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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

You've Got To Hide Your Love Away

 Esta é 3ª canção do álbum HELP! 

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções sobre Si Mesmo pedindo socorro

                                        as demais 4 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas.


3. You´ve Got to Hide Your Love Away  (Sadness Miss Song by John Lennon

John lamenta: 'Aqui estou com a cabeça entre as mãos, viro meu rosto para a parede. Se ela partir não posso continuar, sentindo-me tão pequeno. Em todos os lugares as pessoas me fitam, a cada dia, todos os dias. Posso vê-los rindo de mim e ouvi-los dizer: Você deve esconder o seu amor!"
John está deprimido pela perda da garota, e lá pelo meio, o lamento chega à ofensa: How could she say to me: Love will find a way. Gather round all you clowns! Let me hear you say, aí vem aquele tocante violão em acordes descendentes, o refrão com o brado do nome da canção. Registro a segunda vez do uso do qualificativo 'palhaço', em canções do compositor. No ano anterior, uma auto denominação (I'm A Loser), agora um xingamento. Linda balada, em ritmo de valsa (3/4), declaradamente inspirada em Bob Dylan. Há quem interprete que John foi secundariamente inspirado na homossexualidade do empresário e amigo Brian Epstein, que tinha que 'esconder' seu amor de toda a sociedade, que considerava crime a pessoa ser gay (e assim o foi na Inglaterra e no País de Gales até 1967, na Escócia até 1980 e na Irlanda do Norte até 1982)!  Letra curta, mensagem clara, e eu não me canso de admirar o cuidado de John (e que Paul também tinha e George e Ringo aprenderam) em produzir versos sem repetição de letra e preferencialmente com rimas ricas, aquelas em que se rimam classes gramaticais distintas. Sei que em inglês não se leva em conta esse fato, mas parece caso pensado. Note aqui o primeiro conjunto verso-verso-refrão, diagramado:

E o segundo conjunto verso-verso-refrão tem letra DIFERENTE, mas com o mesmo cuidado, rimando I com try, win com in, way com say, round com clownsdá uma escorregada, rimando she com me (dois pronomes), e uma derrapada total, rimando them com them (a mesma palavra!). Perdoado, né?! 

O vocal é 100% John, sem a tradicional harmonia de Paul, como pedia a intimidade da letra.  E é John em sua plenitude, tirando do fundo d'alma seu grito primal. Está registrado que o 'Hey' foi sugerido por um amigo de infância de John que testemunhava, maravilhado, a sessão de gravação, em hora e meia da tarde de uma quinta-feira 18 de fevereiro de 1965. Outra curiosidade +e que a letra original dizia "Feeling too foot tall" mas John gravou errado "Feeling too foot small", mas gostou e deixou assim. 

John faz a melodia com seu violão de 12 cordas, George acompanha também ao violão, Paul num baixo sem destaque, Ringo na bateria só com as escovas. Um pandeiro e maracas são acrescentados posteriormente, por Ringo e Paul, respectivamente. Apesar de John ter cantado a melodia durante a base, seu vocal oficial foi colocado dessa fase de overdubs. Finalizando a parte instrumental, dou enorme destaque à primeira aparição de um instrumento diferente do tradicional conjunto guitarra-baixo-bateria-percussão-piano: uma magnífica flauta tenor, que substitui a voz de John nos versos 5 e 6 que finalizam a canção, entoando uma melodia distinta do vocal dos outros versos, perfeitamente encaixada.

You´ve Got to Hide Your Love Away também foi parte da trilha de HELP! Ela aparece ainda no começo do filme, antes de Ringo ser raptado, com os Beatles naquela casa maravilhosa, com quatro portas de entrada que dão acesso ao mesmo ambiente, John no violão, Ringo no pandeiro, cheia de olhares de George e Paul para uma moça sentada num sofá, com direito a um misterioso flautista em outro ambiente e com um suspeito emergindo da rua, de um bueiro. Infelizmente, ela nunca foi tocada ao vivo, considerada de pouco potencial comercial, imagina, uma pequena obra-prima. Aqui neste LINK, mostro a cena do filme. 
 
