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sexta-feira, 26 de março de 2021

I Will - dum-dum dum-dum-dum

 Esta canção é a  canção do Lado B do 1° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 8 canções com Saudade nível Tristeza

                                        as demais 7 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

16. I Will  (Sadness Miss Song by Paul McCartney)

Paul implora "Quem sabe quanto tempo eu te amei? Você sabe que eu ainda te amo. Será que terei que esperar uma vida inteira sozinho? Se você quiser que eu espere, eu espero"
As palavras acima compõem o Verso 1 da canção, e dão o tom que meu levou a classificá-la como uma triste canção de saudade. Dá a impressão de que ela já o amou. E ele tem esperança de que ela volte pra ele e ele a esperará até o infinito. Já no Verso 2, dá a impressão de ela ainda não o conhece "I didn't catch your name" mas isso não importa "I will always feel the same". A partir de agora, comentarei também rimas, além da estrutura. E começo com a principal, que rima o designador de futuro de verbo "will" com o advérbio de tempo "still", e o interessante aqui é a inversão da ordem que o autor fez para causar a rima, colocando "I love you still", incomum, ao invés de "I still love you", que é a prática. O "still" vem depois apenas de verbos auxiliares, como "can" ou "be". Claro que licenças poéticas são permitidas em letras de canções. Em português, é indiferente, podem ocorrer as duas formas, o advérbio pode vir antes ou depois do verbo, pode ser "ainda te amo" ou "te amo ainda". Bem, de volta à vaca fria!  Na ponte, uma melodia diferente que vem a seguir, todas as linhas começam com o verbo "Love", e então vêm as promessas de amor eterno, seja ela um namoro antigo ou ainda a acontecer, fica no ar, e ele usa rimas manjadas em love songs, tipo "heart" com "apart" e "forever" com "together". No verso final, ele prevê o que vai acontecer quando ele a encontrar, a canção estará no ar. Mais do que achar que as rimas seriam fracas porque repete-se quatro vezes o pronome "you", atenção maior deve ser dada às verdadeiras rimas, internas, o advérbio "near" cercado dos verbos "hear" e "endear", que vêm antes do "you", isso sim, uma rima bem criativa.

Foi a primeira balada, a primeira canção de amor de Paul em quase dois anos, a última havia sido Here There and Everywhere, em Revolver. Embora a canção tenha sido iniciada no retiro da Índia, e com participação nas letras do amigo Donovan, ela não foi trazida por Paul para o encontro na casa de George, em Esher. Ela só apareceu no primeiro dia de gravação, e chegou já sem as letras do amigo, um 16 de setembro,  que traria uma sessão jamais vista. E sem a presença de George! Apenas John e Ringo, ambos em percussão, acompanhando voz e violão de Paul. Você acredita que foram 67 takes? Mas calma, muitos foram o que eles chamam de 'false starts', que começam e logo terminam com risadas ou com falhas, numa vez Paul cantou "I won't" e John respondia "Yes you will", e lá se ia mais take. E teve inclusive outras canções, de Elvis Presley, de Fred Astaire, ou mesmo do próprio Paul, como Step Inside Love que ele deu pra Cilla Black gravar. E Paul de repente pegava um trompete, eles estavam em um bom clima, e brincaram muito, parecia uma jam session. Numa delas até houve uma menção a Garota de Ipanema, pois Paul queria que a canção soasse como em "Latin America", e lá se ia outro takeHouve muitas falas (ad-lib), tanto de Paul como de John, uma delas com este último apresentando a bandinha ali formada dos três Beatles como "Los Paranoias", e lá se ia mais outro take. E o tempo foi passando, e os takes iam se avolumando, até que chegaram ao Take 65, considerado bom, e mais dois vieram, piores.  Um destaque antes de passar adiante: num dos takes, Paul apresentou uma melodia nova, em que cantava "Can you take me back where I came from?",que quem conhece a obra das Beatles reconhece, mas em outra canção: ela seria usada ao final de Cry Baby Cry. Ao final da sessão, as quatro faixas gravadas foram passadas a uma fita de 8 faixas, que seria o Take 68, pronto para overdubs no dia seguinte, ou melhor, na noite do mesmo dia, já que era plena madrugada. Alguns overdubs vieram na mesma linha, com mais violão de Paul naqueles riffs que são ouvidos entre versos ou entre verso e refrão, mais chocalho de Ringe Paul foi dobrado automaticamente, e teve mais vocal de Paul, desta vez harmonizando com ele mesmo na ponte e no tchu-ru-ru final, mas o mais interessante foi o de Paul, no baixo, mas não com sua guitarra baixo e sim, com a voz! Sim, ele tocou as notas de baixo em charmosíssimos dum-dum-duns ao longo de toda a canção.

