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quinta-feira, 1 de abril de 2021

Everybody´s Got Something to Hide Except Me and My Monkey

Esta canção é a  canção do Lado A do 2° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções com Histórias na Primeira Pessoa

                                        as demais 4 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

21. Everybody´s Got Something to Hide Except Me and My Monkey

  (Trip Acid Song by John Lennon)

John viaja: Quanto mais fundo você desce, mais alto você voa. Quanto mais alto você voa, mais fundo você desce. Então, vamos lá, vamos lá. Vamos lá, é tanta alegria! Vamos lá, é tanta alegria! Pega leeeve! Pega leeeve! Todo mundo tem algo para esconder exceto eu e meu macaco.

John está eufórico, um dos estados possíveis da mente alterada. Ele sempre dizia que era referência ao momento do relacionamento dele com Yoko e a reação dos outros com a constante presença dela nas gravações, que ele e ela não tinham nada a esconder. Entretanto, 'monkey' é também referência a heroína (em que o casal havia embarcado), pois era um apelido à droga nos anos 40, o 'higher' e o 'deeper' não deixam a menor dúvida, e o 'take it easy' é um autoconselho, ele mesmo se recomendando pegar mais leve. Musicalmente, ela é frenética, gritada, e tem um sino alucinante, em vários momentos, tocado por Paul, que também entra no clima e dá uns gritos ali no meio. Não é preciso ressaltar que é a canção de maior nome dentre as 186 da autoria dos Beatles. Sabe o que isso significa? Naaaada!! O que interessa é que a energia que eles dispensaram na gravação deve ser proporcional ao número de caracteres do título!! E no canto, John ainda acrescenta mais 3 caracteres! A gente fica até cansado de ouvir! Coração acelera!! Ufa!! Vamos aos detalhes. 
 
EGSTHEFMAMM (vou adotar o anagrama pra economizar tinta) é simples, estruturalmente, na linha do casa/separa do Jô Soares, ou seja, verso/refrão /verso/refrão verso/refrão, tendo o refrão uma introdução, com "Take it easy" ou "Make it easy", ao bel-prazer do autor, e o título modificado da canção. E a modificação é aquela da letra em vermelho do anagrama. O 'F' é de "for" que John canta, "...except FOR me and...", corretamente, respeitando a gramática inglesa, mas não está no título impresso na capa do álbum nem nos registros de Abbey Road, erradamente. Provavelmente, deve ter sido descuido do sujeito que registrou o título pela primeira vez, já no terceiro dia de gravação, John deve ter ditado o longo título, e o carinha se esqueceu do "for". Cada verso é diferente do outro em seu início, no Verso 1 John apenas convoca para a 'viagem' e explica como vai ser bom "Come on it's such a joy", mas vem o refrão e ele aconselha 'pegar leve'. Nos Versos 2 e 3, ele usa dois compassos a mais para expressar ideias com causa/efeito alternando para efeito/causa, note, no Verso 2 é : "The deeper you go, The higher you fly! The higher you fly,the deeper you go! So come on", e no Verso 3 é : "Your inside is out. Your ouside is in. Your outside it in. Your inside it out. So come on", para depois concluir com o mesmo elogio e alerta, cada um dos versos!

EGSTHEFMAMM estava no conjunto das canções que foram apresentadas mutuamente no final de maio, na casa de George, mas ao contrário das demais, que foram escritas no retiro do Maharishi na Índia, provavelmente esta foi escrita por John depois da volta deles porque, declaradamente, inspirou-se em seu novo relacionamento com Yoko, que começou, mesmo, só após a volta dele da Índia, onde estava ainda com Cynthia. Decerto, porém, que algumas frases foram lembradas da época do retiro, inclusive o título, que ouviu numa palestra (sem o 'macaco', claro!), bem como o "Come on it's such a joy" que era um mantra do Guru, e ele entoava em várias ocasiões. Já na demo acústica de Esher, vislumbrava-se o ritmo que John queria impor. E todos ficaram animados a gravá-la, tanto que foi a quinta (entre as 30 do Álbum Branco) a entrar no estúdio, ainda no primeiro mês de gravação. E tão animados estavam, que ficaram mais de seis horas ensaiando, cada qual em seu cada qual em seu próprio canal, ou seja, John-George-Paul-Ringo em guitarra-guitarra-baixo-bateria na faixa 1-2-3-4, da fita de quatro canais, plain vanilla. Foram embora às 3 da manhã, com a intenção de escolher depois qual seria a melhor parte para virar uma base, mas ao chegarem de volta ao estúdio, naquela mesma noite, resolveram começar do zero, e gravar por cima, na mesma fita (Nããão!! Pecado!!!) do trabalho da noite anterior.
 
