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terça-feira, 31 de maio de 2022

OUÇA e LEIA - As Décadas Sem The Beatles- O Livro

Neste novo projeto do Submarino Angolano, descrevo as seis décadas após o fim do Beatles como abanda..

OUÇA a narração dos fatos e os sons ilustrativo, aqui, neste LINK 

(ainda indisponível... volte depois!!!)

LEIA o texto suporte do áudio, abaixo!!



As Décadas sem The Beatles – Um Prefácio


Neste glorioso ano de 2022, The Beatles completam 60 anos, ou 6 Décadas de existência, de acordo com meu particular critério de que The Beatles não eram The Beatles até a chegada do último Beatle, nosso querido Ringo Starr, que ocorreu em 22 de agosto de 1962, quando os Beatles adotaram definitivamente a formação que tanto amamos! E oficialmente, mesmo, foi no dia 5 de outubro, quando veio ao mundo o primeiro single, liderado por Love Me Do, a Canção Nº 1 da carreira.

Trecho de Love Me Do

Daí, viram outras 209 canções, sendo dezenas de obras-primas, até a Canção Nº 211, For You Blue, última do último LP lançado, em 8 de maio de 1970. Daquele total, 186 foram originais, de própria autoria.

Trecho de For You Blue

Foram exíguos 7 anos e meio, uma produtividade inigualável. Vamos considerar aquela a Década Beatle, mesmo com um redutor de 25%. Eles terminaram, sim, mas nunca deixaram nenhuma década passar, desde então, sem algum grande feito, produto, ou efeméride. Sempre mantiveram acesa a chama!! Vou tentar resumir o que foi mais marcante em cada uma das décadas pós Beatles, facilitado pela ótima conta de chegar proporcionada pelo ano do fim da banda.

Desde já, uma ressalva: isto aqui não será um relato detalhado do que foram as carreiras solo de nossos heróis, apenas um passeio pelos seus maiores destaques. E vamos estabelecer um critério temporal, nada menos do que o oficial: desde o início dos tempos, décadas começam no Ano 1 e terminam no Ano 10! Lógico, né? Nem tanto! Lembro-me da celeuma da ‘virada do milênio’ no ano 2000, e do relacionado ‘Bug do Milênio’, que faria pifar as máquinas eletrônicas que não estivessem preparadas para colocar os anos com mais de dois dígitos.

Não, nem 3º Milênio começou no 1º de janeiro de 2000, nem o tal ‘bug’ causou tanto estrago assim. Isto posto, quando eu me referir à década de 1980, por exemplo, discorrerei sobre o que aconteceu de importante entre 1º de janeiro de 1981 até 31 de dezembro de 1990. E assim por diante, com a honrosa exceção da primeira de todas elas sem os Beatles: a Década de 1970, para mim, começará em abril daquele ano, pois foi o mês em que os Beatles encerraram oficialmente a carreira, e vai, sim, até o TERRÍVEL dezembro de 1980!Finalizando a longa introdução, mais uma ressalva, para explicar o título deste ensaio. Por si só, o nome do projeto é uma inverdade. Não existem décadas SEM os Beatles! A partir daquele outubro de 62, os Beatles SEMPRE estiveram e SEMPRE estarão presentes, em nossos ouvidos, em nosso coração, em nossa alma! O SEM refere-se à existência da banda ativamente, que terminou em 1970. E mesmo assim, como boa regra, teve uma exceção!! Contarei sobre ela oportunamente!

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A Década de 1970 – Going Solo













A Década de 70 foi a da construção de suas carreiras solo, a primeira para três dos Beatles, mas a Única para John Lennon, pelo pior motivo… ele foi assassinado a poucos dias de sua virada. Nos primeiros anos, já morando em New York, John tornou-se ativista pela paz, e por isso batalhou com a imigração americana. Em seu 1º álbum, que tinha o nome da banda, Plastic Ono Band, John bradou o grito lancinante do abandono (em Mother)

Trecho de Mother

e da desilusão (em God),

Trecho de God

declarando que o sonho havia acabado. Imagine, seu 2º álbum, topou a parada americana, mas o hino de quem tirou o nome, não conseguiu (o single Imagine topou no Nº3!!!). Após mais um álbum consagrando a cidade em que vivia, John afastou-se de Yoko por 18 meses, passados em Los Angeles (período que chamou de The Lost Weekend), e ali lançou dois álbuns, num deles conseguindo seu primeiro Nº1, Whatever Gets You Through the Night, em 74, com participação de Elton John ao piano e fazendo harmonia vocal. Elton, aliás, proporcionou ao mundo a 2ª e última aparição ao vivo de nosso astro, que nos brindou com duas canções da época dos Beatles. Pena que existe apenas o áudio daquele momento. John fez apenas um show ao vivo integralmente seu, que seria lançado em álbum, postumamente. Chegou ao topo também com Fame, que coescreveu com David Bowie.

Trecho de Fame,

De volta a New York, lançou mais um álbum de covers (Rock And Roll), onde fez uma versão estonteante de Stand By Me,

Trecho de Stand By Me

e saiu do circuito por cinco anos para dedicar-se a Sean, o filho que lhe deu Yoko, um presente no dia de seu 35º aniversário. Queria não ser o mesmo pai ausente que fora para Julian. Seus outros Nº1 foram póstumos, o LP Double Fantasy e seu single (Just Like) Starting Over,

Trecho de (Just Like) Starting Over

um recomeço que durou apenas 20 dias… muito duro, isso….

Trecho de My Sweet Lord

Um George Harrison represado despejou, ainda no primeiro ano da década, canções em um álbum triplo que dizia que tudo passa (All Things Must Pass), liderado por My Sweet Lord,que o levou a ser o primeiro Beatle a ter um Nº1, ambos LP e single, dos dois lados do Atlântico. George inaugurou a era de shows beneficentes com o Concerto para Bangladesh no Madison Square Garden em 71, cujo LP topou a parada em UK. Teria mais um sucesso em 73, com Living in the Material World, que teve seu single Give Me Love, em 1º lugar na América.

Trecho de Give Me Love

Os outros quatro álbuns da década tiveram desempenho mediano. Foi o primeiro Beatle a excursionar, naquele país, em 74, mas desistiu dessa prática logo depois. E na vida pessoal, separou-se de Pattie Boyd e casou-se com Olivia Arias, que lhe deu seu único filho Dahni.

Trecho de Another Day

Paul McCartney começou com dois LPs solo, um deles ainda antes do fim dos Beatles, com uma obra-prima (Maybe I’m Amazed), e três singles, um deles 1º lugar nas paradas, mas o que eu mais gosto daquele início é Another Day,marca registrada do maior storyteller dos Beatles. Depois, tentou recriar o clima de banda, montando Wings, que teve muitas configurações, chegando a ser um trio em dois períodos (Paul, Linda e Denny Laine),. Ela excursionou pelo mundo. Nos Estados Unidos, Paul teve mais 6 singles e 5 LPs no topo das paradas, mas o único Nº1 na sua terra natal veio apenas com Mull of Kintire, que paradoxalmene nem coçou o topo das paradas do outro lado do Atlântico. Amo a música, a letra e as gaitas de fole.

Trecho de Mull Of Kintire

A banda acabou ainda na mesma década, na prática, quando Paul foi preso no Japão por posse de maconha. Depois daquilo, nada lançaram de marcante até seu fim oficial, em 81, quando Paul já havia lançado seu segundo disco totalmente solo, McCartney II. No cômputo geral da década, Paul lançou 36 singles!!! Seria um recorde mundial? Na vida pessoal, levou Linda aos palcos e ela lhe deu mais dois filhos, Stela e James, sendo que o parto da menina quase a levou deste mundo. 

A cereja do bolo, para Paul, seria um Oscar a que concorreu em 73, por Live And Let Die, tema do filme homônimo de James Bond, mas ele não veio.


Trecho de Photograph

Ringo Starr começou com um disco de clássicos americanos em homenagem à mãe, e lançou outros cinco LPs ao longo da década, o melhor deles, chamado apenas RINGO, quase chegando ao 1º lugar nas paradas, mas sua principal canção conseguiu chegar lá, Photograph, em 73. No álbum, lançou uma canção que John havia feito para ele mesmo, mas deu para Ringo lançar, I’m The Greatest, e extraiu outro Nº1, na cover You’re Sixteen (🎶🎵 You’re sixteen, you’re beautiful and you’re mine🎶🎵). Lançou 21 singles na década, contando os já assinalados, dentre eles a divertidíssima cover No No Song, que estava no álbum Good Night Vienna, de a gente se esborrachar de rir (🎶🎵 And I said: No no no no, I don't drink it no more, I'm tired of wakin' up on the floor🎶🎵).

Seguiu a carreira de ator que começara ainda com os Beatles, e teve algum reconhecimento pela crítica. Na vida pessoal, começou a década tendo Lee, sua única filha, também de Maurreen Cox, de quem se separou em 75. Teve alguns relacionamentos turbulentos até encontrar a eterna Bond Girl Barbara Bachnum set de filmagens, com quem se casaria no início da década seguinte, e que seria para sempre.

Trecho de Nobody Does It Better, de Carly Simon

No âmbito da banda, em si, a década começara com um prêmio inesperado, como que celebrando uma história: The Beatles ganharam um Oscar! Sim, pela trilha sonora do filme Let It Be. Ao longo da década, a EMI capitalizou com o material gravado pelos Beatles, com o lançamento de inúmeras coletâneas, com destaque para os álbuns Vermelho e Azul (73), dividindo cronologicamente a carreira 1962-1966 vs 1967-1970, com grande sucesso comercial, e outro par de álbuns dividindo-a tematicamente, The Beatles Love Songs (77) vs Rock And Roll Music (76).

Ainda neste ano, a EMI rendera-se, pela primeira e única vez, a um lançamento da Capitol, sua subsidiária nos Estados Unidos, que fizera uma imperdoável bagunça no catálogo oficial durante a carreira dos Beatles: oficializou o LP Magical Mistery Tour,exatamente como os rebeldes yankees haviam feito em 67, ou seja, tendo no Lado A as canções da trilha sonora do filme e, no Lado B, as canções que haviam sido lançadas em single naquele ano, com direito a 4 obras-primas.

Trecho de Magical Mistery Tour

Em 77, também saiu o único álbum ao vivo oficial, The Beatles At Hollywood Bowl, consolidando material de três shows no anfiteatro de Los Angeles, gravados em 64 e 65, que topou a parada em UK, mas não nos Estados Unidos, em movimento distinto do que se experimentava, sendo os americanos bem mais pródigos em apoiar os Beatles do que seus conterrâneos britânicos. Em 78, teve Beatles Rarities em 78, com aquelas canções Lado B, que não foram lançadas nas outras 4 coletâneas principais da década.

A década foi também marcada por desavenças comerciais entre os Beatles, com Paul processando os demais por conta da associação deles com um empresário inescrupuloso (processo que ele ganhou!), mas não entrarei em detalhes sobre o tema. Destacarei aqui o embate artístico que essa celeuma provocou entre os dois membros da maior dupla de compositores que já se viu, uma troca de farpas musicais, mais especificamente por duas canções: Too Many People, de Paul,

Trecho de Too Many People

lançada em RAM, seu 2º LP em 71, onde Paul insinua a culpa de John pela separação dos Beatles (verdade!) mas que não precisa mais dele (mentira!), e John responde asperamente em How Do You Sleep, lançada em Imagine, também seu 2º LP, atacando o estilo de composição do antigo companheiro (absolutamente injusto!). 

