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domingo, 31 de outubro de 2021

No Submarino Angolano teve Hey Bulldog estendido e mais BBC e mais Let It Be


Nosso DJ Paulo Seixas caprichou de novo estendeu mais uma vez maravilhosamente meu áudio sobre Hey Bulldog, com mostras dos instrumentos e dos vocais ressaltados em minha fala.

AMEEEEI!! 

E já disponibilizou pra mim. 

Ouça, neste LINK - Hey Bulldog


E ouça como ficou inserido na excelente programação de hoje, 

neste PodCast, neste LINK 

Venha conferir comigo!! 

Além, claro, das atrações do programa

Teve Beatles fazendo Covers na BBC 

A história da  Canção com Beatles cantando ao fundo,

depois a versão original que inspirou os Beatles

depois a versão Beatles daquele canção original, hoje com 

Sure To Fall, de Carl Perkins,

e teve Clarabella, sucesso de Jordimars,

e teve Oh Carol, de Chuck Berry.

Depois vem meu áudio de Hey Bulldog, com ótimas inserções!

Teve uma seleção esperta de nosso DJ Paulo Seixas, 

dos 5 CDs DeLuxe do novo lançamento Let It Be, 

teve novo Get Back estendido,

e Save The Last Dance To me seguida por Don't Let Me Down,

e The Long And Winding Road sem orquestra

e Maggie Mae e Two of Use

Uau!


TUDO ISSO E O CÉU TAMBÉM JÁ ESTÁ NO PODCAST 

ADOOORO A ABERTURA DO PROGRAMA 

E AS DIVERSAS INSERÇÕES AO LONGO!


Aqui, os links dos primeiros áudios que cruzaram o Atlântico

Minha apresentação neste LINK

A gênese da capa do LP Abbey Road, neste LINK

As 8 condições SineQuaNon dos Beatles, neste LINK

Minha análise de Misery estendida, neste LINK

Minha análise de Ticket To Ride estendida, neste LINK

Minha análise de It Won't Be Long estendida, neste LINK

Minha viagem comparando Imagine com Star Trek, neste LINK

Minha análise de You Won't See Me estendida, neste LINK

Minha homenagem a Buddy Holly e Don McLean, neste LINK

Minha homenagem a Lizzie Bravo + Across The universe, neste LINK

Minha análise de If I Fell estendida, neste LINK

Minha análise de We Can Work It Out, estendida, neste LINK


Já sabe, né? Próximo sábado, 13 Horas, entre em

http://radios.sapo.ao/lac



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30/10/2021 | 5º Versões na BBC | O Submarino Angolano | LAC - 95.5 FM | Angola
- "Sure To Fall", Carl Perkins, 1956 | The Beatles, 1963.
- "Clarabella", The Jordimars, 1956 | The Beatles, Live At The BBC, 1963
- "Oh Carol" de Chuck Berry 1962 | The Beatles, Live At The BBC, 1963.
- O contramestre Homerix, do Submarino Angolano, traz-nos a história de uma canção, os Songfacts de "Hey Bulldog", de 1968.
- Let It Be 2021, publicado dia 15 de Outubro e músicas do CD 4.
- Get Back 
- Save The Last Dance To me seguida por Don't Let Me Down,
- The Long And Winding Road sem orquestra 
- Maggie Mae
- Two of Us

sábado, 30 de outubro de 2021

Uma viagem cercada por Beatles de todos os lados

Casamento de filho de primos queridos, necessário foi que nos embrenhássemos na primeira viagem em 20 meses de pandemia. Pegamos nosso carrinho, eu, esposa e filha rumo a São Paulo. Confiando na dupla AZ que nós três tomamos, eu, Neusa e Renata.... Para tanto, pegamos a Dutra e escolhi Paul McCartney para me acompanhar. 

Levei comigo uns 10 CDs, mas me centrei apenas em dois deles na ida, porque coloquei-os pra tocar várias vezes.... RAM  (1971) é apenas perfeito, todas as canções ótimas, talvez porque eu as tenha ouvido em meus 13 anos à exaustão..... 

  • Too Many People iniciando a briga com John, 
  • Monkberry Moon Delight, nunca uma receita de doce foi cantada a plenos pulmões daquele jeito, 
  • o medley Uncle Albert / Admiral Halsey grande sucesso, 
  • a deliciosa grass Heart of Country, budábudábidibi-ubá, budábudábidibi-ubá,, pa pa pa pa budábibidibi-u- pa-bidibiá parapaum
  • Long-Haired Lady, para Linda, 
  • Ram On... Three Legs, a pra cima Smile Away, 
  • e finalizando com a deliciosa sitting in the Back Seat Of My Car, aliás, bastante temático para o momento, Renata estava sentada lá....

E depois foram mais 3 vezes de Red Rose Speedway (1973), não tão brilhante, mas com

  • My Love doing it gooooood e um solo de guitarra digno de George, 
  • um magnífico medley de 4 canções, Hold Me Tight (não aquela dos Beatles), Lazy Dinamite, Hands Of Love e Power Cut, aliás, que menciono de passagem em meu próximo projeto no Submarino Angolano, quatro canções grudadas, sem nada a ver uma com a outra mas perfeitamente ligadas, e com suas melodias repetidas brevemente ao final,
  • a deliciosa vaudeville One More Kiss, a a positiva Get on The Right Thing
  • os ótimos duelos vocais de When the Night, oh, little darling don't you know
  • e Single Pigeon com a colante Me too me too me too I'm a lot like yooooou,  
  • e uma instrumental celebrando o primeiro indígena (não se pode mais falar em 'índio') na Índia!
mas destaque absoluto para 
  • Little Lamb Dragonfly, que a querida Virginia De Paula conseguiu elevar seu status para emocionante ao cubo, ao revelar que uma da interpretações de seu significado era que o tal Dragonfly era John!!! Choro aqui só de lembrar... 'how did two rights make a wrong? Since you've gone I never know, I go on but I miss you so. In my heart, I feel the pain keeps coming back again" ......

O bom som fez a viagem passar muito rápido. Era quinta-feira. Na sexta, publiquei a minha análise sobre a primeira canção totalmente acústica dos Beatles, I've Just Seen a Face. No sábado, antes de partir para o casamento, indignei-me com a "TREMENDA REVELAÇÃO" de Paul McCartney sobre a inspiração para o nome de sua canção Eleanor Rigby, uma coisa que sabemos há décadas, e republiquei minha análise sobre a canção, o que foi ótimo, pois muitos conheceram uma de minhas melhores publicações, que deixo aqui, neste LINKNo casamento, onde ostentamos nossas máscaras o maior tempo possível, houve momentos Beatle especialíssimos: 

  1. Na entrada dos padrinhos, um quarteto de cordas tocava With A Little Help From My Friends, nada mais apropriado, os padrinhos são aqueles amigos (e parentes amigos) que estarão sempre presentes para dar uma pequena ajuda;
  2. Na entrega das alianças, o quarteto abre com a Marselhesa, e poucos no recinto ao ar livre sabiam o que viria depois, com certeza eu e o pai do noivo sabíamos.... e veio Love Love Love no violino .... sim, era All You Need Is Love! Pra quê? Emoção na veia!  Eu não consegui vê-lo no momento, mas à saída pela nave central, o pai do noivo estava de olhos inchados, claro que com a emoção com a felicidade do filho, mas a mãe do noivo me contou que o choro começou exatamente aos primeiros acordes da épica canção;
  3. Durante a festa, claro que tocavam aquelas músicas de festa, funk, pagode, padrinhos, madrinhas e a noiva dando show nas coreografias, mas de repente me bateu aquela vontade de fazer o que faço sempre em festas de casamento, dirigi-me ao DJ, sob olhares desconfiados de esposa e filha, e mostrei meu celular onde estava escrito isto: 

  4. O baile continuou até um momento que o DJ falou pra noiva no microfone que 'o pai do noivo me pediu pra tocar Beatles!'.... Pois é, ele achou que eu era o pai... chato que estragou a surpresa. Então eu falei pro pai do noivo: 'Quer apostar que a canção que ele vai tocar é Twist and Shout?' E, 10 minutos depois, BINGO! É sempre assim, e eles nem desconfiam que essa canção não é dos Beatles... Legal que ainda tocou She Loves You, as duas vieram bem aceleradas, mas foi ótimo que consegui essa homenagem a meu primo!
Ao longo do casamento, que era em uma cidade serrana nas proximidades da capital, claro, sem sinal, não pude nem tentar ouvir algo da transmissão do Angolano, lá do outro lado do Atlântico. De noite, entretanto, o querido DJ Paulo Seixas já havia preparado o podcast, e pude ver as ótimas inserções que ele colocou no meu áudio sobre We Can Work It Out (aliás, ouça-o aqui!!). Dei uma quebra na onda Beatles pra celebrar o aniversário do Rei Pelé, neste LINK. Domingo, de noite, deliciei-me online com o ótima programação (veja neste LINK) do novo Beatlemania de Beto Neves direto da UNIARA FM, onde conheci a versão de Rck Wakeman para Norwegian Wood, verdadeiramente épica, e estreou minha fala sobre a genial I Am The Walrus. Na segunda, lancei a canção 210 de minha saga, a eterna Yesterday (LINK). No dia da volta, antes de embarcar em nosso valoroso veículo, lancei a análise de Dizzie Miss Lizzie (LINK), a Última Canção da minha Saga, acompanhada de uma paródia de A Última Canção, do valoroso Paulo Sérgio.

Então, na viagem, voltei à companhia de Paul McCartney, ouvindo mais um disco que não ouvia na íntegra há quase 40 anos, considerado o grande sucesso de sua carreira solo Band on The Run (1973), porém eu tenho mais carinho pelos dois álbuns que ouvi na viagem de ida. Talvez porque Paul nunca deixou de tocar as duas canções de abertura em seus shows ao vivo... virou meio arroz de festa, sabe né ... a própria canção título, que é um medley de 3 canções, e a incompreensível Jet... embora eu saiba o que quer dizer uma Lady Suffragette, não sei o que ele quis dizer com isso... Logo depois a deliciosa Bluebird Bluebird ah ah tototo tatata no a-go-gô, e a balançante Ho-Hey-Ho de Mrs. Vandebilt e Mrs. Washington que pessoal abomina mas eu adoro, para logo transformar meu coração numa roda e Let me Roll It to you, maravilhosa, um ótimo refrão instrumental Sem Palavras, e as últimas palavras de Picasso, incitando-nos a beber à sua saúde já que ele não podia mais, com direito a um trecho delicioso de vaudeville, como Paul tanto gosta de compor, mesmo com umas participações incidentais estranhas de Jet, e Ho Hey Ho, depois uma viagem por Mamunia Ô Ô, com descidas e subidas pelas escalas musicais, pra finalizar com o ótimo rock ao piano, em 1985, por extenso! FOi bom!