Apenas este dia, 27 de junho, foi considerado oficial, e teve tanto trabalho como o primeiro, só que conseguiram produzir seis takes, com uma particularidade: não havia linha de baixo na base escolhida! Paul desistiu de competir com o alto volume das guitarras de John e George, que estavam ensandecidos, nos máximos volumes possíveis de seus instrumentos, e decidiu deixar o baixo para os acréscimos (overdubs). John abre a canção com os três acordes junto com Ringo, em dois bumbos e uma caixa na introdução, à qual se adicionariam palmas. Posteriormente, John segue seu papel de guitarrista de fundo, tocando os mesmos três acordes da introdução. George está estupendo com riffs durante os versos, mas especialmente, também com dois riffs intrigantes em Breaks entre versos, acompanhados da caixa de Ringo, à razão de quatro vezes para cada riff. 
 
Sino / Chocalho
Porém, Paul não queria ficar atrás, e também ficou ensandecido quando encontrou um inusitado sino de bombeiro no banco de instrumentos do estúdio, e que ele balançava loucamente ao lado de Ringo, tanto que seu braço ficou cansado, e ele alternou, nos melhores takes, o tal sino com um chocalho, bem brasileiro, que aparece no Verso 2, ensanduichado com o sino exuberante nos Versos 1 e 3 e na apoteose final, com um efeito espetacular! A partir do Take 6, não houve mais performance de banda, mas ações individuais em overdubs. Paul acrescentou sua linha de baixo, que em nada deveu ao desempenho das guitarras dos animados companheiros, floreado durante os versos, e em notas repetidas durante os refrões. Depois, John gritou seu vocal fenomenal, lá no alto, e ainda com um dificílimo falsete no refrão, em "to hiide". Não houve harmonização em backing vocals, mas Paul acrescentou fantásticos gritos, e até alguns uivos, em vários pontos da canção, especialmente como introdução aos versos. John ainda dobrou vocais e também usou um canal livre para gravar o vocal final, com uma sucessão desenfreada de "Come on Come on Come on"s, na conclusão, que interrompe para uma ótima combinação das três guitarras, e volta firme regravado por cima inúmeras vezes, no fade-out da canção, completando o Take 12, que iria para mixagem e prensagem final. 
 
Gente, como é que uma canção de menos de três minutos leva quase 20 horas de dedicação?! Estavam todos no ápice de suas capacidades mas, principalmente, com vontade de fazer história, mais uma vez! É muito profissionalismo! E também, do meu lado, como é que eu dedico mais de 4 horas para detalhar essa efeméride?! Podem estar certos de que foi com um sorriso constante no rosto e emoção no coração... 

EGSTHEFMAMM nunca foi tocada ao vivo, por Beatles, ou por John, mas sim por The Analogues, Thanks God!! Conseguiram honrar o vocal de John, o sino de Paul, a guitarra de George, a bateria de Ringo, e nos brindam com um final estendido, como John queria. Vejam aqui neste LINK, que é o show inteiro do Álbum Branco, e, se quiserem ouvir a canção, vão direto ao começo da segunda hora, em 1:00:20 e os desafio a ficarem parados!  

5 comentários:

  1. Sabe o que isso significa? Tuuuuuddddo, vc é brilhante em seus post. Parabéns!!! Abcs

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  2. Incrível saber dos bastidores da gravação do título mais longo das 186 canções dos Beatles: *Todo mundo tem algo para esconder exceto eu e meu macaco*🐒 (_Everybody’s got something to hide except me and my monkey_)
    John e Yoko usavam heroína, apelidada de “macaco” (_monkey_) e o Beatle aproveitou para convidar todos para ‘a viagem’, garantindo que ‘vai ser bem alegre’. Na gravação, nunca apresentada em público, foi usado um sino 🔔 de bombeiro, e um chocalho brasileiro.
    Os _covers_ The Analogues foram bem fiéis ao quarteto mais famoso.

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  3. Música realmente bem pesada...
    Gosto muito de ouvir essa faixa

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  4. Homerix, sem vc minha mente não viajaria tão longe nas obras do fab four. Teu trabalho minucioso é digno de um livro, já te disse....
    Vida longa ao rock ,vida longa aos Beatles e a vc tb...
    Professor Dudan

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  5. Beleza de texto rico em detalhes que eu nem imaginava. Vou ter de ouvir a música de novo agora que sei de toda essa euforia e animação dos meninos. Sabe o que mais encanta? É que você prova que os Beatles eram mesmo ...os Beatles. Quatro garotos dando tudo que tinham para trazer músicas inesquecíveis. Eles faziam músicas Beatles. Não importa quem começou, quem escreveu a maior parte porque para obter o resultado final os quatro mergulhavam no que faziam. Juntos. Claro que sabemos daquelas que um depois faltou, daquela que foi apenas Paul e Ringo, mas são exceções. No geral era esse clima aí tão bem descrito por você. Ignoro se tenha havido qualquer outra banda fazendo o mesmo. E o resultado final é que conta, que faz a musica ser grandiosa. Esta é adorável.
    Parece também que trabalhavam numa espécie de caos. Os outakes mostram isso...Muita conversa, muitas piadas, muita coisa nada a ver com a música, muita diversão! Como é que no meio de tanta bagunça de repente tudo ficava tão lindo? Mágia pura.

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