, com rimas bem fraquinhas e clichêzinhas mas é uma gracinha, falando em rima pobrezinha... Ela fazia parte do Super Lado A do LP, todas no filme, e foi gravada logo no 1º de 4 dias de gravações para o efeito, 25 de fevereiro de 1964, mas na 2ª sessão, da tarde. Ali foram três takes, com John na gaita, e os demais em seus instrumentos usuais. Nada sobrou desse dia. No dia seguinte, foram outros 19 Takes, sendo os primeiros cinco ainda com John na gaita e os demais com John no violão. Este Take 9 foi o considerado bom, apesar de tentarem melhorar até o Take 22, gastando as 3 horas de sessão ao seu aprimoramento. Ponto de destaque, além do solo, George faz na ponte só os acordes, marcante. 
 
Tocaram-na pouco ao vivo, uma das vezes dublando num programa de TV, veja neste LINK. Claramente aparece uma gaita por trás enquanto John canta, mas ele finge que a toca, quando dá. Tem um interessante atraso no acompanhamento, também, quem tem ouvido, perceberá, alguns acordes demoram a entrar, e tal, eles só corrigiram isso na remasterização, décadas depois, mas dá pra ver o trabalho de George na guitarra. 
 
Como dito, a canção foi lançada em compacto como Lado B de A Hard Day's Night, mas apenas nos EUA, pois no Reino Unido, foi Things We Said Today. Para nós aqui da terra, a canção chegou a nossos ouvidos numa versão de Renato Barros (dos Blue Caps) com uma letra que hoje seria considerada digna de pedófilos ("Aaaaah, deixa essa boneca e vem brincar de amor!"). Aqui, neste LINK.

 

 

 









41. If I Fell  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

John propõe: "Se eu der meu coração para você, preciso ter certeza desde o início que você irá me amar mais do que ela!"
Nesta que é a primeira balada de John, ele flerta com uma garota, mesmo estando compromissado com outra, ai, ai, ai. Era John escapando do açucarado boy meets girl, com estilo. Se notarem a letra como um todo, verificarão que foi uma situação de triângulo amoroso, que acabou por se efetivar na vida dele, quatro anos depois, quando deixou Cynthia por Yoko. A canção foi feita mais provavelmente em Paris, durante a temporada em que souberam que haviam estourado nos Estados Unidos, ou durante aqueles 10 dias em que os Beatles bagunçaram aquele país, em fevereiro de 1964. Paul contribuiu com partes da letra e com as magníficas harmonias vocais, reverenciadas como das melhores da história deles, afinal os dois trocam a primeira voz da canção várias vezes, com Paul fazendo a parte mais aguda, como sempre. Um verdadeiro primor! Ela seria uma de 7 canções que fariam a trilha sonora de A Hard Day's Night, o 1º filme dos Beatles que, aliás, àquela altura, não tinha nem nome! 
 
A complexidade da canção começa com uma introdução de 8 compassos, única porção cantada apenas por John ao violão e George na guitarra, com uma melodia que não se repete mais, e que começa num tom menor com a proposta título ("If I fell in love with you") em que John se aproxima do alvo amoroso dizendo que quer algo mais que segurar em sua mão. Depois, entra o resto da banda, já no tom da canção, e John e Paul cantam juntos até o final. Num 1º verso, o flertante exige que, para dar-lhe seu coração, ela tem que garantir que vai amá-lo mais que a sua atual. O 2º verso é mais o que eu chamo de uma ponte preparatória para a ponte principal, pois que começa na melodia do verso, em que ele pede que a nova pretendente não se esconda ("don't run and hide"), e que não fira seu orgulho como a outra ("don't hurt my pride like her"), com a última palavra já num acorde que introduz a ponte, aumentando a tensão, dizendo que ele não vai aguentar a dor ("I couldn't stand the pain") e que ficará triste se aquilo tudo for em vão ("would be sad if our new love was in vain"). A tensão diminui com o retorno a um verso, um 3º, com letra diferente (incrível!), ele diz que espera que ela veja que adoraria amá-la ("I hope you see that I would love to love you") e embarca numa 2º ponte, em que já está com o novo amor conquistado e se lembra da outra que foi abandonada ("she will cry when she learns we are two"), e repete-se a ponte principal e depois o 3º Verso e então termina a canção com a mesma frase inicial, "If I fell in love with you", nada menos que genial!
Faço questão que vejam, ouçam, sintam, emocionem-se com este vídeo tutorial (LINK), um de muitos de um certo italiano Frudua, que canta muuuito, quando poderão se certificar da genialidade da dupla vocal. Depois de ouvir atentamente, agora imaginem que aquilo tudo foi conseguido ao vivo, em 15 takes, numa única sessão vespertina, de 27 de fevereiro de 1964, com todos em seus instrumentos (ver abaixo) e com John e Paul dividindo um mesmo microfone!! Houve overdubs, certo, mas apenas para dobrarem os próprios vocais. Cada peça vocal de cada um já esta 'signed, sealed, delivered, ao vivo mesmo. Uma coisa verdadeiramente impressionante, sempre lembrando que o mais velho ali tinha 23 anos de idade. 
No filme, a canção é levada numa cena de ensaio para um programa de TV, e a edição é notável, porque John começa cantando para Ringo, enquanto ele arruma seu instrumento, a tempo de tocar a primeira aparição da bateria na canção. Genial! Aqui, neste LINK! A gente fica tão embasbacado ao falar das harmonias que se esquece dos instrumentos. John faz o ritmo no violão, a bateria de Ringo é suave, o baixo de Paul é, efetivamente, padrão, nada demais, mas a guitarra de George, novamente a Rickenbacker 12-cordas, aparece um pouco mais, na introdução (aliás, que introdução é aquela?!), ao longo dos versos, menos um pouco na ponte, e é importante na finalização. Pra quem ouve com fones de ouvido, ela se percebe no fone direito!  Na introdução, percebe-se a evolução do pensamento do compositor. 
 
