Este é o 2º Capítulo do Projeto "As Décadas sem os Beatles"
O Prefácio com seu racional, disponível neste LINK
Capítulos Anteriores
1. A Década de 1970 - Going Solo - neste LINK
Capítulo 2
A Década de 1980 – 10 Anos de Luto
Eu defino os anos 1980 como a Década de Luto. Não foi fácil rompê-la com a mancha de ter um companheiro inconcebivelmente assassinado, sem a menor razão… enfim. Paul nem lançou nenhum single naquele ano, George, sim, mas para fazer homenagem: adaptou uma canção que fizera para Ringo gravar, acrescendo letras exaltando o finado amigo, e lançou-a ele mesmo em 81, com a participação dos outros dois Beatles, All Those Years Ago.
Paul fez Here Today no ano seguinte em homenagem ao parceiro, e sempre chora quando a canta ao vivo, em todos os shows, religiosamente. O álbum em que foi lançada, Tug Of War, topou paradas US e UK, vendeu milhões, foi bem recebido pela crítica, ótimas canções, dentre elas, uma sensae teve um single Nº1 mundial, Ebony and Ivory, um dueto com Stevie Wonder,
Outro dueto de Paul também chegou no todo da parada, um ano depois, com Michael Jackson em Say Say Say. Era a segunda vez em que fazia dueto com o Rei do Pop, ficaram amigos, até que Paul sugeriu a ele que comprasse catálogos de artistas famosos, pois era um bom negócio, e ele aceitou a ideia: comprou o catálogo de uma banda chamada The Beatles, por 47,5 milhões de dólares, em 85!
Em 87, Paul lançou All The Best, a 1ª coletânea cobrindo toda a carreira solo, pré e pós Wings. Teve duas versões, e eu descobri isso da pior maneira. Assim que chegou, eu comprei, 17 canções, fui ouvindo, ouvi, acabou e … cadê Mull of Kintire? Eu sabia que tinha!! Tinha ficado na outra versão…. Eu comprara a versão americana, que tinha Junior’s Farm no lugar…. E eu nem conhecia… Não tive dúvidas, assim que pude, comprei a versão britânica! Foi um grande sucesso em UK (2º lugar) mas nem passou perto nos EUA, incrível… acho que até devem ter se arrependido das escolhas! Foi ali a primeira vez que tive acesso a No More Lonely Nights, linda balada de Give My Regards to Broadstreet de 1984, filme em que foi também ator, junto com Linda e Ringo, com bilheteria fraca e crítica idem, mas trilha sonora de primeira, chegando ao topo em seu país.
Em 88, Paul fez um lançamento exclusivo para o mercado soviético, CHOBA B CCCP, que quer dizer 'Back to the USSR', apenas com covers do bom Rock And Roll, e uma surpreendente interpretação de Summertime, sim, de Gershwin, sem dúvida inspirado na grande Janis Joplin.
A década terminou para Paul com um elogiado álbum, Flowers in the Dirt, que topou a parada em UK, e seu carro-chefe era My Brave Face. O álbum foi levado na excursão mundial que começou em 89 e culminou com dois shows em abril de 90 no Maracanã, um deles um recorde mundial imbatível, 184 mil pagantes em show de um artista solo, e eu era um deles. Naquela excursão, finalmente ele perdeu os pudores, e começou a tocar canções da época dos Beatles, sem medo de ser feliz! O CD Triplo que retratou a excursão, Tripping The Live Fantastic, foi um sucesso mundial, vendendo mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos. Depois de um 1981 virgem em singles, em homenagem à perda de John, a década viu 25 lançamentos de Paul, mas outros Nº1 apenas em lançamentos beneficentes e só em UK.
George lançou dois álbuns em anos seguidos, sem muito sucesso, e ficou cinco anos parado, aparecendo aqui e ali como convidado, para voltar em 87 com Cloud Nine, um LP elogiado, e nele um single que o levou a mais um Nº1 na América, a ótima cover I Got My Mind Set On You, com direito a um divertidíssimo clipe, e, falando nisso, uma outra peça de outra canção do mesmo álbum, When We Was Fab, concorreu aos Melhores do Ano. Mais para o fim, George se animou e criou em 88 uma banda estelar, juntamente com outros monstros Roy Orbison, Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne, a que chamou The Travelling Wilburys, com seu primeiro disco batendo o 3º posto da parada americana, com destaque para a ótima Handle With Care.