Paul  a tocou ao vivo, várias vezes voz e violão, nas sessões acústicas de seus shows solo, deixo aqui uma delas,  neste LINK. The Analogues a gravaram, claro, inclusive com  o baixo  nos dum-dum-duns, mas  não a encontrei isolada, apenas juntamente com as demais, quando tocaram o Álbum Branco inteiro!. Podem procurar que vale a pena!

2 comentários:

  1. Quando comecei a escutar Beatles ouvia essa sempre q escutava o álbum branco.. Bonita balada no melhor estilo Paul McCartney

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  2. Falaram em Garota de Ipanema quando ensaiavam I will? Ou quando tocavam Step Inside Love? Porque essa última é puro bossa nova. Principalmente quando Paul canta. Jà tive a oportunidade de ouvir este take dele cantando Step Inside Love. Eu tenho por mim que se Paul fosse brasileiro teria sido um bossanovista. Veja muitas semelhanças com MPG em algumas de suas músicas solo. Uma vez li uma declaração dele sobre seu interesse sobre acordes dissonantes vindos do Brasil.
    Mas se estava se referindo a I WILL não tem nada a ver. É bolero! Paul tem também músicas que lembram boleros. Quando eu era menina de 13 anos escrevi num caderno de Perguntas Indiscretas ( eram muito comuns naquele tempo) que gostava de praticamente todos os estilos musicais. Mas detestava boleros. Eu associava bolero com um estilo de vida conservador.As pessoas que curtiam bolero naquele tempo não suportavam rock. E como eu gostava de rock, não podia gostar de bolero.
    Isso tudo mudou em pouco tempo quando veio o Trini Lopez cantando boleros de uma forma extremamente moderna e agradável. E a Eddie Gourmet com seu Sabor a Mi me fascinou.
    Hoje sabemos que os Beatles tocavam Besame Mucho nos tempos só do Cavern e Hamburgo. Posso jurar que foi ideia de Paul. Então ele sofreu influencia desse ritmo latino, mas bem diferente de qualquer dos muitos estilos brasileiros.
    Quando ouvi And I love her pela primeira vez ( ainda não sabia que tocavam Besame Mucho) eu fiquei de queixo caído. Que beleza de bolero. Sem a marcação tradicional do ritmo, mas com o mesmo sabor. Tem até bongô.
    E então chegou " I will". Bolerinho. Com jeito de Paul McCartney, mas a influência latina está ali. Eu adoro.
    Eu interpreto a letra de forma diferente. Você disse que " no Verso 2, dá a impressão de ela ainda não o conhece "I didn't catch your name" mas isso não importa "I will always feel the same".
    A impressão que me passa é que a pessoa o conhece sim. Mas ele ainda não a conhece. É ele que não a conhece. Antes de I didn't catch your name ele diz For if I ever saw you. Quer dizer que ele nem sabe se realmente a viu! E nem guardou seu nome.
    Faz sentido? Não. Viu em algum sonho talvez...sem muita certeza. É alguém de alguma fantasia. Veja a tradução de Carlos Drummond de Andrade.
    FAREI TUDO
    Tradução: Carlos Drummond de Andrade

    Desde sempre te amei
    e bem sabes que ainda te amo.
    Devo esperar toda a vida?
    Se quiseres — esperarei.

    Se alguma vez te vi
    nem sequer teu nome escutei.
    Mas isso não faz diferença:
    sempre a mesma coisa sentirei.

    Eu te amarei por todo o sempre, sempre,
    desde a raiz do meu coração
    e te amarei quando estivermos juntos
    e te amarei na solidão.

    Quando finalmente te encontrar
    tua canção envolverá o espaço.
    Canta bem alto, para eu escutar.
    Tudo farei para te dar o braço
    pois tudo em ti me prende a mim.
    Bem sabes que farei tudo
    tudo farei.

    Se alguma vez eu te vi. É ele que nem a conhece direito.

    Já falei aqui da minha fantasia de brincadeira. Vale repetir.

    Os Rollings Stones cantaram para uma certa Sweet Virginia. Os Mutantes também cantaram para Virginia. ( Os Mutantes, minha banda brasileira preferida). E como é que os Beatles nunca tiveram uma Virginia? Muito injusto isso. Tinha de cantar para mim. E tinha de ser para mim, e não para outra Virginia. rs rs rs
    Então me lembrei de I will e descobri porque faltou Virginia. Paul não tinha entendido meu nome naquele sonho que teve...E se não sabia meu nome estava explicado. Mas I will é para mim. Não abro mão disso. rs rs rs.
    Você tem o audio das muitas gravações? Porque parece que foi legal demais! Obrigada por nos contar os detalhes.

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