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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Let It Be, mãe Maria disse

Esta canção é a 6ª do Lado A do LP Let It Be, o último lançado pelos Beatles

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 9 canções sobre si mesmos, na Classe Sonho

                                        as demais 8 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

6. Let It |Be (Dream Self Song by Paul McCartney)

Paul sonha com sua mãe: 'Quando eu me encontro em momentos difíceis, Mãe Maria vem para mim, sábia, e diz: Deixa estar. E nas minhas horas sombrias ela está em pé bem na minha frente, sempre sábia, e diz: Deixa estar' 

Isso mesmo, parece que uma constante naqueles tempos, mais precisamente em 1968, Paul, assim como, John, como George, e até como Ringo (como vimos acima) estava preocupado com os rumos da banda, e ele teve uma visão de sua mãe Mary, em sonho, dizendo Let it be.... mas a quem lhe perguntava se Mary não era a mãe de Jesus, ele deixava a critério do avaliador a interpretação. Só não lhe viessem com a esculhambação de dizer que seria Marijuana (maconha), que ele ficava doido. Paul, como John, perdera sua mãe cedo, mas para o câncer de mama, quando ela ainda atuava como enfermeira, e ainda antes dele encontrar John. Aos 14 anos, um Paul arrasado encontrou consolo num violão que seu pai Jim havia comprado recentemente para ele e seu irmão Mike, enfiando a cara no instrumento, e ficando tão bom, que impressionou John no encontro no pátio de uma igreja, menos de 9 meses depois. Foi como uma gestação, sendo a semente, a dor da perda, e sendo o parto, o nascimento da maior dupla de compositores de todos os tempos.  Depois da homenagem, ao mencionar a mãe numa canção, Paul também deu o nome dela à sua primeira filha com Linda, que nasceu em 1969. 
 
Pausa para uma fofoquinha...
À parte desta terna inspiração veiculada, com o nome da canção ditado por sua mãe em sonho, há uma outra, paralela, menos emotiva. Paul contou a Mal Evans, o grande (mesmo) companheiro assistente, antes roadie, para todas as horas, que em uma sessão de meditação (que aprendeu com o Maharishi), ele tivera uma visão com o gigante (metro e 96) amigo lhe dizendo "Let it be" em reposta a suas mágoas com o momento da banda. Verdade ou não, é que na primeira vez que ele a tocou em estúdio, ainda longe de ter arranjos e letras finas, ele cantou 'Mother Malcom', ao invés de 'Mary'.... duas vezes. Era setembro de 1968, sessão para Álbum Branco. Bem, visão da mãe ou do amigo, não interessa.
Fim da fofoquinha 
 
A composição obedece aos critérios Beatle de fazer música, levado ao extremo: não há repetições de letra entre os 6 (seis) versos cantados (!), e ainda tem o requinte de mudar levemente a letra entre um refrão e outro ('Whisper words of wisdom' e 'There will be an answer'! Isso é Paul McCartney. Os Versos 1 e 2 contam o encontro dele com sua mãe em sonho, os Versos 3 e 4 estendem o benefício do conselho aos que estão magoados, com o coração partido, e aos que estão separados por algum motivo, e os Versos 5 e 6 retomam o contato com a mãe mas de uma forma diferente, contando que ela é uma luz que sempre brilha a seu lado. Muito lindo! Lembrando disso, deixo registrado aqui um momento de emoção de Paul, já mais recente, quando ele anda de carro com um apresentador de Talk Show. Realmente tocante, neste LINK. Interessante que a única rima da canção é no fonema 'ee'' ou 'i' em português, 'be-me-see-agree'. Além dos seis versos cantados, há um verso instrumental na introdução, ao piano, e dois acompanhados com solos de guitarra. 
 
