Neste relato do ano de 1964, a primeira parte contou o que ocorreu até a partida para conquistar América, neste LINK,
A 2ª Parte contou sobre a Conquista da América e a envoltória do lançamento do compacto Can't Buy Me Love / You Can't Do That, neste LINK.
A 3ª Parte iria até o lançamento do EP Long Tall Sally, que veio com mais uma original dos Beatles, mas estava tão grande (veja neste LINK), então parei antes, e virou o relato das filmagens do 1º filme, e da Excursão Mundial!
A 4ª Parte, então, destrinchou as 4 canções do EP Long Tall Sally, neste LINK, o 1º de compacto duplo com inéditas, e seria praticamente o único, quando surgiu o Double EP Magical Mistery Tour lá em 1967, na verdade duas bolachinhas com 3 canções em cada uma, com a trilha sonora do filme homônimo.
A 5ª Parte, que ora começo, nem se pode definir como um diário, são tão poucos dias, que vai cobrir menos de uma semana da vida dos Beatles em 1964, que vai desde o fim da excursão mundial até o lançamento do filme A Hard Day's Night. Eu havia planejado seguir até o lançamento do LP homônimo, que, aliás, foi apenas alguns dias depois, e proceder à análise das canções, mas realmente, o filme revestiu-se de tanta importância, que mereceu ter um subcapítulo pra chamar de seu!
Então, o EP Long Tall Sally foi lançado na Inglaterra enquanto eles estavam no país dos cangurus. Na volta, antes de um descanso de três dias, passaram em Abbey Road para tocar e dar palpites numa gravação de Cilla Black, de uma canção Lennon/McCartney, na verdade do último, que tocou piano na gravação, que acabou chegando ao Top 10 das paradas.
E então, veio o dia da partida dos Beatles rumo à estratosfera! Sim, eles já estavam em bom caminho, já haviam conquistado a América, ocuparam lá os cinco primeiros lugares das parada, feito nunca antes nem depois visto, e tal, mas o combustível do foguete Beatle veio mesmo no dia 6 de julho de 1964, a estreia do filme A Hard Day's Night!. Lá estavam os quatro rapazes em traje de gala, acompanhados de suas pares, no London Pavillion. Presentes, grandes nomes do jet set britânico, e também a realeza, na pessoa da 1ª Irmã, Margareth, com o 1º Cunhado Lord Snowden. A Princesa já havia testemunhado a colossal ironia de John no Prince of Whales Theatre, mandando os ricos balançarem suas joias, em 4 de novembro de 1963, ao anunciar Twist And Shout! Após a estreia do filme, e após se desvencilharem da multidão em Picadilly Circus, os VIP's, incluindo os Reais, foram celebrar o evento no Dorchester Hotel, com champagne, e depois dança no Ad Lib Club até as primeiras horas da manhã, ocasião em que certamente celebraram os 24 anos de Ringo, primeiro Beatle a atingir essa idade!
Já acompanhamos aqui as pouco mais de seis semanas de filmagens de várias cenas desse que foi o 1º filme estrelado por membros de uma banda de rock. Ele retratava 36 horas da vida dos Beatles, tentando escapar das fãs ensandecidas, rumo a um compromisso profissional.
O filme foi ideia da United Artists Records, dos Estados Unidos, que no outono de 1963 (hemisfério norte!, lembre-se), ficou impressionada com o fenômeno que surgia do outro lado do Atlântico, onde os Beatles explodiam com She Loves You, e chamou Walter Shenson para produzir um filme que tivesse uma trilha sonora composta pelos Beatles. Era só isso, nada mais que isso, um filme pra promver uma trilha. Ninguém imaginava o que seria aquela efeméride. Shenson sabia quem eram os Beatles, claro, mas não tinha ideia de como eles eram em pessoa…. Até que veio a primeira reunião, com Brian Epstein e os quatro rapazes, dentro de um táxi, daqueles, londrinos, em que você tem uma pequena sala de reuniões, com bancos um de frente para o outro, foram seis pessoas um pouco apertadas, onde o produtor ficou encantado com o humor natural dos potenciais atores, e perguntou se eles não queriam fazer uma comédia no cinema, e eles disseram: SIM!!
O produtor havia trabalhado com o diretor Richard Lester num filme de 1959, com Peter Sellers (outro fã dos Beatles), O Rato Que Ruge. E, mais importante, fazia sucesso com o programa humorístico The Goon Show, também com Peter Sellers, que os Beatles adoravam. Shenson disse que produzissem 6 novas canções, Paul perguntou sobre o quê, e ele disse: “Six new Beatles songs, any, and we will fit them into the movie!”. Eles já haviam recebido propostas anteriores mas gostaram do produtor e fecharam quando conheceram Dick Lester! Com boas ideias! E veio a escolha do roteirista…. Allun Owen foi apresentado ao produtor, que deu a ideia básica: um dia na vida dos Beatles. Sem saber como era, o roteirista foi enviado a Dublin para acompanhar esse tal dia… e quando voltou, tinha o gancho para o roteiro: “Eles são prisioneiros de seu sucesso!”, e depois foi montar um roteiro cheio de cenas com diálogos curtos e bem humorados, e na linguagem de Liverpool, pois ele mesmo havia morado uns anos lá (“How did you find America? We turn left on Greenland”).. e por isso havia sido escolhido. E a linha de frases curtas (one-liners) foi expandida também aos demais personagens (“Stop being taller than me!”)!
