Ontem, recebi no Whatsapp o motivo pelo qual a bandeira da Ucrânia é composta de duas faixas horizontais, a amarela na base e o azul no topo.
O amarelo representa o trigo das estepes, em contraste com o azul do céu... mas poderia ser bem o amarelo dos girassóis, flor nacional do país…. E agora pensei que quando Sophia Loren corria por aqueles campos lindos em busca de seu marido Marcello Mastroianni, que ela pensava estar combatendo na guerra (a 2ª mundial), para descobrir que, na verdade, formara outra família para fugir da guerra, aquilo na verdade era a Ucrânia…. Mas dar o nome do filme de ‘Os Girassóis da Ucrânia’ ficaria sem o mesmo charme que ‘Os Girassóis da Rússia’, que foi como o filme passou aqui, lá em 1970. E foi só aqui… o título original, em italiano, era ‘I Girassoli’ e em inglês passou como ‘The Sunflowers’.
Uma terceira cor mancha hoje esa imagem: o vermelho...
Os sombrios tempos de guerra em que vivemos fizeram-me constatar de que quando Paul fez a canção Back In The USSR, lá em 1968, decerto não tinha ideia de quanto de geopolítica havia naquela letra…
Vou buscar aqui um pouco do que já escrevi sobre a canção, em meu blog
Grande rock de abertura do Álbum Branco, que foi elogiado na mesma linha de Lady Madonna, de retorno às raízes. A canção é uma referência a uma canção de Chuck Berry, Back in The USA, que saudava as maravilhas da Amárica, desta vez sugerindo que era sempre bom voltar pra casa, mesmo para um espião soviético 'Gee is good to back home!'. Esse apanágio às coisas de uma entidade política 'inimiga' da maior potência do mundo foi considerada quase um manifesto socialista pela direita americana. E Paul queria provocar mesmo. E também era uma homenagem a um povo aonde o universo dos Beatles era banido, mas ele sabia que eles eram doidos pelo som deles, mesmo ouvindo de forma pirata. Como muitas canções do Álbum Branco, esta foi começada na Índia, em seu retiro espiritual, aonde estava Mike Love dos Beach Boys, que foi quem sugeriu que Paul elogiasse as garotas soviéticas, e assim, ele fez, na ponte da canção:
Well the Ukraine girls really knock me out, They leave the west behind
And Moscow girls make me sing and shout
That Georgia's always on my my my my my my my my my mi-ind!
E notem, nesta ponte (que é repetida depois), a duplicidade do sentido, porque Georgia, além de ser uma república soviética, é também um estado americano, saudado em canção de grande sucesso de Ray Charles, que também canta "Georgia's always on my mind". Junte-se a isso o fato de o refrão ser cantado em soluços, na segunda vez, ele diz 'Back in the US, back in the US, back in the USSR!', deixando os ouvintes tontinhos. Note o Beatles Break, nas quatro vezes em que é o refrão cantado, quando todos os instrumentos param, ficando só a voz. Um dos momentos mais felizes da vida de Paul foi poder cantar essa canção na Praça Vermelha (2003). .
O resto da análise, você encontra neste LINK.
Sabedor da notória ignorância do povo americano quando o que acontece fora de suas fronteiras, posso APOSTAR que aquela foi a PRIMEIRA vez em que eles ouviram fala em Ucrânia. E posso ganhar outra aposta como eles não entenderam NADA quando Paul mencionou o estado AMERICANO da Georgia numa canção que falava da União Soviética. Decerto nem lhes passava que a Georgia da canção era também uma das Repúblicas Soviéticas….. eles só vieram a conhecê-la quando Vladimir Putin invadiu e assimilou a Geórgia em sangrentas batalhas em 2008, e a comunidade internacional não deu a mínima. Depois, Putin gostou do movimento e foi lá e anexou a Criméia em 2014, e a comunidade internacional não deu a mínima. Ele decerto achou que ia agora acontecer a mesma coisa…
SÓ QUE NÃO!!!
