Esta canção abre o LP Let It Be, o último lançado pelos Beatles
a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK
É uma de 8 canções com um Histórias na Primeira Pessoa
as demais 7 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK
Atenção, canções com títulos em vermelho
são links que levam a análises sobre elas.
1. Two Of Us (Self StorySong by Paul McCartney)
Paul conta: 'Nós dois gastando o dinheiro suado, cavalgando pra lugar nenhum, sem destino, em nosso caminho de volta para casa...’
O 'Nós dois' referia-se inicialmente a ele e Linda, então sua namorada, em seus passeios pelos subúrbios de Londres, em que se perdiam de propósito, costume que Linda tinha em sua infância com seu pai, 'Two of us riding nowhere', o tema inclusive seria abordado de novo mais à frente no ano, no álbum final Abbey Road, em You Never Give Me Your Money. O trecho 'sending postcards, writing letters' também seria entre os enamorados. O contexto, entretanto, fez Paul mudar para ele e John. Há mais momentos Paul/John que Paul/Linda. No momento da gravação, início de 1969, os Beatles estavam no Projeto Get Back, de volta às origens musicais, mas estavam passando por dificuldades de relacionamento, tanto no profissional como no pessoal. Num segundo verso, ele diz: 'Two of us wearing raincoats, standing solo, in the sun' quer dizer que os dois estão se protegendo da chuva sob o sol, ou seja, na defensiva, sós, esperando o pior, mas mais importante, o uso da palavra 'solo', já prevendo um futuro próximo, cada um seguindo seu caminho só, em carreira solo. Há transcrições da letra que dizem que aí, Paul diria 'standing so low', mas eu interpreto 'solo'. Não sei se viajo muito, mas até mesmo o 'on the wall burning matches', lembra os tempos de Hamburgo quando colocaram fogo numa camisinha que grudou numa parede de um hotel barato, para enxergar melhor, eu digo 'viagem minha' porque quem fez isso com ele foi Pete Best, mas tudo bem. E, logo a seguir: 'You and me chasing paper, getting nowhere', ou 'imersos nesses documentos comerciais, não vamos chegar a lugar nenhum'. Na letra, pra mim, John dá quase de 7x1 em Linda! E ainda viria a ponte!
Em todos os versos, John e Paul cantam em perfeita harmonia vocal, um olhando para o outro, tocando violões, mas na ponte, é Paul sozinho quem lembra 'You and I have memories longer than the road that stretches out ahead', ou 'temos lembranças mais profundas que a estrada que temos à frente'. Esta última, então, é claro que é para John, com quem ele convivia há mais de 10 anos, tinha muito mais memórias do que com Linda, que ele havia conhecido há meses. Chego a chorar... que lindo caminho eles percorreram até ali, quando se sentiam prestes a separar-se.... ainda bem que ainda deu tempo para fazer seu melhor disco, aos 40 do segundo tempo.
A estrutura é Verso 1 - Verso 2 - Ponte - Verso 3 - Ponte - Verso 3, e vale aqui a velha regra Beatle, de versos diferentes, e em Two Of Us não há qualquer repetição nos três versos principais, repetindo o verso final na conclusão. Não há muita riqueza em rimas. A harmonia vocal, com John e Paul cantando todos os versos juntos, John no principal e Paul harmonizando no agudo, é claramente inspirada em Everly Brothers, que eles admiravam muito, inclusive há momentos em que ele se chamam um ao outro de Phil e Don. Sugiro que procurem na rede alguns vídeos e se espantem com a qualidade vocal da dupla americana.
Two Of Us foi apresentada aos demais logo no primeiro dia de ensaios do Projeto, nos estúdios de filmagens de Twickenham, dia 2 de janeiro, foi 9 vezes ensaiada, com Paul no baixo, John e George nas guitarras, e claro, Ringo na bateria, tentando acomodar a mudança de tempo em 'on our way home'. Interessante é que George começou harmonizando com Paul no vocal, mas ainda naquele dia John assumiu, fazendo o vocal principal, atendendo a sugestão de Paul, que fazia a harmonia aguda. Ali, também, e por vários dias, o ritmo era mais rock, que a versão final, que ficou mais folk. No dia seguinte, apenas uma vez, mas no dia 6, foram 20 as vezes, porém, mais marcante que esse número foi o áspero dialogo entre Paul e George que acabou levando este último a abandonar a banda dias depois, era o velho e demandante Paul sugerindo mudanças na guitarra de George, esse momento ficou famoso no filme Let It Be, inclusive é por ele que aquela época é lembrada na memória dos fãs, como atestado dos problemas de relacionamento. Felizmente, em 2020 chegou Peter Jackson (Lord Of The Rings) na vida dos Beatles, com seu novo filme, Get Back, que deverá pôr por terra essa impressão, em favor de um clima de maior camaradagem entre eles.