A canção foi tocada ao vivo até novembro de 1964, quando começaram a promover as canções do 4º LP. Em shows, o ritmo era mais rápido, John toca guitarra, Ringo é mais vibrante na bateria e temos aquela imagem inesquecível de John e Paul dividindo um microfone, isso é o máximo para um Beatlemaníaco ver! Concordam comigo? Vejam neste LINK! 
 
Concluindo, bem se sente a evolução do compositor: pois passaram-se apenas três meses desde I Want To Hold Your Hand, e ele já admite que "And I found that love was more than just holding hands". Mas viria anda mais, muito mais!!!

 

42. I´m Happy Just to Dance With You (Flirt Girl Song by John Lennon)

George canta: "Apenas dançar com você é tudo que eu preciso. Antes que essa dança termine, acredito que também me apaixonarei por você, estou tão feliz quando você dança comigo!"

Sim, era George cantando John, que teve a ideia da canção e Paul ajudou nas letras e arranjos! Foi a solitária aparição de George no LP como lead singer, menos que as duas de cada um dos LPs anteriores. Apesar de ele lá ter inaugurado sua carreira de compositor, meio ano antes, com Don't Bother Me em 'With The Beatles', ele estava demorando muito a entregar a canção que dissera ter, então John tomou a atitude de fazer uma pra ele, afinal ela tinha que aparecer no filme! George admite que na época, ele precisava de meses pra finalizar uma canção. Aquela foi a segunda e última vez que George cantou uma original Lennon/McCartney, sendo a outra a deliciosa Do You Want To Know a Secret, do primeiro LP 'Please Please Me'. A letra é simples com tema adolescente, mas apresenta pontos incomuns, e instrumentação distinta. Ela começa com o final do refrão ("Before this dance is through..."), e termina com um refrão com letra alterada ("I've discovered I'm in love with you."), duas características incomuns. Paul e John presentes nos O-O-O-O's. Paul apresenta uma sequência de baixo bastante variada, e ousada até, proporcionando uma contramelodia muito interessante, enquanto John inova no ritmo em sua guitarra, e Ringo provê batidas sincopadas nos refrões, e a cada compasso dos versos, tum tum em um bongô árabe, em overdubs, dando uma cara bem diferente! No filme, a cena começa divertida, com bailarinos ao som instrumental e John fazendo estripulias a caminho do palco, onde George sobe um tablado, a única vez em que tocam nessa configuração, John e Paul, abaixo e Ringo tocando de frente para eles. Cena muito boa! Veja aqui, neste LINK 
 
É a primeira canção deste álbum que usa o refrão como peça estrutural, são só versos e refrões. E, como dito, começa com o refrão, mas apenas os 4 últimos compassos dele, e foi ideia de George Martin fazer assim. Outra que seria assim seria Can't Buy Me Love. Nos dois primeiros versos, de 8 compassos, George incorpora o perfeito pé-de-valsa, diz que não quer saber de beijos ou de pegar na mão (1º), ou ainda de abraços apertados (2º) e termina ambos dizendo que ele só quer dançar, e, no refrão, reforça a ideia, que é só o que ele precisa para quem sabe, conquistá-la. O Verso 3 mostra firmeza no dançarino que diz pra moça nem ver a cara quem vier tirá-la de seus braços, postura 'Tô nem aí!'. 
 
Foi num domingo, 1º de março que  I'm Happy Just to Dance With You veio ao mundo. E tinha que ser porque na segunda-feira começariam as filmagens. E foi muito rápido: foram 3 takes para acertar a instrumentação, George cantou apenas no 4º take, e sobre ele vieram os overdubs, ele mesmo dobrando seu vocal, e Paul e John harmonizando, e também o bongô de Ringo, nos versos. 
 
