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quarta-feira, 7 de julho de 2021

Get Back, JOJO

 Esta é a 9ª canção do 14º LP oficial dos Beatles, Past Masters #2

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 9 canções com um Conto

                                        as demais 8 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

9. Get Back (Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta 'Jojo era um homem que pensava que era um solitário, mas descobriu que isso não duraria. Jojo deixou sua casa em Tucson, Arizona por um pedaço de terreno da Califórnia. Volte Volte Volte, para o lugar de onde veio'. 

Olha, essa canção tem história! Então, comecemos pelo começo: o nome! 'Get Back' era o nome de um projeto, de volta às origens, quando os Beatles tocavam em night clubs, sem muitos recursos, só na raça, e na categoria, que eles mostraram em incontáveis excursões pelo mundo a partir de 1963, até que se cansaram em agosto de 1966. Para isso, deixaram a Abbey Road, deixaram George Martin lá, e se internaram, primeiro em um estúdio de filmagem, depois nos estúdios da Apple, em Saville Row, em janeiro de 1969, apenas com seus instrumentos, e com umas câmeras, para filmar os ensaios, após os quais, o plano era voltar aos palcos! Então, haveria uma canção com esse nome, e Paul a fez. Os versos contavam sobre um certo(a) 'Jojo', que 'left his home in Tucson, Arizona' e uma (um) certa (o) 'Loretta', que 'thought she was a woman, but she was another man', e o refrão dizia para os dois: 'Get back to where you once belong!', e então vieram as especulações sobre que seria o 'You' da letra, e três são as hipóteses: 
Os próprios Beatles! Voltem para suas origens e encantem as audiências com seu ótimo som.  
Joseph (Jojo) Melville See Jr! Ele era o primeiro marido de Linda, com quem Paul se casaria em breve, e que estava atazanando a vida dos enamorados, e que vivia justamente em Tucson/Arizona. 
Yoko! John havia trazido Yoko para o estúdio, ainda em 1968, o que causou desconforto para os demais. John percebeu, durante algum ensaio, que, quando Paul cantava 'Volte pro seu lugar', ele olhava pra Yoko. John ficou bem chateado. 
Paul nega as duas últimas, e ficamos então com a primeira. O fato é que o clima era tenso, em geral, e em uma triste hora das sessões de gravação, George deixou os Beatles. Enquanto esteve fora, encontrou o tecladista Billy Preston e o incentivou a entrar para o Projeto. Quando George voltou, já encontrou Billy lá, e ele foi fundamental para amainar o clima de tensão, que ficou suportável até o final do projeto, no final daquele mês, no muito celebrado Rooftop Concert, quando todos subiram ao terraço do edifício para fazer aquela que seria a última aparição ao vivo dos Beatles, episódio que já contei, neste LINK. Nenhuma das cinco versões ao vivo de Get Back foi lançada oficialmente, apesar de três delas estarem perfeitas. Em todas está presente Billy Preston tocando seu brilhante piano elétrico, inclusive com um solo que ele nunca havia tocado nos ensaios, incentivado por Paul. Há várias falas notáveis que foram proferidas ao final da última versão de Get Back. 

Ao perceber que a polícia está invadindo o recinto, Paul diz:  
"You been out too long, Loretta! You've been playing on the roofs again! That's no good! You know your mommy doesn't like that! Oh, she's getting angry... she'll have you arrested! Get back!".
E John, claro, tinha que fechar com chave de ouro. 
Lembrando-se de que eles fizeram aquele show como 'teste de palco', disse:  
"I'd like to say thank you on behalf of the group and ourselves, and I hope we've passed the audition."


Bem, até aqui reproduzi parte do texto em que apresentei pela primeira vez a canção, quando falei sobre todas as canções de mesmo Assunto e Classe, Tale Story Songs. Falta contar mais uns detalhes sobre estrutura e gravação. A primeira é simples, verso-refrão, mas incrementada musicalmente por vários solos, de guitarra e órgão, e por uma retomada ao final, que ficou famosa. A gravação é notabilizada pelos muitos dias e vezes em que foi ensaiada, em diversas configurações, com e sem John, com e sem George, com e sem Billy, mas sempre com Paul e com Ringo, que inclusive chegou a cantar o refrão, em uma da sessões. Cabe ressaltar que aquelas sessões de janeiro de 1969 nada tinham a ver com o que eles vinham fazendo em Abbey Road, com gravações de instrumentos em separado, um canal reservado para cada instrumento, a busca por uma base, reduções de fita para liberar mais canais para acréscimo de overdubs, dos mais variados instrumentos e efeitos. Ali, era raiz, todos cantando juntos, então, quando um errava algo, não poderia ser consertado depois, só com ele voltando ao estúdio para regravar sua parte, não, todos tinham que começar do zero tudo de novo, essa é a parte romântica da configuração. Outra coisa notável é que ela foi feita no estúdio, Paul chegou sozinho e começou a burilar a ideia original do 'Get back to where you once belong', e os acordes e versos foram surgindo. Ela chegou a ter um terceiro verso, além dos dois conhecidos (com Jojo e com Loretta), sugestão de John, em que faziam uma crítica social ao momento que a Inglaterra vivia, em que a ala direita do Parlamento discutia o bloqueio à desenfreada chegada de imigrantes da Comunidade Britânica, então os Paquistaneses 'Don't dig no Pakistani taking all the people's jobs!' eram citados, enfim, ver aqui, nestes LINK1 e LINK2 como brincaram com o tema, mandando várias etnias e personagens voltarem para o local de onde vieram. No segundo, inclusive, parece se ver ali a semente para outra canção do disco, Dig It. Porém, a coisa poderia descambar para que se interpretasse que eles eram preconceituosos, e decidiram abortar a ideia, vendo-se já ali a influência do 'politicamente correto' atuando, e tolhendo a criatividade dos artistas mais famosos da história.
 
