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sábado, 3 de abril de 2021

Helter Skelter - Heavy Metal? Eis sua mãe!!

Esta canção é a  canção do Lado A do 2° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções que falam de Sexo com Garotas

                                        as demais 5 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

23. Helter Skelter  (Sex Girl Song by Paul McCartney)

Paul grita: "Você vai ou não vai querer que eu te faça? Estou chegando rápido, mas não me deixe te interromper. Diga-me, diga-me, vamos, diga-me a resposta! Você pode ser uma amante, mas não é nenhuma dançarina! Cuidado! Confusão!!!

Helter Skelter é uma canção que ninguém classifica como Sex Song, mas eu, sim.... "ele só pensa naquiiilo?" ... não, nada disso! Lá vamos nós de novo... Paul fala com uma garota, em ritmo alucinante, de montanha russa (que é o que um dos significados do título), perguntando num sobe e desce, se ela não quer que ele a 'faça', e ele está descendo rápido, mas não quer quebrá-la, aguenta aí, diz que ela é melhor amante que dançarina, ah sei lá, senti esse clima, e defini assim, e pronto!! Vale aqui o destaque sobre o produto final, pois a canção é considerada a precursora do Heavy Metal e ela é tocada tão intensamente pela banda, que Ringo, ao final, berra "I've got blisters on my fingers!!", que foi tão representativo que foi deixado na gravação final. Outro destaque, esse bastante negativo, é de que ela foi, juntamente com Piggies, de George, no mesmo álbum, inspiradora de Charles Manson para cometer os bárbaros assassinatos de Sharon Tate e amigos, na Los Angeles de 1969, dizendo que os Beatles eram os cavaleiros do apocalipse, uma bobagem sem tamanho... Esse episódio me marcou muito, em meus 11 anos. Felizmente, Tarantino fez uma versão alternativa no cinema (minha resenha, neste LINK), em 2019, e em respeito aos Beatles, nem mencionou aquela absurda associação.  Paul McCartney, de uns anos pra cá, a tem tocado em seus shows solo, mesmo arriscando sua voz, que hoje não é a mesma! 
 
Bem, a inspiração de Paul veio como uma resposta a um desafio a que ele mesmo se impôs: um artigo de Pete Townsend, guitarrista do The Who, dizendo que eles haviam feito a canção mais pesada do rock, algo assim. E Paul pensou: "Os Beatles podem fazer melhor!", e fizeram... na verdade ele fez, porque compôs a canção sozinho, mas ... na verdade, foram eles fizeram, pois materializaram aquela loucura. Helter Skelter é um brinquedo de parques de diversões do interior da Inglaterra, uma torre estilo medieval, com uma escada interna que, em seu topo abria para uma rampa em espiral externa ao redor da torre, um gigante escorregador, mas, em sentido figurado, quer dizer confusão, bagunça, labirinto, ou ainda, pressa, muita pressa. Tudo isso é vivenciado ao ouvir a eletrizante canção, do jeito que foi interpretada, pelo cantor e pela banda. Primeiro, porque ela começa lá no alto, com uma introdução cantada, antes do primeiro verso, bem, minto, ela foi berrada! Vou tentar expressar na escrita, com cores e tamanhos crscentes, aquilo que a gente ouve...  
 
When I get to the bottom, I go back to the top of the slide
Where I stop and I turn and I go for a ride
Till I get to the bottom
AND I SEE YOU AGAAAIN 
YEAH YEAH YEAH 
 

Consegui?  Eu fiz questão de colocar o ápice em caixa alta, porque, o próprio Paul escreveu seu esboço de letra em caixa alta, para denotar que a canção seria gritada. Note que ele estava em dúvida entre a rima escolhida e a desta versão inicial, em que ele leva a garota ao alto da colina ("Hill") e dá a ela um arrepio ("Thrill"), o que denotaria ainda mais o contexto sexual. Quando vi o manuscrito, não pude deixar de lembrar de um episódio de minha vida profissional, porque eu corrigi um péssimo hábito em um chefe meu, que me agradece até hoje o conselho.  Ele escrevia seus e-mails em CAIXA ALTA. E eu perguntei: "Por que você está gritando comigo?" A caixa alta é muito desagradável de ler. Normalmente, eu nem leio! PARECE QUE A PESSOA ESTÁ GRITANDO, e eu não quero conversar com quem grita comigo!! Quando ele adotou a prática normal, outras pessoas vieram elogiar e disseram que nunca haviam falado isso pra ele, por vergonha!!  
  