Trecho de How Do You Sleep

Ao longo da década, eles se encontraram umas poucas vezes, fizeram as pazes, e John definiu bem a situação entre eles, e quem era Paul, em sua última entrevista, dada horas antes de ser assassinado:

Paul é meu irmão!

Você sabe, em família, às vezes temos rusgas

Mas ao final do dia, não existe nada que eu não faria por ele

e eu tenho certeza que é recíproco!

... pausa para uma lágrima ...

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A Década de 1980 – 10 Anos de Luto

Início de All Those Years Ago

Eu defino os anos 1980 como a Década de Luto. Não foi fácil rompê-la com a mancha de ter um companheiro inconcebivelmente assassinado, sem a menor razão… enfim. Paul nem lançou nenhum single naquele ano, George, sim, mas para fazer homenagem: adaptou uma canção que fizera para Ringo gravar, acrescendo letras exaltando o finado amigo, e lançou-a ele mesmo em 81, com a participação dos outros dois Beatles, All Those Years Ago.

Segue All Those Years Ago mais um pouco e para

Paul fez Here Today no ano seguinte em homenagem ao parceiro, e sempre chora quando a canta ao vivo, em todos os shows, religiosamente. 

Trecho de Here Today

O álbum em que foi lançada, Tug Of War, topou paradas US e UK, vendeu milhões, foi bem recebido pela crítica, ótimas canções, dentre elas, uma sensacional, que eu amo de paixão, rock and roll alegre, contagiante, Ballroom Dancing

Trecho de Ball Room Dancing

e teve um single Nº1 mundial, Ebony and Ivory, um dueto com Stevie Wonder, verdadeiro hino antirracismo (🎶🎵Side by side on my piano keyboard, oh Lord, why don't we?🎶🎵), branco e preto vivendo em harmonia, por que não?

Outro dueto de Paul também chegou no todo da parada, um ano depois, com Michael Jackson em Say Say Say, também no álbum Pipes of Piece. Era a segunda vez em que fazia dueto com o Rei do Pop, ficaram amigos, até que Paul sugeriu a ele que comprasse catálogos de artistas famosos, pois era um bom negócio, e ele aceitou a ideia: comprou o catálogo de uma banda chamada The Beatles, por 47,5 milhões de dólares, em 85!

Em 87, Paul lançou All The Best, a 1ª coletânea cobrindo toda a carreira solo, pré e pós Wings. Teve duas versões, e eu descobri isso da pior maneira. Assim que chegou, eu comprei, 17 canções, fui ouvindo, ouvi, acabou e … cadê Mull of Kintire? Eu sabia que tinha… mas havia ficado na outra versão, para os ingleses…. Eu comprara a versão americana, que tinha Junior’s Farm no lugar…. E eu nem a conhecia… Não tive dúvidas, assim que pude, comprei a versão britânica! Foi um grande sucesso em UK (2º lugar) mas nem passou perto nos EUA, incrível… acho que até devem ter se arrependido das escolhas! Foi ali a primeira vez que tive acesso a No More Lonely Nights,

Trecho de No More Lonely Nights

linda balada de Give My Regards to Broadstreet de 1984, filme em que foi também ator, junto com Linda e Ringo, com bilheteria fraca e crítica idem, mas trilha sonora de primeira, com ótimas versões inclusive de canções da época dos Beatles, chegando ao topo em seu país.

Restinho de No More Lonely Nights

Em 88, Paul fez um lançamento exclusivo para o mercado soviético, CHOBA B CCCP, apenas com covers do bom Rock And Roll e uma surpreendente interpretação de Summertime, sim, de Gershwin, sem dúvida inspirado na grande Janis Joplin.

A década terminou para Paul com um elogiado álbum, Flowers in the Dirt, que topou a parada em UK, e seu carro-chefe era My Brave Face.

Trecho de My Brave Face

O álbum foi levado na excursão mundial que começou em 89 e culminou com dois shows em abril de 90 no Maracanã, um deles um recorde mundial imbatível, 184 mil pagantes em show de um artista solo, e eu era um deles. Naquela excursão, finalmente ele perdeu os pudores, e começou a tocar canções da época dos Beatles, sem medo de ser feliz! Aproveitou para registrar seu amor pelos medley, lançando mais um, curtinho, misturando as canções do 1º single dos Beatles, ambas de sua autoria, P.S.Love Me Do

Trecho de P.S Love Me Do OPCIONAL

O CD Triplo que retratou a excursão, Tripping The Live Fantastic, foi um sucesso mundial, vendendo mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos. Depois de um 1981 virgem em singles, em homenagem à perda de John, a década viu 25 lançamentos de Paul, mas outros Nº1 apenas em lançamentos beneficentes e só em UK.

Trecho de Dream Away

George lançou dois álbuns em anos seguidos logo no começo da década, sem muito sucesso, mas não posso deixar de destacar Dream Away, do álbum Gone Troppo, com sua guitarra característica.

Depois, ficou cinco anos parado, aparecendo aqui e ali como convidado, para voltar em 87 com Cloud Nine, um LP elogiado, e nele um single que o levou a mais um Nº1 na América, a ótima cover I Got My Mind Set On You,

Trecho de Got My Mind Set On You

com direito a um divertidíssimo clipe, e, falando nisso, uma outra peça de outra canção do mesmo álbum, When We Was Fab, concorreu aos Melhores do Ano. Mais para o fim, George se animou e criou em 88 uma banda estelar, juntamente com outros monstros Roy Orbison, Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne, a que chamou The Travelling Wilburys, com seu primeiro disco batendo o 3º posto da parada americana, com destaque para a ótima Handle With Care.

Trecho de Handle With Care

Um segundo álbum, já sem Roy Orbison, que morrera entre os dois, ironicamente chamado Volume 3, teve sucesso comercial, ainda que menos brilhante nas paradas. No mesmo 1990, a banda ainda participou com a ótima Nobody’s Child,canção carro-chefe do lindo projeto homônimo tocado por George, inspirado por sua esposa, em benefício de crianças romenas abandonadas em orfanatos no período pós União Soviética.

Trecho de Nobody’s Child

Era um CD com canções compiladas pelo eterno Beatle. Um ótimo disco, para fechar a década de George com chave de ouro, com participação, Elton John, Guns and Roses, Ringo Starr, Paul Simon, Van Morrison, Bee Gees, Stevie Wnder, Billy Idol, veja só, presenças estelares. No total, foram 16 singles na década, sendo 6 deles com o Travelling Wilburys! Um deles merece destaque, até pela forma como o conheci: acabara de assistir a Máquina Mortífera II na telona e reconheci uma voz e uma guitarra na canção que acompanhava os créditos... era Cheer Down, que posteriormente abriu o LP com a trilha sonora do filme.

Trecho de Cheer Down

Era muita honra ter um Beatle em seu projeto.

Aliás, antes de virar a página para nosso querido Ringão 80, vale o registro da experiência do nosso guitarrista predileto em produção de filmes. Sua Handmade Films, que começara ainda na década anterior, com o prestigioso A Vida de Brian. Sua amizade com o grupo Monty Python foi a inspiradora da iniciativa e ele produziu também Time Bandits. Produziu um total de 25 filmes, alguns dos quais bem sucedidos, mas com um fracasso memorável, mesmo tendo a presença de Madonna e seu marido Sean Penn, Shanghai Surprise, para o qual fez algumas canções, pouco inspiradas.

Trecho de Wrack My Brain

Ringo se casou com Barbara Bach em 81, e continuam juntos até hoje, assim como unidos estiveram no alcoolismo, e em sua cura, no final de 88, ambos abstêmios desde então. Foi o primeiro Beatle a se tornar avô, em 85, com a filha de seu filho Zak, também baterista. A vida no álcool prejudicou sua produção: foram apenas dois álbuns lançados na década, com pouco sucesso, um deles veículo para canções de Paul e de George, esta última até expressando seu estado mental, em Wrack My Brain, um dos apenas três singles originais da década.

Restinho de Wrack My Brain

Esteve em participações isoladas, uma delas junto com George e Eric Clapton num especial de TV comandado pelo ídolo deles três, Carl Perkins, participou da gravação de uma canção contra o Apartheid, e fez caridade no Prince’s Thrust no estádio de Wembley! Animado com a nova vida sem álcool, Ringo resolveu partir pra estrada e montou sua primeira All Star Band no final da década, cantando seus sucessos solo

Trecho de It Don’t Come Easy live com All Star Band no Greek Theatre LA

e também as que cantou e compôs na época dos Beatles, e dando oportunidade a cada um dos outros integrantes cantarem suas canções. Os americanos receberam muito bem a ideia, entregando-lhes plateias cheias. Dela, saiu um álbum e um single ao vivo, em 1990, com It Don’t Come Easy, seu primeiro grande sucesso, de 71.

Restinho de It Don’t Come Easy live com All Star Band no Greek Theatre LA

A prática continua firme até hoje, com componentes sempre diferentes. Aquela 1ª de 15 bandas que montou ao longo de 33 anos, tinha a presença, dentre outros, de Billy Preston nos teclados! Ringo, decerto, é o artista com mais amigos no mundo do rock. Na época, disputava com George, que conseguia unir aqueles astros todos num projeto de caridade! Não se podia dizer o mesmo de Paul…

Ringo teve um planeta descoberto em 84 nomeado 4150 Starr, em sua homenagem, brilhou como narrador de uma série infantil, e pra terminar muito bem a década nessa atividade paralela, Ringo foi nomeado para o Day Time Emmy de 89 por sua performance como Ator em outra série para Crianças.

Trecho de With A Little Help From My Friends com a All Star Band Live in Greek Theatre Los Angeles

Ringo e sua banda ainda cederam uma gravação de With a Little Help From My Friends para o projeto de seu amigo-irmão George, Nobody’s Child, fechando o disco com louvor, em meio a múltiplas celebridades.

Um último destaque da década: uma sensacional gravação ao vivo de I Call Your Name, composta por John, numa ‘homenagem’ ao 10º aniversário da morte do amigo e celebração do 50º de nascimento.

Trecho de I Call Your Name com Ringo Starr ao vivo

Eu sempre achei que a canção deveria ter sido a 14º de A Hard Day’s Night ce antada por Ringo, formato adotado nos primeiros 6 discos com exceção daquele, um disco de 13 músicas, sem a voz do baterista. Nesta versão ele está Nota 10!

Restinho de I Call Your Name com Ringo Starr ao vivo

Em termos de Beatles como banda, a década trouxe o lançamento de toda a obra em CDs. O primeiro CD dos Beatles que apareceu na face da terra foi justamente o último gravado, Abbey Road, ainda em 1983, e no Japão.

Trecho de Across The Universe do Past Masters #2 OPCIONAL

Os demais álbuns (e Abbey Road de novo) foram lançados pela EMI nos anos de 1987 e 1988, e com o bônus do lançamento das duas melhores coletâneas da história, em minha opinião: Past Masters #1 e #2, contendo todas as canções oficiais dos Beatles que não haviam sido lançadas em LPs oficiais, mas em singles e em um LP beneficente, de 69!

