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terça-feira, 2 de março de 2021

Hello, Goodbye - a melhor DR do Rock

Esta canção foi lançada em compacto, em novembro de 1967

Esta canção abre o Lado B do LP Magical Mystery Tour 

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 19 canções espelhando DRs com suas garotas

as demais 18 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

7. Hello, Goodbye (DtR Girl Song by Paul McCartney)

Paul discute: "Você diz sim, eu digo não! Você diz pare mas eu digo vá, vá, vá! Oh não! Você diz tchau, e eu digo alô! Alô, alô, eu não sei por que você diz tchau, e eu digo alôAlô, alô, eu não sei por que você diz tchau, e eu digo alô!"

Momento contextualização: estamos em 1967, o ano da revolução da música, Sgt. Pepper's, Verão do Amor, Contracultura, Swinging London, Flower Power, um claro chamado a canções com letras de maior conteúdo, os próprios Beatles são puxadores do fenômeno, lançam compactos com obras-primas como Penny Lane, Strawberry Fields Forever, e o hino All You Need Is Love. E agora eu pergunto: qual foi a canção de maior sucesso deles em compactos naquele ano? E eu respondo: Hello, Goodbye!!

Isto é Paul McCartney, senhoras e senhores!! 

O compacto lançado em novembro, tendo I Am The Walrus como Lado B (!!!) ficou oito semanas no topo da parada britânica! A razão do (!!!) é porque é claro que I Am The Walrus é muuuito superior a Hello Goodbye, e só pelo valor, os lados deveriam ser trocados. John, aliás, não ficou nem um pouco contente, aliás, porque ele já não concordava com canções leves lançadas pelos Beatles e dá pra ver que fez o clipe de lançamento meio de má vontade, apesar de ter feito umas brincadeiras. Eu entendo perfeitamente a decisão da EMI. A canção de John seria lançada nas semanas seguintes no EP com a trilha sonora de Magical Mistery Tour, portanto, o destaque tinha que ser para Hello, Goodbye. 

 

Vejam parte das dezenas de capas dos compactos, pelo mundo todo!! Sucesso em todo lugar!

 

Agora, vamos ao valor de Hello, Goodbye! Ela é povoada de momentos de Discussão de Relacionamento (DR) entre casais. Paul era o maioral dessa classe de letras, veja ali em cima no LINK que eu ofereci. Das 16 canções até então, ele foi responsável por 8, sendo a melhor para mim, We Can Work It Out ("Life is very short and there's no time for fussing and fighting, my friend!"). Hello, Goodbye, superou-a, mesmo sendo mais simples! Ela tem muito valor. Note a forma lúdica como ele expõe a mais singela forma de discussão de relacionamento entre homem e mulher, veja se não. Depois do "You say yes, I say no", que pode se originar em qualquer discussãozinha, sobre qualquer assunto corriqueiro, Paul expõe pontos mais fortes, e escolhe muito bem quem fala o quê, se é ele ou a sua companheira. Os diálogos retratam os tipos distintos de raciocínios e comportamentos, entre homens e mulheres, como tão bem explorado no livro "Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus", que eu recomendo a qualquer casal, pode ler e vai parecer que o autor estava ouvindo tudo, escondido em algum canto de sua casa. Voltemos à letra! Veja "I say high, you say low", homens querem ir mais alto, mulheres são mais prudentes, mais conservadoras, pensam mais no futuro, e preferem não ir tão alto; e, quase na mesma linha, tem o "You say stop, but I say go, go, go", e eu não posso deixar de associar ao comportamento no trânsito, por exemplo, afinal, quantas vezes você, amigo, quis fazer uma ultrapassagem, ou passar um sinal amarelo, e sua companheira ao lado o segurou? Elas têm mais bom senso, tanto que os prêmios de seguro são mais baratos para elas! Porém, deixei o mais profundo para o final. Paul diz: "You say why and I say I don't know". Aaaahh! Mulheres querem discutir, querem falar, querem saber por quê, homens preferem o silêncio, as respostas curtas, não pensam nas razões por que fazem o que fazem, apenas fazem. A própria contraposição do título, "I don't know why you say goodbye, I say hello" mulheres saem mais fácil de relacionamentos, querem logo dizer adeus, homens preferem ficar e dizer Alô. Bem, esta última posso estar equivocado... 
A estrutura lembra aquele casa/separa/ casa/separa/ casa/separa/ casa/separa/  do Jô Soares, não pude deixar de lembrar, porque ela é bem simples, é verso/refrão/ verso/refrão/ verso/refrão/ verso/refrão. O Verso 2 é diferente do Verso 1, em letra, o Verso 3 é grande parte instrumental e o Verso 4 repete o Verso 1. Os versos têm igual número de compassos, e os refrões, também. Em melodia e arranjos, entretanto, verão mais embaixo que é bem diferente, a riqueza é fenomenal. 