Bem, voltando ao tema, outras 16 vezes a canção foi ensaiada de 8 a 10 de janeiro, até a hora do almoço, após o qual, George não retornou para trabalhar. Até ali, o arranjo tinha John na guitarra, um baixo galopante de Paul e um backing vocal divertido de John (Tchubap Tchubap - tititititit)! Deixo aqui um LINK com esse áudio). Apenas 10 dias depois, após impor condições (trazer Billy Preston e abandonar o estúdio de filmagem), ele retornou. No dia 21, o do retorno de George, Two Of Us não foi ensaiada, porém um áudio daquele dia foi utilizado para introduzir a versão final do álbum, era John com suas brincadeiras imitando chamada da BBC, antes de um ensaio de Dig It, canção dele, 'I Dig a Pigmy by Charles Hawtrey and the Deaf-aids...Phase one in which Doris gets her oats.'. Bem, após mais dois ensaios da canção no dia 23, dia seguinte eles mudaram totalmente o arranjo, George ficou em sua guitarra, porém nas notas mais graves, simulando o baixo, e John e Paul assumiram seus violões, e após mais 21 ensaios, a canção estava quase em sua forma final, veja aqui, neste LINK, que já está tudo lá, as perfeitas harmonias A La Phil & Don, os dois Beatles breaks, quando tudo para e Paul volta em seu riff no violão, no meio e no final, George firme no baixo improvisado na guitarra, Ringo firme nas mudanças de tempo, e até mesmo os assobios de John no final. Mesmo assim, mais 16 vezes ela foi aprimorada até a sessão final, dia 29, quando resolveram que tocariam várias canções no terraço da Apple, mas ela não estava entre as cinco que foram tocadas. Fizeram as contas? Two Of Us foi ensaiada 85 vezes! Mas não parou por aí. Após o show do terraço, as canções que não foram tocadas ao vivo receberam esforço adicional para registro final em fita, e no mínimo outras 12 vezes ela foi tocada, já que foi o Take 12 escolhido! UFA!
Sempre soube q era uma música sobre John e Paul..
ResponderExcluirA música é fantástica
John e Paul cantando juntos.. nunca mais veríamos isso depois disso
Triste..
Tudo magnífico
ResponderExcluirAdorei o"baixo" do George
Vou chover no molhado.
ResponderExcluir"Os caras eram muito bons mesmo!".
Take it, Phil!
ResponderExcluirDois gênios!! Cantando juntos e encantando também. Muito bem colocado Homerix. Todo comentário seu só nos faz sermos mais e mais fãs. Amo
ResponderExcluirO teu trabalho sobre Os Beatles é cheio de informações sobre o empenho profissional de John. Paol. George e Ringo! Parabéns Homerix! Gosto muito de viajar na psicologia dos ultimos momentos da Banda. A competição subjetivada de Paol com John pela liderança. O drama de George, que sabia da qualidade de suas canções, mas apenas algumas delas eram escolhidas para disco. Quando ele, George, conquista Jonh (existe um audio de uma reunião que foi gravada para o Ringo, que não estava presente, ouvir, de jonh declarando que, daquele momento em diante, George teria direito o por quatro cançoes em cada disco gravado. Em meio a declaração houve uma breve discussão entre Paol e George, mas em seguida Paol aceita a ideia. Só que o proximo disco não aconteceu. A minha mente é povoada com no minimo mais 4 albuns dos Beatles. Sei como seria. Sempre melhores. E não teria para ninguém!