Segue restinho de Across The Universe do Past Masters #2 OPCIONAL

Genial, mas incrivelmente sem chegar ao topo nas paradas! Tão boas que foram incorporadas ao catálogo oficial, fazendo com que toda a obra da maior banda da história pudesse ser apreciada em 15 CDs (um deles duplo). A coleção, que adquiri assim que pude, foi instrumento de minha retomada pela paixão, depois de faculdade, emprego, casamento e filhos, ficava horas ouvindo aqueles 15 CDs, acompanhando com as letras, e também com a história das gravações das canções. O primeiro som digital Beatle que ouvi, no recôndito do lar, foi a voz de John murmurando 'Shoot', o baixo de Paul modulando e os tom-tons de Ringo.... a guitarra de George entrando de mansinho, crescendo no refrão, e arrebentando no final em esplendoroso duelo com o cantor...

Trecho de Come Together

Ademais, a década registrou a condução dos Beatles ao Hall da Fama do Rock And Roll em 1988, em cerimônia sem a presença de Paul, que não quis ir porque os outros três, quer dizer, George, Ringo e Yoko, o estavam processando por desconfiarem de sua honestidade na divisão das receitas da Capitol. Tudo foi resolvido num jantar poucos dias depois, onde, após esclarecer-se a situação, vislumbraram a possibilidade do grande projeto da década seguinte, sobre o qual falarei em breve.

Trecho de Beautiful Boy

Pra não dizer que não falei do amado John, Yoko lançou em 1984 o álbum póstumo Milk And Honey, que tinha o restante das canções gravadas pouco antes de sua morte, e, ao rememorar-se 10 anos do fato, uma coletânea com 4 CDs, organizada por Mark Lewisohn, grande biógrafo da banda, percorrendo sua carreira solo, coleção que eu prezo muito, e está em destaque em minha estante, apesar de ter sido retirada de seu catálogo oficial. Foi apenas ali que conheci algumas canções, entre elas uma linda canção de ninar que ele deixou para Sean… Beautiful Boy

Trecho de Nobody Told Me

Finalizo o relato da década com os destaques daquele Leite e Mel, que seria, na interpretação de Yoko, o que havia nos lugares que as pessoas iam quando morriam…: um magnífico rock Nobody Told Me (… que haveria dias como estes…), que fez bonito nas paradas, chegando ao Top 10 em ambos os lados do Atlântico,e, tristemente, Grow Old With Me, canção que John fez para Ringo gravar, mas que nosso amado baterista não teve condições emocionais de fazer, pois expressava o desejo de envelhecer do compositor, direito que lhe fora tirado violentamente.

Pausa para mais uma lágrima…

Ringo realizaria o desejo de John, gravando a canção no novo milênio.


A Década de 1990 - Antológica

As décadas seguintes foram marcadas por grandes lançamentos dos Beatles, mas, principalmente, como banda mesmo, por incrível que pareça, passados mais de 20 anos de seu fim!!

A década de 1990 começou em Beatles Mode!!

Explico:

Trecho de I Want To Tell You – Live in Japan

Paul havia terminado a década anterior com a primeira excursão em que tocava em mais da metade do seu show, canções da época dos Beatles.

Ringo havia feito a sua primeira excursão da All Star Band, em que cantava as canções que cantou durante a época dos Beatles.

E, em 1991, George Harrison interrompeu um longo intervalo sem shows para fazer uma excursão pelo Japão, levando com ele Eric Clapton, e cantando muitos de seus sucessos da época dos Beatles, para enorme satisfação e gáudio da comunidade beatlemaníaca!

Mais um pouco de I Want To Tell You

Notou a expressão “A época dos Beatles“ repetida três vezes até aqui? Eu interpreto como um sinal de que os três Beatles remanescentes estavam pensando seriamente em algo como uma volta do mito. E o estopim foi um jantar, ainda na década anterior, entre os quatro membros, ou 3 membros mais Yoko, para resolver uma pendência judicial, e a posterior cessão de três canções que John havia composto por volta de 1977, porém deixado na forma de demos. Foi o embrião do Projeto Anthology!

Trecho de From Us To You - Live at the BBC

Enquanto os 3 Beatles trabalhavam na seleção das canções e faixas especiais do projeto, outra seleção era feita, complicada, por George Martin: a de escolher 56 dentre 275 canções que os Beatles apresentaram em 52 programas ­da BBC, rádio oficial do governo inglês, gravados entre 63 e 65. Um dos programas era chamado From Us To You, uma adaptação do grande sucesso da banda!

O resultado, o CD Duplo Live At The BBC, de 1994, oficializava parte do que já corria pelo mundo na forma de discos piratas, os famosos ‘bootlegs’, e foi extremamente bem-sucedido, topando a parada inglesa e chegando em 3º na americana, claro, vendendo muito bem em todo mundo, ávido por ouvir Beatles novamente!

Trecho do trailer de Anthology na ABC

John Lennon fala: “I had a vision when I was twelve… Beatles with an A and we are”

Locutor anuncia o Projeto Anthology na TV

John Lennon fala “That’s a good job!”

O Projeto Anthology, entretanto foi muito mais que ouvido.

Foi também visto e lido!

Um pacote completo com música, documentário e livro.

Da parte musical, são três CDs duplos, com material composto de versões das canções dos Beatles que haviam ficado pelo caminho; fosse de takes não utilizados, ou canções cedidas para outros artistas, projetos especiais, enfim, muito do que a comunidade Beatlemaníaca já conhecia. Foi mais uma forma de oficializar a pirataria. Os CDs tinham capas criadas pelo amigo Klaus Voorman, dos tempos de Hamburgo, que já havia feito algo parecido com Revolver, em colagens de imagens da carreira dos Beatles acompanhando a ordem cronológica dos três volumes.


Segue o trailer de Anthology na ABC

George: “We had fun!”

Ringo: “Just … fun!”

Paul fala: “We were never the same...”

John fala: “We were the first working class singers …”

George: “We were tight…really tight … as friends!”

Paul: “We were just trying to improve all the time.”

Paul: “… if this was a band, what would be a mad name for it?”

George: “We were allwas a little nervous before each step of the ladder”

John: “.. we’ll do a telly show and ev’rybody will watch us on satellite”

Paul: “Really glad that most of the songs dealt with love, peace, understanding…”

Em paralelo, fizeram um documentário especial sobre a carreira deles, contendo imagens de shows, da histeria, da vida dos quatro Beatles, entrevistas com Paul, George e Ringo, isolados ou conversando, além de depoimentos em vídeo já dados pelo finado John. O documentário foi exibido em seis episódios pela inglesa ITV, e em três pela rede americana ABC. No Brasil, a TV Globo exibiu em cinco episódios! Os vídeos foram lançados em oito fitas videocassete (e posteriormente em cinco DVDs).

Segue o trailer de Anthology na ABC

Ringo: “It was magical… four guys … Pretty sensational”

George: “They gave their money, and they gave their screams but The Beatles kind of gave their nervous systems”

Ringo: “I loved this ...absolutely loved this”

Paul: “It was just as paradise”

George: “Thet used us as an excuse to go mad...”

O documentário ganhou o Grammy de 97 de Melhor Vídeo de Longa Metragem. Lançaram também um tijolão, em 2000, um livro enorme com a vida dos Beatles contada por eles mesmos, uma preciosidade que foi direto à prestigiosa lista dos Bestsellers do New York Times. Sucesso em todas as mídias, quase 30 anos após o final da banda!

Trecho de Free As A Bird

Porém, a cereja do bolo foi a volta das vozes dos Beatles cantando uma canção oficial, a voz de John, vinda do além. A 1ª delas foi Free As A Bird, originalmente dois versos de John, que ganharam duas pontes, compostas por Paul, cantadas individualmente por ele e depois por George, ligando maravilhosamente com os versos cantados por John, que ganharam as harmonias vocais de Paul e George (que saudade!) em algumas ocorrências do nome da canção. A guitarra de George está sensacional, muito ao estilo de … George, arrepio-me só de lembrar. E a bateria de Ringo, firmíssima e envolvente!

Segue Free As A Bird

Ela garantiu mais dois Grammy’s, (o 9º e o 10º) para os Beatles, como banda, o de Melhor Performance de um Grupo com Vocais., e o de Melhor Vídeo de Curta Metragem. Ela abria o CD duplo Anthology 1 e veio acompanhada de um videoclipe espetacular, com 80 a 100 referências às letras das canções e à vida dos Beatles e terminava com George tocando um ukelele,

O período coberto pelo CD começava até antes da carreira oficial, com algumas das performances nos Decca Tapes, quando foram recusados (que bom!), até as gravações do final de 1964.

Trecho de Leave My Kitten Alone do Anthology 1

Eram 60 faixas (!) com gravações em programas de rádio e TV, e destaques (minha opinião) para a desprezada e ótima cover Leave My Kitten Alone, preterida em favor de Mr. Moonlight no álbum Beatles For Sale … mas também por uma divertidíssima cover Besame Mucho

Trecho de Besame Mucho de Anthology

Naquele ano de 1995, paralelamente ao Projeto Anthology, Michael Jackson realizava, do outro lado do Atlântico, um lucro formidável, vendendo 50% dos direitos ao catálogo Beatle por 110 milhões de dólares, lembrando que ele pagara 47,5 milhões por sua totalidade, 10 anos antes.

Trecho de Real Love

No ano seguinte, mais uma etapa do Projeto Anthology: outra canção de John, Real Love, abria o CD duplo Anthology 2, porém, daquela feita, não houve acréscimo de composição, pois ela foi considerada já pronta para ser gravada, claro que com instrumentação e harmonizações vocais acrescentados pelos outros três Beatles.

Mais um pouco de Real Love

Um vídeo-clipe da canção foi lançado quase 20 anos depois… aquele piano subindo aos céus foi demais pra mim... O novo CD Duplo, em suas 45 faixas, trazia versões alternativas de gravações de 1965 até o comecinho de 1968, e novidades deixadas para trás, como por exemplo a ótima That Means A Lot,

Trecho de That Means A Lot

e também If You’ve Got Troubles, duas Lennon/McCartney, esta última cantada por Ringo, e 12-Bar-Original, uma instrumental composta pelos quatro Beatles.

Ainda no mesmo ano, veio o Anthology 3, porém sem a terceira canção de John, All For Love, devido à recusa de George em gravá-la, pena, era muito linda!

Trecho da demo Now And Then de John

Trecho de Not Guilty

Dentre as 50 faixas, cobrindo tudo o que aconteceu desde as gravações do Álbum Branco até o final da carreira, a obra trazia diversas covers, algumas do Projeto Get Back, e uma deliciosa Ain’t She Sweet das sessões do Abbey Road, mas o destaque absoluto vai para as desprezadas canções Not Guilty, de George, e What’s The New Mary Jane, de John, um absurdo não terem sido lançadas oficialmente à época do Álbum Branco.

