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sábado, 1 de maio de 2021

In My Life …. In Our Lives

Tenho recebido no Facebook e no Whatsapp, um vídeo sensacional, 
mas, já antigo, de 2018 associou a versão de In My Life 
abaixo descrita com ótimas fotos dos Beatles.
Hora de recomendar mais uma vez esta linda obra!!
O artigo original é de 2000!
Viva George Martin, o 5º Beatle!!!


         Ainda embalado, emocionado e com os olhos marejados pelo violino de Vanessa Mae, decidi começar estas linhas para reativar minha sub-carreira de comentarista musical. Desta vez, para recomendar uma coletânea de homenagem. Sim, uma coletânea de homenagem! Nós, os puristas admiradores da boa música, temos uma certa aversão a coletâneas de artistas que admiramos, pois elas só listam o que os organizadores pensam ser o melhor de vários discos, com aquele enfoque oportunista de ganhar uns trocados a mais em cima de sucessos que já deram o que tinha que dar. Menos mal quando são produzidas pelo próprio artista, porém, coletâneas deixam de captar nuances escondidas em músicas do Lado B (lembrem-se dos velhos LPs!), por vezes pouco conhecidas, que não chegaram às BillBoards da vida, mas que têm doses generosas de prazer musical. Agora, a aversão a coletâneas se transforma em algo próximo ao ódio, quando ela é “de homenagem”, aquelas iniciativas oportunistas ‘ao quadrado’, em que um certo cantor(a) ou banda,  sozinho(a) ou acompanhado(a) de outros cantores e bandas, de vários estilos, para gravar canções famosas de cantores ou bandas antológicos, geralmente extintos ou mortos. Um horror! Pior que as coletâneas simples, pois estas se prestam a esse papel para ganhar dinheiro em cima do sucesso de outrem.
         Bem, todo o asco explícito acima se esvai no caso de In My Life, ‘coletânea de homenagem’ aos The Beatles, lançada em 1998.  “Ih, lá vem ele de novo, o chato beatlemaníaco!”, vocês diriam! “Só porque é Beatles!”, vocês bocejariam! Bem, pode até ser um pouco disso, mas posso garantir: desta vez, há mérito. E o motivo começa pelo produtor, patrocinador, idealizador, maestro do projeto: ninguém menos que George Martin. O maestro por trás (no bom sentido!) da carreira dos 4 rapazes de Liverpool, considerado como o 5o Beatle, responsável por muitos dos magníficos arranjos das canções, produtor de n-1 discos da dourada era. Quando anunciou-se sua intenção de realizar o projeto, já se sabia que vinha coisa boa. Ele não é de arriscar seu nome colocando no mercado um produto menos que ótimo.
         E o motivo principal não é o repertório: quaisquer grupos de 10 ou 12 canções beatle fariam um bom serviço. Na verdade, o que toca é a escolha dos intérpretes, instrumentistas perfeitos e arranjos com a marca Martin. Profissionais do canto mesmo, em somente 2 canções. Os demais, inesperados intérpretes inesperadamente bons, instrumentais tocantes, e ainda, ..... declamadores.
         Abre o disco uma dupla inusitada: Robin Williams e Bobby McFerrin cantando “Come Together” com exatamente o mesmo arranjo do Abbey Road. Robin leva com afinação e emoção o vocal que era de John. McFerrin, com sua destreza vocal, tirando sons não se sabe de onde, como sempre, faz a abertura e lidera uma das estrofes. Depois, “A Hard day’s Night” por Goldie Hawn em arranjo tipo Big Band, com um vocal leve e afinado que parece ter saído sem esforço. Vai longe, a garota (!!). A terceira é “A Day in The Life” com exatamente o arranjo original, porém com os vocais de John e Paul substituídos pela guitarra chorosa de Jeff Back, pertencente ao seleto grupo de quitarristas que cantam com o instrumento. O ritmo vai bem, as novidades se sucedem, aí chega a mesmice de Celyne Dion, primeira concessão de George aos intérpretes tradicionais: a interpretação de “Here, There and Everywhere” é perfeita, limpa e .... chata! Além disso, por ser mulher, troca todos os ‘her’ por ‘his’, quebrando a magia da linda letra de Paul.
         Agora, vêm dois momentos mágicos. O primeiro, o momento que originou este texto: “Because”, a linda canção de John em Abbey Road, que ele dizia ser a Sonata ao Luar de Beethoven tocada ao contrário, aqui solada pela violinista chinesa Vanessa Mae. Na introdução, arrepiante, usando todos os recursos de um virtuose, esbanjando ‘double stops’; na primeira estrofe, solando com vibratos pungentes; na segunda, acompanhando em segunda voz um coral, atingindo notas incrivelmente agudas. Simplesmente, de parar o carro, se arrepiar todo e chorar! O segundo, uma surpresa: Jim Carey interpretando “I Am The Walrus” (curiosamente, The Walrus was Paul!), nada menos que uma de minhas Top Five Beatle Songs, virtual viagem alucinógena de John. Interpretação vigorosa, afinada, divertida, magnífica, cheia de graves, agudos, e falsetos, em arranjo idêntico ao original, com todos os Hoo Hoo Hoos e Haa Haa Haas, ponto fundamental da música. Tenho certeza que John não revirou no túmulo ao ouvir a nova versão. Teria aprovado, com louvor!

Delicie-se!

