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domingo, 17 de novembro de 2019

Chade Panela? Não, o país!



Cozinha, Bebê, Panela, ou hoje em dia, Bar.

Quem ouve a palavra Chade, dificilmente pensa em algo diferente dessas cerimônias arrecadadoras de utensílios domésticos, ou para recém-nascidos.
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Só que Chade é, falando sério agora, um país meio esquecido, da África Central, ali no limite ente o Saara e o Sub-Saara, um verdadeiro enclave, sem nenhum contato com o mar, pobre, pobre, pobre, mas que um dia se descobriu deitado em um berço esplêndido de petróleo, uma senhora reserva, que seria uma espécie de tábua de salvação. Para chegar ao mar para ser exportado esse petróleo todo passa por um enorme oleoduto que passa por outro país, o Cameroon, que nós aqui chamamos erroneamente de República dos Camarões e não tem nada a ver com eles.

Essa reserva redentora chegava num país com mais de 200 grupos étnicos que brigam entre si, economia agrícola de subsistência, altíssima mortalidade infantil (40 mortes / 1000!!), 60% da população abaixo da linha de pobreza, quase epidemia de AIDS, enfim, uma tristeza. 

Em julho de 2005, o  Banco Mundial organizou uma missão de especialistas  com o intuito de instruir o governo do paupérrimo país africano sobre como lidar com a administração daquela reserva recentemente colocada em produção. Os membros da comitiva éramos eu, mais um da Petrobras, um da Statoil, e um de uma seguradora inglesa, além da própria agente do Banco Mundial. Meu papel era explicar como a Petrobras atuava, sendo uma companhia estatal com grandes reservas de petróleo (e olha que foi antes do Pré-Sal). Meu colega iria recomendar como deveria ser a comercialização daquele óleo. 

Ao chegarmos, notamos logo... os únicos metros de asfalto que vimos era da pista do aeroporto, e da avenida principal da cidade, soubemos que menos de 90% das ruas e estradas do país são de terra. O mais perigoso para nós, entretanto, seria a alimentação, foi-nos recomendado que usássemos água mineral para escovar os dentes e não deixássemos entrar pra dentro nem uma gota na hora do banho, pra se ter uma ideia.

Nossa missão foi bem sucedida, mas notávamos nas reuniões, os olhares dos agentes do governo meio que desconfiados, pois estavam temerosos de que fossem enganados pelas companhias americanas que desenvolviam a reserva redentora.

Já um pouco do sucesso da missão esvaiu-se em água, literalmente, em relação a uma boa parte da comitiva. Ocorre que na última noite, antes de partirmos para o aeroporto, acabamos relaxando um pouco quanto a alimentação. Na escala em Paris, tínhamos algumas horas até o voo de volta para o Rio e fomos passear. Assim que cheguei ao Louvre, entretanto, senti os primeiros sintomas, mas segui firme no propósito de caminhar até o Arco do Triunfo e sentir os ares parisienses. Tive então a oportunidade de conhecer seis banheiros públicos da magnífica Champs Elysées. Outros companheiros também sentiram os efeitos.

Resolvi escrever este post agora, em 2019, quando estou coletando meus relatos sobre viagens, e notei que não havia escrito nada sobre essa peculiar missão. Afinal, duvido que conhecerei outro brasileiro que tenha conhecido o Chade (além de meu colega companheiro de missão). Aí, puxei pela memória e saiu.

Só para completar a reportagem, fui ao site do Banco Mundial pra ver o que aconteceu desde então. Evidente que o petróleo trouxe um salto fenomenal no GDP, vide gráfico, e os indicadores sociais melhoraram, a mortalidade infantil baixou a 30 mortes / 1000 e hoje 45% da população estão abaixo da linha de pobreza, nada brilhantes, mas estão no caminho.


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