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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

She Said She Said: You don't understand what I said. I Said: No No No you're wrong...

Esta canção é a última do Lado A do álbum Revolver 

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 19 canções sobre da Classe DR, das canções sobre Garotas!

as demais 18 canções do mesmo Assunto e Classe, aqui, neste LINK


7. She Said She Said (Dtr Girl Song by John Lennon)

John argumenta "Ela disse: Você não entendeu o que eu disse.' Eu disse: 'Não, não, não. Você está errada! Quando eu era um garoto, tudo era certo, tudo era certo."  

Olha, sempre gostei dessa canção, sua guitarra pesada, a bateria inspirada, a valsinha lá no meio, o vocal de John (como sempre), e tal, e sabia algo da inspiração, mas apenas recentemente, atinei para a interessantíssima história de sua gravação.
Vamos à ordem natural da coisa: a inspiração! Os Beatles estavam na turnê americana de 1965, e descansavam num resort na Califórnia, rodeados de convidados famosos e convidadAs, algumas delas estrelas da revista Playboy, sabem o que eu quero dizer. John e George haviam experimentado LSD em New York, e estavam com a firme intenção de trazer Ringo e Paul para a mesma ‘viagem’. Foram bem sucedidos com Ringo, mas Paul (Paul? Cadê Paul?) resistiu, mas viria a viajar posteriormente. Enfim, o ambiente era de sexo, drogas e até rock and roll, este último só na inspiração, os outros dois, direto! Peter Fonda, ainda antes de Easy Rider, era um dos convidados e, a cada cinco minutos, dizia: “Eu sei o que é estar morto!” Foram muitas as vezes, John se encheu da lúgubre companhia dele, mas guardou a frase “I know what is like to be dead” e respondeu na última vez “You make me feel like I’ve never been born”, que ele guardou no bolso também, mas só no ano seguinte, vieram a melodia e o resto da letra, com alguma colaboração de George, na ponte! Paul? Cadê Paul? John resolveu colocar as palavras de Fonda na boca de uma mulher (“She said”), e a canção virou uma DR de casal. O primeiro verso é “I Said” tra-la-lá, o segundo verso é “She said” tra-la-lá, “eu disse, ela disse”, pronto, típica DR, inclusive na ponte, que está expressa no título do post, e traduzida aqui em cima, no caput!!! Depois da ponte, vem um terceiro verso, com letra diferente, olha a norma Beatle em ação, sem repetição. Já em rimas, são poucas, e todas num único fonema “éd”, veja: “said-dead-sad-mad-head”. Depois da repetição da ponte, vem um quarto verso, porém como repetição do terceiro. Isso é permitido no manual, hehe...
Agora, o inusitado. Veja o cenário!  
A última sessão de gravação de Revolver fora em 17 de junho. No dia 21, os quatro Beatles foram a Abbey Road para acompanhar a primeira sessão de mixagem. Numa bela hora, alguém reparou: "Gente, tem só 13!!". Era quase regra que os LPs deles teriam sempre 14 canções (apenas A Hard Day's Night tivera 13, mas eram TODAS Lennon/McCartney). Todos os olhos se voltaram para John! E ele não decepcionou: "Tenho esta musiquinha aqui!" e cantarolou She Said She Said, para estupefação geral. E 'bora descer pro estúdio. Eram 7 da noite, após um dia inteiro de mixagem!!! Mal Evans coletou guitarras dos armários, montou bateria e bora ensaiar, não era o plano, o chão de estúdio estava vazio, varrido, encerado, pronto pra próxima banda dia seguinte. Não tinha outra data... dois dias depois eles partiriam pra excursão à Alemanha, Japão e Filipinas! Bem, ensaiaram, ensaiaram, ensaiaram, perto de 25 vezes até John mandar ligar o gravador. E gravado ficou: John na guitarra base, George no baixo, Ringo na bateria. Paul? Cadê Paul? E depois foram três takes até John considerar ok!! E então vieram os overdubs. George na guitarra solo, mais George em sua guitarra 'indiana', Ringo no chocalho, e John no órgão Hammond (uma nota só ao longo de toda a canção). Paul? Cadê Paul? E veio o magnífico vocal de John e o magnífico backing vocal de George e ... Paul? Cadê Paul? 
Pois é... algo houve durante os ensaios, alguma desinteligência sobre os arranjos, entre o baixista Paul tentando dar o melhor de si para a canção que acabara de apender, e John, seu exigente compositor, e Paul disse: "Oh, f##k you!". Pode até ter acontecido o diálogo do título do post, trocando "She saidpor "He said", claro, no começo da discussão! Uma verdadeira DR entre amigos, com o abandono de um deles do pedaço. Os três remanescentes olharam um para o outro e disseram: "Well, we'll do it". E George assumiu o baixo, deixou a guitarra para os overdubs, deu o melhor de si. Depois dos overdubs, de volta à mixagem, mais um par de horas, e She Said She Said estava pronta, às 4 da manhã do dia seguinte, sem NENHUMA participação de Paul! Foi a primeira vez que isso aconteceu!
Mas olha, sabe aquela característica dos cegos, que compensam um pouco sua desventura, com uma audição, e um olfato privilegiados, ou um surdo em relação à audição e visão? Foi o que aconteceu em She Said She Said. Ringo e George mostraram ápices de suas competências na bateria e guitarra e compensaram a ausência do amigo. No baixo, George foi apenas burocrático no baixo, afinal não era sua physique-du-role, mas ele extrapola na guitarra, distorcido, presente, arriscando, ecoando as notas de John nos versos. E note como Ringo está agressivo em sua bateria, praticamente acompanhando as notas do vocal de John, e nos ecos de George na guitarra, e depois especialmente vigoroso nos pratos, e depois mudando o tempo para um 3 por 4 na ponte em valsa, e depois no final, acelerando a bateria, um show, considerada seu melhor desempenho até então. E George também super-atuante na harmonia vocal, fazendo a gente nem sentir falta do vocal agudo de Paul! 
E como é que uma canção de última hora, gravada às pressas e com discórdia na banda chega a tamanha repercussão? É porque era John Lennon, é porque era Beatles. She Said She Said foi considerada, juntamente com I'm Only Sleeping (já analisada) e Tomorrow Never Knows, que fecha o álbum (a ser analisada por este escriba), como o tripé inaugural da era psicodélica. E não ficou por aí, a unanimidade de recepções positivas atingiu ninguém menos que o Maestro Leonard Bernstein, admirado pela mudança no tempo (lembrem da valsa na ponte). Vou deixar aqui sua declaração original: "... remarkable song ... and demonstrated its shift in time signature as an example of the Beatles' talent for inventive and unexpected musical devices in their work". Então, é tão marcante essa mudanã de tempo, que eu fiz questão de deixar aqui pra vocês, neste LINK. 
Para finalizar, procurava eu por uma imagem para ilustrar o post e encontrei essa capa de compacto, que unia She Said She Said e Good Day Sunshine, justamente a canção que virá em seguida, e achei-a perfeita para ilustrar a presença de Paul, com uma breve edição de minha parte. Afinal, são duas canções com sete Beatles tocando, então, na média, três e meio em cada uma (ah, as estatísticas...), e o Beatle pela metade está bem claro em minha edição! Só não consegui achar aonde esse single foi lançado! Quando algum especialista me informar, eu corrijo aqui!! Essa é a beleza do blog!! Sempre disposto a  aceitar alterações!