Pausa para uma historinha sobre a inspiração da canção

Algum dia de agosto, Jane tinha ido embora, Paul ligou para o amigo Allistair Taylor (assistente de Brian Epstein) pra jogar conversa fora e tomar whisky com Coca Cola (também adoro!), papo vai, papo vem, Taylor perguntou sobre as composições de Paul, e este o chamou: "É simples, vamos compor?" Chamou o amigo para dividir um harmônio lado a lado e instruiu: "O que quer que eu cante aqui do meu lado, você canta o oposto do seu!"  Black - White, High-Low, Yes-No, Hello-Goodbye, e assim foi. Ficaram na brincadeira uns 5 minutos, e só.... Três meses depois, Paul foi à casa de Taylor, entregou-lhe o compacto, em primeira mão, dizendo: "A primeira Taylor-McCartney da história". Claro que ele não era sério mas reconheceu que a canção começou naquela brincadeira! 

Vamos à música! A base foi Paul ao piano, John num órgão, Ringo na bateria e George num pandeiro. Interessante notar que a sessão havaiana (sempre chamei assim, mas eles chamam de Maori Finale) que ouvimos ao final, sempre esteve lá. Eu sempre achei que fora pensada depois! Os primeiros overdubs vieram mais de duas semanas depois, e primeiro foi a ótima guitarra distorcida de George, e depois o vocal principal de Paule os de apoio de John e George , Ringo num chocalho, o com Paul mandando ver em um atabaque, e John com mais piano no Maori Finale. No dia seguinte, a canção recebeu o auxílio luxuoso de duas violas, veja bem, viola de orquestra, aquele violino maiorzinho, cuja corda mais grave (DO) é uma quinta abaixo da do violino (SOL), e uma oitava mais aguda que a do violoncelo. Somente seis dias depois, finalmente chegou o baixo de Paul, numa sessão de horas de dedicação!  

 

Destaque deve ser dado às variações de arranjo que enriquecem a canção, que é simples em estrutura, conforme já mencionado. A começar pelos vocais, note como a voz de Paul abre o Verso 1, junto com o primeiro acorde do piano, e segue só ele no Refrão 1 (onde se destaca a guitarra distorcida de George) e no Verso 2. As vozes de John e George entram só no Refrão 2, entoando o título da canção 2x4 vezes, que no Verso 1 era papel da guitarra de George. O Verso 3 começa instrumental com um show de viradas de Ringo, e na metade, vem Paul reverberando lá no alto "Why why why why why why do you say goodbye goodbye bye bye bye bye bye, oh no?", com George chorando sua guitarra ali no meio. O Refrão 3, em vez de John e George, vem este último em sua guitarra fazendo aquelas mesmas 2x4 vezes a melodia com o título. As novidades não param e, no Verso 4, em que pese ser idêntico ao Verso 1, em letra, tem o órgão de John em destaque e, mais incrível, John e George no vocal de apoio, cantando uma segunda letra em resposta a Paul: "I say yes, but I may mean no… I can stay till it’s time to go", e o Refrão 4 é igual ao 3, mas repetido, até o final "Helooo", que logo se vê que é falso, pois entra a apoteose havaiana, ou Maori, como queiram, numa batida firme de Ringo, parecendo um galope de cavalo. Se há UMA coisa que John gostou nesta canção foi esse final, longuíssimo, de 34 compassos! Genial! E note que nem falei das violas! Que charme elas trouxeram à canção! E note como variam, de sessão a sessão: no Verso 1, harmonizam com a voz de Paul, no Verso 2 elas fazem como que uma resposta ao vocal de Paul e depois entram numa descendente fenomenal. O Verso 3 é todo delas, elas são o instrumento solo, até entrar a voz de Paul. Finalmente, as violas sobem e descem um breve pódio de notas, no final do Verso 4, notável.