A primeira vez de Get Back foi no dia 7, nos estúdios Twickenham, um sem-número de vezes, ainda sem John, e dois dias depois, já com ele, com mais quatro tentativas, onde vieram aqueles jams 'racistas'. Dia seguinte, levaram a canção a sério e a ensaiaram 22 vezes pela manhã, George fazendo os solos de guitarra, mas na hora do almoço ocorreu aquele fato que chocou a todos, o guitarrista foi embora, e voltaria 10 dias depois. No dia 13, sem George, John assumiu a guitarra solo e ensaiaram mais 15 vezes, entremeadas com discussões sobre o futuro, John mencionando que talvez devessem seguir solo, e Paul ainda acreditando no conjunto. Apenas 10 dias depois, já com George de volta, nos estúdios da Apple e com a chegada de Billy Preston, duas condições estabelecidas para a volta do guitarrista, a canção pegou jeito, já com Ringo naquela batida tipo galope de cavalo, pó-có-tó-pó-có-tó-pó-có-tó. Pela primeira vez, George Martin apareceu para ver como estavam as coisas e produziu a sessão. Notável também a presença de um jovem operador de fita Alan Parsons, que faria notável carreira como produtor do Pink Floyd e outros. Ali, também desistiram do papo sobre paquistaneses e, no lugar do verso cantado, entrou o teclado de Billy. John consolidou seus solos, e George ficou na guitarra base, em 43 ensaios da canção, e dia seguinte mais 21 vezes, vai contando. Naquele dia foi introduzida a retomada da canção após um final falso de alguns segundos. Mais 4 dias, mais 32 vezes de Get Back, uau, já passou de 100! Aí parou-se de contar, mas não de ensaiar. nos dois dias seguintes foram dedicados ao ensaio de todas as canções do projeto, e Get Back got back mais um punhado de vezes, dia 29 sendo o dia final de estúdio do Projeto Get Back, quando se decidiu que no dia seguinte iriam subir ao teto do prédio e tocar ao vivo, o famoso "Rooftop Concert". 
 
E veio finalmente o grande dia, que contei neste LINK, mas que aqui ressalto apenas as vezes em que Get Back foi levada no último show da vida dos Beatles. Foram cinco, as vezes em que ela foi iniciada, sendo três completas. A primeira incompleta foi a primeira do dia, com John começando com seu solo de guitarra e os outros foram se juntando, serviu para testar os instrumentos, mas logo a segunda foi ótima, bem como a terceira, já a quarta foi um 'false start', pois John contou errado. A quinta fechou o show, já com os policiais em cena, e com as ótimas falas de Paul e John já mencionadas. Houve outras falas dos dois ao logo de todo o show, muitas delas very Brittish, mencionando ídolos do cricket e programas da BBC.
 
São duas as versões oficiais lançadas na época, uma do compacto, em 11 de abril de 1969, outra do álbum em 8 de maio de 1970, com as seguintes diferenças entre si: (1) a do 'single' é o melhor take do dia 27 de janeiro, emendado com a retomada (coda) gravada em 28 de janeiro reduzida a menos de 40 segundos e fading out; (2) a do álbum é com aquele mesmo take do dia 27, sem a coda, mas com a inclusão de falas do show no terraço, ainda antes da canção, com uma piadinha de John, 'Sweet Loretta fart she thught she was a cleaner..." mas principalmente com a excepcional finalização de John, agradecendo a todos, em nome do grupo e dizendo que esperava que ele tivessem passado no teste. Ótima decisão de Phil Spector, o produtor chamado de última hora, já com a banda acabando, e com carta branca para fazer o que quisesse. Mas não seriam ótimas todas as decisões dele em Let It Be. 
 
A canção é creditada a "The Beatles with Billy Preston", sendo ele o único músico creditado na carreira dos Beatles que não fossem os próprios. O que solidifica a injustiça de terem esquecido de creditar Eric Clapton, que fizera uma guitarra solo matadora em While My Guitar Gently Wheeps, alguns meses antes. 
 