Passei por McCartney 2, mas não fui até o final, fiquei apenas no Coming Up, na divertida e machista Temporary Secretary e na romântica Waterfalls. Resolvi passar para o agrado dos outros passageiros e coloquei o All The Best, com direito 
  • a deliciar-me com o excepcional verso 'Far have I travelled and much have I seen...... as it carries me on to the Mull of Kintire!!!' Ah, como eu amo essa música!!! E quando começam as gaitas de fole e eu fico todo arrepiado!!! Esta é a que eu mais gosto, mas antes 
  • cantou o Ébano e o Marfim das teclas do piano no dueto com Stevie Wonder, 
  • e fez a chamada a Jesus para ouvir o que ele tem a dizer, 
  • e celebrou o final das noites solitárias, 
  • e as tolas canções de amor pelas quais Paul era tão criticado, 
  • e fez o convite para a família e para John entrarem em sua casa, 
  • e cantou a lua em quarto minguante, 
  • e fumou os cachimbos da paz, 
  • e gritou o tema de 007 - VIva E Deixe Morrer,  when your heart was an open book, que foi candidata ao Oscar,
  • e contou a história de mais um dia da garota londrina solitária colocando suas meias e sapatos para ir para o trabalho sonhando com seu amor, so sad, so sad, sometimes she feels so sad,  minha segunda preferida, 
  • vindo a terceira logo depois, a melhor canção de amor de Paul - Maybe I'm Amazed, em espetacular vocal, 
  • e depois deu Boa Noite, De Noite, 
  • e lembrou que Era uma vez há muito tempo atrás, 
  • e fez o dueto simplesinho pedindo diga diga diga como se é sacana o suficiente para comprar os direitos sobre as canções do parceiro, ai ai ai, 
  • e desejouum pouco de sorte, para no final 
  • todos ficarem juntos, em mais uma canção infantil de sua carreira. 
Ufa!! Espero que tenham entendido quais são as canções!!

Finalmente, passei para George, de quem trouxe um dos poucos discos que tenho (vergonha!!), o Best of Dark Horse, listando os maiores sucessos da segunda metade de sua carreira solo, quando já detinha o selo próprio. Então, ouvi Cheer Down, Poor Little Girl, as lembranças do passado em When We Was Fab e All Those Years Ago, as ótimas That's The Way It Goes e Love Comes To Everyone, que até teve uma versão no Brasil, mas o grande destaque vai mesmo para Got My Mind Set On You, honrando a tradição dos Bealtes de fazer covers de outros autores melhor que os originais. Esta é matadora, e a se lembrar do video-clipe perfeito, fica melhor ainda. John também tem uma dessas na carreira solo, com Stand By Me, mas não me lembro de Paul com uma cover arrebatadora, se souberem, me lembrem!

Enfim, cheguei em casa!!

Bond, James Bond

Este é um post aglutinador de posts deste blog, sobre Bond, James Bond!

007 é um dos assuntos que merecem logotipo sempre presente em meu blog, juntamente com Beatles, Star Trek e Santos Futebol Clube, muito por causa de minha expertise, a qual explico no primeiro post aqui listado.

Outros 5 posts contam algumas curiosidades sobre a franquia mais famosa e longa do cinema, e os últimos 5 falam sobre os filmes estrelados por Daniel Craig, que lançou finalmente seu último filme como o agente britânico com Permissão Para Matar, já detendo o título de ator que mais tempo ficou dedicado ao personagem, 15 anos!

Então aqui vão eles!!

Um concurso levou este escriba a seu maior feito, em nível nacional, com prêmio espetacular, e aqui eu conto sobre ele, as outras frase com que concorri, e explicações sobre cada um dos nomes e fatos usados nas frases!!
No dia 5 de fevereiro de 1962 era lançado o primeiro longa metragem daquela que viria a ser a mais longa da história do cinema. Conto como Sean Connery foi selecionado e descreve a fala mais famosa de todos os tempos
Um mix de livro e filme, falo um pouco sobre Ian Fleming, o criador de 007 e um filme de Pedro Almodóvar, que li e vi numa mesma semana de minha vida, o que foi o inspirador para juntar os dois num só texto, que depois, virou post.
Com que então o grande Schwarzenegger era menor que Sean Connery, e aqui eu conto como soube dessa surpreendente cultura inútil.

5. Pornográfico James Bond (link)
Na verdade, um gráfico de custos dos filmes James Bond e seus extraordinárias bilheterias, em dólares da época do post. Aliás, preciso atualizar, com a bilheteria do último.

6. Bond Numbers (link)
Mais alguns números e curiosidades sobra 007 

E agora, os cinco filmes e minhas resenhas sobre cada um

7. Casino Royale (link)

8. Quantum of Solace (link)

9. Skyfall (link)

10. Spectre (link)
 

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Quem Tem Pescoço Tem Medo


A torcida do Flamengo ontem mandou o Renato Gaúcho 
tomar no pescoço (em francês)...
Acho uma falta de educação impensável. Sei que se ele ganhar a Libertadores, ele é quem vai manda a torcida
tomar no pescoço (em francês)...
Imediatamente me lembrei 
de uma de minhas crônicas preferidas.
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Pode não parecer, mas o título deste post 
refere-se a uma crônica de viagem.

Substitua a palavra central do título deste post por sua correspondente tradução em francês. Uso este pequeno truque para poder mencionar ao longo do texto aquela escondida parte da anatomia humana, evitando assim o chulo som de sua denominação popular. Afinal, tem coisas que se fala, informalmente, mas não se escreve. E a tática será repetida ao longo deste pequeno ensaio, portanto, acostumem-se. Prometo limitar-me ao aspecto higiênico da coisa, ainda que meio escatológico. Afinal, pretendo que o texto possa ser lido por representantes de todas as idades. Assim, tiro o pescoço da reta.

A inspiração para o assunto veio por conta de uma visita que fiz à Turquia em 2007, quando conheci o tratamento correto que é dado pelos modernos banheiros turcos à higiene do pescoço. Chega a ser surpreendentemente simples a solução encontrada pelos construtores daquele país da Ásia. O ensaio foi escrito à época, e o ressuscito agora.


Nestes tempos de blog, entretanto, o texto original tornou-se grande, então dividi-lo-ei (permitam-me a ultrapassada, porém corretíssima, mesóclise) em capítulos. No título dos capítulos utilizei as iniciais do esquisito título -  QTPTM.


Neste intróito, questiono a minha própria colocação aí de cima, quando defini a Turquia como 'país da Ásia'. Não é mentira, mas poderia dizer 'país da Europa', ou ainda 'país do Oriente Médio', sem me afastar muito da verdade.

 São asiáticos, pois grande parte do país está na Ásia, como sua capital Ankara e a Capadócia, terra de São Jorge, e Éfeso, aonde  se diz estar enterrada Nossa Senhora, isso mesmo, que teria se instalado lá em seus últimos anos de vida.


São europeus, pois uma pequena parte do país,  aquela pontinha a noroeste, está na Europa, inclusive a maior parte de Istanbul (com ‘n’ mesmo), cidade histórica que já foi capital do Império Romano, já foi católica, e é tão central, geograficamente falando, que divide os dois continentes, operação sacramentada pelo famosíssimo Estreito de Bósforo, que liga o Mar Negro ao Mar Mediterrâneo (ou quase). 


E, finalmente, muita gente se confunde e considera a Turquia como parte do Oriente Médio, devido a sua forte origem muçulmana, religião de 99% da população, e à proximidade com países realmente do Oriente Médio: por exemplo, boa parte do sul do país é ocupada por uma minoria kurda (20% da população), regionalmente conectada à comunidade kurda do norte do Iraque, grande vizinho do sudeste, que sofria nas mãos do finado Saddam Hussein, ou seja, logo ali! Além do fato de que, aqui no Brasil, qualquer pessoa que viesse daquela região, fosse sírio, libanês, árabe, era inevitavelmente tratado como turco.


Meu conhecimento presencial da Turquia resume-se, entretanto a algumas horas em Istanbul, a capital histórica e alguns poucos dias em Ankara, a capital  oficial do país, aonde, aliás, notei a particularidade urbanístico-arquitetônica que motivou esta série e seu estranho título.

Espero que gostem!!

Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia  (este)
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua 
6. Um Hábito de Higiene 
7. A Solução Turca 
8. O Original Árabe 
9. A Evolução Oriental 





Minha Pilha Sonora agora tem I Am The Walrus

 Apareçam hoje no link abaixo, às 21 Horas!

                                         Marque no seu Alarme!!!

É o programa Beatlemania da UNIARA FM.

http://radio.uniara.com.br:88/broadwavehigh.mp3 


Acrescentei mais um na minha Pilha Sonora! 

(neste LINK, as demais canções da pilha)

Desta vez, é I Am The Walrus, a louca canção de Magical Mistery Tour que está presente em muitas listas de Top Ten dos Beatles, inclusive a minha!

Tem o refrão traduzido por mim...... e uma inserção que espero que entendam!!!!

Minha fala será mais pro final, a partir de 21:40!

Foi minha 13ª contribuição na seção Songfacts!

Mas antes tem muita coisa boa... e depois também!

EU OUVI NO DOMINGO!!!! 

ESTÁ ÓTIMOOO!!

Como sempre... são seções sensacionais com aspectos diferentes do Mundo Beatle!

NÃO PERCA A SENSACIONAL ABERTURA, com uma incrível canção cover que foi preterida em função de Mr. Moonlight!! PREPARE-SE PARA DANÇAR NA CADEIRA

E tem Rick Wakeman tocando Beatles. ARREBATADOR!!     QUERO MAIS!!!

E tem o magnífico cover do Earth Wind and Fire de Got To Get You Into My Life, NÚMERO 2 NO MEU RANKING DE VCOVERS DOS BEATLES

E o Álbum do Dia é Chaos And Creation in the Backyard, do qual eu já fiz resenha! Quem tiver curiosidade, o LINK é este

E tem homenagem à Lizzie Bravo, heroína Beatle brasileira!!!

E muito mais! Veja!!


 



Venha comigo!

E com o ótimo condutor Beto Neves!!

E tem reprise na quinta-feira, 21 Horas!

Veja que programação egal!!!