 

5 comentários:

  1. Será q se Paul participasse da gravação a música teria ficado melhor..? Com certeza a parte do baixo sim.. é uma música pesada e muito original!

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  2. Interessante essa ausência de Paul numa gravação dos Beatles. Somente soube a respeito esse fato nesse blogue. Fui bisbilhotar na Wikipedia para saber um pouco mais sobre essa canção e me deparei com um detalhe até então para mim despercebido. Encontra-se lá registrado:
    "É curioso se ouvir os dois únicos beatles que estão falecidos cantar um refrão que diz "I know what is like to be dead" (Eu sei como é estar morto)."
    Não se trata de um fato excepcional, mas concordo com o redator: é curioso.

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  3. INCRÍVEL E FANTÁSTICO

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  4. Eu também desconhecia a ausência de Paul nessa gravação. Mas, talvez por não estar o "maestro" Paul, os 3 foram bem soltos e criativos. A guitarra do George está excelente, assim como a batera.
    É fantástico o atropelamento dos compassos na bridge: John canta e vai quebrando os tempos. Ringo, que não é besta, vai apenas marcando o tempo, sem dar ritmo ou viradas.
    Canção genial. Mostra como gênios tiram coelho da cartola quando necessário.

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  5. O que li por ai, e portanto pode não ser verdade, é que o motivo da briquinha foi por Paul ainda se recusar a experimentar o LSD. Ficaram caçoando dele, sento taxado de careta...e ele ficou indignado. Por isso saiu do estúdio. Deve ter se arrependido depois ao ver a alta qualidade da música.
    Bom lembrar que Berstein também elogia Good Day Sunshine no mesmo video. Ou me enganei? Vi o vídeo faz algum tempo. Mas acho que ele comenta sobre Good Day Sunshine também.

    Também ouvi dizer que John ficou de papo algum tempo com Peter Fonda. Ele teria achado curioso aqui pois Fonda não parava de repetir a mesma frase. Então ele ficou ali querendo entender mais. E que grande parte do diálogo está na canção.
    Pena que teve de mudar para "she" quando se tratava de "he". Mas dá para entender

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