 
Mas vamos voltar ao que interessa, seguindo na estrutura,  letras e rimas. Depois da introdução, vem o primeiro verso, com um convite "Do you, don't you want me to love you? I'm coming down fast,...." e vem o refrão, com três vezes o título, e vem o segundo verso, com a proposta "Will you, won't you want me to make you? I'm coming down fast,...." onde o "make you" leva todo o jeito de "make you come", que tem o segundo sentido de levar ao orgasmo! Depois, mais uma vez o refrão e novamente a introdução doida, que pode ser interpretada como sucessivos atos sexuais, indo ao topo e ao fundo repetidas vezes, um astro na cama!! Depois, segue o terceiro verso, repetindo a proposta do segundo (que fôlego!!), e mais um refrão, e a conclusão, que deixa os músicos exaustos, Ringo sangrando, e a garota, chegando ao ápice da relação "She's coming down fast"! Rimas? Algumas, que eu comento por causa de duas correções de pronúncia que eu experimentei ao longo da vida "love you" com "above you" no Verso 1, verbo com advérbio, eu falava "above" com o "o" fechado, mas pra rimar com "love", vi que é aberto; e o verso termina rimando "answer" com "dancer", que me fez perceber outra falha de minha infância, pois eu pronunciava "énsuer", só que o correto é esquecer o som de "u", que aliás, é "w". O Verso 2 tem uma rima fraquinha, dois verbos, "make you" com "break you", e depois repete a rima final de todos os versos. 
 
Helter Skelter não estava entre as canções apresentadas em Esher, na casa de George no final de maio, não teve nada a ver com o período da Índia! A primeira vez que alguém além de Paul ouviu a canção foi já na EMI, mas informalmente, no meio de uma sessão de Blackbird, em 11 de junho, com Paul no violão tocando um trecho dela, sob os olhares e ouvidos atentos de John e de George Martin, em outra parte do estúdio. Os joelhinhos que balançam ao som da canção ao lado de Paul são de Francie Schwartz, sua nova e breve namorada (entre Jane Asher e Linda Eastman) e, ao lado de John, vê-se Yoko de costas, não muito sensibilizada com a nova canção de Paul.  E isso tudo se sabe porque sobreviveu um trecho raríssimo de filme do momento histórico, que felizmente eu encontrei e coloco aqui, pra vocês, neste LINK. Adorei!!! Depois disso, somente em 18 de julho entraram todos dispostos a materializar a ideia de Paul, foi uma longa sessão, em que produziram apenas três takes, com Paul na guitarra solo, George na guitarra base, Ringo na bateria e John .... no baixo! Sim, sim! Uma interessante inversão! E olha que peculiar duração dos takes: 1 - 10:40, 2 - 12:39, e 3 - 27:11, ou seja o último foi quase meia-hora! Jamais visto! Toda a sessão foi considerada como ensaio, mas saiu uma novidade: a voz de Paul foi gravada com eco, e era novidade porque o eco era normalmente introduzido posteriormente. Paul gostou daquilo e pediu que fosse mantido.  Somente em setembro, eles voltaram para gravá-la e eles estavam em estado alterado. Mantiveram a configuração instrumental e gravaram mais 18 takes, Paul pedia mais volume para as guitarras, mais volume para a bateria e ensinava John como deveria tocar o baixo, o pessoal do estúdio se entreolhava, mas seguia a política do "seu desejo é uma ordem", e faziam tudo o que Paul pedia. O Take 21, último da noite foi considerado bom e é nele que se ouve o brado de Ringo ao final "I've got blisters on my fingers", seus dedos estavam realmente em petição de miséria, sangrando, tamanha energia que colocou na bateria, e todos estavam exaustos. Seguiram lá, e Paul gravou seu vocal principal, e todos estavam estupefatos, inclusive George entrou no clima e correu pelo estúdio com uma lata de lixo pegando fogo na cabeça. Estavam todos doidos! A sessão havia saído do controle! Mas eles eram The Beatles! Voltaram no dia seguinte, mais calmos, para overdubs, de guitarra, de Paul, sobre a guitarra de George, John acrescentou um piano, os três gravaram seus vocais de apoio, com variados "aaaaaa"s e "da da da da" e o sempre presente, algumas vezes atuante roadie Mal Evans tocou aquele trompete estridente na conclusão!! 
 
Mas deixa eu detalhar só um pouquinho da montanha-russa de emoções sonoras que é esta precursora do heavy metal. Começando pela introdução, que tem 6 compassos, quaternários, no primeiro só a guitarra de Paul, com duas palhetadas a cada tempo, num E7 (Mi com 7ª), Paul entra no vocal no 2° compasso, Ringo entra no 3° com Paul crescendo para E6 (Mi com 6ª) dissonante, e no 4° em Eaug (Mi aumentado) mais dissonante ainda, e tanto ele como Ringo já estão lá no alto, a guitarra em G (Sol) e a voz em AGAAAAAAINNN, e no 5° Ringo já está batendo naquele prato como se não houvesse amanhã, Paul desce no Yeah Yeah Yeah em A (La), e à essa altura entre o resto da banda, com John num baixo batido, forte, em sequências de uma nota só, também duas por tempo, e George numa guitarra base propositalmente desafinada. que vai seguir em toda a canção! Tudo isso com tudo o que o estúdio poderia oferecer de pesado, como ecos, reverbs, ADT, distorção, e escambau. Paul queria assim! O Verso 1 então entra com tudo, e logo na 2ª linha vêm o backing AAAAAA e mais AAAAAA na 3ª linha, e vem um Beatles Break, com tudo parando para Paul cantar, ou melhor, gritar You may be a lover but you ain't no dancer , aí com Ringo dando uma virada, e o backing agora no DA DA DA DA DA DA DA  e vem Paul no refrão gritando quatro vezes Helter Skelter, sendo duas em G (Sol) e duas em A (La), entremeadas por seu próprio riff na guitarra solo, sensacional! UFA!.... não não vou seguir nesse detalhe todo, deixo vocês curtindo, mais um verso e outro refrão e nova intro no meião, e outro verso e outro refrão, até chegar ao final, preste atenção na conclusão que entra em fade-out, parece que acaba, mas não desista!! Do nada, ela volta, com todos insanos, para mais preciosos segundos de um jam incrível, até finalmente terminar com as mãos de Ringo em sangue, com as bolhas já estouradas!! Cansei até para descrever a efeméride, coração batendo!! Sabe o que pareceu? Lembra daquele take de 27 minutos? Parece que eles começam a conclusão, mas como não podem colocar em disco aquilo tudo, vão sumindo, o tempo para, por uns 20 minutos, mas eles seguem tocando, e eles voltam para o final, só que fica transparente para nós. Gostei de minha suposição, de minha própria lavral! 
 