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

HELP! O 5º LIVRO dos Beatles

        Capítulo 40 

Esta é minha saga  LINK

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 


Cenário e Assuntos de HELP!, o álbum

O ano de 1964 fora aquele estouro de sensações e conquistas inimagináveis para um grupo de jovens que romperam o ano com 20 a 23 anos de idade: dois álbuns que foram ao topo no mundo todo, um filme, inédito para uma banda de rock, de sucesso  também mundial, a conquista da América. E 1965 viria com mais dois álbuns e mais um filme, todos igualmente de sucesso mundial. Parecia que se cumpria, a cada dia, a profecia que eles mesmos se auto proclamavam, quando John perguntava: Where're we goin', fellas?" e os outros: "To the top, Johnny!" e John: "And where's that, fellas?" e os outros: "To the toppermost of the poppermost!". Só não se sabia onde  seria esse topo.... tão cedo!

O primeiro semestre do ano foi dominado pelo segundo filme dos Beatles, que começou por ser chamado, e anunciado, como 'Eight Arms To Hold You', mas acabou se chamando "HELP!" (com ponto de exclamação e tudo) e tudo o que ao redor dele orbitava, as viagens para as locações (Áustria e Bahamas), as filmagens, a composição de canções para a trilha sonora, as gravações e mixagens em estúdio, que levaram ao lançamento, de filme e disco, já no começo do segundo. E isso envelopado entre uma temporada de shows em Londres, no começo e uma excursão por França, Itália e Espanha, no final do período.

Foram 11 sessões de gravação, em que se burilaram 14 novas canções, duas delas de George Harrison, outras 12 da incomparável dupla Lennon/McCartney.  Sete das 14 apareceram no filme e, junto com outras cinco foram lançadas no álbum HELP! Duas foram lançadas como Lado B de dois singles comandados por canções do filme (Yes It Is e I'm Down, que serão comentadas em capítulo posterior). Entretanto, 12 (7+5) canções eram insuficientes para as regulamentares 14 e, mais uma vez, e aquela seria a última, recorreram a duas canções cover de outros compositores para o efeito! Ainda três outras canções Lennon/McCartney foram gravadas, mas duas delas foram deixadas de lado e regravadas e lançadas por outros compositores (That Means a Lot e If You've Got Troubles), e a terceira (Wait) foi engavetada para posterior aproveitamento, ainda naquele ano!


Finalmente, vamos às canções do LP! 

Detalhes sobre essas canções mais abaixo. 
As covers em vermelho...
  1. Help!
  2. The Night Before
  3. You´ve Got to Hide Your Love Away
  4. I Need You
  5. Another Girl
  6. You´re Going to Lose That Girl
  7. Ticket to Ride
  8. Act Naturally
  9. It´s Only Love
  10. You Like Me Too Much
  11. Tell Me What You See
  12. I´ve Just Seen a Face
  13. Yesterday
  14. Dizzy Miss Lizzy

Agora vamos ao Assuntos das canções originais!

Em termos de divisão John / Paul, há um equilíbrio total, sendo cinco de cada um, além das duas de George!

Antes das canções, eis o nosso já tradicional quadro de Grupos, Assuntos e Classes. Vejam que este álbum é o primeiro que tem duas Mind Songs. As demais 10 autorais são do Grupo Heart Songs.

Percebam a tabela abaixo. 


Mais detalhes sobre a divisão entre Heart & Mind Song, aqui, neste LINK

Traduzindo
  • São 10 canções que falam ao Coração e duas à Mente
  • São 7 canções no Assunto Garotas e 3 no Assunto Saudade
  • Das 7 Girl Songs, apenas UMA é de Amor, são 3 DR, 2 Paqueras  e 1 Cupido
  • As Miss Songs são duas de Tristeza e uma de Retorno e 
HELP! éportanto, um 

87% Heart, 58% Girl, 25% DtR Album!

Na tabela abaixo, as evidências, nas letras, do porquê da classificação acima!




Agora, às canções ...

Lado A - A Trilha Sonora de HELP!, o filme

1HELP!  (Help Self Song by John Lennon)

John grita: 'Ajude-me se você puder, estou me sentindo desanimado. Eu gostaria de ter você por perto. Ajude-me a colocar meus pés de volta ao chão. Você não vai, por favor, me ajudar, me ajudar, me ajudar?' 

Nada mais HELP que isso!  John estava no topo do mundo, mesmo assim estava deprimido (e gordo, segundo ele), e externou seu sentimento.  O interessante foi a forma como a canção composta, bem parecida com o primeiro filme  no ano anterior. Estavam filmando novamente, e novamente o filme não tinha nome. Quer dizer, provisoriamente era Eight Arms To Hold You, ideia de Ringo por causa de uma estátua indiana cheia de baços que aparecia no filme e porque eles quatro terem, na soma, oito braços. Só que ninguém estava contente, algumas sugestões incríveis rolaram até que alguém sugeriu HELP, que tinha a ver com o roteiro do filme, onde todos tinham que ajudar Ringo. Só que já havia canção registrada com esse nome, e eles fica
ram perdidos até que o diretor Richard Lester teve uma brilhante ideia: E se colocar um ponto de exclamação, pode? Podia! Isto posto, a quem dariam a missão de escrever a canção, quem, Quem, QUEM?? Claro, novamente John! Conforme fizera com A Hard Day's Night, John finalizou a canção numa noite!  Gênios são assim! No dia seguinte, Paul se juntou a ele em sua residência de Kenwood e  contribuiu com aquele genial diálogo, o contracanto, com que ele e George complementam a fala de John, tão marcante na canção, e estava pronto mais um sucesso Lennon/McCartney, direto para o topo das paradas no mundo todo! No Brasil, felizmente, utilizaram a versão americana de HELP no LP, que tinha um introdução genial, a la James Bond (LINK),  tocada na abertura do LP, depois vinha um brevíssismo intervalo e eles vêm com tudo..
Paul/George - HELP, John - I need somebody
Paul/George - HELP, John - Not just anybody
Paul/George - HELP, John - You know I need someone, 
Paul/George - HEEELP!
Nunca uma introdução foi tão marcante! Arrebatadora! Esse trecho não se repete mais na canção!! Brilhante!! Os acordes da introdução são os mesmos dos refrães. O que se vê após a quarta súplica de John por socorro é a guitarra de George em incríveis acordes descendentes, dando boas-vindas aos demais instrumentistas, que entram com tudo. Em seguida dois pares de verso-refrão com impressionantes harmonias vocais, com Paul e George (P/G) praticamente introduzindo o que John (J) vai cantar em seguida, e seguem acompanhando o tempo todo. Vou deixar aqui o LINK do trailer oficial do filme, em que eles dublam muito bem sua gravação. John conta sua história em praticamente uma nota (estilo que usou em muitas outras composições), enquanto Paul e George entregam linda melodia. Olha só no 1ª Verso:  
 
P/G - When ; J - When I was younger so much tounger than today 
                                                            P/G - When I was young 
P/G - I never need ; J - I never needed anybody's help in any way 
                                                                    P/G - help in any way
P/G - Nown ; J - But now these days are gone and I'm not so self assured
                                             P/G - These days are gone 
P/G - But now I find ; J - Now I find I've changed my mind I've opened up the doors
                                                                        P/G - I've opened up the doors
  
No refrão, John vai solo nas duas primeiras linhas, mas Paul e George entram firme na 3ª em falsete perfeito e harmonizado: "Help me get my feet back on the ground" para John finalizar "Won't you please, please help me?". No 2º Verso, tem mais uma 'conversa' de John com seus companheiros, agora com letra diferente, e com direito a uma expressão que me seria marcante: "My independence seems to vanish in the haze", especialmente o verbo 'desvanecer' que me valeu um elogio quando o usei em uma aula de inglês corporativo, já maduro, e o meu professor perguntou: 'How the hell you know a word like that?' e eu disse; 'Beatles, of course!'. Bem terminando a digressão, depois, vem mais um refrão, igualzinho, e o final é o Verso 1 repetido, mas com instrumentação parando para o vocal solo de John nas duas primeiras linhas, e só então voltando o 'papo' com John e George. E pra finalizar, finalmente, agora, sim, uma conclusão arrepiante "... Help ... Help meeee yoooouuuu!!!". Eu sei que essa obra harmônica perfeita agradou demais a Paul e a George, que adoraram participar tão ativamente da canção de John. John declarou uma vez que HELP! e Strawberry Fields Forever são as duas únicas canções verdadeiras de seu repertório, esquecendo-se de tantas outras obras-primas que fez

 
Bem, todas essa maravilha foi gravada no dia 13 de abril de 1965, não sem percalços, pois o Take 1 foi terminado quando John arrebentou cordas de seu violão de 12 cordas (era useiro e vezeiro nessa prática). E o Take 2, terminou pois John se atrapalhou com seus próprios acordes... e o Take 3 também .. e notaram que George tinha dificuldade em fazer ao vivo um trecho em sua guitarra solo entre o final dos refrães e os versos seguintes, e deixaram essa parte para os ovedubs.... e outros takes pararam por erros de Ringo, de John e de George (só Paul não errou) e também porque a guitarra de John perdeu o tom, enfim, apenas no Take 9 encontraram a base perfeita. Vieram os overdubs, do vocal principal de John e os de apoio de Paul e George, e de Ringo com um pandeiro, e estavam completas as quatro faixas do equipamento de gravação, mas ainda faltava gravar a guitarra de George. Então, o outro George, o Martin, o Maestro, mostrou aos rapazes uma operação que fariam muitas vezes a partir dali, uma 'redução', ou seja, agrupamento de duas ou mais faixas em uma, para abrir espaço para mais overdubs, ou seja, mais acréscimos à canção. No final do dia, finalmente, George acrescentou sua ótima guitarra e estava finalizada a participação dos Beatles na gravação. Outras sessões vieram mas apenas de mixagem!
 
A canção foi lançada um pouco antes do álbum, em compacto tendo I'm Down no Lado B, indo direto para o topo das paradas, em UK e US. Tocaram-na muuuuito ao vivo, deixo aqui uma mostra pra vocês, de 1965, neste LINK. Note que George faz muito bem suas passagens de guitarra que ele teve dificuldade ao gravar a base, mas para isso ele deixa de fazer o backing vocal nesses momentos.

