Depois eu conto como conheci o autor.
Não, não, coloco a peça aqui, já pra impressionar, como ME impressionou.
O nome da peça é 'Passado Futuro'.
A peça é uma canção! Uma canção falada, declamada, um RAP, puro, raso, sem concessões.
Rythm And Poetry
na definição de suas iniciais...
O nome do autor é Vitor Brauer, esse que está aí agachado, mineirinho de Valadares, e em pé, o Felipe ali à esquerda, e amigos super gente fina que ele arregimentou no Rio pra uma nova banda, a que deu o nome de Xóõ, difícil de pronunciar e até de escrever, duas letras acentuadas seguidinhas. Além de tocar guitarra e violino, Felipe fez também a mixagem do disco aqui em casa, e por isso eu conheci 'Passado e Futuro'. E ouvi as demais faixas. E vi que ele tinha muito a dizer.
Note que ele faz uma breve história da humanidade em três minutos e meio, assemelhando-a a uma pessoa, com nascimento, infância, puberdade, vida adulta e velhice... 'o Século XXI é um recém-nascido e já está envelhecido' e termina com 'nenhum momento é trivial, desde a nossa morte até o nosso nascimento'... O som que ele produz é forte, pouco acessível, devo dizer, mas as letras são intrigantes, conflitos existenciais, relacionamentos pessoais, considerações políticas, enfim, conteúdo rico!
Seus outros projetos são as bandas Lupe de Lupe (sua base lá de BH), Desgraça (onde toca bateira), e Sem Sair na Rolling Stone. Este último é um dueto com a baterista Larissa Conforto, com quem fez duas turnês longas pelo Brasil. Ele não tem medo de estrada, teve várias vezes que veio de BH numa tarde, fez show aqui e voltou na mesma noite. E a idade do carro... é preciso coragem.
Nessa linha ON THE ROAD, numa situação inusitada, ano passado, ele cumpriu a turnê 'Férias da Mamãe'. Usei esse estranho verbo ('cumprir') para dar ação a esse objeto direto ('turnê') porque foi baseada numa promessa que ele fizera a ela lááá atrás, de que um dia ele a levaria com ele em turnê pelo Brasil. Enfim, ele cumpriu a promessa. Só que pegou o carro dela, em melhor estado que seu velho de guerra!! Não iria arriscar a mãe naquela sua querida lata velha! E olha só a agenda!! E foi toda cumprida (3ª vez que usei o verbo num mesmo parágrafo), ficando na casa de amigos ou em hotéis de baixo custo! E sem se importar se haveria público ou não! No show do Rio, ele e sua mãe ficaram aqui em casa. Eu fui ao show, só ele e o violão, e menos de 20 fãs!!! Figuraça!
Finalmente, chegamos ao livro. Interessante que ele foi feito para recompensar investidores do 'Apoia-se', um crowdfunding mensal do autor, uma das razões por que ele consegue se manter em projetos tão alucinantes, ele tem muitos admiradores! Só que a procura pelo livro foi grande e Vitor resolveu publicar. Como está em seu site 'Seu livro é um retrato de um jovem mineiro de personalidade multifacetada que possui um desejo ansioso de ir e vir o tempo inteiro'. Capa monocromática (em roxo), sem uma palavra, nem o nome do livro nem o do autor, apenas a figura de um ornitorrinco, sem contracapa, sem orelha, sem perfil, sem nada, mas com muuuito conteúdo. Li em quatro ou cinco bicicletadas, e sempre tinha vontade de continuar. São 12 contos, sem nome, apenas numerados, de 12 a 1. Quando percebi isso, tive ímpetos de começar pelo primeiro.... e até fui... mas resolvi voltar à ordem normal...
Lembrei-me do filme 'A Estranha História de Benjamim Button'.
A numeração apresentada aqui é inversa à apresentada no livro.
- Um moribundo idoso (80 anos?), quase num epitáfio, despedindo-se das figuras com quem contracenou pela longa vida, sem mencionar nomes, apenas situações, genial, que capacidade de citar personagens, numa métrica de ¾ página!!
- Uma fazendeira (60 anos?) com câncer se lembra de toda a sua vida (e que vida!), num parágrafo único de 13 páginas sem sair de cima, fôlego, métrica intensa! Daria certamente um filme!!
- E o terceiro é, na verdade, um roteiro, de uma peça ou de um filme, passado no futuro, com quatro cavalheiros (40 anos?), daria mesmo uma peça ou um filme, na verdade, uma peça, porque termina com um 'CORTINA', mas penso que há materialidade para um filme!!
- Uma noiva balzaquiana (35 anos?), faz um planejamento detalhado de um casamento, igreja e festa, com cardápios, vestuário, orçamento, um ano antes, e depois vai apontando os fatos marcantes, num diário com acompanhamento até chegar ao grande dia, por onde vamos sabendo de detalhes da vida dela, alguns até mórbidos... e vamos parar com spoilers, só descreverei os personagens dos últimos contos(?!), apenas para atestar a sensação de Benjamim Button que se acometeu sobre minha pessoa, e vou usar a descrição do site (a idade é minha estimativa)
- um jornalista arrogante (30 anos?),
- dezenas de jovens numa boate, (25 anos?)
- dois universitários (20 anos?),
- um adolescente suburbano (17 anos?),
- uma jovem em seu baile de debutante, (15 anos?).
- um pré-adolescente em um retiro espiritual (13 anos?),
- uma raposa menina (10 anos?), onde aparece o ornitorrinco e
- uma criança recém nascida.
Sangue, sexo adolescente, crime na night, drogas, ciúme, preconceito, dramas existenciais, costumes urbanos, religião, política, discussões filosóficas, e até uma fábula cheia de mensagens do alto de seus 30 anos, Vitor discorre com autoridade, fluidez, com ótimos diálogos, em situações mais que plausíveis do cotidiano, acredito que tenha vivido algumas delas, decerto não todas, e pode também tê-las ouvido, decerto não todas, o que confere ao texto uma realidade ímpar!!!
Vou terminar este texto como comecei
Comecei com a primeira música do Xóõ...
Terminarei com a última música de Xóõ...
E por que eu termino com ela? Porque ela me emociona!
Por ser uma declaração de amizade...
Ou de sorte e amizade, como diz o Vitor.
Ela se chama 'Créditos' e conta como e por quê a banda foi formada.
Muito muito muito legal!
Aqui, um trecho da longa letra.
Vou terminar este texto como comecei
Comecei com a primeira música do Xóõ...
Terminarei com a última música de Xóõ...
E por que eu termino com ela? Porque ela me emociona!
Por ser uma declaração de amizade...
Ou de sorte e amizade, como diz o Vitor.
Ela se chama 'Créditos' e conta como e por quê a banda foi formada.
https://www.youtube.com/watch?v=oNMKppLq4P4
Muito muito muito legal!
Aqui, um trecho da longa letra.
Minhas letras são
a janela da minha alma,
a porta do meu espírito.
"Eu me sinto muito sortudo de ter gente que me ama pelo jeito que eu sou, eu me sinto muito sortudo de ter gente que me ouve e que me respeita pelas coisas que eu produzo e pelas coisas que eu falo.
E no final de tudo, eu me sinto muito, muito sortudo por ter esses amigos que eu tenho e por ter feito esse disco
Mesmo que eu morra amanhã, esse disco estará aqui.
Eu sou muito sortudo de ser feliz e de ser mais amado do que odiado nesse mundo"
Vitor Brauer veio para dizer!
Vitor Brauer veio para ficar!
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