Trecho de What’s The New Mary Jane

Os 3 CDs duplos do Projeto Anthology toparam na parada americana, o que apenas o Anthology 2 conseguiu na Inglaterra, seguindo o já tradicional fenômeno de relativa má vontade dos conterrâneos em comparação com a ex-colônia d’além-mar, claro que comparativamente, pois as vendas em UK eram também estupendas, mas perdiam em situações de topo das paradas para os americanos.

Trecho de I Saw Here Standing There Live at the Star Club

Em 1977, apareceu no mercado um lançamento pirata das gravações dos últimos shows dos Beatles em Hamburgo, no Star Club, já com a presença de Ringo Starr, em final de 62. O som era captado em um único microfone e foi gravado em um gravador caseiro. Os Beatles não se interessaram, pela baixa qualidade do som, e tentaram bloquear o lançamento, mas foi só em 98 que eles conseguiram na justiça os direitos sobre as canções, com George presente na audição final.

A década teve agruras particulares para os três Beatles: Ringo perdeu Maurreen para a leucemia em 94, já estavam separados, mas ele lá estava a seu lado, abaladíssimo, no leito de morte. Paul perdeu Linda, sua companheira de 29 anos, em 98, para outro câncer, o de mama. Em 97, George aparentemente extirpou um câncer na garganta, que admitiu ser causado pelo cigarro, e dois anos depois, quase se juntou a John, partindo desta vida de forma violenta, após receber dezenas de feridas por uma faca de cozinha, de um lunático invasor de sua casa, sendo salvo por Olivia, que derrubou o agressor com um abajur, não antes de também ser estocada por ele algumas vezes, verdadeira heroína! George teve que extirpar uma parte de seu pulmão, órgão que seria acometido por um câncer, que o levaria desta vida, no início da década seguinte.

Trecho de La De Da

Em suas carreiras solo, tivemos Ringo firme nas excursões de sua All Starr Band. Foram cinco durante a década. Algumas com presenças notáveis, como Joe Eagles Walsh, Roger Supertramp Hodgson, Peter Ele Mesmo Frampton. Lançou dois álbuns com a banda e quatro álbuns solo, um deles ao vivo, do programa de TV VH1 Storyteller (muito legal!), mas apenas três singles. O melhor dos álbuns de estúdio foi Vertical Man, com a ótima La De Da

Mais um pouco de La De Da

Ringo participou de gravação de canções de vários amigos, em especial no álbum Flaming Pie de Paul, onde lançou uma canção composta pelos dois, única McCartney/Starkey da história, Really Love You.

Manteve-se ativo, então e, mais importante, sóbrio!

Trecho de I Lost My Little Girl do MTV Unplugged

Paul começou a década com três lançamentos, um deles a pioneiríssima gravação de seu show Acústico na MTV, o disco Unplugged - The Official Bootleg, antecipando-se brilhantemente à pirataria que fatalmente lançaria tudo, sem nada reverter a ele. Continha covers e versões acústicas de canções dos Beatles, além de apresentar sua 1ª composição, na guitarra, I Lost My Little Girl.

O segundo, Liverpool Oratorio, foi sua primeira incursão na música clássica, com relativo sucesso, angariando o respeito por sua versatilidade. O terceiro, ainda em 1991, foi uma surpresa para o mundo todo, menos para os russos, o CHOBA B CCCP, que fora lançado apenas na União Soviética, como falamos, nos relatos da década anterior.

Trecho de Get Out Of My Way

Fez mais uma excursão mundial, com maaaais Beatles e levando o LP Off The Ground, com algumas baladas mas minha preferida, um driving rock do bom, era Get Of My Way, que não saiu nem em single nem foi tocada na excursão. O álbum Paul Is Live, com uma icônica foto de capa atravessando a Abbey Road com sua cadela, igualzinha à Martha My Dear, registrou a excursão!

Mais um pouco de Get Out Of My Way

Mas Paul era imparável e lançou sua primeira incursão na música eletrônica, sob o pseudônimo de Fireman.

Depois do Projeto Anthology, Paul lançou o álbum Flaming Pie, seu maior sucesso desde Tug of War, quaaaase topando as paradas, e com direito a indicação ao Grammy de Álbum do Ano. Nesse disco, além de lançar a inédita parceria com Ringo, compôs uma linda valsa, The Songs We Were Singing, lembrando-se dos tempos em que compunha com nosso amado John,

Trecho de The Songs We Were Singing

e ainda homenageou a mãe dos filhos de Ringo, então recentemente falecida, com a canção Little Willow. Paul foi alçado ao posto de Cavaleiro do Império Britânico, ungido pela própria Rainha Elizabeth II em 1997, tornando-se Sir Paul McCartney.

Trecho de Run Devil Run

Depois do luto por Linda, lançou o visceral Run Devil Run, tendo como convidados David Pink Floyd Gilmour e Ian Deep Purple Paice, somente rock raiz gravado no Cavern Club.

Mais um pouco de Run Devil Run

Finalmente, Paul promoveu, no Albert Hall, uma homenagem a Linda, que teve as presenças de Eric Clapton, George Michael, Elvis Costello, Phil Collins, The Pretenders e Tom Jones, então, estava bastante ativo, também. A década fechou virgem em grandes sucessos, foram 12 singles sem beliscar as primeiras posições nas principais paradas.

Já George não lançou mais nada após Anthology, nenhuma canção, fez algumas participações beneficentes, e prestou homenagem a seu ídolo Carl Perkins indo a seu enterro e até cantando lá. A última atividade profissional antes de descobrir o câncer na garganta foi colaborando no lançamento de seu guru da cítara, quase um pai, Ravi Shankar.

Trailer de 1 Beatles Album

A década ainda teria espaço para mais um fenômeno dos Beatles. Em 2000, foi lançada a coletânea simplesmente denominada “1”, sim o Número 1… porque ela juntou as 27 canções dos Beatles que atingiram o Nº1 nas paradas, ou na Inglaterra, ou nos Estados Unidos. Infelizmente, sem a presença da icônica Strawberry Fields Forever, e também de For You Blue, que teriam esse direito por participarem como Lado B de Penny Lane e de The Long And Winding Road, ambas Nº 1 nos Estados Unidos… enfim. A canção de George, eu já homenageei no prefácio deste projeto…. A de John eterna, merece ser colocada nesse panteão...

Trecho de Strawberry Fields Forever

E a coletânea, por si só, também atingiu o posto número um de suas componentes, facilmente, muito além da expectativa de qualquer um. Sucesso em todo mundo, topando as paradas em 35 países. Era muita saudade …. e respeito à obra dos Beatles. Mais de 10 milhões de cópias foram vendidas na primeira semana, e foi o disco mais vendido no ano no mundo todo, mesmo com apenas 50 dias de ano restantes, e foi também o mais vendido nos Anos 2000 (2000 a 2009, bem entendido). O lançamento em CD tinha um encarte de 32 páginas, com imagens dos lançamentos em todo mundo, curiosíssimo. Coisa preciosa! Chave de Ouro para fechar a década (1991 a 2000, bem entendido)!





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A Década de 2000 – Naked Love 090909


PARTE 1 - OS MOMENTOS SOLO


Os produtos Beatle foram os marcantes da 1ª década do Milênio, bem mais que os trabalhos dos Beatles remanescentes, isoladamente.

Trecho de Any Road

Os Beatles reduziram-se a apenas dois conosco, infelizmente, num acontecimento que marcou a década indelevelmente, logo no seu começo. Em julho de 2001, soube-se que George tratava de um tumor no cérebro, mas o que o levou desta vida foi outro câncer, desta vez no pulmão, em novembro, ao lado dos queridos Olivia e Dahni, Ravi Shankar e sua filha, numa casa de Paul em Los Angeles. Felizmente, houve um último encontro dos 3 Beatles algumas semanas antes do desenlace. Dhani e o amigo Jeff Lynne terminaram os trabalhos do último álbum, Brainwashed, que havia sido iniciado logo após o álbum anterior, quase 15 anos antes, e que foi lançado quase um ano depois com ótima crítica e vendas, sendo Any Road seu single mais bem sucedido… nela, George eternizou uma fala antológica de Lewis Carroll: Se não sabe aonde vai, qualquer rota leva lá...

Mais um pouco de Any Road

O vocal desta canção, assim como o álbum todo, foram nomeados postumamente ao Grammy, que, efetivamente veio, com outra canção do mesmo álbum, a instrumental Marhwa Blues.

Trecho de Marwa Blues

Vamos encerrar o capítulo George destas linhas retrospectivas, com o espetacular Concert For George, que lotou o Albert Hall um ano depois, organizado por seu filho Dahni e Eric Clapton, com a presença de muitos astros e de seus dois companheiros de batalha na Década Beatle.

Trecho de Photograh do Concert For George

Dentre muitos notáveis momentos da ocasião, destaco Ringo Starr cantando Photograph, co-escrita com seu irmão George, com a câmera desviando do cantor para uma enorme imagem dele ao fundo do palco, enquanto ele cantava 🎶🎵 Só tenho agora a sua foto e lamento que você não volta mais🎶🎵, letra que se encaixava perfeitamente ao momento, e também Something, iniciada por Paul cantando solitário os primeiros versos e a ponte com seu ukulele, um instrumento muito querido de George, e depois migrando para a versão original, com todos os presentes, fenomenal, que Paul seguiu tocando em todos os seus shows ao vivo, até hoje.

Something do Concert for George, como homenagem final

Que George esteja em paz!

Trecho de Never without You

Após o baque da perda do grande amigo, Ringo teve um consolo com sua indução ao Hall da Fama dos Percussionistas, em 2002, e no final do ano, teve aquela participação no Concert for George cantando, além de Photograh, que já falamos, também Honey Don’t, do ídolo de George, Carl Perkins. A homenagem ao amigo seguiu, no ano seguinte, com a canção Never Without You que ele compôs, com amigos, para o álbum Ringo Rama.

Mais Never without You

Ringo lançou mais três álbuns até o fim da década, sem muito sucesso comercial. Já sua All Starr Band estava a todo vapor, fazendo seis excursões sempre com diferentes formações, uma delas com Roger Supertramp Hodgson na formação básica, uma outra teve a breve presença de Pete The Who Townsend, e a última delas, que virou a década, teve uma grande noite no Radio City Music Hall em New York, celebrando seu 70º aniversário com as presenças de Paul McCartney, Joe Walsh, Jeff Lynne. Lançou seis álbuns ao vivo com sua banda, de espetáculos selecionados, e também dois álbuns de compilações e cinco singles, dois deles beneficentes, um destes chegando ao Nº1 em sua terra natal, os demais não coçando as paradas de sucesso, mas ele seguia!!

Trecho de Vanila Sky

Já Paul teve muitos momentos de evidência, começando com a indicação ao Oscar de Melhor Canção escrita para um Filme, Vanilla Sky em 2003, mas não ganhou novamente…siga tentando, Paul! Foi uma década virgem em sucessos nas paradas, afora um lançamento beneficente, que chegou ao topo em UK, dentre 9 singles lançados. Ele tirou o atraso das excursões, passando de UMA excursão mundial na década anterior (muito por conta da dedicação ao Projeto Anthology), para OITO na 1ª década do milênio, sendo quatro de grande duração, numa delas faturando mais de 100 milhões de dólares. Da última, que invadiu a década seguinte, eu fui testemunha, em agosto de 2010 em São Paulo e maio de 2011 no Rio de Janeiro.