2. The Night Before  (DtR Girl Song by Paul McCartney)

Paul reclama: 'A noite passada é uma noite que eu lembrarei por sua causa. Quando penso nas coisas que fizemos, sinto vontade de chorar. Nós nos despedimos (Ah, na noite passada)'
Jane Asher, a namorada de Paul, era uma atriz de relativo sucesso, que tinha seus compromissos profissionais, era como diziam os ingleses, 'opinionated'! Portanto, é possível que essa letra seja a descrição de uma situação real entre eles. Ou não! De qualquer modo, trata-se de uma DR, da melhor qualidade. 'When I held you near, you were so sincere, treat me like you did the night before', 
Fatos notáveis da música? Começo pelo começo, afinal, a introdução em acordes crescentes chama a gente pra dançar desde o início! John faz o ritmo, pela primeira vez, num piano elétrico, ousado, agitado, afinal ele estava querendo se equiparar a Paul, que havia avançado mais que ele no instrumento. George complementa o ritmo em sua guitarra.  Note que o solo é gravado depois (over-dub), e é tocado por duas guitarras, muito bem ensaiadas e sem falhas, em oitavas distintas (uma oitava acima da outra), só não se sabe qual era a de George, qual era a de Paul. E que na verdade é um meio-solo, pois volta meio-verso cantado ao final. Absolutamente perfeitos são os backing vocals de John e George, complementando os versos com o nome da canção (Paul nunca o canta)  e, na segunda sessão deles, emendando lindamente, sem costura,  com suaves AAAA-aaaa-AAAA-aaaa's.  A ponte ('Last night is a night I will remember you by...') é cantada apenas pela voz dobrada de Paul e é marcada pela mudança na bateria de Ringo que, batendo na borda do prato até ali, passa a bater vigorosamente no centro do prato até chegar ao clímax ('it makes me wanna cryyyy!!'). E ele adiciona maracas ao tempero, em overdub. O baixo de Paul é sem floreios, aliás eu noto que ele sempre capricha mais na linhas de baixo de canções dos outros, em que ele não é o vocal principal, afinal precisa dedicar mais atenção à sua  voz, enfim, mas isso é uma tese que eu ainda preciso desenvolver. 
 
Vamos a alguns números, o 3, o 5, o 17, o 4, o 2 e o Zero! Vejamos! Tudo isso veio ao mundo na 3ª sessão de gravação da trilha sonora do filme, ao longo de 5 horas, em 17 de abril, e foram apenas dois takes necessários para acertar a base, já com John inovando naquela pianola, George na guitarra, Paul no baixo e Ringo na bateria. O resto do tempo foi usado em extensivos overdubs, de Paul no vocal principal, John e George no vocal de apoio, Ringo nas maracas, e o solo de guitarras dobradas de Paul e George. Faltou algum número? Ah, sim, o Zero, que foi o número de vezes que ela foi tocada ao vivo pelos Beatles em algum show, sim, sim. acredite!  
 
A canção faz parte da trilha sonora do filme, aliás assim como todas as do Lado A do LP. Eles a tocam em campo aberto próximo a Stonehenge, logo antes da cena dos tanques. No filme, eles dublam o som de estúdio, vejam aqui, neste LINK, e se pode ver John ao pianinho! A única vez que a tocaram ao vivo foi na BBC, porém nunca apareceu em nenhum show. O áudio da BBC pode ser ouvido aqui, neste LINK, tendo ao fundo cenas da filmagem do filme! Impecável! Im-per-do-ável que nunca a tenham cantado ao vivo! Felizmente, Paul a cantou, solo, e no Brasil, vejam aqui, neste LINK, como a plateia vem abaixo e canta junto!!! Genial!!

3. You´ve Got to Hide Your Love Away  (Sadness Miss Song by John Lennon

John lamenta: 'Aqui estou com a cabeça entre as mãos, viro meu rosto para a parede. Se ela partir não posso continuar, sentindo-me tão pequeno. Em todos os lugares as pessoas me fitam, a cada dia, todos os dias. Posso vê-los rindo de mim e ouvi-los dizer: Você deve esconder o seu amor!"
John está deprimido pela perda da garota, e lá pelo meio, o lamento chega à ofensa: How could she say to me: Love will find a way. Gather round all you clowns! Let me hear you say, aí vem aquele tocante violão em acordes descendentes, o refrão com o brado do nome da cançãoRegistro a segunda vez do uso do qualificativo 'palhaço', em canções do compositor. No ano anterior, uma auto denominação (I'm A Loser), agora um xingamento. Linda balada, em ritmo de valsa (3/4), declaradamente inspirada em Bob Dylan. Há quem interprete que John foi secundariamente inspirado na homossexualidade do empresário e amigo Brian Epstein, que tinha que 'esconder' seu amor de toda a sociedade, que considerava crime a pessoa ser gay (e assim o foi na Inglaterra e no País de Gales até 1967, na Escócia até 1980 e na Irlanda do Norte até 1982)!  Letra curta, mensagem clara, e eu não me canso de admirar o cuidado de John (e que Paul também tinha) em produzir versos sem repetição de letra e preferencialmente com rimas ricas, aquelas em que se rimam classes gramaticais distintas. Sei que em inglês não se leva em conta esse fato, mas parece caso pensado. Note aqui o primeiro conjunto verso-verso-refrão, diagramado:

E o segundo conjunto verso-verso-refrão tem letra DIFERENTE, mas com o mesmo cuidado, rimando I com try, win com in, way com say, round com clownsdá uma escorregada, rimando she com me (dois pronomes), e uma derrapada total, rimando them com them (a mesma palavra!). Perdoado, né?! 

O vocal é 100% John, sem a tradicional harmonia de Paul, como pedia a intimidade da letra.  E é John em sua plenitude, tirando do fundo d'alma seu grito primal. Está registrado que o 'Hey' foi sugerido por um amigo de infância de John que testemunhava, maravilhado, a sessão de gravação, em hora e meia da tarde de uma quinta-feira 18 de fevereiro de 1965. John faz a melodia com seu violão de 12 cordas, George acompanha também ao violão, Paul num baixo sem destaque, Ringo na bateria só com as escovas. Um pandeiro e maracas são acrescentados posteriormente, por Ringo e Paul, respectivamente. Apesar de John ter cantado a melodia durante a base, seu vocal oficial foi colocado dessa fase de overdubs. Finalizando a parte instrumental, dou enorme destaque à primeira aparição de um instrumento diferente do tradicional conjunto guitarra-baixo-bateria-percussão-piano: uma magnífica flauta tenor, que substitui a voz de John nos versos 5 e 6 que finalizam a canção, entoando uma melodia distinta do vocal dos outros versos, perfeitamente encaixada.

You´ve Got to Hide Your Love Away também foi parte da trilha de HELP! Ela aparece ainda no começo do filme, antes de Ringo ser raptado, com os Beatles naquela casa maravilhosa, com quatro portas de entrada que dão acesso ao mesmo ambiente, John no violão, Ringo no pandeiro, cheia de olhares de George e Paul para uma moça sentada num sofá, com direito a um misterioso flautista em outro ambiente e com um suspeito emergindo da rua, de um bueiro. Infelizmente, ela nunca foi tocada ao vivo, considerada de pouco potencial comercial, imagina, uma pequena obra-prima. Aqui neste LINK, mostro a cena do filme. 
 
Finalizo declarando ser esta canção a minha preferida do LP HELP!, muito repetida na agulha de minha vitrola, no alto de meus 7 para 8 anos nesta passagem, mesmo não entendendo sua letra muito bem ou um pouco dela, ajudado por meu irmão 13 anos mais velho. Ao longo de meu 9º ano de vida, que se iniciaria em seguida ao lançamento do LP, que foi em dezembro de 1965 no Brasil, meus pais, sensibilizados pelo meu interesse nas letras das canções dos Beatles, matricularam-me no Centro Cultural Brasil Estados Unidos (eu era o mascote da turma) do qual eu saí formado, no nível intermediário, quatro anos depois. Ainda incentivaram aulas particulares de reforço de inglês com um primo gênio meu 6 anos mais velho. Tais atitudes estratégicas de meus pais proporcionaram-me um conhecimento suficiente do idioma para ajudar-me no vestibular aos 17 anos, e mais decisivamente, no exame admissional aos 22, para o emprego e carreira que me acompanharia nos 35 anos seguintes. Não é pouco o que agradeço a meus pais por aquela decisão em minha tenra infância. Não foi pequena a importância dos Beatles em minha vida...

4. I Need You  (Return Miss Song by George Harrison)

George suplica: 'Você não percebe o quanto eu preciso de você. Amo você o tempo todo. Jamais deixarei você. Por favor, volte para mim. Eu estou muito sozinho. Eu preciso de você! 
 
Welcome back, George! Demorou ano e meio para George Harrison apresentar sua veia de compositor novamente. Após dois álbuns ausente, ele aparece com duas selecionadas para o novo produto Beatle! E a primeira é tão boa que foi selecionada para aparecer no novo filme Beatle! E ainda comporia também o Lado B do LP HELP!, com You Like Me Too Much!  
 
I Need You ode ter sido indiretamente inspirada em sua namorada, Pattie Boyd, mas apenas como um desejo que o rompimento não aconteça, pois não há notícias de que estivessem brigados à época, enfim. Fato ou fake a canção é maravilhosa, magnífica 'I Miss You' Song, na Classe Retorno. A estrutura seguia o padrão daqueles tempos, verso-verso-ponte-verso, sem refrão, versos com letras diferentes, depois repete ponte e o último verso. Ela nasceu nas últimas horas do 1º dia de gravações para o álbum HELP!, em 15 de fevereiro de 1965, e foi terminada nas primeiras horas de gravação do da seguinte.   
 
Na introdução, nota-se o efeito do pedal de volume na guitarra de George, pela primeira vez usado em gravações Beatle. São quatro notas, e o pedal apareceria de novo ao final de cada frase dos versos ("I need you", "without you", etc.), mas isso veio em overdubs, após estabelecida a base. Na distribuição dos instrumentos, uma configuração diferente: Paul, sim, no baixo, simples, nada demais, George faz o ritmo no violão, John surpreendentemente está na bateria, bem padrão, mas mostrando versatilidade, mas e Ringo? Ele está no violão.... mas calma, o violão está no seu colo, com as cordas para baixo, sendo batucado! 
Muito interessantes as anotações de George Martin! Foram 5 takes até acertarem a base! No dia seguinte, vieram os overdubs, além do pedal de volume, já citado, Ringo também grava o cowbell, nas duas vezes em que a ponte ("Oh, yes, you told me you don’t want my lovin’ anymore") aparece, entre os versos. Eu gosto tanto do som do cowbell, que tenho a estranha mania de quantas vezes ele é ouvido, e aqui foram 74 vezes (2 x 37). E vieram a guitarra de George e as harmonias vocais de Paul no final dos versos e de John e Paul nos versos e na ponte, conferem o tom dramático da letra que fala em abandono.  
 