Hello, Goodbye mereceu um clipe de divulgação, que já foi visto 120 milhões de vezes. Os meninos vestiram os trajes da Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta,  e dublaram suas vozes e instrumentos na gravação em playback. Quer dizer, John fingiu que tocava um violão, já que na gravação, ele toca um órgão. Eles não eram muito bons nisso, hehe, mas fizeram direitinho e até algumas micagens com as pernas, e no final havaiano, 6 dançarinas aprecem rebolando para eles. Interessante que, como não filmaram as violas tocando, não exibiram o clipe na Inglaterra, para evitas sanções do sindicato dos músicos! Vejam aqui, neste LINK.

Então, 1967 foi mais um ano em que The Beatles
terminaram no topo do mundo! 


8 comentários:

  1. O bate-pronto de antagonismos é bonito e ousado. Como alguém faria toda uma letra com opostos... mas gênio é gênio. Paul é um artífice, tanto em melodia, quanto nas letras em que se esmera. As frases de resposta de George e o fundo que faz para o "Hello, hello" são marcantes. Os contracantos, especialmente o "but I may mean no..."...
    Sobre o clipe: já que não iriam ao Ed Sullivan, gravaram o vídeo. Só Paul leva a sério, interpreta. Os outros dois parecem estar de castigo, obrigados a fazer aquilo, mas vão relaxando aos poucos, John imita a dancinha de perna do Paul. E Ringo na bateria de brinquedo, como a dizer "isso é de mentirinha, tá?".
    A bagunça final é ótima, rebolados, John dança twist, todos riem. E, olhando para o vídeo e para nós, aquelas mocinhas do hulla-hulla devem ser belas vovózinhas com seus setenta e poucos anos. O vídeo é uma memória maravilhosa.
    Grato pelo post. As gerações novas vão aprendendo, aos poucos...

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  2. Quanto conhecimento, parabéns. 👏🏻👏🏻

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  3. É uma das minhas músicas preferidas dos Beatles.. nunca vou enjoar dessa música simples com uma letra simples e Alegre.. vocal de Paul está maravilhoso ! Sempre q posso escuto essa faixa ou assisto o vídeo q é muito divertido com John e Paul fazendo dancinha com as pernas kkk
    Masterpiece!!

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  4. Pelo que sei, e sei que não sei tudo, os Beatles desistiram dessa coisa de Lado B. Não havia Lado B. I am the Walrus não era lado B. Se tratava de um disco com duas canções lado A. Tanto que promoviam ambas. Havia videos para as duas canções. Eles tinham consciência que as duas músicas eram boas, então por que lado B?

    O problem era que a Capitol não aceitava isso. Claro, desde quando a mente super capitalista americana aceitaria um estilo novo de pensar no meio musical, o estilo Beatles? Jamais. Mas não era assim na Inglaterra. Vinha escrito Hello Good bye/ I am the Warlrus. As duas com a mesma importância.

    Eu não sabia que John tinha se aborrecido com isso, mas faltou o quê nele aí? O entendimento que a parte comercial também importa. Ele devia estar pensando no mercado americano porque lá sua musica era mesmo lado B. Mas então teria de ter entendido que evidentemente, por melhos que sua música fosse, ( eu nunca acho que uma música deles é melhor que a outra porque para mim todas são espetaculares) era menos popular. E ficou provado que sim visto que nas paradas americanas, onde separavam as duas músicas, Hello Good bye foi para o topo e I am The Walrus ficou abaixo. Teria de ter entendido. E na Inglaterra as duas estiveram no topo juntoas. Afinal era o mesmo disco
    Nossa, faz tantos anos que posso até estar enganada quanto a isso. 1967! Mas eu recebia uma publicação inglesa que dava as notícias e era assim que diziam. O mesmo se deu com Hey Jude/Revolution. Penny lane/Strawberry Fields...Ambas eram lado A.

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    1. Lado A disfarçado ou não, John não gostou nada disso. Ele até pergunta, em sua entrevista de 1970 ao repórter, ao falar de I Am The Walrus: "Colocaram ela como lado B de Hello, Goodbye, acredita??!!"

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  5. Agora...o que vou dizer pode causar espanto e até aborrecimento. A música fala dos casais...E já é hora de saber que nem todos casais são homem e mulher. Há homens e Homens, mulheres e mulheres. A música não diz que se trata do casal convencional. Vale para todos.

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    1. Nem espanto nem aborrecimento, acho super normal, hoje, mas na época só se falava na configuração tradicional, aonde se aplicam as considerações do escritor John Gray!

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    2. Vindo dos Beatles com certeza poderia ser qualquer tipo de casal

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