Finalizo com aquela tristeza habitual do fim de festa, lembrando a frase com que o compacto, tendo Don't Let Me Down no Lado B, 'The Beatles as Nature Intended', eles estiveram ótimos no show do terraço, estavam prontos pra voltar à estrada, mas nada disso aconteceu! 

E.. ah, sim ... foi direto para o N°1 das paradas inglesas, e um mês depois, para igual posição na parada americana, sendo a 17ª vez que isso ocorreu, igualando Elvis Presley. Só que os Beatles tiveram ainda outros N°1 após, então sabe-se quem são os campeões da história nesse quesito..  Ah, um número importante: o single Get Back / Don't Let Me Down vendeu 2 Milhões de cópias só nos Estados Unidos.. 
 
Deixo aqui um vídeo que me faz chorar TODAS as vezes que eu vejo, e também rir muito, e eu vi mais de 30 vezes já, umas por minha conta, e também toda vez que um amigo me mandava via WhatsApp, perguntando se eu já havia visto, neste LINKÉ grande a expectativa para ver o novo filme Get Back, de Peter Jackson, como ele explica no início. Será um de duas únicas vezes em que sairei de casa para ir ao cinema... a outra será no novo filme de 007.

Um comentário:

  1. Tenho uma lembrança de já ter lido sobre Get Back aqui como você confimou e acho que comentei na época. Mas é que leio outros blogs e nem sempre sei onde li. rs rs rs. Acho que foi aqui mesmo. Sobre See atazanando a vida de Linda com Paul. Olha, nunca li nada sobre isso em nenhum outro lugar. Com certeza você leu pois repetiu no texto. Mas onde foi? Eu resolvi investigar porque isso é total novidade para mim. Não achei nada. Bem o contrário. Veja o que acabei de encontrar. There was no animosity and he remained on good terms with the McCartney family.
    Era exatamente o que eu sabia. Quando Linda se uniu a Paul ela já estava separada de See há muitos anos. Aparentemente não havia motivo para ele interferir. A menos que não tenha gostado da ideia de Paul adotar sua filha. E, de fato, pelo menos da forma que aconteceu, não foi uma boa ideia. A menina sofreu demais achando que o pai não gostava dela. Entrou em depressão profunda, foi até internada. Só se recuperou quando o pai ficou sabendo e passou a visita-la garantindo que a amava. Passaram até a viajar juntos depois disso, ainda bem. Uma vez dele declarou que tinha se arrependido de ter concordado com a adoção por conta disso. Mas se dava muito bem com Paul. E Heather também sempre gostou de Paul. O problema não era com Paul, e sim com o pai porque acreditou que se ele concordou seria por não gostar dela. E como nem mesmo a visitava ficou parecendo que era isso mesmo, não é? Não era. Felizmente tudo foi entendido. E Paul ainda comprou uma fazenda ao lado da dele em Tucson Arizona para que, quando lá, eles tivessem contato. Diante disso acho meio estranho ele ter atazanado os dois quando se casaram, mas enfim, eu não estava lá e não sei com certeza sobre nada. Mas é fato a compra da fazenda ao lado da dele. Linda faleeu lá. E é fato que a menima viajava com o pai original ( Paul também é pai pela lei, claro). Passaram uma boa temporada com povos primitivos bem aqui no Peru.
    E ele contava para seus alunos com certeza que era o Jo Jo de Get Back. Vi uma entrevista de ex alunos contando isso. Ele cantava a música nas aulas todo feliz e orgulhoso de ter sido muso inspirador para Paul McCartney. rs rs rs

    Olha, eu não duvido que Paul tenha olhado para Yoko pelo menos uma vez na hora do Get Back. E depois negou porque Paul é assim mesmo. Atira a pedra e esconde a mão. Pois não deixava mensagens para Yoko espalhadas na sala em Cavendish? Não sei onde li isso. Nâo me recordo. Paul escrevia coisas como ' vá embora, deixe John em paz..." e colocava sobre os móveis. John e Yoko estavam morando com Paul! Ficaram lá algum tempo em 68. Quando John viu as mensagens ficou puto, claro. Mas Paul negou que era coisa dele. Disse que tinham sido escritas pelos fâs que viviam invadindo a casa. Por isso acho que ele não resistiu certa hora...e deu uma olhada para Yoko pedindo para ela desaparecer. rs rs rs. Mas quem sabe nunca teve nada disso? Impossivel saber. Faz sentido.
    Muita coisa linda você relatou. Eu adoro as conversinhas deles. E amo a bateria de Ringo logo na entrada. Eu e Howard Stern. Tem um programa dele onde ele diz o tanto que gostava daquele início da música com aquela bateria. E tem Homero que também gosta! E tanta gente mais.
    Até hoje não sei quem teve a ideia de subir no telhado. Você sabe?

    O ultimo link é realmente de chorar. Não me canso de ver e rever e ver de novo. Obrigada por incluí-lo.

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