No filme, eles 'tocam' ao ar livre, de novo, em meio a tanques, mas só de mentirinha, afinal ia ficar estranho ver John sentado à bateria e Ringo batucando num violão, então eles assumem seus tradicionais instrumentos. Ao vivo, mesmo, aliás, I Need You nunca foi tocada, nem em rádios, nem em shows! Encontrei esse vídeo com parte da cena do filme, mas centrada na voz e violão e na guitarra dele não se ouve a harmonia de John e Paul, nem o cowbell, imperdoável! Neste LINK. E deixo esta do Concerto for George, de 2001, em que Tom Petty, companheiro dos Travelling Willburys, seu grande amigo hit maker, entoou com propriedade, neste LINK, infelizmente sem qualquer som de cowbell. Imperdoável!

 5. Another Girl  (DtR Girl Song by Paul McCartney)

Paul avisa: 'Então estou lhe avisando dessa vez, é melhor você parar pois eu tenho outra garota, outra garota que me amará até o fim, na saúde ou na doença, ela irá sempre  se comportar, e fazer do jeito que eu gosto, sob pena de ser trocada por outra que vai fazer tudo o que eu quero, minha amiga" 
 
Aqui nesta DR impositiva, Paul demonstra seu poder de macho alfa, dizendo à garota que ela tem que se comportar, e fazer do jeito que ele gosta, sob pena de ser trocada por outra, que vai fazer tudo o que ele quer “through thick and thin”, aliás, sempre me intriguei com esse trecho da ponte, até entender que é equivalente ao nosso ‘na riqueza ou na pobreza’ ou ‘na saúde ou na doença’, como coloquei na tradução. Danado! E Paul confirma em entrevistas posteriores esse comportamento, diz que seu relacionamento com Jane Asher, com quem morava, na casa da família dela (!!!), era aberto, e, afinal, ele não era casado (!!!), deixando John com enorme inveja. Paul segue a política letrista da dupla, com a não repetição dos versos (são três diferentes, repetindo apenas no quarto, ao final) e as rimas ricas (“few“ com “do“,“you“ com “new“, “and“ com “can“, escorregando no “seen“ com “been“).  
 
Paul estende seu poder na letra à parte musical da canção, deslocando o guitarrista solo da banda, nosso querido George, e fazendo os guitar fills que aparecem ao longo de toda ela. E esses fills são filled posteriormente, em overdubs, pois na gravação da base, no dia anterior ( 15 de fevereiro), ele está em seu tradicional baixo, na maior parte do tempo marcando três das quatro notas de cada compasso.  George fica no ritmo no violão, John fica firme nos stacattos, puxando as cordas de sua guitarra ao longo de toda a canção, e Ringo no seu ritmo nos pratos da bateria. Algumas marcas registradas dos Beatles estão presentes, a começar (i) pela introdução a capella (sem instrumentos), (ii) as Beatles Breaks, numa das vezes com o auxílio luxuoso da letra, pois ele aparece quando Paul canta “And so I'm telling you this time you'd better STOP”, e, como não poderia deixar de ser, (iii) as harmonizações de John e George, em todas as vezes que o nome da canção é cantado, e também na ponte ("... girl, who will love me till the end, and through thick or thin she will allways be my friend"). 
 
A cena em que Another Girl aparece no filme é muito divertida. Em que pese a cena não ter nada a ver com o enredo do filme, aliás, como todas as outras, o clipe pode ser interpretado com a letra. Eles estão nas Bahamas, à beira do mar, em trajes leves, e fazem micagens mil, às vezes trocando instrumentos, e várias mulheres lindas aparecem, como que Paul dizendo: "Você pare com isso e se comporta, senão eu arrumo outra garota, tem uma fila delas atrás de mim!" (e eles tinham mesmo...).  E Paul ainda tira uma lasquinha numa garota de biquíni, fazendo-a de sua guitarra baixo. Confira aqui, neste LINK. Finalizando, Another Girl is Another Song that has never reached the limelight, ou seja, nunca foi tocada ao vivo, além da vez que foi dublada na cena das Bahamas! 

6. You´re Going to Lose That Girl (Cupid Girl Song by John Lennon

John aconselha: 'Se você não tratá-la direito, meu amigo, você verá que ela se foi, porque eu vou tratá-la direito e você ficará sozinho. Você vai perder aquela garota!"
John aconselha seu amigo a tratar bem a namorada senão ela vai embora.... só que mais adiante ele revela que ELE seria a próxima opção dela,  muy amigo, de qualquer forma, ele está avisando. E a confiança com que ele avisa dá tudo a entender que vai conseguir. 
 
Musicalmente, voltam a começar a canção A Capella (tal qual Another Girl). Notável é a subida de dois graus no tom (na verdade, tom e meio, Mi para Sol) da ponte em relação aos versos, aumentando a dramaticidade do ‘conselho amigo’. Os instrumentos usuais estão a cargo dos instrumentistas regulares, mas Paul e Ringo adicionam posteriormente, numa mesma pista da fita, piano e bongôs, este último deixado bem alto na mixagem final, sendo um destaque da percussão. George volta a fazer um solo, rápido e marcante, duas vezes, seguido do título/refrão. 
 
Entretanto, o destaque absoluto da canção são os vocais: primeiro, o solo rouco de John, com falsete perfeito no verbo/ameaça “Lose”, mas não ficam atrás as estupendas harmonias vocais, primeiro,  com Paul e George repetindo o título que abre a canção, cantado por John! Depois, no contracanto nos versos, com Paul e George no esquema pergunta/resposta ao canto de John, "She's gonna change her mind" e "I'm gonna treat her kind" já entregando o jogo, de que o rival é ele mesmo! Depois, com a harmonia tripla na ponte -I'll make a point of taking her away from you- depois só Paul e George em - Watch what you do- e John sozinho confirmando com um –Yeah-  brilhante, e voltando os três em -The way you treat her what else can I do?- no final da ponte, para depois descer aqueles mesmos dois graus (de volta ao Mi) para mais um verso! 
 
Tudo isso tomou vida no 5º e penúltimo dia dedicado ás canções do álbum antes de partirem para as filmagens, numa tarde de 19 de fevereiro de 1965. Após extensivos ensaios, ligaram o gravador de fita, todos em seus instrumentos e com os cantores já a todo vapor e precisaram de um único take ao efeito de base. Ele se chamou de Take 3, porque se enganaram e chamaram de Take 2 o inicial, e este foi abortado no início. Então, completo, foi um take só! E vieram os overdubs já citados, além da dobra do vocal de John!
 
No filme, a canção é cantada em estúdio, onde se vê o único Beatle que
não canta na canção (Ringo) fumando desbragadamente e enchendo o estúdio de fumaça, proporcionando um clima, com ótimos e variados ângulos de câmera, Paul e George dividindo um microfone, ‘vendo-se’ até os hálitos emanados das bocas, e até mostrando um ‘segundo Paul’ ao piano e um ‘segundo Ringo’ tocando seus bongôs, em trechos distintos do clipe. Magníf
ico, e pode ser visto aqui, neste LINK! Infelizmente aquela performance é a ÚNICA 'ao vivo' da estonteante canção!!

7. Ticket to Ride (Sadness Miss Song by John Lennon

John lamenta: 'Eu acho que vou ficar triste, e acho que é hoje, sim! A garota que está me deixando louco está indo embora. Ela tem uma passagem para ir embora. Ela tem uma passagem para ir embora. Ela tem uma passagem para ir embora mas não se importa"
Apesar de Paul ser responsável por 40% da canção, deixo a autoria para John, que teve a ideia do título, e das linhas gerais da letra. Há distintas interpretações sobre seu significado. A básica é esta que está na tradução acima: John está triste porque sua garota vai embora. Uma segunda, um pouco mais reveladora, é de que o título seria uma gíria para 'permissão para amar', uma exigência sanitária que a municipalidade de Hamburgo, onde eles tocaram muuuito, antes da fama, requeria de prostitutas, para poderem atuar na profissão mais antiga da história e, portanto, John estaria lamentando estar apaixonado por uma garota do ramo, que não está nem aí pra ele. Uma terceira, e recente, que eu soube, é que, na verdade, o nome seria Ticket To Ryde, que é uma cidade da Inglaterra, onde John e Paul foram uma vez na juventude, para visitar um parente deste último, e eles trocaram o ‘y’ pelo ‘i’ para não gerar necessidade de explicação. Só que esta, que foi revelada por John muitos anos depois, pode ser atribuída ao sarcasmo do gênio compositor. Seja o que for, a canção é uma favorita da carreira, por vários motivos musicais. 
 
Começando pelo início, que riff de abertura é aquele? Decerto está entre os 10 mais famosos e marcantes da história do rock. Pode fazer a sua lista!! Day Tripper, I Feel Fine (só pra ficar em Beatles), ou Satisfaction/Start Me Up dos Stones, ou Smoke on the Water do Deep Purple, ou Heartbreaker do Led Zeppelin, ou Roundabout do  Yes, ou Sweet Child of Mine do Guns’n Roses, e deixo você colocar a última. George mandou muito bem!! Mas não pare por aí, siga ouvindo e balance com a entrada vigorosa da bateria de Ringo, e note que em seguida ela vai no ritmo do riff, soando os tambores nos mesmos tempos, sincopados, de suas últimas três notas, ideia maravilhosa de Paul, e que vai até o verso final da canção, quando Ringo desiste da 'sincopagem explícita'. Veja que nosso baterista está atento aos mais novos Beatles Breaks, logo após o "...ticket to ri-i-ide!". E também note que não há a necessidade de se 'machucar' os pratos, até o final apoteótico, quando eles aparecem.  
 
Não perca o bonde, volte ao início dos vocais de John, no verso inicial, e note a entrada de Paul na harmonia aguda, lá no alto, em “--day, yeah” que segue em “the girl that’s driving me mad”, desligando aí, pra voltar no “she don’t care” no final do verso. Perceba aqui o erro gramatical de John, pois o correto seria she doesn’t care, mas  o correto não cabia na métrica, mas isso é permitido: é o que se chama de 'licença poética', dada aos compositores, em prol do bom soar (pensou em francês?). Paul volta no segundo verso em “..down, yeah” que segue em “she would never be free” e também naquele mesmo final de verso. Mas Paul não fica por aí, ele está na íntegra da ponte “I don’t know why she’s riding so high...” harmonizando no agudo, mas não tão enfaticamente, uma ponte, aliás, que muda o ritmo de forma magnífica, e sua graça é aumentada por um pandeiro de Ringo gravado posteriormente. O pandeiro aparece ao longo de toda a canção, mas é na ponte que ele brilha intensamente!  
 