Tendo testemunhado o choque dos aviões no World Trade Center em 2001, Paul liderou o Concert For New York City ainda no mesmo ano, e compôs uma canção em referência ao ocorrido, Freedom, que vendeu apenas o suficiente para entrar no TOP 100 nos Estados Unidos.

Trecho de She’s Leaving Home Live in US

No ano seguinte, formou a banda que está com ele até hoje, que até vou destacar aqui, em homenagem aos 20 anos de parceria firme com Paul, os guitarristas Rusty Anderson e Brian Ray, o baterista Abe Laboriel Jr. e o tecladista Paul Wix Wickens, este remanescente da formação anterior. Saiu com ela em excursão mundial com seu álbum Driving Rain, o álbum em si sem grande sucesso, mas a excursão foi considerada a melhor do ano no mundo todo, com direito a um álbum duplo, Back in The US. Eu vi um dos shows, em Houston, em 2002! Foi a 1ª vez em que tocou ao vivo She’s Leaving Home, quase desmaiei!

Paul fez o prestigiadíssimo show no intervalo do Super Bowl em 2005, e tocou para 350 mil pessoas na Praça da Liberdade de Kiev, Ucrânia, em 2008, e foi convidado para inaugurar o Citi Field, antigo Shea Stadium, em 2009, lotando as três noites programadas.

Trecho de English Tea

Lançou mais dois álbuns que ficaram no Top 10 das paradas, um deles como One-Man-Band (o 3º da carreira), Chaos and Creation In The Backyard, muito bem recebido pela crítica, e que teve uma de suas canções, English Tea, tocada ao vivo para acordar os astronautas da estação espacial, em associação com 🎶🎵Good Day Sunshine🎶🎵, apropriadíssima à ocasião. Foi em novembro de 2005, em um show de uma excursão pelos Estados Unidos, que gerou o DVD The Space Between US.

Paul estava bem produtivo: lançou mais um álbum com música clássica e mais um como Fireman, de música eletrônica. A década terminou com um prêmio de prestígio, o Gershwin, pelo conjunto da obra, entregue pelo Presidente Barack Obama, após show intimista e antológico na Casa Branca, onde ele até cantou 🎶🎵Michelle Ma Belle🎶🎵 olhando para Michelle.. Obama.

Trecho de Michelle na Casa Branca

Sua vida pessoal foi agitada! Casou-se novamente, teve mais uma filha e separou-se! A esposa da vez foi Heather Mills, premiada ativista antiminas, de temperamento estranho, com um diagnóstico de mentirosa compulsiva, mas que saiu do casamento com 50 milhões de dólares consensuais. A filha Beatrice, nasceu em 2003, e hoje, com 19 anos, é transgênero, mudou seu nome para Benedict e é a cara dele.


PARTE 1 - OS MOMENTOS BANDA

Trecho de The Long and Winding Road de Let It Be Naked

Na seara dos lançamentos como banda, a década foi marcada por três grandes momentos, que deixaram a marca Beatles sempre no topo!! Aliás, começara já no último ano 2º milênio anterior, com o lançamento espetacular de 1, a coletânea mais bem-sucedida da história! E os mega produtos vieram em seguida, de três em três anos…

Mais um pouco de The Long and Winding Road

Em 2003, tiraram a roupa do Let It Be, deixando-o nu, explicando, era a versão Naked, sem as estrepolias do produtor do LP de 1970, Phil Spector, principalmente removendo a Wall of Sound, que encheu de orquestração algumas faixas, totalmente sem o consentimento de Paul, por exemplo, e num movimento absolutamente contrário ao propósito original do disco, que era de retornar às origens, sem as peripécias de estúdio que eles vinham fazendo. Mas eu admito que adorei a tal Parede de Sons… Teve ótimas vendas, mas topou na posição 5 da parada americana!

Mais um pouco de The Long and Winding Road


Pausa para arrumação: 

em 2004 e 2006, duas caixas deram uma organizada na bagunça que a Capitol, subsidiária da EMI nos EUA, fizera no catálogo dos Beatles em 1964 e 65, com lançamentos totalmente diferentes dos oficiais britânicos, The Capitol Albuns Vol. 1 & 2. Ela só não continha o que eles lançaram igual ao catálogo oficial britânico, a partir de Sgt. Pepper’s.

Trecho de A Hard Day's Night instrumental

Estavam lá aqueles álbuns lançados para tirar o atraso (foram 6 álbuns em 64!), e as heresias que fizeram com HELP, Rubber Soul e Revolver. Eles tinham um limite de 12 canções por álbum (alguns tinham 11, um abuso!), então, eles iam lançando as sobras em álbuns diferentes, uma verdadeira salada. Ainda não tenho essa coleção… tenho um certo asco por ela... brincadeira! Ela tinha coisas muito boas, como as instrumentais de George Martin para os dois primeiros filmes dos Beatles.

Mais um pouco da faixa instrumental, homenagem a George Martin

Fim da pausa para arrumação!!

 

De volta aos grandes eventos, em 2006, uma grande sacada do finado George tornou-se realidade (olha eu falando de George de novo)! Amigo de Guy Laliberté, idealizador e produtor do Cirque du Soleil, George propôs que ele montasse um espetáculo inspirado na música dos Beatles! Aconteceu, postumamente! Foi o último trabalho de produção de George Martin, que trouxe com ele seu filho Giles, que seria responsável, a partir de então, por inúmeros lançamentos dos Beatles, um herdeiro à altura do nome do pai, que foi justamente reconhecido como Quinto Beatle. O que fizeram eles? Debruçaram-se sobre o catálogo oficial, e usaram a imaginação para ver o que combinava entre uma canção e outra, e criaram o que é hoje conhecido como 'mashup’s'. Quando o primeiro deles, Tomorrow Never Knows com Within You Without You, foi mostrado por um nervoso Giles a Paul e a Ringo, os dois Beatles aprovaram a ideia com louvor e deram carta branca para o resto. São 28 faixas (duas delas bônus tracks) com trechos de mais de 130 canções, olha só o trabalho!

Trecho de Get Back de Love

Só para se ter uma ideia, a faixa simplesmente chamada Get Back tem, além da canção título, (i) o acorde inicial de A Hard Day's Night, os solos de bateria (ii) e de guitarra (iii) de The End, (iv) a percussão de Sgt. Pepper's Reprise e (v) o crescendo instrumental de A Day In The Life! Ufa!

Final de Get Back de Love

Apenas 5 das faixas são puras, com uma canção só, uma delas, um primor de simplicidade, a versão acústica de While My Guitar Gently Weeps, com voz e violão de George Harrison, que fora lançada no Anthology 3, 10 anos antes, com o auxílio luxuoso de um arranjo de cordas, o último criado pelo grande Maestro George Martin!

Versão de While My Guitar Gently Weeps de Love

Receptividade? Lááá no alto, o álbum ficou nos Top Dez em dezenas de países (2º na Inglaterra e 4º nos EUA) e ganhou dois Grammy's (de Melhor Compilação de Trilha Sonora e o Grammy técnico de Melhor Surround Album), o 11º e o 12º para a banda. O espetáculo em si é um sucesso: Love ocupa o espetacular picadeiro do Circo do Sol do Mirage Hotel de Las Vegas até hoje, com uma parada de 17 meses por conta da pandemia! Sempre casa cheia! Numa das apresentações de 2007, eu estava lá.

Mais While My Guitar Gently Weeps

Completando o Projeto Love, 2008 viu o lançamento do documentário All Together Now, que conta a história daquela parceria Beatles & Cirque du Soleil. Foram filmadas as movimentações nos estúdios da EMI e da produtora do circo, em Montreal, além da montagem do ‘picadeiro’, e dos primeiros ensaios no Hotel Mirage em Las Vegas, que também recebeu um sistema de som jamais visto em outras edições do circo! Mais um Grammy para os Beatles, quer dizer, não exatamente para eles, pois ‘apenas’ sua música está presente, mas para os criadores da parceria. Foi o Grammy de Melhor Vídeo Musical de Longa Metragem.

Mais While My Guitar Gently Weeps


Trecho de Revolution 9, com foco no Number 9 Number 9 Number 9


Em 9 de setembro de 2009, popularmente conhecido por 09-09-09, a Apple lançou três produtos largamente esperados pelos fãs, uma caixa com o catálogo oficial mixado em mono, uma caixa estéreo e um videogame, pra deixar a coisa simples. A escolha da data e sonoridade 9do9do9, e não 8do8do8, por exemplo, foi em homenagem a John e sua fixação pelo número 9, mas isso será objeto de nosso próximo projeto.

Volta o Number 9 Number 9 Number 9 Number 9

E por que tanto interesse por se ter um som monaural, quando já se dispõe de tecnologia estéreo? Simplesmente porque foi assim que foi concebido! Os Beatles receberam a chegada do som estéreo com estranheza, ele preferiam o som mono. John reclamou publicamente quando ouviu sua Revolution em Stereo.

Trecho de Revolution in Mono

A caixa inclusive, não tem a obra toda, porque os últimos três álbuns, Yellow Submarine, Abbey Road e Let It Be foram gravados apenas em estéreo. A caixa continha os 10 álbuns originais em mono, mais um com Mono Masters, coletando as canções lançadas fora dos álbuns! O fato é que, planejada para ser uma edição limitada, de 10 mil exemplares, outras edições tiveram que ser impressas, por ter a original rapidamente se esgotado. Muito difícil de ser encontrada hoje em dia!

Agora, a caixa estéreo The Beatles: Stereo Box Set! Em 78, a Apple já lançara uma coleção, mas sem a obra completa. A de 88 era completa, mas só na de 9do9do9 tinha os quatro primeiros álbuns, de Please Please Me a Beatles For Sale, lançados em versão estéreo, como álbum! A partir de HELP!, já existiam as mixagens em estéreo, feitas na década de 80 por George Martin para o lançamento em CDs! As 4 únicas canções que permaneceram com mixagem em Mono são as duas primeiras (Love Me Do / P.S. I Love You) e as do 5º single (She Loves You / I’ll Get You). Lá estão todos os 15 álbuns oficiais (portanto 16 CDs, porque o Álbum Branco é duplo) mais um DVD com minidocumentários com os vídeos disponíveis para muitas das canções, normalmente extraídos do Beatles Anthology. E foi um sucesso absoluto! Ganhou Grammy de Melhor Álbum Histórico, o 13º da banda, e vendeu milhões de caixas (veja bem, cada uma com 16 CDs/1 DVD!!)

Video-clip de The Beatles Rock Band

E o videogame The Beatles Rock Band, criou avatares dos Beatles tocando seus instrumentos, e o jogador tinha que simular os movimentos da guitarra base, da guitarra baixo, da bateria e, pela primeira vez num jogo da série Rock Band, 3 vozes, para poder possibilitar a harmonia tripla, coisa que os Beatles se especializaram em fazer. As vendas foram altas no início, mas estancaram, refletindo a recessão do mercado desse tipo de jogo. Mas, claro que foi mais uma obra para manter a aura dos Beatles em destaque! Era The Beatles brilhando também na 9ª Arte!