A canção teve um lançamento em Lado A de compacto nos EUA, com I'll Cry Instead no Lado B, que chegou a beliscar a parada americana mas somente lá nas 90 melhores. Foi a 'canção de George' nos shows da excursão de outono (do Norte) e somente deixou de ser levada em novembro de 1964. Não há um vídeo propriamente ao vivo deles tocado a canção, mas encontrei este aqui com um áudio ao vivo, neste LINK, e ótimas imagens, onde se pode ver a febre que era. Aquele era o auge da Beatlemania, eles já haviam conquistado a América e feito um filme de sucesso mundial. Demais!!

 

43. And I Love Her  (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul declara: "Eu dou a ela todo o meu amor. É tudo o que eu faço. E se você visse o meu amor, você a amaria também. Eu a amo"
Escalada para o filme A Hard Day's Night, And I Love Her é a primeira canção de Paul no álbum com a trilha sonora, após quatro de John (uma delas cantada por George), e também a primeira balada da carreira do Cute Beatle (ele detestaaava a alcunha!), iniciando uma sequência de canções românticas que seguiria com I'll Follow The SunYesterdayMichelleHere There And Everywhere nos álbuns seguintes, o que o alçaria ao título de maior baladeiro dos Beatles, mas era um jogo que naquele momento estava empatado, afinal John fizera o primeiro gol com If I Fell, outra linda balada duas canções antes, no mesmo LP. 
 
Paul havia feito apenas três versos para a canção, nos dois primeiros apresentando seu novo amor e, colocando inveja nos amigos, chega a ter uma conotação sexual "She gives me everything", porém "tenderly". No 3º, brilhante, verdadeira poesia, inverteu a ordem natural das frases, colocando o objeto na frente do sujeito, "Bright are the stars that shine" e "Dark is the sky", e ainda usou rimas ricas, como as definimos em português, rimando com "mine" e "die". Destaque para a colocação do nome da canção terminando os Versos 2 e 3. O 1º termina com a declaração "I love her". O "her" em questão muito bem poderia ser Jane Asher, com quem começara um relacionamento que duraria quatro anos, inclusive ele já morava no sótão na casa dos pais dela, em 57, Wimpole Street. "She was  almost seventeen ... you know what I mean...". Aliás, ela tinha mesmo 17 quando Paul fez a canção... ou quase. Foi naquele sótão que ele fez a canção, em um dos quatro dias de fevereiro que ficou em casa, entre as duas missões de conquista do mundo, na França e nos EUA. Paul garante que não era para ninguém em específico. A canção receberia também uma ponte, entre os Versos 2 e 3, que veio já no estúdio, em meio às gravações, que resumo a seguir. Jane teria outra canção inspirada nela, no Lado B do álbum, Things We Said Today. Ela foi motivo de inveja mundial, enquanto durou seu relacionamento com Paul.
 
Foram três sessões necessárias para finalizar a canção, sendo 3 três takes no dia 15, mais 17 takes no dia 16 mais dois takes no dia 17 de fevereiro de 1964, e tudo acabou com quatro diferenças em relação aos primeiros takes, (i) George deixou de lado sua guitarra Rickenbacker 12 cordas e, no violão fez o brilhante riff de introdução, que Paul elogia até hoje, e ele volta na conclusão (ii) John aceitou o desafio do editor Dick James de tornar a canção menos repetitiva, chamou Paul para tomar um chá e elaboraram a ponte, de oito compassos ("A love like ours should never die as long as I have you near me") e, finalmente, (iv) Ringo deixou a bateria e ficou só nos bongôs. Note que, na ponte, aqui sim justificando a alcunha de "middle eight", por ter 8 compassos, trazida por John, há uma mudança da terceira pessoa ("her") para a segunda pessoa ("you"), dirigindo-se à própria garota. Houve também a decisão de subir meio tom a partir do solo de George e que seguiu na repetição da ponte e do verso final, e a inclusão posterior (overdubs) de clavas, ajudando na levada latina da canção. John ficou o tempo todo no cha-kun-dun no violão. George também foi fundamental no delicado arpejo nas cordas agudas de seu violão, a partir do segundo verso! 
 
Na cena do filme (neste LINK), Paul está num tablado, John sentado ao fundo, George leva seu perfeito violão com uma perna sobre o tablado e Ringo firme em seu atabaque, quase escondido pela bateria sem uso! Paul e George têm ótimos closes! Nosso (muitos amigos torcem o nariz para o título, mas pra mim, é) Rei Roberto Carlos teve a oportunidade de gravar a canção no mesmo Estúdio 2, veja neste LINK.

 

44. Tell Me Why  (Return Miss Song by John Lennon)
John clama: "Olha, eu te implorei de joelhos! Se apenas você ouvisse as minhas súplicas. Se existe algo que eu possa fazer, pois eu não suporto, estou tão apaixonado por você! Me diga por que você chorou e por que mentiu pra mim! 
Apesar de parecer uma DR, preferi classificar a saudade e o desejo de retorno depois de uma briga como a tônica da canção, penúltima do Lado A do LP A Hard Day's Night. A canção é 100% de John, o que leva a concluir-se que o 'you' poderia se referir a Cynthia, com quem era casado! Musicalmente, considero a bateria introdutória de Ringo como o ponto alto da canção, com viradas precedendo dois acordes de guitarra e ao piano de George Martin, quatro vezes. E Ringo repete as viradas mais seis vezes, a chamar refrões, e versos, e a ponte, e ainda mais duas vezes no final. Um show do nosso baterista! 
 