Acabou? Não! Ao final da ponte, para reintroduzir um terceiro verso, há uma guitarra, só que ela não é tocada por George, mas por Paul, sim, ele andava ousado, invadindo a praia do guitarrista solo de plantão. Depois, mais uma vez a ponte, e mais um verso, e mais uma guitarra final também de Paul, acompanhando o “My baby don’t care!” repetidas vezes, e Paul ali também faz o falsetto notável, e note-se o prato de Ringo e também batendo palmas, em overdub! Claro que nas apresentações ao vivo, é George quem toca esses solos de guitarra! 
 
Ticket To Ride foi gravada na primeira sessão para o álbum HELP!, em 15 de fevereiro de 1965, que inaugurou uma prática de estúdio que se repetiria dali por diante: acabara a fase romântica de gravarem todos juntos e cantando, agora, eles gravavam a base até chegarem a uma versão satisfatória, e depois gravavam as vozes, sem tocar os instrumentos, somente ouvindo a base em fones de ouvido! Foi também a primeira canção do álbum a ser ouvida pelo público, lançada em compacto em abril com Yes It Is no Lado B, direto para o topo das paradas. 
 
No filme, Ticket To Ride aparece como background de ótimos momentos dos Beatles na neve dos Alpes Austríacos. Esquiando de verdade ou fazendo micagens, nos esquis ou nos trenós, em  separado ou todos juntos num só, uma pilha de Beatles, aliás, quando os ‘bandidos’ aproveitam para raptar Ringo, pendurado pelo pé. Ótima cena!! Tirei a foto do momento. 
 
Ao contrário da maioria das canções do álbum, Ticket To Ride foi muuuuito tocada ao vivo, em shows das excursões e na TV, em UK e nos USA, e ainda teve um vídeo promocional muito bom, um dos precursores dos vídeo-clips.  Vale a pena ver uma dessas ao vivo, notando-se a animação de Paul nos agudos! Aqui, neste LINKNote como George erra a primeira guitarra de Paul. E também que Paul entra dobrando o vocal no final dos versos em “but she don’t care!”, mas na gravação é apenas John.

 Ai, ai , ai, essa paixão que me faz gastar na explicação da canção

quase 50 vezes mais tempo que a duração da própria... 


Lado B

8. Act Naturally   (by Johnny Russel)

Ringo declara: '... é um papel de um cara triste e solitário, então o que tenho que fazer é atuar naturalmente...
Esta canção cover abre o Lad
Johnny Russel
o B do álbum HELP!, dando a honra a Ringo de abrir um lado de disco Beatle pela primeira vez! Ele voltaria a repetir a façanha em "Rubber Soul" no mesmo ano (What Goes On) mas, ainda mais poderoso, seria o Lado A de um compacto no ano seguinte, com Yellow Submarine! Em "HELP!", a canção era Act Naturally, anteriormente lançada em 1963 por Buck Owens, composição de Johnny Russel. Era perfeita para o range vocal do baterista, e tinha uma letra leve, engraçada e profética, porque falava em um sonhador que queria fazer sucesso no cinema, até quem sabe ganhar um Oscar "you can never tell", e estava particularmente feliz porque o papel era fácil de fazer por se tratar de um cara 'sad and lonely' e 'And all I gotta do is act naturally'.  E por que profética? Ringo empreenderia uma boa carreira de ator ao sair dos Beatles, aproveitando o talento que ele percebeu ter, justamente, nos dois filmes dos Beatles, em que ele tinha destaque!
 

 
Na primeira série de sessões de gravação do LP, Ringo havia gravado uma original de Lennon/McCartney chamada If You've Got Trouble, mas a canção é que teve problemas, acabou não sendo escolhida para o filme, e nem para o LP. John e Paul não gostaram do resultado e pediram a Ringo que escolhesse uma para gravar, ele sacou essa country do bolso, que ele adorava, os dois aprovaram, e em 17 de Junho tornaram-na realidade em menos de hora e meia, e sem a presença de John. Foi George quem tocou o violão, Paul no baixo e Ringo na bateria, em 13 takes. Por sobre este último, vieram os overdubs, do vocal do próprio Ringo, do backing vocal de Paul, guitarras de George, e batidas específicas de baterias de Ringo. 
 
A canção foi tocada ao vivo pelos Beatles, e Ringo mandava muito bem e com o auxílio luxuoso de um Paul McCartney na harmonia vocal, vejam aqui neste LINK. Hilário é o começo, pré-show, quando ele se mata de rir ao ser anunciado como MBE (Member of Brittish Empire), logo ele, garoto pobre, que sobreviveu a um coma por tuberculose, e a dois períodos de mais de ano de internação em hospitais que fizeram com que não completasse sua educação básica. Realmente, improvável! Grande Ringão, extraindo milagres de uma vida dura! Act Naturally não fez parte do álbum HELP! lançado nos EUA e no Brasil. No Brasil, saiu em um daqueles EPs com 4 canções. 

9. It´s Only Love  (DtR Girl Song by John Lennon)

John discute: 'Por que sou tão tímido quando estou ao seu lado? É só amor, e isso é tudo. Por que deveria me sentir do jeito que sinto? É só amor e isso é tudo mas é tão difícil amar você'
Gravada após as filmagens do longa-metragem, em 15 de junho de 1965, na 11ª e última sessão de gravação para o álbum HELP!, a canção foi feita sob encomenda para completar as 14 necessárias.  Ela é desprezada pelo autor. John considerava sua letra abominável! Por que será? Será por causa da brincadeira poética de rimar 29 vezes o som do fonema ‘ī’, ou 'ai' em português, gerado em palavras como ‘right’, ‘beside’, ‘butterflies’, ‘why’, ‘shy’, ‘time’, ao longo dos versos (2) e pontes (2)? É, pode ser, mas eu e milhares (milhões?) de fãs adoramos a brincadeira. 
 
É uma perfeita DR em que John discute o relacionamento, declarando sua adoração (“When you sigh, my mind inside just flies”) no 1º verso, e até vê borboletas, mas depois migra para uma autocomiseração na 1ª ponte (”Why am I’m so shy when I’m beside you”, passando por uma reclamação (”Is it right that you and I should fight every night?”), pra depois chegar ao refrão sentido, concluindo que ”It's only love and that is all, how should I feel the way I do, .... but it's so hard loving you!”. Eu, de minha parte, acho perfeito! Aliás, esta estrutura é até didática, note como a ponte é uma ligação (como toda ponte que se preze) entre a proposição do verso e a conclusão do refrão! Em seguida, a fórmula se repete com mais um verso e mais uma ponte, ambos com exaltações e lamentações diferentes, e a repetição do refrão. 
 
Musicalmente, a base é John no violão grave, George em outro, mas agudo, Paul no baixo, Ringo na bateria. No projeto Anthology, veio à tona o Take 2, uma versão linda, onde se notam bem os violões nos quatro compassos da introdução, e também a bateria de Ringo no hi-hat (chimbal) e na borda da caixa, ao longo de toda a canção, delicie-se neste LINKNos overdubs, Ringo acrescenta um pandeiro, e George, aquelas magníficas passagens de guitarra de cinco notas descendentes. E elas vêm ao mundo incrementadas pela passagem num Leslie speaker, que passaria a ser usada em muitas canções, não somente sobre guitarra, mas também, piano, bateria e até voz, que foi aliás o efeito que se ouve na voz de John em Tomorrow Never Knows. E é de John, aliás a única voz que se ouve em It's Only Love, sendo que ele dobra a própria voz no refrão, e ainda oferece um falsete perfeito na conclusão, "... only youuu -uuuuu- uuuu"  brilhante. John também acrescenta aquelas puxadas na guitarra nos versos, três a cada compasso nos versos. E tudo finaliza numa conclusão parecida com a introdução, um pouquinho estendida!  Aliás, quando ouvirem a versão oficial, em estéreo, prestem atenção que o ouvido direito ouve todos os overdubs listados, desligue o ouvido esquerdo e encante-se! Mesmo sem dar muito valor à canção, o conjunto ficou ótimo, mas não o suficiente para motivá-los a tocarem-na ao vivo. Se outras canções melhores ficaram de fora dos shows, esta, então, muito menos valorizada, claro que nunca viu a luz do sol num palco qualquer da vida. 
 
Os americanos nem a conheceram na mesma época que o resto do mundo, porque a Capitol Records lançou, no Lado B do álbum, as instrumentais que George Martin orquestrou para o filme. Ela viria a ser lançada no Rubber Soul americano no final do ano, outra confusão que fizeram no catálogo dos Beatles, que não gostavam nadinha do que faziam do outro lado do Atlântic. Por isso que eu nem perco tempo com aquela salada  americana. Aliás, tampouco nós, brasileiros tivemos a honra de conhecer It's Only Love em nosso álbum HELP! O Lado B era outra salada!!! Nem Yesterday veio!! Essas duas vieram num EP lançado meses depois do LP com outras duas do álbum. Veja ao lado!

10. You Like Me Too Much   (Love Girl Song by George Harrison)

George declara: '... dizendo que não haverá outra vez se eu não te tratar bem. Você nunca me deixará e você sabe que é verdade porque você gosta muito de mim e eu gosto de você
George Harrison estava num ano excepcionalmente produtivo. Após um 1963 e um 1964 que viram apenas uma canção do guitarrista (Don’t Bother Me, em “With The Beatles”), em 1965 ele produziu 4 (quatro) canções dignas de nota, que passaram pelo crivo do ‘compositores-chefe’, os imbatíveis Lennon/McCartney. Uma delas, inclusive, mereceu aparecer no filme HELP!, como falei aqui mais em cima (I Need You), duas viriam no segundo álbum do ano, em dezembro, e esta que ora vos descrevo. Ela esteve, inclusive, entre as finalistas para aparecer no filme, mas escorregou pra o Lado B.  
 
Em uma avaliação apressada de minha parte, classifiquei-a como Love Song mas, na verdade, está mais para uma DR. Afinal, ele reclama que ela o deixou de manhã, mas tinha certeza que ela voltaria de noite "'Cause you like me too much and I like you!". Ao final, a promessa/confissão "There’ll be no next time, I admit that I was wrong"  foi suficiente. Se foi realmente baseado em um episódio da vida real dele com a namorada Pattie Boyd, não há a certeza, mas é provável, afinal ele e os amigos davam muuuitos motivos, com a sequência de traições durante as excursões do quarteto, e elas sabiam disso. O fato é que George e Pattie acabaram se casando em janeiro do ano seguinte, portanto, o amor venceu, e vou deixar a canção classificada como Love Song. 
 