Mais Video-clip de The Beatles Rock Band

Ainda em 2009, os Beatles tiveram sua obra toda lançada num Pen Drive (como é que não fui um dos 30 mil felizardos com a maçãzinha, o formato da preciosidade?), e, no ano final da década, aconteceu a digitalização da obra que se concretizou com a disponibilização, no I Tunes, dos 15 álbuns oficiais mais as coletâneas Azul e Vermelha.


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A Década de 2010 – A Década dos 50


Parte 1 – Momentos Solo

A década 2010-2019 foi a primeira a ter apenas dois Beatles na face da Terra, George se fora em 2001, mas, felizmente, ele não ficaria sem seu grande momento na nova década!

Trailer de Living In The Material World

O multipremiado diretor Martin Scorcese conseguiu convencer Olivia, a viúva de George, a deixá-lo produzir e dirigir um documentário sobre a vida de nosso amado guitarrista. Olivia tinha esse plano, ela mesma queria produzir, mas quando um diretor desse naipe apareceu, ela acedeu. E ele trabalhou muito. Uma competente equipe fez um trabalho quase arqueológico durante 5 anos, garimpando imagens e sons inéditos, e o próprio Scorcese dedicou dois anos de sua vida à direção! Colheram depoimentos de gente do meio da música, claro, do meio do cinema, porque George foi produtor de grandes filmes, do meio do esporte, pois ele era amante da Fórmula 1, e do meio das pessoas elevadas, pois ele era um eterno buscador da verdade sobre si mesmo. Então, foi lançado em 2011, portanto, abrindo a década, o documentário Living In The Material World, com 3 horas e meia de emoção e informação. Passou nas telinhas em dois ou três episódios, ou na telonas, na íntegra, a depender dos países, caso do Brasil, onde foi atração do Festival do Rio. Concorreu a 6 Emmy’s e levou um, o de Melhor Direção de documentário sobre música!

Trecho de Mama You've Been on My Mind dos Early Takes Volume 1

O pacote DeLuxe de lançamento do DVD tinha um álbum bônus, chamado The Early Takes Volume 1, com 10 canções em seu estágio inicial, todas do início de 1970, oito delas que viram a luz do sol em gravações de estúdio na carreira solo de George, mas sendo duas absolutamente inéditas, Let It Be Me, uma cover dos Everly Brothers, ídolos dos Beatles, e uma outra cover, Mama You've Been on My Mind, de Bod Dylan, grande amigo e parceiro de banda, sim, The Travelliing Wilburys, à qual ele se juntou apenas porque foi George quem pediu!

Mais um pouco de Mama You've Been on My Mind

O grande público foi abençoado com o lançamento do álbum em 2012, muito elogiado pela crítica e com bons desempenhos nas paradas. Todos estamos esperando pelo Volume 2 ... até hoje...

Os outros dois Beatles seguiram em suas carreiras, de álbuns, singles e shows. Ringo foi alçado ao posto de Cavaleiro da Rainha em 2018, pelo Príncipe William, e é o segundo Beatle com o título de Sir.

Trecho de Don’t Pass Me By 2014

Lançou 4 álbuns e 6 singles de estúdio, nenhum deles coçando o topo das paradas, mas seguia produtivo e excursionando com sua All Starr Band, rompendo a década em excursão, criou outras duas, e só interrompeu mesmo com a pandemia. A rotina de sempre cantar seus sucessos enquanto Beatle produziu alguns momentos marcantes, em especial sua composição Don’t Pass Me By, cuja versão ao vivo chega a ser até superior à versão oficial, segundo alguns. Se bem que aquele violininho da original era realmente sensacional.

­Na vida pessoal, seguiu firme com Barbara Bach e tornou-se o primeiro Beatle bisavô, em 2016, de um menino, tornando assim Zak, o pequeno Zak, avô, ah como o tempo passa... E terminou a década como o primeiro Beatle octagenário, no glorioso 7 de julho de 2020. Pena que John parou nos 40 e George não chegou aos 60… Para celebrar a data, na impossibilidade de fazê-lo, como fazia todo ano, no edifício da Capitol em Los Angeles, com um Peace And Love para o mundo todo, por causa da pandemia, Ringo montou uma Live sensacional, com participação de Joe Walsh, Ben Harper, Dave Grohl, Sheryl Crow, Sheila E. Willie Nelson, e, claro, Paul McCartney.

Trecho de Helter Skelter Live Good Evening New York City

E falando em Paul, a década veio com um novo amor, e ele se casou com a empresária Nancy Shevell, 18 anos mais nova, união que segue firme até hoje. Era outubro de 2011. E no meio da década, ganhou um asteróide pra chamar de seu, o 4148 McCartney. Será que ficou acabrunhado por Ringo ter ganhado um Planeta?

Mais Helter Skelter Live

Musicalmente, a década começou com um Grammy, por Melhor Desempenho Vocal de Rock, por uma Helter Skelter ao vivo, num show em New York ainda de 2009! Ele seguia muito requisitado, sendo a grande atração em grandes eventos, como o Jubileu de Diamante da Rainha nos jardins do Palácio de Buckingham, e o a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres, eventos com diferença de meses em 2012. No mesmo ano, mais um Grammy (vai contando!), de Melhor Álbum Histórico, o famoso Band On The Run, que foi relançado com grande pompa! E, se em uma noite participava de uma sensacional homenagem a ele, A Pessoa Do Ano, em Los Angeles, com suas canções cantadas por gente como James Taylor, Norah Jones, Coldplay, Alicia Keys, Neil Young e até nosso Sérgio Mendes, com direito a uma sensacional abertura do elenco de Love, do Cirque de Soleil, dias depois juntava 100 mil pessoas na Cidade do México em dois dias seguidos. Um assombro!

Trecho de My Valentine

Em 2013 veio o álbum Kisses on the Bottom, que era de covers, mas tinha duas originais, uma delas, linda, dedicada a seu novo amor, My Valentine. Aliás, o álbum rendeu-lhe seu 4º Grammy na década, pelo Melhor Filme Musical, Live Kisses! Paul gravou todas as canções daquele álbum acompanhado de orquestra e sem tocar qualquer instrumento… foi estranho … parecia até que estava nu!

Mais My Vakentine

Suas cinco excursões na década foram todas lotadas, inclusive uma ao Japão, só que não… Foi em 2014, toda vendida, mas ele teve que cancelar por ter contraído um vírus, que combateu, deixando a todos nós preocupados, mas superou, para retornar firme e forte, no curso de seus 72 anos! Estima-se que a One on One Tour, que durou ano e meio entre 2016 e 2017, faturou quase 250 milhões de dólares! A temporada de Grammy’s entretanto, não havia terminado.

Trecho de Cut Me Some Slack com Nirvana

Veio mais um Grammy em 2014, o 5º, de Melhor Canção de Rock por Cut Me Some Slack, que Paul compôs e cantou com os Ex-Nirvana, incentivados por Dave Ghroll (super beatlemaníaco), e que tocaram juntos no especial do fim do mundo, em 12 do 12 do 12.

Trecho de Come And Get It com The Hollywood Vampires

Houve outros encontros inesperados, com Kanie West, Rihanna, Paul Simon, e até Alice Cooper, que presenteou os fãs dos Beatles com uma gravação dos Hollywood Vampires, com Paul, da canção Come And Get It, que Lennon/McCartney deram para o lançamento da banda Badfinger, contratada da Apple, em 1969! Paul lançou 15 singles na década, apenas um deles chegando ao topo, numa participação coletiva de um grande sucesso do passado, e, em termos de álbuns, Paul foi eclético. Além do álbum de covers já citado, dois álbuns, como direi, comuns, com sua banda, e ainda fechou a década voltando a ser um one-man-band. Todos de grande sucesso!

Trecho de Who Cares

Um dos ábuns de estúdio, Egypt Station, inclusive, chegou ao topo da parada americana em 2018, o que Paul não conseguia desde Tug Of War, 26 anos antes!!! Seu carro-chefe era Who Cares, que ganhou um video-clipe inspiradíssimo, com a presença luxuosa de Emma Stone, ganhadora do Oscar um ano antes. Com Paul no papel de seu analista!

A pandemia, que começou em março de 2020, colocou muitos em ‘lockdown’, mas nosso astro transformou em ‘rockdown’, e isolou-se para gravar seu quarto álbum verdadeiramente solo, tocando todos os instrumentos, McCartney III, de grande sucesso, Nº1 em UK e Nº2 na ‘América’. Foi um grande fechamento de década para o mais bem-sucedido Beatle.

Trailer de BBC, On Air – Live at the BBC Volume 2


Parte 2– Momentos Banda


As celebrações de cinquentenário de vários eventos relacionados aos Beatles seriam o grande destaque da década.


Mais BBC, On Air – Live at the BBC Volume 2


Antes da primeira delas, houve o lançamento da segunda coletânea de canções da BBC, On Air – Live at the BBC Volume 2, com 63 canções que foram ao ar em programas da rádio inglesa em 63, 40 delas inéditas em relação ao lançamento de 19 anos antes, de material dos mesmos programas.… esta não pode entrar na lista das celebrações cinquentenárias, pois foi montada às pressas, para ser lançada ainda em 2013, para renovar, por 70 anos, o direito da EMI sobre essas gravações, caso contrário, entraria em domínio público. Foi bem recebida por crítica e fãs, alcançando o 7º lugar na parada americana, mas o 1º dentre os lançamentos de Rock And Roll. Era The Beatles Rocking again!


Mais BBC, On Air – Live at the BBC Volume 2

A primeira grande celebração de cinquentinha foi apenas em 2014, quando se lembraram da Noite Que Mudou a América, assim chamada para atestar a importância que foi para a história dos Estados Unidos, a noite de 9 de fevereiro de 64, quando os Beatles atraíram metade das televisões americanas, para serem vistos em antológica apresentação no Ed Sullivan Show, o maioral da época.

Trailer de BBC, Grammy Salute to The Beatles

A cerimônia do Grammy, alguns dias antes já teve Paul e Ringo se apresentando, e no dia seguinte, cantaram no especial Grammy Salute to The Beatles, com outros astros cantando 22 canções da banda, que foi ao ar exatamente em 9 de fevereiro, quando também mostraram entrevistas dos dois Beatles no David Letterman Show, que rolava exatamente no teatro de 50 anos antes! Digníssima celebração!

Na linha de movimentações no catálogo, todos os álbuns foram relançados em vinil em 2012 e, em 2016, estava tudo disponível em diversas plataformas de streaming.

Trecho de Money, de Pink Floyd

Pausa pra falar um pouco de dinheiro …. muito dinheiro …

Em 2016, aconteceu um movimento importante na questão dos direitos sobre as músicas dos Beatles. Lembram-se que Michael Jackson comprou o catálogo por 47,5 milhões de dólares em 85, e vendeu metade 10 anos depois para a Sony, por 110 milhões, já um lucro sensacional? Pois bem, com a outra metade que ele (ou seu espólio) reteve, aproveitou-se de tais direitos por 21 anos, e vendeu-a pela bagatela de 750 milhões para a mesma Sony. Está claro que esse tal de Beatles parece ser um grande negócio, não? E mesmo sem esses direitos, todos os Beatles ou seus sucessores seguem riquíssimos, com algumas centenas de milhões de dólares cada um, aliás, sendo Paul já bilionário….