Um segundo álbum, já sem Roy Orbison, que morrera entre os dois, ironicamente chamado Volume 3, teve sucesso comercial, ainda que menos brilhante nas paradas. No mesmo 1990, a banda ainda participou com a ótima Nobody’s Child,canção carro-chefe do lindo projeto homônimo tocado por George, inspirado por sua esposa, em benefício de crianças romenas abandonadas em orfanatos no período pós União Soviética. Era um CD com canções compiladas pelo eterno Beatle. Um ótimo disco, para fechar a década de George com chave de ouro, com participação, Elton John, Guns and Roses, Ringo Starr, Paul Simon, Van Morrison, Bee Gees, Stevie Wnder, Billy Idol, veja só, presenças estelares. No total, foram 16 singles na década, sendo 6 deles com o Travelling Wilburys! Um deles merece destaque, até pela forma como o conheci: acabara de assistir a Máquina Mortífera II na telona e reconheci uma voz e uma guitarra na canção que acompanhava os créditos... era Cheer Down, que posteriormente abriu o LP com a trilha sonora do filme.
Era muita honra ter um Beatle em seu projeto.
Aliás, antes de virar a página para nosso querido Ringão 80, vale o registro da experiência do nosso guitarrista predileto em produção de filmes. Sua Handmade Films, que começara ainda na década anterior, com o prestigioso A Vida de Brian. Sua amizade com o grupo Monty Python foi a inspiradora da iniciativa e ele produziu também Time Bandits. Produziu um total de 25 filmes, alguns dos quais bem sucedidos, mas com um fracasso memorável, mesmo tendo a presença de Madonna e seu marido Sean Penn, Shanghai Surprise, para o qual fez algumas canções, pouco inspiradas.
Ringo se casou com Barbara Bach em 81, e continuam juntos até hoje, assim como unidos estiveram no alcoolismo, e em sua cura, no final de 88, ambos abstêmios desde então. Foi o primeiro Beatle a se tornar avô, em 85, com a filha de seu filho Zak, também baterista. Foram apenas dois álbuns lançados na década, ambos com pouco sucesso. No primeiro deles foi veículo para canções de Paul e de George, esta última até expressando seu estado mental, em Wrack My Brain.
Animado com a nova vida sem álcool, Ringo resolveu partir pra estrada e montou sua primeira All Star Band no final da década, cantando seus sucessos solo e também as que cantou e compôs na época dos Beatles, e dando oportunidade a cada um dos outros integrantes cantarem suas canções. A prática continua firme até hoje, com componentes sempre diferentes. Ringo decerto é o artista com mais amigos no mundo do rock. Na época, disputava com George, que conseguia unir aqueles astros todos num projeto de caridade! Não se podia dizer o mesmo de Paul…aneta descoberto em 84 nomeado 4150 Starr, em sua homenagem, e pra terminar muito bem a década, Ringo foi nomeado para o Day Time Emmy de 89 por sua performance como Ator em uma Série para Crianças. Ringo e sua banda ainda cederam uma gravação de With a Little Help From My Friends para o projeto de seu amigo-irmão George, Nobody’s Child, fechando o disco com louvor.
Musicalmente, a década terminou para Ringo com chave de ouro, com uma sensacional gravação ao vivo de I Call Your Name, composta por John, numa ‘celebração’ do 10º aniversário da morte do amigo e 50º de nascimento. Eu sempre achei que a canção deveria ter sido a 14º de A Hard Day’s Night e na voz dele mesmo, mantendo a tradição de 14 canções por álbum, sendo uma delas o momento do baterista durante a carreira dos Beatles, que aconteceu nos primeiros 6 álbuns. Nesta versão ele se mostra perfeito ao efeito!