O refrão, de duas vezes seis compassos, abre a canção, como em It Won't BLonge chama todos os versos, de  duas vezes 4 compassos e também a ponte, de oito compassos. Capta essa coisa de compassos? é simples, prepare os dedinhos e vá contando, cada 4 tempos perfazem um compasso. É um ótimo exercício de ritmo! As harmonias vocais perfeitas de Paul e George (ambos nos graves com John nos agudos, algo bem incomum!) dialogam em triplo nos versos, respondendo nas frases pares às chamadas de John nas frases ímpares, expliquei-me? Melhor desenhar:
 


Note, assim, rapidamente, duas coisas importantes, denotando a qualidade deles como letristas

  • Que segue válida a política de não repetirem letras, como descobri ao descrever Do You Want To Know A Secret, que foi a 2ª e última canção a repetir versos. Tell Me Why tem os dois versos (1-4 e 5-8) com letras diferentes. No Verso 1, é John reclamando por que ela o tratá-lo tão mal, mesmo ele tendo-lhe dado tudo o que tinha, e no Verso 2, pergunta-lhe o que ele precisa fazer para ela voltar, diz que não pode continuar assim chorando o tempo todo. Pobre John! 
  • Que TODAS (as quatro) rimas seriam RICAS, em português! Mesmo que em inglês não se use esse conceito, eu gosto de aplicá-lo.

1-3: verbo com adjetivo; 
2-4: adjetivo com verbo; 
5-7: verbo com preposição; 
6-8: verbo com substantivo.

Ah, os três entram também entram em falsete ("If there's anythin' I can do") na ponte, cuja tradução está no caput desta análise! Impecáveis! Essa maravilha toda foi realizada em hora e meia de estúdio, no que seria a hora do almoço do dia 27 de fevereiro de 1964, em apenas oito tentativas, com todos em seus instrumentos, e com os três cantores soltando a voz ao vivo, incluindo as fantásticas harmonias e duelos. Em overdubs, apenas os vocais dobrados, tanto de John no principal como de Paul e George nos auxiliares.

No filme, Tell Me Why abre a sequência final de trechos de três canções tocadas ao vivo no programa de TV, juntamente com If I Fell (que já aparecera na íntegra em ensaio) e I Should Have Known Better (que já aparecera na íntegra na cena do trem). Deixo o vídeo aqui, neste LINKpara que deliciem-se:

(i)   com o sorriso de Ringo, 
(ii)  com a gaita de John, 
(iii) com as harmonias vocais dos três, e, claro,  
(iv) com a dancinha das perninhas de George!

Bem, para finalizar, vocês gostaram de ver Tell Me Why tocada ao vivo? Pois contentem-se, porque foi a PRIMEIRA e ÚLTIMA vez. Nunca a tocaram nas turnês, nem nos programas de TV, nem John, muito menos Paul em suas carreiras solo lembraram-se dela!   

Gente insensível!


  

 

33. Can´t Buy Me Love  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

Aqui, neste LINK, encontre sua análise: 
Blog do Homerix: Can´t Buy Me Love

 

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LADO B

Espero ser mais conciso nas canções da Lado B. Ao menos não haverá descrições de suas cenas no filme nas últimas 6 canções, pois não fizeram parte da trilha sonora. MINTO! Uma delas teve cena, sim, mas foi relegada, Em breve sabermos! Após o término das filmagens em meados de abril, fizeram alguns shows até o fim do mês, e saíram para merecidas férias de 30 dias inteiros, celebrando o sucesso mundial que tinham, já milionários. Felizmente, John levou seu violão para o Tahiti,  para aonde foi com a esposa Cynthia, e o novo casal George e Pattie Boyd, que ele conheceu nas filmagens. A outra metade dos Beatles, ou seja, Paul (com Jane Asher) e Ringo (com a esposa Maurreen) foram passear de barco nas Ilhas Virgens Britânicas. Paul também levou o violão!

Afora You Can't Do That, que fora feita antes das filmagens, e lançada com Can't Buy Me Love, e I'll Cry Insead, feita para o filme e rejeitada, as demais quatro canções foram feitas nas férias de maio, e gravadas nos dois primeiros dias de junho. Foram três de John e uma de Paul, e o esquema era aquele: "Hey ladshave this song for you!", e os outros três, que absolutamente não a conheciam, tinham que aprender e sair tocando, direto, melhorando-a on the job.