Fim da Pausa Monetária!

Trailer de Sgt. Peppers’s Lonely Hearts Club Band 50 years

Os sete primeiros álbuns dos Beatles passaram sem grandes celebrações cinquentenárias até que veio 2017 celebrando os 50 anos do lançamento de Sgt. Peppers’s Lonely Hearts Club Band, o álbum que mudou a história da música. Giles, filho de George Martin, seguiu no trabalho de comandar a restauração às melhores técnicas disponíveis da obra dos Beatles. Além do relançamento das originais remixadas, trouxe 39 takes alternativos das mesmas canções, às vezes com trechos de falas dos envolvidos, além de várias visões de Strawbery Fields Forever e de Penny Lane, que haviam sido lançadas em single separado, quatro meses antes do LP. Incluía as primeiras versões mixadas em estéreo das duas canções. Destaque absoluto vai para a grande A Day In The Life, responsável por 6 das faixas, uma delas com a contagem gutural de Mal Evans dos 24 compassos no trecho onde entraria a orquestra, e uma nota MI no final, na forma de mantra. Genial!

Trecho final de A Day In The Life Take1

Foi oferecido em vários formatos, um deles DeLuxe, que tinha 5 CDs e um DVD com documentário sobre as gravações, a esplendorosa capa, e um livreto de mais de 100 páginas!

Trecho Back In The USSR – Esher Demos

Ano seguinte, foi a vez de termos o Álbum Branco remixado! Grandes extras, com 50 versões de estúdio com vários takes de gravação das 30 canções do álbum, mais as duas que haviam sido lançadas em single (Lady Madonna e The Inner Light), em fevereiro de 68. O mais notável do pacote era um CD com todas as 27 Esher Demos, ou seja, tudo o que os compositores tinham já pronto para entrar em estúdio, tocados nas reuniões em 30 e 31 de maio, na casa de George em Esher, mormente material que compuseram durante o retiro espiritual na Índia. Ali podemos ver, por exemplo, Paul e John cantando em dueto Back In The USSR.

Trecho de Sour Milk Sea – Album Branco 50 Years

Notáveis sessões, inclusive onde apareceram canções que somente viriam à luz do sol em Abbey Road, como Mean Mr. Mustard e e Polythene Pam). O lançamento serviu, notavelmente, para oficializar canções que haviam sido desprezadas nas gravações do álbum duplo, como Sour Milk Sea e Circles de George, mas, principalmente, a versão original de Across The Universe, aquela que conta com a voz brasileira de Lizzie Bravo. Ela ficou muito feliz ao ver o nome dela no espetacular livreto que acompanhou os pacotes. Hoje, ela não está mais conosco. O mais luxuoso deles tinha 7 discos, um deles com 4 Blu-rays com mais de 90 minutos cada um!! Isso tudo, além das famosas fotos dos quatro Beatles em sensacional close e o enorme cartaz com as letras e imagens coladas.

E o maior sucesso da década veio em 2019, o lançamento de Abbey Road – 50 anos, com muitas novidades.

Trecho I Want You 50 Anos, com Billly Preston

Lançado em seis formatos, o maior deles com 3 CDs mais um Blu-ray na tecnologia Dolby Atmos, e um livreto de mais de 100 páginas. São 40 faixas, incluindo a excepcional versão estendida de I Want You (She’s So Heavy) com a presença alucinante de um Billy Preston alucinado, naquele final, alucinógeno! Ele mostra também The Long One, a versão que deveria ser o famoso medley do Lado B, com Her Majesty ali na posição 4, entre Mean Mr. Mustard e Polythene Pam, e não ao final, como conhecemos no original, por conta de uma travessura de um técnico de som, mas isso é uma longa história. Além de versões alternativas de The Ballad of John And Yoko e Old Brown Shoe, que foram lançados em single uns meses antes do álbum! O lançamento foi um sucesso estrondoso, Top 10 na maioria dos países, 1º em UK, 3º nos EUA. E seu lançamento tornou o LP, sim, o bolachão Abbey Road, o Vinil mais vendido da década… isso 50 anos depois de seu lançamento… isso é Beatles.

Trailer de The Beatles Eight Days a Week - the touring years

Volto agora um pouco atrás, porque houve uma ocorrência na 7ª Arte, o Cinema. Em 2016, Ron Howard, famoso diretor dos filmes baseados nos livros de Dan Brown, estrelados por Tom Robert Langdom Hanks, lançou um espetacular documentário sobre os anos dos shows ao vivo, de 62 a 66, chamado Eight Days A Week – The Touring Years, indicado a vários prêmios, exibido nas telonas pelo mundo, uma delas a do Cine Odeon, na Cinelândia do Rio de Janeiro, que tinha este solitário escriba assistindo extasiado. Grande compilação de imagens sobre aqueles loucos anos, com direito, ao final, de uma edição completa do show no Shea Stadium, New York, que foi recorde absoluto de público na história, por muito tempo! Grande noite aquela minha! Levou fácil o Grammy de Melhor Documentário Musical, e dois Emmy’s técnicos.

O grande acontecimento Beatle do novo milênio viria na década seguinte, mas pudemos ter um gostinho fenomenal do que viria, já no finalzinho da década ora descrita! E também seria na 7ª Arte!

Trailer de Get Back – Sneak preview de Peter Jackson

Pra fechar com chave de ouro a cinquentenária década, um certo Peter Jackson, diretorzinho pouco conhecido, que filmou a trilogia do Senhor dos Anéis, pela qual ganhou um Oscar de Melhor Diretor, tinha uma noticiazinha para nos ofertar. Ocorre que ele é beatlemaníaco, e quase sem querer, recebeu a incumbência de garimpar 56 horas de vídeo, e 180 de áudio, que estavam jogadas lá nos arquivos da Apple, pra ver se extraía alguma coisa boa daquelas sessões do Projeto Get Back, do início de 69. Ele se debruçou sobre tudo aquilo, e anunciou, no Natal de 2020, que tinha feito um ‘documentariozinho’ legal, cuja estreia havia sido adiada por conta da pandemia, mas para não nos deixar chupando o dedo, decidiu mostrar pra nós, com um sorrisinho irônico, uns trechos do que havia coletado… pra quê!!! Uma esplendorosa sucessão de momentos hilários de relacionamento entre os quatro Beatles, botando por terra a impressão que se tinha, durante exatos 50 anos, de que o ambiente era péssimo. Posso dizer que, no espírito dos Beatlemaníacos, Peter Jackson nos proporcionou um Natal feliz!! E uma expectativa tremenda, que só viria a ser satisfeita no 11º mês da década seguinte!

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A Década de 2020 – The Get Back Decade


PARTE 1 - Momentos Solo

A presenta década começou em meio a uma histórica pandemia, que ainda estamos a combater, mas o fenômeno Beatles parece imune a tudo.

Trecho de Find My Way McCartney III

Paul terminou a década passada lançando seu quarto álbum como one-man-band, no clima da pandemia, isolado, tocando todos os instrumentos, o McCartney III, e nem bem começou a década seguinte, lançou um ‘corolário’ desse álbum, quatro meses depois. Se fosse série, poderia ser chamado de Spin-off. Seguinte... Chamou artistas da nova geração, alguns já contemplados com Grammy e até Idris Elba, ótimo ator do momento, para fazerem versões cover e remisturas, de todas as canções daquele álbum. Era McCartney III Imagined, que ficou nos Top 20 deste e do outro lado do Atlântico, nada mal! Numa delas, Find My Way cujo clip original mostrava Paul dando dando show tocando tudo, em sua imagem atual, aos quase 80, remoçou na nova versão, coreografada por Beck, com a imagem de Paul aos 20 anos, ecom ótimo resultado.

Trailer do Documentário McCartney 3-2-1

Paul seguiu produtivo em meios diferentes de comunicação. Primeiro, um documentário! Ele chamou o lendário produtor Rick Rubin para entrevistá-lo sobre sua carreira como Beatle e também sua carreira solo. Era McCartney 3,2,1 – um documentário de grande sucesso na plataforma Hulu, em seis episódios, imperdível! Grandes histórias, momentos, declarações, sons, emoções!

Breve Trecho de Calico Skies, que foi usada no 1º trailer do livro

Depois, cansado de tantos Nº1 em décadas de sucessos na música, resolveu variar e foi buscar outro Nº1, agora no mercado literário: seu livro The Lyrics – 1956 to the Present, ricamente ilustrado e magnificamente estruturado, conta a história por trás de 154 de suas canções, com e sem os Beatles, que ele usou como plataforma para contar sobre sua vida, uma biografia disfarçada, um sucesso. Foi antecipado por inúmeros trailers na mídia, o primeiro deles tendo a canção Calico Skies ao fundo. Foi considerado o livro do ano pela Barnes & Noble, e entrou firme na lista dos New York Times Best Sellers! Né pouco, não! Vou mudar o nome dele para Paul Midas McCartney!

Trecho de I’ve Got A Feeling da Got Back Tour

E Paul segue firme, já começou a temporada de 22 shows de sua nova turnê, nos Estados Unidos, com o espetacular nome Got Back Tour! E vai completar 80 anos no último show, dia 16 de junho em New Jersey. Sem muitas novidades no setlist, apenas Women and Wives do McCartney III, e algumas da época dos Beatles que não tocava ao vivo em décadas, como She Came In Through the Bathroom Window, mas a graaaande novidade foi um dueto espetacular em I’ve Got a Feeling, em que começa cantando ao vivo, e de repente vira-se para o telão e aparece a imagem gigante de John cantando,

John em I’ve Got A Feeling da Got Back Tour

num extrato em alta qualidade do documentário Get Back, aquele que levou-me a nomear este capítulo, o grande lançamento do Milênio no Universo The Beatles.

Trecho de Zoom In Zoom Out

Já seu parceiro de banda histórica ainda presente, e bem firme, neste mundo, Sir Ringo Starr, sem poder fazer turnês com sua All Star Band por conta da pandemia, gravou em seu estúdio caseiro durante 2020 e lançou em 2021 seu álbum Nº 21, Zoom In, puxado pelo single Zoom In Zoom Out, o 46º de sua carreira solo, que ganhou um ótimo clip com nosso baterista mostrando sua excelente forma física aos 81 anos! O vegetarianismo fez bem aos parceiros!!

Trecho de Change The World

Ainda em 2021, lançou um EP com 4 canções, comandado por Change The World, ótima canção. Na vida pessoal, não, não, ainda não anunciou que é o primeiro Beatle a ser tataravô, quem sabe na próxima década, mas segue firme com Barbara Bach, com quem completou recentemente 41 anos de casados. Ringo vai completar 82 anos em meio a mais uma turnê de sua All Starr Band, de 5 meses, começando em 27 de maio!

E temos George Harrison na nova década? Yeaaah! Supervisionando do além os movimentos de seus descendentes!