Muitos ensaios e versões estavam reservadas a Let It Be, desde que Paul a apresentou oficialmente ao Projeto Get Back, nos estúdios de Twickenham. Já no dia 3, Paul tocou para Ringo, um verso e um refrão, mas de fato mesmo foi no dia 8, primeiro apenas com ajuda de Ringo e John, e ainda usando vez ou outra o incrível "Mother Malcom" na letra, e no final do dia, com a chegada de George, com John já arriscando uns vocais de apoio, mas a canção ainda estava sem forma, nada que valesse a pena ser contado como ensaio. No dia seguinte, a coisa ficou mais definida, por exemplo, John, que começou com sua guitarra, já havia passado ao baixo nos últimos dos 16 ensaios do dia, já que Paul ficaria ao piano, e eles tinham aquela ideia de não ter acréscimos posteriores no projeto, a canção tinha que ser executada integralmente por eles ao vivo. No dia 10, George saiu da banda, voltou 10 dias depois, já com Billy Preston e seus teclados no barco, para quem Paul apresentou a canção no dia 23 e, dia seguinte  Paul ensaiou Let It Be 14 vezes, mas só com seus companheiros de banda. Foram mais 18 vezes no dia 25, mas tudo parecia ainda desconjuntado até que, na última do dia, ele falou para o produtor: "Grave a próxima que será ótima!" E foi! E foi boa o suficiente pra ser lançada no Anthology 3, veja, neste LINK, que ainda não há a letra dos Versos 5 e 6, ele repete a dos Versos 1 e 2, mas a estrutura já está toda lá, com dois bons solos de George em duas vezes 8 compassos do meio da canção, mas ainda sem o órgão de Billy. E a introdução ainda não é a que conhecemos, mas a mesma sequência de acordes descendentes ao piano do final, a chamada coda, que se ouve no final, e em duas vezes no meio da canção, introduzindo os solos. 
 
Vocês viram que os números de ensaios começaram a aumentar, né... pois bem, no dia seguinte, não se perca, dia 26, foram mais 28 vezes! Era a progressão em busca da 'batida' perfeita, agora com a presença do órgão de Billy Preston, em especial na segunda coda intermediária, trazendo um som de igreja à canção.. Houve mais 12 ensaios no dia seguinte e, nos dois dias em que se decidiu fazer (e se fez) o show no terraço, Let It Be foi levada apenas uma vez, com nada de novo. Depois do show, era o último dia do Projeto, pois Ringo começaria a filmar seu novo filme, com Peter Sellers, então ocorreram os 8, na verdade, 9 takes finais, nem todos indo até o fim, todos já começando com a introdução definitiva ao piano, e os que foram até o final, tinham, finalmente, as letras definitivas dos dois versos finais, ufa! Uma das versões foi para o filme Let It Be. 
 
A razão do 'na verdade' ali de cima, é que os takes foram numerados 20 a 27 (!) por causa da claquete do filme, acho que ficaram com vergonha de mostrar no filme que já haviam atingido a marca centenária de ensaios, sim, pode contar, naquele dia seria o 101º ensaio. Só que após o Take 27, que ficou ótimo, resolveram fazer mais um, com o mesmo número, então virou o Take 27b, o primeiro ganhando a alcunha de 27a, escolhido como o melhor. Ufa! Terminou? Nããão! George ficou meses matutando que seu solo de guitarra do escolhido Take 27a não estava como alguns que ele havia conseguido em outros takes, e chamou Chris Thomas ao estúdio no dia 30 de abril para gravar mais um solo, matador, que materializar-se-ia no compacto quase um ano depois. Agora terminou? Nããão! Já em 1970, no dia 4, ocorreu a última sessão de gravação dos Beatles, com Paul, George e Ringo, e George Martin, que trouxe um arranjo de violoncelos e metais para ser gravado e incluído em Let It Be no compacto a ser lançado. Nesse dia, George fez um novo solo de guitarra, Paul tocou um piano elétrico e um chocalho, e Ringo alguma bateria. Finalmente, terminou? Siiiim, no que tange a participação de Beatles no processo, mas não na manipulação de versões, porque, como já se sabe, Phil Spector foi chamado para produzir o LP, e escolheu o solo de guitarra de George do dia 4 para ser lançado no LP, além de aumentar o som dos metais de George Martin, e colocou eco no chocalho de Paul dos versos finais e ressaltou o chimbau (hi-hat) de Ringo nos versos intermediários. Pra mim, afora a escolha do solo mais recente de George, foram ótimas decisões. O solo de George do 'single' é o que mora em meu coração, é aquele que eu toco em meu 'air guitar'. Spector também acrescentou um terceiro refrão ao final, originalmente com dois, desta forma fazendo a canção invadir em um segundo o quinto minuto de exibição de uma pérola, muito admirada e regravada ao longo dos últimos 51 anos.
 