Em termos de Beatles como banda, a década trouxe o lançamento de toda a obra em CDs. O primeiro CD dos Beatles que apareceu na face da terra foi justamente o último gravado, Abbey Road, ainda em 1983, e no Japão. Os demais álbuns (e Abbey Road de novo) foram lançados pela EMI nos anos de 1987 e 1988, e com o bônus do lançamento das duas melhores coletâneas da história, em minha opinião: Past Masters #1 e #2, contendo todas as canções oficiais dos Beatles que não haviam sido lançadas em LPs oficiais, mas em singles e em um LP beneficente, de 69, No One's Gonna Change Our World!
Genial, mas incrivelmente sem chegar ao topo nas paradas! Tão boas que foram incorporadas ao catálogo oficial, fazendo com que toda a obra da maior banda da história pudesse ser apreciada em 15 CDs (um deles duplo). A coleção, que adquiri assim que pude, foi instrumento de minha retomada pela paixão, depois de faculdade, emprego, casamento e filhos, ficava horas ouvindo aqueles 15 CDs, acompanhando com as letras, e também com a história das gravações das canções. O primeiro som digital Beatle que ouvi, no recôndito do lar, foi a voz de John murmurando 'Shoot', o baixo de Paul modulando e os tom-tons de Ringo.... a guitarra de George entrando de mansinho, crescendo no refrão, e arrebentando no final em esplendoroso duelo com o cantor...
Box Set lançado em 1988 na Inglaterra e nos Estados Unidos - Inveja define... |
Ademais, a década registrou a condução dos Beatles ao Hall da Fama do Rock And Roll em 1988, em cerimônia sem a presença de Paul, que não quis ir porque os outros três, quer dizer, George, Ringo e Yoko, o estavam processando por desconfiarem de sua honestidade na divisão das receitas da Capitol. Tudo foi resolvido num jantar poucos dias depois, onde, após esclarecer-se a situação, vislumbraram a possibilidade do grande projeto da década seguinte, sobre o qual falarei em breve.
Pra não dizer que não falei do amado John, Yoko lançou em 1984 o álbum póstumo Milk And Honey, que tinha o restante das canções gravadas pouco antes de sua morte, e, ao rememorar-se 10 anos do fato, uma coletânea com 4 CDs, organizada por Mark Lewisohn, grande biógrafo da banda, percorrendo sua carreira solo, coleção que eu prezo muito, e está em destaque em minha estante, apesar de ter sido retirada de seu catálogo oficial. Foi apenas ali que conheci algumas canções, entre elas uma linda canção de ninar que ele deixou para Sean… Beautiful Boy.
Trecho de Beautiful Boy
Finalizo o relato da década com os destaques daquele Leite e Mel, que seria, na interpretação de Yoko, o que havia nos lugares que as pessoas iam quando morriam…: um magnífico rock Nobody Told Me (… que haveria dias como estes…), que fez bonito nas paradas, chegando ao Top 10 em ambos os lados do Atlântico,
Trecho de Nobody Told Me
e, tristemente, Grow Old With Me, canção que John fez para Ringo gravar, mas que nosso amado baterista não teve condições emocionais de fazer, pois expressava o desejo de envelhecer do compositor, direito que lhe fora tirado violentamente.
Pausa para mais uma lágrima…
Ringo realizaria o desejo de John, gravando a canção no novo milênio.
Mais Décadas sem Beatles?
Em futuras edições do Submarino Angolano!
Próximos Capítulos:
A Década de 1990 - Antológica
A Década de 2000 – Naked Love 090909
A Década de 2010 – A Década dos 50
A Década de 2020 – The Get Back Decade
Sim, do luto. Acho que o luto ainda continua de certa forma.
ResponderExcluirRingo me parece ser aquele com mais amigos, sem dúvida. Não estou bem certa a respeito de George porque foi apenas um projeto. Mas Ringo, assim ouvi dizer, ele chama a turma para os shows e todos dizem sim na hora. Anualmente. Até Jack Bruce! É demais. Eu bem que gostaria de ver um show dele...Nunca tive a chance. Tenho um DVD muito bom mesmo! Ele conseguiu uma proeza. O único que pegou uma canção gravada pelos Beatles e a aprimorou. Don't pass be by é ainda mais saborosa com All Stars Band.