45. Any Time at All  (Flirt Girl Song by John Lennon)

John se oferece: "A qualquer hora! A qualquer hora! A qualquer hora! É só me ligar e estarei com você.  Se você precisar de alguém pra amar, apenas olhe nos meus olhos, estarei aí pra te fazer sentir bem. 
A canção muito provavelmente foi feita no mês de férias que os Beatles tiveram em maio, após as sessões de filmagem de A Hard Day's Night. Tanto John quanto Paul levaram seus violões para seus diferentes locais de descanso, sendo o primeiro mais produtivo, produzindo três composições, uma delas, Any Time At All. E ela mostrou-se bem complexa, com 9 acordes. A estrutura é a repetição do par verso-refrão três vezes sendo que a última, entra uma ponte instrumental no lugar do verso, com acordes diferentes, deveras notável. John se coloca à disposição  da garota para amá-la, é só ligar! Foi praticamente uma repetição do tema de All I've Got To Do, de With The Beatles, de chamar ao telefone, enfim, mas desta vez num rock da melhor qualidade.  
 

Ela veio à vida numa sessão em 2 de junho, primeira após as férias. Foram sete takes iniciais, com todos em seus instrumentos usuais, depois passaram a  duas outras canções, e voltaram à noite para mais quatro takes de Any Time At All, desta vez com já com o excepcional piano de Paul, nos versos e na ponte!  
 
Marcante para mim é o início, com uma batida seca de Ringo, e John entra com o refrão a capella, lá em cima, num Beatle break, sem instrumentos "Any time at..." e a guitarra só entra no "..all". Note que são três as vezes em que a expressão é cantada em cada refrão, mas a segunda vez, quem canta é Paul, voltando John para a terceira. É sabido que Paul tinha mais alcance de vocal que seu companheiro. Os versos entram então, cantados uma oitava abaixo do refrão, e há duas vezes o artifício fundamental do overdub, porque seria impossível cantar direto os trechos, afinal John tinha que respirar
"I'll be there to make you feel right (If you're feeling) sorry and sad" e 
"There is nothing I won't do (If you need a) shoulder to cry on", 
as partes em azul são colocadas a posteriori. 
 
Notável é o piano que aparece nos versos, com uma nota comprida a cada acorde, e que também faz a ponte, antes do refrão final, uma notável sessão instrumental, primeiro em composição com a guitarra de George, e se destacando mais ao final da sessão com notas crescentes introduzindo mais um refrão. Esse belo piano foi ideia de Paul, já a caminho de ser considerado o melhor pianista entre os 4 Beatles! 
 
Depois daquela sessão de 2 de junho, nunca mais os Beatles tocaram Any Time At All, em nenhuma ocasião, no time at all, uma verdadeira lástima. Não encontrarão nada nesse sentido, nadinha mesmo, nem em sonho, aliás, podemos apenas imaginar a batida firme de Ringo, qual porta batendo, John mandando bem alto a capella Any time at all, já as guitarras entrando (djan djan djaaan) e logo segue Paul ainda mais alto em outro Any time at all, depois volta John com Any time at all, what you've gotta do is call and I'll be there.... 
 
Não, não adiantará chamar.... eles não virão jamais.... 
You can just imagine! 

Enfim, deixo aqui a canção, pra ajudar vocês a sonharem, neste LINK

 

46. I´ll Cry Instead  (Dispair Miss Song by John Lennon)

John se oferece: "Eu tenho todos os motivos do mundo para estar louco porque eu acabei perder a única garota que eu tinha. Se eu pudesse fazer do meu jeito, eu me trancaria a chave hoje, mas eu não posso, então em vez disso, eu choro. 
Após um encontro com Bob Dylan em janeiro, em que os Beatles se deliciaram com um disco do bardo, John havia se decidido que era hora de começar a falar menos para adolescentes e mais sobre seus sentimentos. Esta canção tem um leque memorável de angústias expostas com relação a seu relacionamento perdido ('"cause I've just lost the only girl I had"), em que ele passa, identifiquei cinco delas:


mas como não pode ("but I can't"), e até conseguir ("until then"), ele apenas chora, que é o título da canção ("I'll cry instead") . Aliás, que nem se pode chamar de refrão, mas é a ÚNICA letra que se repete ao longo de todas as linhas, impressionante a construção lírica do poema! A forma foi o mais-que-comum verso-verso-ponte-verso, depois repetindo a ponte e o Verso 3.
 
Musicalmente, alguns  destaques a serem feitos, são quatro músicos excelentes tocando magistralmente seus instrumentos regulares, com John no violão, Paul no baixo (foi bem variado, note o walking bass na penúltima frases de cada verso!), George na firme guitarra e Ringo na bateria (ah, ele tocou pandeiro também, aliás, que aparece até mais que a bateria). John cantou sozinho, sem as tradicionais harmonias que eles faziam tão bem, apenas dobrou seu vocal, em overdub. Tudo isso aconteceu em 1º de junho, a 1ª sessão de gravação após um mês de férias, depois das filmagens do filme (!). Foram seis takes iniciais, quando viram que estava curta demais para uma sequência do filme (ver abaixo), então fizeram mais dois takes, com a repetição das duas partes conforme acima falado.
 