Por incrível que pareça, a canção teve 'mixed reviews', no lançamento do compacto, em março de 1970, tendo exaltadores, e detratores, um deles o próprio Lennon, que achava que aquilo não era para os Beatles lançarem, oh, come on, John! O compacto atingiu 'apenas' o N°2 na Inglaterra, mas não falhou em alcançar o topo nos EUA, garantindo 3 recordes: (1) tal como Elvis Presley, os Beatles tiveram o seu 7° ano em sequência com pelo menos um hit N°1 na parada americana, carregando junto (2) o produtor da canção George Martin, que igualou-se ao produtor de Elvis, mas o (3) é só deles, pois foi a primeira vez que uma entidade compositora, no caso, Lennon/McCartney, atingiu tal feito, tendo ao menos um N°1 em 7 anos seguidos, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969 e 1970... 
 
Quantos mais não seriam, se os Beatles continuassem juntos e lançando canções como My Sweet Lord, Another Day, Uncle Albert/Admiral Halsey, Imagine, Happy Christmas, It Don't Come Easy, Give Me Love, My Love, Mull of Kintire, Band On The Run, Photograph, Live and Let Die, Mind Games, Whatever Gets You Thru The Night, Steel and Glass, With a Little Luck, Just Like Starting Over, Woman, Ebony and Ivory, Tug of War, e tantas outras? 
 
Esta é a questão que fica ... 
e também o conselho de Paul ... 
na canção de despedida dos Beatles... 
Let it be!

3 comentários:

  1. Let it be. Beleza de música. Beleza de história. Tem acontecido uma coisa interessante comigo. É comum eu estar com um problema e de repente a música aparece do nada. O que faço. Canto. There will be an answer. E adoro a versão não gravada em disco com there sill be no sorrow.
    Uma pequena correção. O pai de Paul não comprou um violão para ele. Comprou um trumpete. E Paul até que tocou alguma coisa, mas ele queria cantar...e cantar tocante trumpete ao mesmo tempo não dava. Então ele ´pediu permissão ao pai para trocá-lo por um violão. O pai consentiu.

    A história paralela também é emotiva porque Mal era tudo de bom para eles. Até em excesso. Beijava o chão onde pisessem. Então merecia também um sonho...Mas você não explicou como surgiu a história paralela. Ou seja, se a leu em lugar confiável ou se é coisa que pode ter sido inventada. Paul ter cantado Mother Malcolm não indica que o sonho com a mãe não tenha existido. Indica apenas profundo afeto ao amigão, uma espécie de mãe para ele.
    Nao estou achano o link para ler no blog sobre o cenário de Let it Be. Li no e-mail e não veio link.

    Pois é...John estava atacado, Homero. Completamente atacado, falou bobagens demais no times of trouble...E depois dizia que era mentira. rs rs rs.

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  2. A música que me fez gostar de Beatles
    Simples assim 💓

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  3. Com mais de 101 ensaios, _Let it be_, a última canção dos Beatles, foi inspirada num sonho de Paul com sua falecida mãe Mary, sussurrando palavras de sabedoria (_whispering words of wisdom_): - “Deixa pra lá” (_Let it be_), - “A resposta virá.” (_There will be an answer_). E o conselho da mãe Mary se estendeu “aos que estão magoados, com o coração partido, e aos que estão separados por algum motivo”. Na gravação houve introdução de órgão, piano elétrico, chocalho, e um magnífico solo de guitarra de George. E a dupla Lennon/McCartney atingiu o Nº 1, na parada americana, de 1964 a 1970. “Deixa pra lá”, “Deixa estar” - era o que os fãs queriam ouvir. E eles capricharam: _Let it be_, último LP lançado pelos Beatles.

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