Bem, como eu disse lá em cima, Paul tocou Helter Skelter muitas vezes em sua carreira solo, chegou a ganhar um Grammy em 2011, como melhor desempenho de rock, na categoria melhor gravação ao vivo da canção feita em 2009 num show em New York. Foi o 14° Grammy dele (foram 10 com os Beatles), eu poderia pegar esse vídeo, mas preferi anexar aqui um em que ele toca com Ringo, ou seja, temos metade dos Beatles no palco,em julgo de 2019, Paul em seus 77 anos, Ringo acabando de completar 79! Eles tocam Sgt. Pepper's Reprise e, depois, para surpresa geral, vem o acorde inicial de Helter Skelter! Plateia vai à loucura! Imperdível! Aqui, neste LINK!! Os tempos têm um delay estratégico para dar tempo de Paul recuperar o fôlego, e o final é um pouco diferente, mas nada que perturbe a magia de vê-los juntos!  E faltou também o  berro de Ringo, mas eu posso dizer, que após escrever esta resenha .....

I've got blisters on my fingers!! 

 

4 comentários:

  1. Long long long mas muito bom. Tem que estar muito inspirado pra escrever tanto
    Excelente Homero e o filme da gravação com Paul ao violão, um achado que além de fazer parte da estória, estimula nossas emoções
    Thanks

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  2. Pois eu já fiquei com tanta raiva de Tarantino que nem vi aquele filme. Como ousa omitir um fato tão importante? Com História não se brinca. Foi horrível? Sim, foi horrível. Pior do que horróivel. Mas foi assim que se passou. Com isso ele removeu ( apenas do seu filme) também uma das provas da revolução causada pelos Beatles, de como eles foram muito além da música. Mostra o tanto que eles mexiam com as mentes, infelizmente também com as mentes dos lunáticos. Erro crasso tirá-los da história. Mas assim é Hollywood. Nenhum compromisso com a verdade. Tudo é entretenimento.

    A musica é boa demais. O melhor rock pesado de todos os tempos. Segundo Paul era sobre a queda do Império Romano. Mas não sei se tem algo erótico ali. Talvez, eu realmente nao sei. Ele fala com uma pessoa que may be a lover but aint no dancer. Depois fala 'yes she is..." Deve ser outra pessoa porque deixou de ser you. Pode ser que Paul tenha pensado em algo erótico, mas se era sobre a queda do império romano, ( se é que ele estava sendo sério quando falou isso) seria algo negativo que provocou o fim . Mas realmente não dá para ter uma certeza porque a letra não faz muito sentido. Tudo que sei é que ele não estava incintando ninguém a sair matando quem quer que fosse.

    Pensando aqui...vai ver que é só brincadeira de escorregar mesmo .

    Homero, eu li a lista dos nomes das músicas dos Beatles que "inspiraram" o danado. Sao muitas. Não apenas Helter Skelter e Pigs. Até me esqueci quantas. Sei que Blackbird também foi vista como sair por aí matando brancos ricos. E Revolution 9 também que ele associou a Revelation 9 do Apócalípse onde fala nos anjos do senhor que chegariam na terra usando cebelos de mulher. O livro da Revelações. E isso está escrito lá mesmo. Mas o cara viu até as guitarras! O que não está escrito lá.

    Revolution também foi interpretada como chamado para ele agir. I will...Sim, I will para ele era Paul buscando Jesus, ou o Messias, que seria Mason!
    Don't Pass me by, Honey Pie, Glass Onion, Blue Jay Way, Sexie Sade, Rocky Racoon, Happiness is a Warm Gun...

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  3. Quanta bobagem nesse último comentário . Nego viaja!É como misturar alho com bugalho e nada fazer sentido.O que tem a ver a queda do Império Romano com os Beatles nessa bagaça? No mínimo 2000 anos de diferença no tempo, hahaha

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