O fato notável é que ela foi feita por encomenda para musicar aquela cena em que os quatro fogem das fãs e fazem malabarismos, para a qual foi aproveitada Can't Buy Me Love, porém foi considerada carregada de emoções demais, havemos de concordar, não é mesmo? Além disso, ficou ainda curta para preencher a cena toda. Ela nunca foi tocada ao vivo, mas felizmente foi ressuscitada num tributo a Lennon, num relançamento do filme em 1981, de fundo a uma série de fotos deles em 1964  passando em ritmo alucinante! Delicie-se neste LINK, que tem até uma repetição do Verso 1.
... eu disse 'felizmente' porque fizeram o tributo

mas foi 'infelizmente' por causa da razão para ele...

 

47. Things We Said Today  (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul declara: "Você diz que será minha, garota, até o fim dos tempos. Nos dias de hoje uma garota tão gentil parece tão difícil de se achar. Algum dia quando estivermos sonhando, profundamente apaixonados, sem muito a dizer, então nos lembraremos de coisas que dissemos hoje   
 
Essa foi a única canção de Paul no Lado B do disco. Ela foi feita durante as merecidas férias do grupo em maio de 1964, descansando do intenso período de filmagens do filme A Hard Day's Night. A letra versava sobre sua relação com uma menina que pouco tem tempo de ver porque ambos têm carreiras atribuladas. ("Someday when I'm lonely, wishing you weren't so far away").  Esse era o caso de sua namorada Jane Asher, atriz concorrida, que viajava muito, assim como ele. And I Love Her, escrita pouco mais de um mês antes, também era inspirada ela.  
 
O tradicional da época em termos de estrutura estava em Things We Said Today: dois versos, uma ponte e mais um verso, sem refrão, todos os versos com letras diferentes, repetindo-se depois a ponte e o verso final. O tom geral da canção é de otimismo e felicidade pelo novo amor, "tão difícil de encontrar, assim tão carinhosa!". Acho notável a ponte ("Me, I'm just the lucky kind. Love to hear you say that love is luck.."), tanto pelo aumento de tensão que traz à canção, com Ringo batendo mais forte, e em especial, com três ocorrências na letra: 

  • A rima interna dupla, pois ele rima "Love TO HEAR YOU SAY that love is luck" com  "Love IS HERE TO STAY and that's enough" dupla porque rima "Hear" com "Here" e "Say" com "Stay" ; 

  • E essa letra da frase final da ponte É PARTE do início do verso seguinte, perceba: a ponte termina com "... and that's enough..." e segue com "...to make you mine, girl, be the only one" do verso final; 

  • Além das rimas finais de todas as linhas, que seriam ricas, em português:   "kind" com "blind" e "luck" com "enough".

Things We Said Today foi apresentada aos demais companheiros numa sessão do dia 2 de junho e estava PRONTA apenas TRÊS TAKES DEPOIS, o que mostra a capacidade dos instrumentistas. Ela é marcada pelo triplet grave do violão de John, aquele ta-ra-ran do início, e que é repetido no meio e no final da canção, magnífico! John também toca um piano que encorpa a ponte , mas quase não se o ouve no mix final. A ponte também é enriquecida pelo pandeiro de Ringo! Apenas se ouve a voz de Paul na canção toda, dobrada e em segunda voz nas metades finais dos versos.  
 
A canção foi bastante tocada  ao vivo, sendo duas vezes na BBC e muitas nas excursões de 1964, inclusive no Hollywood Bowl, neste LINK Nessas ocasiões, era George quem fazia as segundas vozes de Paul.  Notem como George se aproxima do microfone quando Paul vai cantar a 2ª parte de cada verso, em "Someday when we're dreaming" ou "Someday when I'm lonely". Ela foi a escolhida para fazer o Lado B de A Hard Day's Night em compacto lançado simultaneamente com o LP na Inglaterra. Nos Estados Unidos, tudo foi diferente, como era naqueles tempos de Capitol rebelde, fazendo uma salada com o catálogo dos Beatles.. . O LP com a trilha sonora do filme tinha no Lado B, instrumentais da orquestra de George Martin. A canção foi lançada em outro LP, Something New, uma mistureba danada e que até repetia canções, um engodo. Enfim, eram os tempos de rebeldia. A partir de Revolver, eles acabaram cedendo e adotando o mesmo catálogo da Inglaterra.

 

 48. When I Get Home  (Love Girl Song by John Lennon)

John declara: "Who-hoaa,Who-hoaa, Eu tenho um monte de coisas para falar com ela quando eu chegar em casa. Vamos, eu estou saindo porque eu vou ver minha garota hoje. Eu tenho um monte de coisas que eu tenho que dizer a ela" 
 
Apesar de estar junto com Cynthia em férias no Tahiti após as filmagens de A Hard Day's Night, John descreve as saudades de casa, como se estivesse nas suas longas ausências em excursões (e filmagens, no caso daquele ano), talvez em homenagem à esposa, que ficava com o pequeno Julian o tempo todo! Lembrando um pouco a própria canção-título, mostra-se um trabalhador sonhando em voltar para os braços da amada. John mostra todo seu apuro literário ao usar pela primeira vez na história do rock a palavra "trivialities", que foi buscar para fazer rima rica com "please". 
 