A bem da verdade...Paul também reuniu um mundaréu de estrelas para seu concerto beneficente em 2001. Mas isso foi em outra década. Nos anos 80 realmente ele andava isolado. E de luto ainda por cima. Nem tinha como celebrar nada com amigos.
Amo a história do Travelling Willbury. Reconheço porém que ela vem em diversas versões. Impossível saber qual a certa. Mas eu meio que acertei numa coisa. Não cem por cento, mas quase. Veio aquela impressão que George queria recriar um clima Beatle. Que estava decepcionado com essa coisa de carreira solo. Bem que avisei a todos daqui em pensamento que isso era bobagem, mas não me ouviram. rs rs rs. E que tal uma banda só amigos como nos velhos tempos? Jeff Lynne teria sugerido assim ao sentir sua solidão. E ele disse sim, mas teria um problema. Sem Bob Dylan não teria como. Fazia questão dele. Jeff teria dito que então não haveria banda alguma porque evidentemente Dylan não aceitaria. Foi quando fiquei sabendo que Dylan jamais diria não a nada vindo de George. Gostava imensamente dele. Amigos querendo falar com Dylan sem conseguir pediu ajuda de George. E ele os atendia porque George tinha pedido.
Mas para fazer uma banda...mesmo sendo só para uma música...Porque o projeto original seria um simples e nada mais. Duas músicas. George disse que a lua estava perfeita naquela noite. Foi a lua, só podia ter sido. Bob Dylan aceitou! Com apenas uma condição: o disco teria de ser gravado lá na casa dele em New York. No estúdio dele.
Tudo certo. George, Jeff e Dylan...um belo trio. George porém sonhava com a presença de Roy Orbison para lembrar dos seus tempos de adolescente...Resolveu não pensar mais nisso. Bateu para Nova York.
Lá chegando resolvou ir até a casa de Tom Petty pegar sua guitarra que tinha deixado lá há algum tempo. Ao contar sobre o projeto Petty perguntou se podia fazer parte. Claro que sim.
E quem estava no estúdio de Bob quando lá chegaram? Roy Orbison! rs rs rs. Por acaso!
Continuando. Não sabiam o que gravariam. Mas havia uma caixa no estúdio escrito Handle with Care. E pronto. Ali estava a inspiração. Gostaram tanto que resolveram fazer um álbum! E depois resolveram fazer outro. O de número 3. Ideia de George e seu humor Beatle. Seria para que todos buscasse o número 2...inexistente. Se bem que existe sim. Com Runaway. Só Runaway.
ResponderExcluirQue mais? George resolveu que seria bom brincar...Formariam uma família. Inspirou-se logo onde? Partridge Family, que ele gostava de ver na TV...Quase caí pra trás ao ler isso. Porque eu amava A Família Do Re Mi. Agora veja como ele estava carente! Queria poder gravar com...irmãos. Fingir que eram todos irmãos. Como nos tempos dos Beatles. Dedução minha. E ainda inventa uma música falando em Twist and Shout! Se isso não é saudade nada mais é.
Em que acertei? Nisso aí mesmo. Não cem por cento porque não veio comprovação que ele sentia saudades dos Beatles. Mas veio comprovação que tinha sido vontade enorme dele de estar num estúdio cercado por amigos! Tom Petty deu uma entrevista dizendo que aquela aventura tinha sido coisa de George querendo demais poder tocar, cantar e compor com amigos do peito. O que isso significa também? Carreira solo não foi bem do agrado dele. Não dava a mesma alegria.
A má ideia foi Wilbury...Veio da mania que tinham de dizer que iam enterrar isso e aquilo...Tudo que achavam que não era preciso..."We Will Bury it". Vai então que tiveram de enterrar Roy Orbison. George sonha com Del Shannon fazendo parte ...e Del Shannon morre antes de entrar...Pouco depois George também vem a falecer.