Olá! Caso se interesse pelo livro,
Pois que então, após interromper meu périplo pelos clássicos, através das boxes que comprara na última Bienal, passei por duas biografias (ou quase) e ao longo do caminho fiz o melhor acompanhamento de minha vida do Oscar (com 10 resenhas de filmes), e da noite da Cerimônia de entrega, e ainda uma análise sobre seu melhor discurso, retomei a leitura para finalizar a caixa de Mário de Andrade, com a leitura 'Amar - Verbo Intransitivo', sensacional!
Meu histórico com o escrito da Semana de Arte Moderna começou assim, assim, com 'Paulicéia Desvairada', que eu admirei, apenas, mas aí veio 'Macunaíma', que eu reputo comparável a 'Cem Anos de Solidão', pra você ter uma idéia. E eu estava nessa expectativa, se o terceiro baixaria a bola do autor ou a manteria lá no alto!
Venceu a última!!
Que título, não?! Não consegui imaginar do que se tratava, pensei que fosse uma discussão mais filosófica sobre o verbo, porque chamando-o de intransitivo, o autor o desproveria de objetos, fossem diretos ou indiretos, reduzindo-o à simples sentimento de amar. Amo, apenas amo! Sem pessoas, sem personagens, enfim... Mas que nada, e que bom, que há objetos no livro e muito interessantes, e excitantes.
Conta a história de uma Fräulein, que até tem um nome, mas que 99% das vezes é referida por Fräulein, que quer dizer 'senhorita' em alemão, e normalmente atrelada à figura da governanta, que é contratada basicamente para cuidar das crianças de uma casa, de sua educação e comportamentos, e é exatamente isso do que trata o livro. A família é da sociedade paulista da segu década do Século XX, tem um filho adolescente e duas meninas menores, e um mordomo japonês, e uma criada menor de idade. E a Fräulein, como não poderia de ser, é alemã!
Logo no começo, o autor nos instiga a imaginar a aparência física de Fräulein, já admitindo que dificilmente conseguiria remover do leitor a imagem que nós teríamos assim que lêssemos a palavra Fräulein. BINGO! Nem adiantou eu ler a descrição que ele fez, a ignorei de imediato, porque é IMPOSSSÍVEL desatrelar a imagem da Fräulein da imagem de Julie Andrews, marcada que está desde minha infância profunda, com os inesquecíveis filmes 'A Noviça Rebelde' e 'Mary Poppins'. E não foi só esta vez que o ator conversou comigo, outras houve, marcantes da era modernista.
Bem, quando ficou claro o principal motivo da contratação de Fräulein, até que eu tive que mudar um pouco minha imaginação, pois não dá para continuar pensando em Julie Andrews seduzindo um adolescente para iniciá-lo nas belezas do amor, tirando da cabeça dele as atrações mundanas das rua da grande cidade, e a proximidade da bebida e das drogas (já na época falava-se dos perigos da cocaína, já era preocupação das famílias!!). Alguns dirão que dei spoiler, mas não... já há dicas logo nas primeiras linhas, eu que não as percebera.
Sua escrita segue com um perfeito uso do idioma, construções gramaticais notáveis, uma valorização da coisa brasileira, um conhecimento das expressões impressionante, e da fauna e da flora, então, claro que menos que em Macunaíma, mas ainda muito presentes. Adorável também é o uso de seus verbos duplicados, como 'brincabrincava', 'voavoando', que aprendi na saga do herói sem caráter, que correcorria pelo Brasil.
Uma descrição memorável dos cenários, e das relações patrões-empregados, e imigrantes-nativos, das diferenças Rio-São Paulo, aliás, hilariante é o relato da viagem de volta, de trem, do Rio para São Paulo, parecia cena de filme familiar de sessão da tarde, sensacional!
É isso, amigos, não deixem de conhecer Fräulein, aaaah, Fräulein...
Homerix,
ResponderExcluirQue delícia de postagem! o título também provocou-me o interesse pela possibilidade de navegar na transitividade do verbo amar. Entrementes, fez-me recordar uma raridade de novela, exibida pela Globo, em 1981: Ciranda de Pedra, em que a hostil governanta alemã, Frau Herta(Norma Blum, quem era apaixonada, sem ser correspondida, pelo patrão, personagem vivido por Adriano Reys. Novela baseada na obra Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles. O tema da abertura Tema era a inesquecível canção "céu cor-de-rosa", do Quarteto em Cy.