A coisa começa lindamente com o refrão gritado em harmonia tripla (John Paul George) "Whou-hoaa, Whou-hoaa I got a whole lot of things to tell her" até chegar ao nome da canção, cantado apenas por John, e então entra Ringo com uma virada vigorosa na bateria. Segue John cantando o 1º Verso, "Come on, I'm on my way...", pedindo licença pra ir falar muita coisa pro seu amor, como diz a letra do caput ali de cima, e vem outro refrão, e outro verso "Come on, if you please...", diz que não tem tempo a perder (as tais trivialidades), que precisa ir pra casa, depois mais refrão, e vem a ponte ("When I'm getting home tonight, I'm gonna hold her tight. I'm gonna love her till the cows come home...") alterando a melodia, apenas com John de novo, adoro esse trecho, tanto que coloquei no título desta análise, e terminarei com com uma alegoria usando a expressão. Finalmente, o Verso 3 com mais um "Come on..." final, com John pedindo passagem, e dizendo que não tem nada que ficar parado ali, e tudo termina com um refrão final estendido.  
 
Toda essa estrutura, bem complexa, foi apresentada aos demais, num 2 de junho de 1964, e finalizada numa sessão única, a última reservada para completar o álbum! Foram necessários 11 takes, com todos em seus instrumentos usuais, duas guitarras, baixo e bateria, depois voltaram, John para dobrar seu vocal, Paul e George para fazerem suas harmonizações nos refrães, e Paul acrescentou também um piano. Ringo acentuou muito bem com seu prato todos os momento de clímax dos refrães, mas sente-se a falta de mais uma virada de bateria introduzindo o 3º verso, e compreende-se: ele estava ali no sacrifício, cheio de dor em sua garganta: iria internar-se no dia seguinte para extração das amídalas, o que causou sua substituição por um certo Stevie Nichol nos primeiros 10 dias da primeira grande excursão internacional, à Dinamarca, Holanda, Hong Kong e à primeira cidade da Austrália. Ele ficou um pouco magoado por irem sem ele... Ringo voltaria ao grupo nas demais cidades da Austrália e Nova Zelândia! A canção nunca foi tocada ao vivo e é subavaliada pelos críticos, mas não por mim, e decerto a grande maioria dos fãs, que a amarão até as vacas voltarem para casa, no fim dos tempos! 
 
Na falta de imagens deles ao vivo, pensei em colocar imagem de Cynthia, a inspiradora da canção, mas fui buscar algo coadunado com a expressão que aprendi.... e encontrei várias ... é uma expressão comum da língua inglesa, que aproveita o fato de as vacas ficarem o dia todo pastando e voltarem len-ta-men-te de volta pro estábulo no final do dia. A do lado é a capa de um livro infantil. Ah, sim, claro, ia me esquecendo de colocar o LINK... na falta de nada ao vivo, ou um áudio diferente, coloco o original.


34. You Can't Do That  (DtR Girl Song by John Lennon)

49. I'll Be Back  (DtR Girl Song by John Lennon)

John implora: "Você sabe, se você partir o meu coração, eu vou embora, mas eu voltarei porque eu já lhe disse adeus antes, mas eu voltei"

Canção de DR de casal, com submissão do sujeito totalmente apaixonado! John segue em sua insegurança sentimental que é uma constante em toda a sua carreira, é só lembrar que Don't Let Me Down lá do final, quando já mudou de esposa, mas o coração segue inseguro. A canção foi feita nas férias de John e George e respectivas companheiras no Tahiti. Na volta, logo no primeiro dia de gravação para o Lado B do LP A Hard Day's Night, 1ª de junho de 1964, dedicaram três horas em uma sessão noturna e 16 takes para terminá-la, e com muitas variações ao longo do caminho, pra se ter uma idéia, os dois primeiros foram levados no ritmo de valsa (tempo 6x8, pa-pa-pum-pa-pa-pum), que felizmente sobreviveu ao tempo e apareceu no Projeto Anthology, note, neste LINK, como é meio forçado, tanto que John reclama que é difícil de cantar. A partir do 3º take, estabeleceu-se o tempo normal, de 4x4, sinta a diferença, neste LINK, ainda com guitarras, e ainda sem a introdução, e ainda eram apenas John e Paul cantando juntos, sem a participação de George na harmonia, que foi para aonde a canção evoluiu ate o Take 16, que foi considerado o melhor. Depois vieram overdubs de John dobrando seu vocal e tocando mais um violão por sobre o seu! 
 
