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terça-feira, 30 de março de 2021

Yer Blues ou "John quer morrer?"

Esta canção é a  canção do Lado A do 2° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções com sobre o estado físico de seus corpos

                                        as demais 4 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

19. Yer Blues  (Help Self Song by John Lennon)

John berra: 'Nuvem negra passa em minha mente, bruma azul em minh'alma, sinto tanta vontade de morrer, até odeio o meu Rock'n Roll. Quero morrer, siiiim, quero morrer' 

Pronto fiz um desafio lá em HELP! e agora, perdi. ESTA, sim, é um 'cry for help' da melhor espécie! Só que não! Bem, ele realmente estava se sentindo assim, sozinho, no acampamento na Índia, quase se separando de Cynthia e já obcecado por Yoko, mergulhando na Meditação Transcendental, e queria falar com Deus! John usou a canção para fazer um pastiche sobre a onda de Blues na Inglaterra, vocês sabem, 'Blue', além de 'Azul', quer dizer 'Triste', e o Blues, como estilo musical, é invariavelmente, um lamento! E John quis elevar esse lamento à mais elevada potência, colocando o máximo lamento, que é a vontade de morrer.  
 
Musicalmente, o vocal de John é impressionante, transmite a angústia, perfeitamente. Muito do clima sombrio da música foi conseguido por causa do local aonde gravaram, uma sala pequena de Abbey Road, que tinha espaço só pra bateria, um gravador de quatro faixas, os guitarristas e os amplificadores, que ficavam voltados para a parede do cubículo. Eles adoraram gravar assim, e decerto foi a chama para embarcarem no Projeto Get Back, de volta às origens da banda. 
 
Yer Blues foi apresentada aos demais nas famosas sessões de Esher, casa de George, com John ao violão e George também, já pensando em partes do solo que faria depois, Paul e Ringo na percussão. A letra estava ainda diferente da definitiva, inclusive ela dava diferentes 'nacionalidades' de sua mãe e pai, que ali eram, respectivamente, da 'terra' e do 'céu', rimando "sky" com "why", mas na versão final trocou "mother" por "father", e  ficou muito melhor, com a rima mais elegante, de "earth" com "worth". Um ou outro, o fato é que a imagem envolvendo "sky" e "earth" foi i
nspirada nos poemas de Yoko.   Também John não estava tão dramático: na demo, ele estava apenas "insecure" como o Mr. Johns de Bob Dylan, já na versão final, ele estava "suicidal", o que seria o extremo do 'feeling blue'. No estúdio, foi em 12 de agosto, e lá se foi a parafernália de instrumentos e amplificadores para uma sala 2x5 metros, um almoxarifado sem acústica, em que tinham até que ter cuidado para não esbarrar guitarras, e lá ocorreu uma sessão bem produtiva, cada um com seu instrumento tradicional captado por um canal da fita. Nunca os Beatles trabalharam tão unidos. Lembraram-se da época do Cavern Club.  Foram 14 takes, mas os melhores foram o 5 e o 6, e fizeram uma junção das melhores partes deles, criando o Take 15. 
 
Não há pontes ou refrões na estrutura, são 9 versos direto, sendo 4 deles instrumentais, e os outros 5 sempre terminando com a mesma frase "If I ain't dead already, oh girl you know the reason why". Versos 1 e 2 têm métricas similares, com as frases de John "Yes I'm Lonely", "gonna die", (repete), "In the morning", "gonna die", "In the evening", "gonna die", são entremeadas por riffs chorosos da guitarra de John e de trios de uma nota só da guitarra estridente de George, e as duas se juntam em harmonia descendente antes da frase final. O baixo de Paul nessa sessão é bem blues básico, sem firulas. Cada frase de John é introduzida por uma virada da bateria de Ringo que, aliás, está impossível na canção, com aquele prato insano durante toda a canção. O Verso 3 ("My mother was of the sky" e mais três frases), o Verso 4 ("The eagle picks my eye" e mais três frases) e o Verso 5 ("Black cloud crossed my mind" e mais três frases) são diferentes dos primeiros. É notável a sucessão de Beatles Breaks, com John cantando as três primeiras frases sem qualquer instrumento por trás, seguidos por glissandos descendentes das duas guitarras de John e George e do baixo de Paul, movimento que felizmente pudemos testemunhar VISUALMENTE no Rock And Roll Circus, o qual explicarei mais adiante. Os três versos também terminam com John e George em harmonia descendente antes da frase final. No verso 5, quando John declara um surpreendente "even hate my rock and roll!",  o ritmo deixa o blues básico, e passa a ritmo diferente, mais batido, mais animado. Os Versos 6 e 7 são puramente instrumentais  eguem integralmente no ritmo final do Verso 5, e têm destaques para a guitarra sincopada de John no primeiro (com a de George no background) e para a guitarra estridente de George no último (com a de John no background), trabalho de equipe. Depois com uma sensacional virada da bateria de Ringo, volta ao ritmo inicial, com o Verso 8 só instrumental, ouvindo-se a voz de John  ao fundo, entoando a letra do Verso 1, e segue o Verso 9, que começa mas cai em fade-out até terminar a canção. Estes dois versos finais não são tocados na base, apenas são cópias do Take 5, mas com o vocal abafado. No dia seguinte, John gravou seu estonteante vocal principal, e Paul acrescentou um vocal de apoio no segundo e no terceiro "girl, you know the reason why", os engenheiros dobraram as guitarras dos Versos 6 e 7, e acrescentaram aquele eco na voz de John! Ô coisa boa!!
 
A música também notabilizou-se por ser a ÚNICA num período de mais de dois anos, em que um Beatle aparece tocando uma canção dos Beatles ao vivo! Foi por conta de um projeto de Mick Jaegger para a TV, chamado Rock And Roll Circus, em que John tocou numa superbanda, com Eric Clapton na guitarra, Keith Richards no baixo, e Mitch Mitchells (Cream) na bateria, uma banda que levou o nome de Dirty Mac. O espetáculo não foi ao ar, mas pode ser conferido neste LINK. Peço especial atenção para o momento 'My father was of the sky', note os 3 guitarristas num 'glissando' pelos braços dos agudos aos graves de suas guitarras, e mais um depois de 'My mother was of the Earth'. Notável!

5 comentários:

  1. Esse álbum é realmente fantástico. Como diz um grande amigo, em cada enxadada uma minhoca.
    Apenas uma ressalva , o link rock and roll circus não esta abrindo

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  2. Se os Beatles tivessem continuado teríamos um John fazendo blues pesados... infelizmente ele conheceu yoko e a banda foi pro espaço..

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  3. Impressionante, uma letra angustiada de Blues em torno da vontade de morrer, expressa pela guitarra e vocal chorosos de John, pela guitarra estridente de George, e pelo baixo melancólico de Paul, com a bateria de Ringo introduzindo cada frase de John. Tudo isso levando o público à loucura, numa pequena sala de 2x5 metros, em Abbey Road. Só mesmo uma banda genial.

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  4. Agora sim, o link funciona e é IMPERDÍVEL

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  5. Geniais, a canção e a análise. As "férias meditativas" na Índia fizeram bem aos garotos de quase trinta anos de idade. Um blues tocado com caco de vidro em vez de palheta, bateria poderosa. Imaginem isso no cubículo...
    A apresentação com Eric tem o mesmo pique. E olha que o ensaio foi bem em ca da hora!

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