Trecho de "All Things Must Pass" (Day 1 Demo)

O espetacular álbum triplo All Things Must Pass, que possibilitou a George seu primeiro Nº 1, fora lançado em outubro de 1970, mas sua celebração de 50 anos escorregou para 2021, e veio com uma Super Deluxe Box, com 5 CDs, sendo os dois primeiros com as canções originais remixadas e os outros 3 com 47 takes com versões alternativas das canções e material inédito garimpado nos arquivos de Abbey Road Studios. O primeiro da lista foi o Take 1 do 1º dia de gravações, da canção título, tão singela, e tocante, que dizia que Tudo Passa… inclusive o maior fenômeno de todos os tempos, do qual George fez parte, brilhantemente!

E temos John Lennon na nova década? Yeaaah! Também de olho no que fazem por aqui na sua ausência astral…. Ou será que já voltou?

Trecho de Mother Take 61

Lá em 1970, dois meses depois de George, John também lançou seu primeiro LP solo, Plastic Ono Band, e 50 anos depois, a celebração também escorregou para o ano seguinte, mas também veio com luxo, em vários formatos, sendo o DeLuxe com 6 CDs, com 100 novas versões e misturas, incluindo os singles lançados à época, mais dois Blu Rays, mais um livro capa dura de mais de 100 páginas, e o pôster da sensacional campanha pela paz no Vietnã, War Is Over (If you want it), que foram espalhados pelo mundo em outdoors nas grandes capitais. Ao ser perguntado quanto gastaram naquilo tudo, John respondeu: “Menos do que o valor de UMA das vidas que foram tiradas nessa guerra…”. Bem, em um dos formatos mais simples, o de dois LPs, tinha em um as 11 canções originais remixadas, e no outro as mesmas 11 canções em takes selecionados. Escolhi a de Mother, em seu Take 61 (!), para retratar o lançamento, pelo simples fato de ser a minha canção preferida da carreira solo. Imagina como ficou a garganta dele repetindo dezenas vezes aquele grito primal.

Final de Mother Take 61

Antes de partirmos para os Momentos Banda, devo registrar aqui um importante movimento que deixei passar no relato da década passada.

Sean, filho de John, não deixaria o potencial aniversário de 80 anos do pai passar em branco e o fez em grande estilo!

Trecho de Gimme Some Truth 2020

Primeiro, fez três competentes entrevistas com importantes figuras na vida de John, seu outro filho Julian, seu parceiro eterno Paul e um emocionado Elton John, que foi importante em muitos momentos de John na única década de sua carreira solo, veiculando-as na BBC logo no início de outubro de 2020, e, no exato dia 8 em que Sean completava 45 anos, e o pai faria 80, ele lançou a compilação Gimme Some Truth, com 36 canções remixadas da carreira solo. Em que pese ter deixado de fora Mother, minha preferida, Sean acertou ao escolher o nome da compilação, afinal o que seu pai mais buscava era a verdade. E a canção, que fora lançada no álbum Imagine em 1972, é a segunda de minha lista, que letra! Aprendi muito inglês com ela em meus 14 anos!

O Finalde Gimme Some Truth


PARTE 2 - Momentos Banda

Já os Beatles, como banda, completaram seu cinquentenário no final da década passada e finalmente se aposentaram da mídia... Nããão! Só se for em um universo paralelo! Nem bem a década começou e eles já têm 3 produtos de primeira grandeza.

Início do documentário Get Back

Peter Jackson cumpriu a promessa feita no Natal de 2020, quando disse mais ou menos assim… ‘Vocês não perdem por esperar!’, e não perdemos mesmo… Seu documentário Get Back trouxe nova luz sobre aqueles últimos tempos da carreira dos Beatles. O suco que espremeu de 56 horas de vídeo, e 180 de áudio foi um vinho de sabor inigualável! Foi lançado em três episódios, um por dia, no final de novembro do 1º ano da década. O show de emoções começa com um resumo sensacional da vida da banda desde 1956 até aquele 2 de janeiro de 69, quando encontramos um estúdio vazio, enorme, um sujeito varre o chão, achei lindo aquilo, e aparece: ‘As sessões de Get Back estão ´prestes a começar!’ Arrepiante... E vêm os créditos ... os personagens do 'elenco' sempre identificados à medida que vão aparecendo ... John Lennon... Paul McCartney... George Harrison ... Ringo Starr ...


Mais um pouco da abertura de Get Back

Eu qualifiquei o 1º episódio como uma porrada, pois cobre de 2 a 10 de janeiro, período que foi filmado em um estúdio de filmagem, como todo bom filme, que o projeto se tornaria, só que não… naquela sexta-feira dia 10, nosso amado George , chateado com o rumo das coisas, em sua visão,  deixaria a banda!! E aquele seria o último dia nos estúdios Twickenham…. Mas aquele período revelou pérolas inesquecíveis.

Vídeo de Paul começando a compor Get Back, para Ringo e George

Vemos ali um John com poucas composições, um Ringo timidamente mostrando suas propostas, George com um bom número de sugestões, mas é Paul quem aparece com muitas novidades. A maior delas saiu ali mesmo, aos nossos olhos, quando joga acordes em seu baixo, à frente de Ringo e George, e vemos a formação da base de Get Back, já com algum esboço de letra, e a definição do refrão. Simplesmente antológico!

Final do Vídeo de Paul já com o refrão de Get Back

Ao longo dos dias vimos a ideia original de fazer de Get Back um libelo contra a repressão aos imigrantes, em divertidos exercícios musicais, mandando ironicamente os Pakistanis, vazarem de volta pra suas casas... ideia da qual os rapazes felizmente desistiram ... não iriam entender a ironia....

Get Back com letra dos Pakistanis

e conhecemos, na mesma linha, a divertida Commonwealth, magnífica brincadeira com o establishment do Império Britânico, em delicioso 12-Bar-Blues, Paul na letra básica expulsando imigrantes da Inglaterra e até dos Estados Unidos... e John respondendo em divertidos Yeah…

Trecho Commonwealth até os Yeah de John e a risada Paul

Mas aquele era o Dia 9 de janeiro. No dia seguinte, os ensaios foram seguindo, até o inconcebível momento em que, após mais uma bronca de Paul (incorrigível), que nem foi com George, este se levanta, e diz que está deixando a banda... e que buscassem um substituto… e na volta do almoço, os três Beatles remanescentes em ritmo de loucura, meio sem rumo ...

Trecho de Isn’t It A Pity das Get Back Sessions

e, no final do dia, os três bem próximos, quase que abraçados na incerteza .... e depois Peter Jackson, gênio, coloca a voz de George com Isn't It A Pity, ô letra apropriada ao momento … e fala-se sobre uma reunião no domingo, 12, na casa de George .... e vem aquela imagem com uma frase dizendo que ela não foi nada bem .... e cai o pano..... que final!!!

Uma verdadeira porrada!

O Episódio 2 abre no dia seguinte. Será mais uma semana de incerteza! Peter Jackson não nos deixa pagãos, mostrando tudo que de importante aconteceu… Por exemplo, vemos Ringo, depois Paul e Linda, conversando com o diretor e outros, sentados naquelas cadeiras de diretor de cinema, discutindo a situação.

Vídeo de Paul dizendo que agora eram apenas 2

Com a demora de John a chegar, Paul diz, olhando para o infinito: "E agora, somos dois..." com olhos mareados.... mal sabia ele quão profético seria aquele seu sentimento... agora eles são apenas dois, realmente... sem volta…

Trecho de Mad Man

Mas logo depois, John chega e chama Paul para uma conversa, no refeitório, sem saber que um microfone gravava tudo. Paul admite que pega pesado, John, que realmente dá menos valor a George, um papo antológico, uma educada lavação de roupa suja, e estabelecem uma estratégia de chamá-lo de volta. Os ensaios continuam, sem George e conhecemos Mad Man uma ótima canção de John que infelizmente ficou esquecida, com letra divertida, mais ou menos na linha de Mean Mr. Mustard!

Mais Mad Man

Mais algumas reuniões e George volta, com algumas condições, todas aceitas, uma delas, voltar para os estúdios da Apple, 10 longos dias após sua saída. O ambiente já é bem melhor e tal mas a cereja do bolo vem no dia seguinte...

Don’t Let Me Down Naked

Foi a chegada, assim, do nada, de um pianista, justo na hora em que eles discutiam que precisavam … de um pianista… para tocarem ao vivo. Era Billy Preston, um velho conhecido dos tempos de Hamburgo. Tenho certeza de que teve o dedo de George aí, mas isso não é falado. Billy encaixa como uma luva logo de cara, faz riffs e solos sensacionais no piano elétrico em I’ve Got a Feelling , Paul olha espantado pra ele, e John o chama para acompanhar Don’t Let Me Down, ele dá mais um show e John declara: “Você está na banda!” Billy disse: “Você deve estar brincando!” com aquele sorrisão que contagiou a todos.

Volta Don’t Let Me Down Naked com solo de Billy no final

Seguiam os ensaios, e vinham canções que não seriam utilizadas de imediato, como Teddy Boy, que Paul lançaria em seu 1º disco solo. E um embrião de Jealous Guy, que John lançaria em Imagine e Her Majesty, que só viria em Abbey Road.

For You Blue

E George apresentou mais uma canção, não para o show que fariam, mas que se materializaria no LP, a deliciosa For You Blue, com George ao violão, Ringo só nas vassouras, Paul num piano abafado por jornais e John, espetacular, numa guitarra havaiana, em seu colo... todos orgulhosos de seu trabalho…

Enfim, o Episódio 2 foi um bálsamo.

Ringo apresentando Octopus’s Garden

O 3º foi o preparativo para o show final no terraço, não sem antes outras pérolas aparecerem, como mais um pouco da nova canção de Ringo, Octopus’s Garden, que ele trouxera no dia 6 e agora, George o ajuda ao piano! E teve Something, e Old Brown Shoe e I Want You, todas que viriam ao ar nos meses seguintes.

Trailer do Rooftop no IMAX

Enfim foram OITO HORAS de transmissão, encantando a todos… não, não, os Beatles não estavam ‘se pegando’ a todo momento… havia camaradagem na maior parte do tempo, criatividade sempre à flor da pele, durante aqueles 21 dias de janeiro de 1969, quando se reuniram para o Projeto Get Back, que culminou com o espetacular show no terraço do edifício da Apple, em 30 de janeiro. Como corolário, levaram para a telona a íntegra daquele mesmo show, que eu assisti em IMAX, extasiando-me completamente.

Atrelados ao documentário, vieram o lançamento auditivo e o literário: uma caixa com 5 CD’s com algum material que já conhecíamos, mas também muita novidade, tudo em qualidade ímpar, e o livro Get Back, com TODOS os diálogos daqueles 21 dias, acompanhados de lindas fotos, boa parte delas de Linda Eastman, àquela época, noiva de Paul.

Então, nem bem começamos a Década e já temos o que eu considero o Lançamento Beatle do Milênio. Foi perfeito o pacote completo, imagem-som-livro esmiuçando aquele tempo. Por causa dessa tríade, eu denominei esta década como The Get Back Decade.

Por enquanto…. Sabe-se lá o que nos espera… mas acho difícil algo superar os acontecimentos proporcionados neste primeiro ano e quase meio desta década.

Será? Com Beatles, nunca se sabe!!

Este foi o fim do Projeto ... As Décadas Sem The Beatles