A Hard Day's Night foi feito com baixo orçamento, de £ 200.000, com locações apenas em Londres e cidades próximas, além do que não precisaram contratar ninguém para a trilha sonora, hehehe... Seu diretor Richard Lester com seu estilo de filmagem, muitas cenas com câmera na mão e ritmo frenético, foi declarado décadas depois como o Pai da MTV, título ao qual ele só disse que aceitaria se fosse submetido a um teste de paternidade. Lester evitou ao máximo os cenários artificiais: se a cena era em um trem, eles filmaram em um trem, se era num teatro de TV, eles filmaram num teatro de TV, se era num clube chique de Londres, eles foram lá filmar. Claro que estúdios também foram utilizados, justamente o Twickenham Studios, que conhecemos recentemente no 1º episódio de Get Back. Os trailers elevaram a expectativa à estratosfera, o oficial tem quase a canção título todas temperando incríveis cenas e diálogos do filme (neste LINK), um segundo entremeando cenas da loucura que era a vida dos Beatles, com trechos de canções inéditas. (neste LINK). Um trailer alternativo, com os quatro fazendo micagens sentados em carrinhos de bebês expondo todo seu potencial histriônico, foi veiculado em alguns países do mundo, e há rumores de que passou numa cidade pitoresca no norte de Minas... contou-me uma ilustre moradora da localidade, que me mando este LINK!
Os cinemas lotaram em todo o mundo, fãs vendo e revendo filme, voltando ao cinema em dias seguidos era o que mais acontecia. Era a oportunidade de VER os Beatles ao alcanço de um ingresso de cinema! O que veio com as imagens dos Beatles foi isso que o mundo passou a entender como Beatle. O que o grande público conhecia era o seu som, e talvez um pouco mais com as entrevistas, mas ali em AHDN é que o público conheceu os verdadeiros Beatles. Eles surpreendiam Dick Lester a toda hora, ele jamais sabia o que viria dos rapazes, especialmente de John … mas ele amou e usou tudo … Verdadeira loucura. A imagem dos quatro atores principais era magnética, impossível era tirar os olhas deles, tinham presença de cena! Invariavelmente, o que se ouvia dentro das salas de exibição eram gritos histéricos, mesmo sem a presença real dos astros, e muitos queriam tocá-los indo até à tela. E eu trago aqui um depoimento que muito me impressionou, de uma nativa de um cidade pitoresca no Norte de Minas. Vale a pena! Emocione-se! Aqui, neste LINK.
A crítica recebeu o filme boquiaberta. Ninguém imaginava que seria um clássico influenciador, um divisor de águas, um verdadeiro raio que caiu no debate intergeracional. Ele foi considerado o 2º melhor filme inglês do ano, perdendo para Dr. Strangelove de Stanley Kubrick, e se mantém entre os 10 melhores musicais de todos os tempos, e entre os 100 melhores filmes de qualquer estilo de todos os tempos, mesmo décadas depois (Revista Time, 2005). Além de concorrer a dois Oscars, Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora (como não ganhou?). A verve irreverente dos Beatles em sua comédia surreal foi comparada à dos fabulosos Irmãos Marx. AHDN inspirou o jeito de fazer cinema no restante da década, mas mais que tudo, foi considerado revolucionário, como libertador da juventude, que se viu imbuída de poderes de fazerem o que quisessem, como quisessem, em busca da felicidade. Os Beatles se tornaram a voz da juventude. Acreditem, os executivos americanos da United Artists, quiseram alterar aquela voz, pois sugeriram dublá-los por causa do sotaque de Liverpool, ao que Paul terminantemente recusou-se dizendo que antes teriam que dublar todos os filmes com aquele sotaque texano...
O título do filme, já dissemos, veio de um malapropismo de Ringo, imediatamente adotado, mas no Brasil saiu diferente. Em meus sete aninhos, fiquei apaixonado pelOs Reis do Iê Iê Iê, mas houve outros títulos interessantes em outros países:
- Alemanha e Suécia gritaram Yeah Yeah Yeah
- Na Itália, foi Tutti per Uno (Todos Por Um)
- Na França, eram Quatre Garçons Dans le Vent (Quatro garotos ao vento)
- A Espanha viu ¡Qué Noche La De Aquel Día!
- No México, Uruguai e Venezuela: Yeah, Yeah, Yeah, Paul, John, George y Ringo!
- Na Argentina, admiraram-se com o Anochecer de um Día Agitado.
E, de volta ao Velho Mundo, nossos patrícios d'além mar viajaram:
Os Quatro Cabeleiras do Após-Calypso!!!!
Interessante descobrir que esse filme um impacto a ponto de figurar entre os 100 melhores. Surpreendente sua importância. Parabéns Homero. Laury
ResponderExcluirE que ideia genial...O trailler que poucos conhecem teria acontecido no sertão Roseano. rs rs rs. Só tenho a agradecer.
ResponderExcluirTexto rico de informações, eu sempre lendo coisas pela primeira vez. Nem imaginava que ousaram querer dublar os Beatles por causa do sotaque lá nos Estados Unidos. Inacreditável. Amei a resposta de Paul.
Antes de Portugal, penso que foi antes, meu irmão Walmor já tinha ligado os Beatles ao Apos-Calypso. Lembro dele se referindo a eles como Os quatro cavaleiros do Após Calypso. Mas os 4 cabeleiras ficou mais interesante. Tái, gostei da ideia dos Portugueses. Era, pelo menos, engraçado. Bem melhor que Os Reis do Ié Ié Ié.
Agora vou entrar no links.