Finalizo declarando ser esta canção a minha preferida do LP HELP!, muito repetida na agulha de minha vitrola, no alto de meus 7 para 8 anos nesta passagem, mesmo não entendendo sua letra muito bem ou um pouco dela, ajudado por meu irmão 13 anos mais velho. Ao longo de meu 9º ano de vida, que se iniciaria em seguida ao lançamento do LP, que foi em dezembro de 1965 no Brasil, meus pais, sensibilizados pelo meu interesse nas letras das canções dos Beatles, matricularam-me no Centro Cultural Brasil Estados Unidos (eu era o mascote da turma) do qual eu saí formado, no nível intermediário, quatro anos depois. Ainda incentivaram aulas particulares de reforço de inglês com um primo gênio meu 6 anos mais velho. Tais atitudes estratégicas de meus pais proporcionaram-me um conhecimento suficiente do idioma para ajudar-me no vestibular aos 17 anos, e mais decisivamente, no exame admissional aos 22, para o emprego e carreira que me acompanharia nos 35 anos seguintes. Não é pouco o que agradeço a meus pais por aquela decisão em minha tenra infância. Não foi pequena a importância dos Beatles em minha vida...

3 comentários:

  1. Essa é, também para mim, uma grande canção de Lennon e uma das minhas queridas. Já jostava dela assim que ouvi no disco, mas fiquei apaixonado quando vi John tocando e cantando na cena do filme.
    Os acordes são gostosos de fazer, bem country, e a letra muito poética, intimista e forte. No mesmo momento em que John se sente diminuído, rosto enfiado nas mãos, chama de "palhaços" os que dizem para que ele esconda seu amor. Como destacou Homerix, rimas ricas e que terminam lindamente os versos.
    O outro motivo de minha predileção por essa canção dylanesca é totalmente narcisista: eras (e é) uma que eu podia (e posso) tocar e cantar sozinho, sem a banda! E não tem onde cante que não haja o coro no "Hey!...".
    Aliás, a única queda de performance na execução, atualmente, é justamente na gostosa descida do bordão antes do Hey: a artrose no mindinho dificulta as mudanças... Mas... temos que dar crédito ao mais de meio século fazendo isso, né?

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  2. Beleza de música. Sinceramente, não creio que seja inspirada em Brian Epstein. O restante da letra não tem nada a ver. Pode até ser, mas me parece aquela coisa de ficarem debruçados nas letras deles querendo achar coisas. Já ouvi também que seria dele para ele mesmo porque teve de esconder ser casado quando a fama começou. Faz mais sentido, mas mesmo assim...foi por tão pouco tempo. Quando chegaram nos Estados Unidos no Ed Sullivan já veio escrito, "Sorry girls, he is married." Enfim, não sei para quem é, nem se é especificamente para alguem. O mais provável é que seja dele para ele mesmo por algum motivo bem pessoal nunca revelado. O que importa é a inspiração foi maganífica e nos deu essa beleza.

    As relações homossexuais não deixaram totalmente de ser crime em 1967 na Inglaterra. Ali foi um primeiro passo. Importante passo porque estavam livres das ataques daqueles que viviam cobrando deles pagammento para ficarem calados. Os chantagistas. Alguem viu o filme Meu Passado me Condena? Espetacular e corajoso. De 1961 com Dirk Bogarde. Eram muitos que faturavam com isso. Perseguiam os homens, achavam as provas, e se não pagassem a eles seriam denunciados. Tinham de pagar para não serem condenados.
    Isso teve fim em 1967. Mas eles ainda poderiam ser presos caso não soubessem 'se comportar". Está escrito assim na lei. Eles teriam de se comportar. O que seria se compartar? Não poderiam assumir. Não poderiam ser quem eram. Tinha de continuar com uma dupla vida porque ainda era considerado algo recriminável. Penso que foi em 1971 que tiraram essa parte e finalmente ficaram livres.
    Soube que Brian Epstein vivia pagando aos chantagistas. E morreu antes de ver que não teria mais de se preocupar com isso. Que triste.

    Obrigada pelo link para rever a cena do filme. O que mais gosto ali? George Hrrison. Amo o jeito dele meio sem jeito querendo chamar a atenção da moça.

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  3. Eu amo ouvir e cantar essa música. É linda demais. Simples, magnífica e verdadeira.

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