Musicalmente, ela veio ao mundo em 17 de fevereiro de 1965, a 2ª sessão de gravação para o futuro álbum. Foram 8 takes no total. Pra mim, o destaque absoluto vai para o piano!! Primeiro, na introdução fenomenal que é tocada por Paul (lembrem-se que eu falei acima que ele estava muito focado em seu aperfeiçoamento no instrumento). E ele pega o baixo no resto da base, que tinha o ritmo levado por George no violão, Ringo na bateria e John no pandeiro, especialmente forte nas pontes! Quando chega a sessão solo com os acordes dos versos ao fundo, a guitarra de George se embrenha num lindo duelo com o piano, desta vez tocado por Paul e George Martin, sentados lado a lado, em overdubs sensacionais. Brilhante! John assume o piano ao longo dos versos, com som incrementado por eco. Entendeu a importância do piano nessa canção? O instrumento teve três 'tocadores' na mesma canção, e o som alterado: além do eco citado, o hoje famoso Leslie Speaker foi acionado para o piano levado a quatro mãos que duelou com a guitarra. Os vocais vieram também em overdubs, George no lead vocal e John e Paul nos backing vocals, com o diferente detalhe de que a harmonia grave aqui é de Paul, nas vezes em que George canta o título da canção e nas pontes!
 
Aliás, falando em ponte, George inova, fazendo com que ela seja um complemento à última frase do verso anterior, ao mesmo tempo que introduz o verso seguinte. Explicando melhor: o Verso 2 termina com "and I like you." E vem a ponte e complementa a frase com "I really do... ", ela segue, e finaliza com "...if you leave me", mas aí vem o verso 3 pra terminar a frase "I will follow you... " Genial! Seus geniais companheiros letristas nunca haviam feito isso! Apesar de ensinar essa lição aos super-maiorais, ele mostra que aprendeu duas outras: 1. A não repetição – os três versos são diferentes entre si e 2. As rimas que chamaríamos  ricas em português, na grande maioria das vezes: "true" com "you" e com "do", "nerve" com "deserve", "wrong" com "belong", "right" com "tonight". Um primor!! Parabéns, George!!   
 
Para terminar, nem pensar, claro em tentar tocar You Like Me Too Much ao vivo, né. Impossível Paul estar no piano E no baixo ao mesmo tempo! E nem pensar também que americanos e brasileiros pudessem ouvi-la como foi lançado no oficial britânico, ela não fez parte do álbum HELP! lançado nos EUA e no Brasil, com o detalhe que os gringos a ouviram antes mesmo dos ingleses, num álbum chamado Beatles VI . No Brasil foi relegado a mais um daqueles EPs com 4 canções. Vou deixar aqui o LINK da original, porque há que se admirar aqueles três pianos a seis mãos.

11. Tell Me What You See  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

Paul promete: 'Se você me entregar o seu coração eu vou te provar que nunca nos separaremos sendo eu uma parte de você. Abra bem os seus olhos agora e me diga o que você vê! Não é difícil descobrir que é a mim que você vê
Uma de duas canções de Paul rejeitadas para fazer parte do filme HELP!, Tell Me Wath You See, até pela rejeição, é considerada menor pelo autor. É uma canção de paquera, há promessa de carinho e cuidado nos bons e maus momentos "Big and black the clouds may be, If you put your trust in me I'll make bright your day", e tal, mas esse era um estilo de letras que eles fariam cada vez menos no futuro. Seguem as rimas ricas, desta vez com destaque pra algumas internas, em meio a uma frase, tipo. "If you let me take your HEART … We will never be APART …", e também em "Open up your EYES … It is no SURPRISE…" sendo que aqui nem sei se é considerada rica, sendo substantivo com substantivo, mas é intrigante porque rima singular com plural. Porém, a mais incrível é em "Listen to me one more TIME, … Can't you try to see that I'M..", rimando um substantivo com uma contração de verbo!! Bem, eu acho fascinante! Ah, e tem a tradicional escorregada, rimando "you" com "you". E segue a política de não repetição, desta vez com o requinte de não repetir o refrão! 
 
O ritmo é meio latino, tipo um ska, o clima dos instrumentos de percussão comprova isso. Pra se ter uma ideia, George toca um guiro, aquela cabaça oca cheia de entalhes, raspados por uma vareta, e ele a toca logo no primeiro take da base, e depois, em overdubs, ele acrescenta claves, uma batendo sonoramente na outra, que já haviam aparecido em And I Love Her, um ano antes. E SÓ!!! Onde foi parar sua guitarra, Mr. Guitar Man? Deu folga pra ela! John faz o ritmo em sua guitarra, acrescentando aqui e ali alguns arpejos notáveis, um deles na abertura, Paul vai em seu tradicional baixo, bem basiquinho, e Ringo na bateria. Ele também acrescenta uma pandeirola, mas o acréscimo mais importante é de Paul, com uma pianola que é marcante na canção, acompanhado apenas dos bumbos de Ringo, logo após os já famosos Beatles breaks que 'aparecem' depois dos momentos em que o título aparece gritado nos refrães, e também na finalização da canção. John e Paul harmonizam no vocal o tempo todo, às vezes na mesmas notas, outras com Paul indo para o alto, como é tradicional. 
 

As canções rejeitadas para o filme, tendo sido gravadas anteriormente às filmagens, estavam disponíveis para lançamento, e foram lançadas nos EUA, num LP chamado Beatles VI, dois meses antes do lançamento oficial no Reino Unido, mesmo caso d
a anterior You Like Me Too Much. No Brasil, que também não respeitou o Lado B oficial de HELP!, Tell Me What You See foi lançada num compacto duplo, meses depois do lançamento do LP, com outras duas canções abandonadas.
 
 
Os takes do dia 18 de fevereiro, em que a canção foi gravada são as únicas performances da canção que se pode ouvir, tocada por eles. Tanto os Beatles, como Paul em sua carreira solo, abandonaram-na por completo, nunca a tocaram ao vivo. Entretanto,  como tudo o que é Beatle, é digna de nota, admiração e reverência. E digna também desta análise! Na falta de qualquer outro desempenho, mando aqui a original, só pra ilustrar, neste LINK!!!

12. I´ve Just Seen a Face  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

Paul conta: 'Acabo de ver um rosto, não posso esquecer a hora ou o local que nos conhecemos; Ela é simplesmente a garota pra mim e quero que todo mundo veja que nos conhecemos, m-m-m-m'm-m'

Esta foi gravada após as filmagens, num produtivo 14 de junho de 1965, que viu nascerem outras duas canções totalmente diferentes, em ritmo, estilo e instrumentação, Yesterday e I'm Down. Ela foi composta para encher o Lado B do álbum HELP! Reflete uma situação de flerte, mas não diretamente à garota. Ele já a viu, e conta pra um amigo seu, desesperado de paixão. No refrão, onde se   ouve “Falling, yes I am falling..” está subentendido o “in love”, ou seja, está se apaixonando! Interessante que antes de ter seu nome definitivo a canção era tinha Auntie Jin's Theme como título de trabalho, porque Paul a mostrara, ainda embrionária para sua tia Virginia, e ela lhe disse ser a canção preferida dela, dentre todas as que compusera.  
 
É um country acelerado e totalmente acústico, sem guitarras, aliás a 1ª canção totalmente acústica dos Beatles! Após uma abertura sensacional de Paul em seu violão, marcada pelas notas baixas de George, são três versos diferentes envolvendo um refrão, depois mais um refrão e um verso apenas tocado nas notas baixas do violão de George, e mais um refrão e só então o primeiro verso é repetido, antes das três finais aparições do refrão! Nossa, acontece tanta coisa em apenas dois minutos, que passam como uma montanha russa!! John faz o ritmo, mas quase não aparece, e Ringo fica na escova o tempo todo, como tinha que acontecer nesse bluegrass americano da melhor espécie! Foram 6 takes naquela sessão vespertina, e vieram os overdubs, quando Ringo adicionou maracas! A letra, como sempre, é rica (já falamos da diversidade nos versos), como ricas são, mais uma vez as rimas, e seu posicionamento, internas às frases, com ele apelando um pouco ao abrir o "e" de "her", para rimar com "aware". Escapam uma rima pobre, no refrão, "falling" com "calling", e uma desqualificada "met" com "met". É Paul integralmente nos vocais, com ele mesmo harmonizando nos refrões, tudo por sobre a base do Take 6.  Peculiares são suas finalizações onomatopaicas dos versos, além dos "m-m-m-m'm-m", teve "di-di-di-di'n'di", e "da-da-d-da'n-da", conforme as sílabas finais dos mesmos. 
 
Assim como It’s Only Love, a canção foi lançada na América no Rubber Soul americano, cinco meses depois que o Reino Unido, aquela usual confusão da Capitol, subsidiária da EMI nos US. Ao contrário de outras canções igualmente cotadas, I’ve Just Seen a Face viu a luz do sol ao vivo, não pelos Beatles, mas por seu autor Paul em variadas ocasiões de sua carreira solo, para gáudio absoluto dos fãs! Uma das vezes, foi na invenção do Unplugged (Acústico) MTV, em 1991. Ótima! Neste LINK.
 