Bem, falando em Putin, ele foi personagem daquele show em Moscow. Fui buscar um trecho que já escrevi sobre ele, na verdade, um post sobre um DVD sensacional.
E por que o DVD é tão especial? Porque os Beatles eram proibidos na época da União Soviética. Ter um disco dos Beatles era quase um crime. Só no mercado negro se conseguia. E você vai descobrindo essa história através de depoimentos entremeados com as canções do show. Apesar de os Beatles não terem nunca se pronunciado a respeito, à época da guerra fria, só o fato de serem livres e cantarem o amor, era uma inspiração para os jovens soviéticos, que até começaram a aprender inglês por causa deles. E foram considerados importantes para uma revolução silenciosa que aconteceu, e que veio a se concretizar muito tempo depois do fim da banda. A idolatria foi elevada ao máximo, quando ouviram a canção falando do país deles, e ainda mencionando algumas das repúblicas daquela União de Repúblicas.
Grandes momentos!!
Destaco, claro, a emoção que foi vê-lo cantando 'Back in the USSR'. Você pode imaginar como essa canção foi uma febre na época do lançamento, em 1968, mesmo com toda a proibição! De onde Paul tirou a inspiração para fazer uma letra que falava em Moscow e Ukraine girls, Balalaikas, e terminar dizendo que Georgia is always on mymymymymymymymymy mind??? Bem, aí sim, pode-se dizer que os Beatles ajudaram mais diretamente à causa.
Paul foi recebido com honras de Chefe de Estado (ou quase) pelo então Presidente Putin e pelo arquiteto da Perestroika, Mikhail Gorbachev!! Outro grande momento do show, aliás, é quando Putin chega à Praça Vermelha para assistir ao show, cercado de guarda-costas, e pedindo que parassem de dar atenção a ele, e que dirigissem as honras ao astro, que cantava 'Calico Skies'. Paul percebe a chegada, e ao terminar a canção, agradece às 'Important arrivals!'.
Tenho a impressão que hoje, Paul deve estar muito putin com o próprio. Ele já enviou mensagem aos irmãos ucranianos, lembrando-se do show que fez em 2008, em Kiev, justamente na Praça da Liberdade, que hoje está destruída!
John, também deve estar se revirando no túmulo, mas contente que o mundo se lembre nesse momento, de seus hinos à Paz e ao Amor, como All You Need Is Love, Imagine, e principalmente um que é sempre lembrado pelos líderes mundiais, como o Secretário Geral da ONU, que fez um apelo tocante..
Give Peace a Chance!
Aqui, a minha crônica sobre o show!
https://blogdohomerix.blogspot.com/2013/01/paul-na-praca-vermelha.html
Homerix, interessante sacada do caráter visionário dos Beatles a respeito da geopolítca há mais de 50 anos atrás. Por falar em Rússia, você, um fã do James Bond, deve ter a gravação da "From Russia with love" na voz do Matt Monro.
ResponderExcluirEntão deveria ser Os Girassóis da União Soviética. rs rs rs Eu não sabia que aquela parte do filme foi filmada na Ucrânia. Mas sabia que tinha sido na União Soviética. Não conhece nenhum dos países, mas imagino que exista semelhança, são todos eslavos. Para mim é importante saber porque...isso comentarei no off. rs rs rs
ResponderExcluirAmo a musica. É um rock extraordinário. Vi o video de Paul na Praça Vermelha e me emocionei. Os Beatles foram muito corajosos em lançar aquela música em plena guerra fria. Por coisas assim digo que mais que músicos, os Beatles foram revolucionários. Quebravam tabus.
Me emocionei também com o Secretário das Nações Unida terminando seu tocando apelo falando diretamente a Putin: Give Peace a chance.
Ótimo texto, caro Homerix.
ResponderExcluirO enredo idílico relacionando guerra e campos floridos é um oxímoro poético que o Homero constrói com a inspiração e a elegância de um cronista sensível à grave crise geopolítica. Homero, vinho que envelhece para aveludar o paladar e enebriar os sentidos. Parabéns. Laury
ResponderExcluirBelíssimo texto, Homero. Sua habilidade com as palavras é incrível.
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