         O próximo intérprete, ‘The Choir of the The Singing Girls of Peter City’, ou, em bom português, ‘O Coral Das Meninas Cantoras de Petrópolis’, canta “Ticket To Ride”, interpretação corretíssima, boa de se ouvir. Penso tratar-se de retribuição de George às meninas, que não se furtaram a cantar debaixo do dilúvio que se abateu sobre a Quinta da Boa Vista, quando ele esteve no Rio, dois ou três anos antes, para tocar seu concerto beatle, coisa que a orquestra que veio de Londres não pôde fazer, sob pena de estragar os instrumentos. 

         Depois, a bola baixa um pouco: primeiro, a única concessão de George ao outro George, o Harrison, com a performance, em orquestra, de “Here Comes The Sun”, nada demais; depois, um desconhecido (para mim) comediante inglês Billy Connoly anuncia, como se fosse o mestre de cerimônias de um circo, a letra de “Being For The Benefit Of Mr. Kite”. Interessante, mas ‘boring’.
         Dentre as quatro últimas faixas, duas performances de George Martin e orquestra: numa, fazendo um medley com as quatro bonitas músicas orquestradas do filme “Yellow Submarine” compostas por ele; noutra, uma composição inédita dele, chamada “Friends and Lovers”, muito bonita.
         A segunda concessão a intérpretes tradicionais é feita para Phil Collins, cantando e tocando bateria no fantástico medley de Abbey Road “Golden Slumbers / Carry That Weight / The End”. Muito bem escolhido o intérprete, pois Collins, originalmente o baterista do Genesis, teve a oportunidade de repetir o único solo de bateria de Ringo Starr e, ainda por luxo, encompridá-lo um pouco mais, com categoria. Nós, beatlemaníacos, o perdoamos!
Finalmente, para fechar o barraco, a canção título da coletânea, não cantada mas declamada. Sean Connery, com aquela voz de Sean Connery que só ele tem, declamando a linda letra de John. Tenho certeza que John, não apenas ficou quietinho, ouvindo, mas deve até mesmo ter esboçado um sorriso. Nada como uma conexão Beatle/Bond para fechar, com chave de ouro, esta última obra do grande George Martin.
É para estar na CDteca de qualquer um.

9 comentários:

  1. Meu caro Homero,

    Excelente a sua crítica. Devia mandá-la para revistas especializadas. Fiquei louco para comprar e ouvir.

    Aquele abraço,

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  2. Está disopnível no mercado brasileiro? Se estiver, sem dúvida que acatarei a sugestão imediatamente. Se não estiver, só levará um pouco mais de tempo.

    Apenas uma pequena observação: imagino que um dos intérpretes seja Robbie Williams e não Robin Williams...
    Se eu estiver correto, acho que esse engano foi o mesmo que o Serginho Groisman cometeu em seu programa ao entrevistá-lo (que aliás, deixou o entrevistado bastante chateado).

    Abraço,

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  3. Meu caro amigo Homero,

    De todos os seus textos que li este foi o melhor.
    Gostei do enredo, da lingûistica, da cultura musical e, especialmente, da emoção.
    Fez-me querer ouvir esta obra e gostaria que você me desse uma dica como obtê-la (talvez em mp3).
    Também gostaria que você me mandasse de novo aquele texto sobre a capa do Abey Road (que fala do fusquinha).

    Abraços,

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  4. Homero, eu ouvi esse CD com o pai de uma ex namorada em 1999. É realmente muito interessante o disco.

    Quanto ao texto, nem preciso falar... Tão bom quanto os outros.

    grande abraço.

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  5. Meu amigo,

    Recebi, li, adorei e devo dizer que poucas vezes se encontra, nos jornais e revistas, nas secoes especializadas em crítica de arte, análises tao bem feitas, bem redigidas , e que expressam , mais que uma opiniao tecnica, uma paixao pela arte da musica de boa qualidade.

    Parabéns. Teu futuro está garantido.

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  6. Vivendo e aprendendo. Acabo de ser apresentado a um Jim Carey cantor. Não satisfeito e não acreditando, fui confirmar no YouTube e lá estava ele e sua performance caricata interpretando muito bem "I am the Walrus". É ver para crer(https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03BMwE4dDJapV4_lvfxmMu4eHd84w%3A1598721098497&source=hp&ei=SoxKX6H6G7KV5OUPyvmZwAc&q=jim+carrey+i+am+the+walrus+video&oq=jim+&gs_lcp=CgZwc3ktYWIQARgBMgcILhAnEJMCMgYIIxAnEBMyBAgjECcyAgguMgIIADICCC4yAgguMgIILjIECAAQQzICCC5Qrh9Y0CZgmjxoAHAAeACAAbgBiAG0BZIBAzAuNJgBAKABAaoBB2d3cy13aXo&sclient=psy-ab).

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  7. Parabéns Homero
    Mais uma vez vc se superou
    Muito tempo atrás, chegou em minhas mãos um CD das meninas cantoras de Petrópolis, cantando, sob coordenação do G. Martin, varias canções dos beatles
    É simplesmente fantástico

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  8. Eu gostei também, Homero. Jimmy Carey fez uma beleza de interpretação...no seu jeito meio cômico. Adorável.
    E as cantoras de Petrólis...Meu sangue brasileiro delirou com isso.
    Eu não sabia que a chuva impediu a participação da orquestra que veio de Londres! Ai, que triste.

    Sean Connery falando In my Life é divino. Como já falei antes...dele eu gosto. Eu não o associo a James Bond, do qual não gosto. Talvez seja a única pessoa do mundo que não o vê como 007. :)

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