O notável de I'll Be Back é sua  complexa estrutura, de 10 componentes, um recorde, senão vejamos: verso-verso-ponte1-verso-verso-ponte2-verso-verso-ponte1-verso! E nenhum deles é refrão!  É bem verdade que os versos são curtinhos, de três fases cada "You know - If you break my heart I go - But I'll be back again" e depois "Cause I - Told you once before good by - But I came back again" e por aí vai, e também a Ponte 1 é curta, com duas frases (uma repetida),  e vem com o requinte de que, quando é repetida, ela vem com letra diferentes entre as duas ocorrências, e um requinte adicional de rimar uma com a outra, vejam: "I love you so, I'm the one who wants you" e "I wanna go but I'd hate to leave you". A 2ª Ponte, novidade absoluta na carreira, e que divide a canção no meio, um terceiro requinte, já é maiorzinha, tem quatro frases, começando em "I thought that you would realize" e indo até "I've got a big surprise". Em termos de tempo, os curtos versos duram apenas seis compassos, e nas pontes John faz questão de inovar, suprimindo dois tempos do que seria o normal, então, as Pontes 1 tem 6 compassos E MEIO, e a Ponte 2 tem nove compassos E MEIO! Esse John!
 
Outra coisa é o tom da canção, que os especialistas não têm certeza se é La Maior ou La Menor, porque a abertura de George ao violão fica lá e cá, depois o verso começa cá e lá. Aliás, com tanta melodia, por conta da estrutura com um verso e duas pontes, a quantidade de acordes de I'll Ba Back colocou-a no pódio Beatle até então: foram 12 os acordes utilizados

Versos: A Am C G F E7 A 

Ponte 1: F#m Bm E7 D E D E 

Ponte 2: Bm C#m F#m B7 Bm E7 D E D E 

Notáveis são as variações de tempo e as inclusões pontuais de triplets no violão de George, que podem ser notados  em pontos selecionados  ao longo da canção, melhor identificados com fones de ouvido (no esquerdo, ok?). Os versos são em harmonia dupla com Paul, mas nota-se uma nota alta de George ao longo! As pontes (todas as TRÊS!) são levadas apenas por John! E a canção termina com um Fade-out, também inédito para um final de LP, alternando também lá e cá....e segue a dúvida dos especialistas...

Finalmente, deixo aqui, neste LINK, como ela ficou depois de tantos melhoramentos!!


UFA! 

Comentar 13 Lennon/McCartney Songs não foi fácil! É muita riqueza, muita inovação, muita qualidade, que a gente sente a necessidade de descrever. Qualificando um pouco mais, foram 10 primordialmente de John e as outras 3 de Paul, constituindo-se no maior momento de primazia de um compositor sobre o outro, respondendo por 76% das canções. Quem abriu os trabalhos, entretanto, foi Paul, com sua Can't Buy Me Love, com o luxuoso detalhe de ter sido gravada em Paris, numa única ocasião em que uma canção original Beatle foi gravada fora da Inglaterra, num 29 de janeiro de 1964. Depois, partiram para conquistar a América, voltaram aos estúdios para 4 sessões, a 25, 26 e 27 de fevereiro e 1º de março, e partiram para as filmagens de seu 1º filme, A Hard Day's Night, em meio das quais voltaram ao estúdio apenas no dia 16 de abril para justamente gravar a canção título, depois partiram para um mês inteiro de férias, onde compuseram outras quatro canções, e retornaram para mais duas sessões a 1 e 2 de junho.

Todas foram montadas nos dois lados de um vinil, na ordem apresentada acima, que foi colocado numa capa antológica! O fotógrafo Robert Freeman, em sua 2ª capa Beatle, deu a ideia de apresentar 4 fileiras de fotos dos quatro membros da banda, como se fosse um rolo de filme, afinal, tudo foi inspirado pelo filme que estavam fazendo! O fundo das fotos era azul, e o título acima delas todas. No Brasil, felizmente optaram por lançar as mesmas canções, porém a capa tinha um fundo vermelho, e o nome foi abrasileirado, apresentando Os Reis do Iê Iê Iê, que seria também o nome do filme! Foi o primeiro álbum que eu comprei, ou  melhor, pedi na loja, para que meu irmão, 13 anos mais velho, me presenteasse, no meu aniversário de sete anos, em 1965. Eu já conhecia os Beatles, porque ele havia comprado o LP Beatles Again, seis meses antes! Comecei cedo a paixão!

No Reino Unido, o LP foi para o topo da parada onde ficou 21 semanas. Nos EUA, preferiram lançar diferente... Pegaram as sete canções da trilha, mais I'll Cry Instead e acrescentaram mais quatro instrumentais de George Martin. Talvez por isso tenha ficado 'apenas' 12 semanas, mesmo assim, sendo o maior sucesso do ano, no mercado mais importante do mundo! O álbum oficial é regularmente colocado nas listas dos melhores álbuns de todos os tempos, em inúmeras enquetes.