ResponderExcluirvice nos leva ao início do fim de uma jornada que continua nos trazendo alegria e boas recordações
ResponderExcluirOs detalhes de seus posts me fazem compreender um pouco mais história
Obrigado
Yes, yes, yes. Você até mostra mais coisas que eu tinha percebido. Pode ser viagem, mas o burning matches...impossivel não lembrar do caso do início de incendio. Naquele dia foi com Pete Best. Mas podem ter feito coisas assim antes.
ResponderExcluirAcho que você pegou a coisa certa. Ele começou pensando em Linda...e em seguida viu que havia muito para contar se referindo a John. Sim, principalmente you and I have memories...É verdade que emociona pensar nas muitas aventuras juntas.
Olha, tem (ou tinha) uma página chamada Let it Be sessions. Nela podemos ouvir John e Paul cantando essa música das mais diversas formas. E se divertindo muito. John inventa cantar com sotaque escocês...É muito divertido. Claro que John sabia que tinha inspirado muita coisa na letra e entrou dentro na maior felicidade. Eles parecem muito felizes cantando essa música. Numa delas eles se despedem no final desejando boa noite. Good Night, John. Good Night Paul...É de chorar de lindo.
Fizeram um filme sobre um suposto último encontro de Paul com John no Dakota que leva o nome dessa música. Bem escolhido.
Agora quanto ao problema de Paul com George documentado no Let it be...Foi meio inventado. Forçaram a barra. O filme, por mais incrível que pareça, foi editado! Mudaram a coisa para parecer pior. Sabe qual música Paul queria que George mudasse o toque? Exatamente Two of Us. Não foi durante I got a Feeling como nos mostraram. E Paul tinha toda razão porque era apenas um ensaio. Paul queria que ele tocasse de forma simples até entrarem na mnúsica e depois viesse com arranjos.
Olha, eu confesso que nem do jeito que está no filme eu vi problemas. Achei mais do que natural o autor da música querer que soasse do jeito que soava na sua cabeça. Paul fala educadamente o tempo todo. E ficou muito estranho George dizer que faria do jeito que ele quisesse...só que não fazia!
Pelo que entendi George não saiu do grupo por causa daquela conversa. Ele ficou aborrecido porque estava sendo filmado o tempo todo.
Eu já não lembro os detalhes, mas tem um video do Pop goes to the Sixties com explicações sobre esse casa apresentando provas. Vale ver.
Agora o inesperado. Quem foi ligeiramente grosseiro naquele dia...foi George! Está lá provado. Paul sugeriu que parassem um pouco com aquela música. Assim com toda tranquilidade. John aceita. George resolve ser sarcástico dizendo que então voltariam para ensaiar Maxwell Siver Hammer. Foi grosseiro? Não. Eles tinham o direito de brincar e acho que Paul não ligou. Mas foi ele quem insinou que seria tão desagradavel quando foi com a outra música. Sarcasmo puro.
E no final ele pergunta algo para Paul, algo como se estava satisfeito agora...Pauline. Sim ele o chama de Pauline, um nome feminino. Como não sou homofobica não vejo nada demais, mas receio que George quis feri-lo um pouco. Só receio, vai ver que tinham esse hábito e Paul nunca se importou. Mas foi surpresa para mim porque sempre diziam que Paul isso e aquilo...E na verdade George foi o único ali naquele conversa que disse coisas mais ferinas. Provavelmente sem o menor desejo de ofender. Mas que foi novidade para mim, isso foi.
Uma coisa que nada tem a ver mas ...aqui está.Esta música foi tema do meu regresso ao Brasil em 1970. Talvez apenas porque falam 'we're going home"...Ela vnha na minha cabeça o tempo todo durante a viagem. Mas tem o agravante que eu comprei o Let it Be lá no soho! E era Julho de 1970 com muitas músicas do disco sendo tocadas por lá. Inclusive Two of Us.
ResponderExcluirEu de novo. Relendo seu texto vejo que você informa que o diálogo considerado áspero ( mas não foi) aconteceu realmente durante Two of Us. Mas no documentário está como se tivesse sido durante 'I got a feeling'. Ou me enganei? Já faz algum tempo que não vejo Let it be. Não o encontro mais no youtube! Eu o vi no cinema duas vezes aqui em MOC. Creio que foi em 1972.
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