13. Yesterday (Dream Self Song by Paul McCartney)

Paul se lamenta: 'Ontem, meus problemas pareciam tão distantes, agora parece que eles vieram pra ficar. Oh eu acredito no passado. Agora não sou metade do homem que costumava ser!'  
É inacreditável como uma canção tão linda, com letra tão marcante apareceu na vida dos Beatles!  Paul sonhou com a melodia, mas levou mais de ano para terminá-la, primeiro com o temor de que seria um plágio, de tão bela que era, depois, porque não conseguia livrar-se da letra do primeiro verso, que viera logo na manhã pós-sonho, que ele fez só pra marcar as notas: “Scrambled eggs ...  oh, my baby, how I love your legs ...”. A segurança de que não copiava a melodia de ninguém veio de apresentá-la a seus pares e a George Martin e alguns amigos. A letra veio somente depois que John sugeriu que o título deveria ser uma palavra só, e Paul  teve a luz: Yesterday! Como isso na cabeça, Paul viajou pra Portugal com Jane, sua namorada, e, na casa de um amigo onde se hospedaram, escreveu a letra num envelope! E é um Paul inspirado que nos oferece um festival de rimas que aqui chamaríamos de ricas, aquelas que rimam diferentes classes gramaticais, em contraposição às rimas pobres, que rimam, por exemplo, verbo com verbo ('sou' com 'estou' com 'ficou'), substantivo com substantivo ('bondade' com 'idade' com 'saudade'). Vejam:

I'm not half the man I used to be (verbo) 

There's a shadow hangin' over me  (pronome) 

Oh, yesterday came suddenly  (advérbio) 

ou
Love was such an easy game to play  (verbo) 
Now I need a place to hide away  (advérbio) 

Oh, I believe in yesterday  (substantivo - neste uso) 

... além de usar pela primeira vez aquela rima interna (e rica) que usaria magistralmente em Hey Jude
I said something wrong,  (advérbio) 
now I long (verbo) for yesterday 
Logo que a canção foi terminada, eles se reuniram em 14 de junho em Abbey Road, e chegaram a tentar um arranjo tradicional com guitarras e bateria, mas começou com Ringo um sentimento de não pertencimento, ele não via como encaixar sua bateria na canção de Paul. Logo, John e George chegaram à conclusão de que não caberia outra guitarra ali além da que Paul tocava, então George Martin sugeriu que Paul seguisse solo, por enquanto. E vieram dois takes com voz e violão de Paul, com o acordo dos outros três. O 1º deles apareceu no Projeto Anthology, veja neste LINK, como o dedilhado inicial começa diferente, mas logo migra para o que conhecemos, e como ele troca as linhas do 2º verso. Vejam bem a importância deste som que ouviram: foi assim que a canção mais regravada de todos os tempos (falo disso mais adiante!) veio ao mundo das gravações! O resto da sessão foi gasto em discussões sobre o que fazer com a canção, e George Martin logo viu que ela merecia algo revolucionário, e convenceu os demais Beatles que aquela deveria ser uma canção solo de Paul, no violão, acompanhado de um quarteto de cordas, o que seria a primeira vez (e foi) na história de uma banda de rock. John,  George  e Ringo aceitaram, mas com a condição que não fosse lançada em single, por ser muito diferente do que os Beatles lançaram até aquele momento. Reuniram-se Paul e Martin na casa deste último, no dia seguinte. A exigência de Paul é que as cordas não tivessem vibrato, e também sugeriu um tom de blues, que foi introduzido ao violoncelo, em meio à ponte A pauta foi escrita em uma tarde. Os músicos (dois violinos, uma viola e um violoncelo) gravaram no dia 17, Paul estava presente. Ficou maravilhoso, John até aplaudiu quando ouviu a 'blue note' sugerida por Paul! Depois, veio o único overdub, do vocal dobrado de Paul em um trecho da ponte! 
Yesterday entrou no Lado B do LP HELP!, não fazendo parte da trilha sonora do filme. Ela iria terminar o álbum, mas consideraram esquisito um disco de rock terminar com uma balada, então colocaram na posição 14 a cover de Larry Williams que haviam gravado para o mercado americano, Dizzy Miss Lizzy. No Ed Sullivan Show, quando tocaram Yesterday, George apresentou Paul, e ele, John e Ringo abandonaram o palco, e Paul canta, acompanhado pela orquestra gravada. Vejam, neste LINK, e notem como as garotas param de gritar! Já nos demais shows ao vivo, a banda fica e acompanha Paul, mas num arranjo em G (SOL Maior).
A original é em F (FA Maior). Percebam, neste LINK, a mudança do tom. Nos EUA, aonde eles não tinham muito controle sobre o lançamento de suas canções, ela foi, sim, lançada como single, tendo Act Naturally, com Ringo, no Lado B, e foi logo ao 1° Lugar, sendo a quinta de seis canções consecutivas dos Beatles a ocupar aquele posto naquele glorioso ano. As 
outras eram I Feel FineEight Days a WeekTicket to RideHelp! e We Can Work It Out!
Que fase, hein?!!
A repercussão foi a melhor possível e impossível e inimaginável. Logo após o lançamento, vários cantores a gravaram, e essa contagem só foi subindo ao longo dos anos e décadas, e ela é a mais regravada canção da história da música popular, com números variando entre 2.000 e 3.000, a depender da fonte, contando as versões instrumentais e orquestradas. Dentre os mais afamados, Frank Sinatra, Elvis Presley, Ray Charles, Matt Monro, Johnny Mathis, John Denver, Marvin Gaye, Shirley Bassey, The Supremes, Neil Diamond, Roberta Flack, Dionne Warwick, Willie Nelson, Sarah Vaugn, Trini Lopez, e no Brasil, claro, também, Martinha, Vanusa, Simone e até Agnaldo Timóteo, com uma versão, chamada ... Ontem!!! 
Para completar, um caso pitoresco. Houve um momento, em que eles estavam tão indefinidos se iriam lançar ou não a canção, que ela foi oferecida a um certo Chris Farlowe, que A RECUSOU POR SER MUITO LENTA!

Ganhou o título de Homem de Visão de 1965 

  

14. Dizzy Miss Lizzy   (by Larry Williams)

John berra: 'Você me deixa tonto, senhorita Lizzy, com o jeito que você balança e rola. Você me deixa tonto, senhorita Lizzy, quando você faz a volta. Venha, senhorita Lzzy, ame-me antes que eu envelheça


Quis o destino que a última canção a merecer um post meu dedicado a ela, não fosse uma composição das Beatles, mas uma cover (*). E ainda por cima, uma que eu não aprecio muito. Tenho uma certa má vontade com ela. Primeiro porque ela foi escolhida para finalizar o álbum HELP!, tendo os Beatles mais uma original Lennon/McCartney, a bonitinha That Means A Lot, de Paul, que, entretanto, nunca viu a luz do sol de uma gravação oficial. Segundo porque ela foi cantada por John na sua primeira escapada dos Beatles, o show Live in Toronto, em setembro de 1969, que é o LINK que deixo aqui, e eu a associo, sem a menor justificativa, ao fim dos Beatles, coisa minha. Mas os Beatles a tocaram muito em sua excursão americana de 1965. Aliás, ela foi gravada especialmente para aquele público. Tão especial que eles foram tirados das filmagens do filme HELP!, em 10 de maio daquele ano, a contragosto, para gravá-la numa sessão noturna, juntamente com Bad Boy, para atender a requisito da Capitol Records, a subsidiária americana da EMI. 
 
(*) quem não entendeu por que eu termino minha saga com o 5º álbum dos Beatles (e eles tiveram o equivalente a 15), eu explico: foi apenas a partir de Rubber Soul que eu decidi fazer um post por canção, depois eu acabei voltando e fazendo o mesmo para os primeiros 5 álbuns. 
 
Eles precisavam encher o álbum Beatles VI, mais uma salada que aquela gravadora fez. E, sendo as duas de Larry Williams, o fato levou o americano a empatar com Carl Perkins (**) como os compositores com mais covers cantados pelos Beatles, pois em 1964 eles haviam gravado Slow Down, para o EP Long Tall Sally. E eu gosto muuuito das outras duas... com Miss Lizzy, eu tenho má vontade! Aliás, tinha.... Depois que soube que minha amiga Elizabeth Bravo inspirou-se nela para escolher seu apelido, ao invés de Beth, por exemplo ... é que assim ela pensava que John a estava chamando!!! Grande Lizzie, heroína beatle brasileira. 
 
(**) As de Carl Perkins foram Everyboy's Tring To Be My BabyMatchbox e Honey Don't 
 
Cowbeeeel
A segunda e última cover de outros compositores, do disco e penúltima da carreira dos Beatles, é um rock visceral cantado de maneira áspera e impressionante por um rouco John Lennon. Rouco e nervoso!! Ao final de dois Takes, com tudo ao vivo e John cantando junto, os Beatles consideraram o trabalho pronto, mas não o produtos George Martin, lá da sala de controle.... Ao microfone ele disse que não estava "exciting enough". John murmurou um palavrão impublicável e soltou uma "Então vem você cantar no meu lugar!!!" Falta de educação young John!! Uau.... E foram mais 5 takes e vieram overdubs, de John num piano, de George dobrando sua insana guitarra, e Ringo acrescentou cowbeeeel. Viva o 
cowbeeeel! Que felicidade terminar minha saga com o cowbeeeel! A canção tem 8 versos, sendo 3 deles instrumentais, 12 compassos por verso, 4 batidas por compasso, portanto, 96 batidas no espetacular cowbeeeel, muita disciplina! Quase 100 cowbeeeel na analise de saideira!!


Lançamento, Recepção e Legado de HELP!

UFA... Terminei!! Vamos aos 'finalmentes' do álbum HELP!, quinto da carreira Beatle

A capa do álbum foi fotografada mais uma vez por Robert Freeman, pela terceira vez chamado para fazer uma capa dos Beatles. Com os trajes das cenas nos Alpes Austríacos, os quatro fizeram sinais usados em aeroportos, com os braços indicando letras do alfabeto. A ideia original era que formassem o nome do álbum com as letras H, E, L e P, só que a estética ficou sofrível, segundo o fotógrafo, então assado, ele fez o sentido inverso, “John, faz assim, Paul, assado, George, guisado, Ringo, cozido!’ e só depois foi conferir que letras deu: elas foram N, U, J e V. 

Com essas letras, HELP! Foi lançado no Reino Unido no dia 6 de agosto de 1965, com as 14 canções acima analisadas! Conforme já dito acima, a canção HELP! saíra em compacto, com I’m Down, um mês antes, e Ticket to Ride em outro compacto, com Yes It Is, bem antes, em abril.

Nos EUA, as letras letras eram diferentes, N, J, U e V, e diferentes também eram as canções: apenas o Lado A era o mesmo, reservando o Lado B às instrumentais de George Martin que tocaram no filme. As sete do Lado B inglês foram lançadas em três momentos distinto nos EUA, a saber, três no álbum Beatles VI, dois meses antes, no álbum Beatles VI, duas no álbum Rubber Soul também modificado, quatro meses depois, e duas em compacto, um mês depois, olha a salada! O Catálogo da Capitol Records era uma bagunça!


O Brasil, depois de mostrar maturidade, lançando A Hard Day’s Night igualzinho ao original inglês, coisa que nem os EUA fizeram, a Odeon enlouqueceu em HELP!: foram apenas 12 canções, com Ticket To Ride abrindo o Lado B, seguida por I’m Down, contemporânea, e outras quatro antigas, ainda inéditas por aqui. Ficou descaracterizado, mas ficou ótimo, só HITS!. Ouvi muito esse LP! As outras 5 canções originais? Foram lançadas em dois compactos duplos. Ah, sim, a posição dos braços nos sinais de aeroporto era a mesma da original lançada no Reino Unido.

Bem, a posição dos braços ou a disposição das músicas não mudaram o resultado: todos foram sucesso absoluto, indo ao topo das paradas! Afinal, era Beatles! E tudo deles era top!