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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Entrevista do 'baixista que pensa que é artista'

Calma! 
O título é apensa um trecho da letra de 'Rindo de Mim'. 
Aqui uma entrevista do baixista do Los Bife ao site Rock'n Beats, 
que os escolheu como uma das 5 melhores revelações de 2012.
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Los Bife, da esquerda para direita: Mauricio Costa, Felipe Pacheco, Igor Leão, Guy Chaurnaux e Eduardo Miceli.
Eles não pilotam jatos super sônicos nem programam jogos eletrônicos. Não são faixa preta em judô e muito menos são superdotados atores pornôs. Na verdade, os cinco rapazes cariocas só querem compartilhar ao máximo sua música desde que fundaram o Los Bife em 2005. Despretensiosos, superando a saída de integrantes e sem nem mesmo um disco gravado, mas com um público fiel que o acompanha em todas as apresentações, o grupo passou a colecionar vitórias em festivais. O Festival Universitário MTV e o Nova Música Brasileira acabaram com as dúvidas quanto ao futuro da banda e abriram caminho para Super Supérfluo tão esperada estreia em estúdio, disponibilizada no esquema “pague o quanto quiser”.
Formado por Igor Leão (vocal e guitarra), Felipe Pacheco (guitarra e violino), Maurício Costa (guitarra),Eduardo Miceli (baixo) e Guy Charnaux (bateria), o Los Bife, considerado uma das melhores estreiasde 2012, despontam no cenário nacional com riffs fortes e refrões grudentos e estreiam na noite desta quarta-feira (23/01)  o show do disco Super Supérfluo, no projeto Cedo e Sentado, no Studio RJ.
Em entrevista por e-mail, o baixista Eduardo Miceli falou com o Rock ‘n’ Beats sobre a expectativa para esta apresentação e a possibilidade de levá-la para outros estados, a trajetória da banda, as influências musicais que os marcaram até aqui e o cenário musical carioca.
R’n'B: Como foi o processo de construção do Super Supérfluo? Esse disco não começou a ser gravado recentemente, a banda estava com ele na manga desde 2008, não?
Eduardo Miceli: O Super Supérfluo compila basicamente as composições mais fortes da banda desde que viramos Los Bife, lá em 2005. Nesse tempo, fizemos novas canções e aperfeiçoamos letras, arranjos, especialmente pelas mudanças dos membros na banda, e tudo mais. Quando assinamos com a Astronauta, estávamos já há muito querendo gravar um disco, e foi nosso objetivo em 2012, e entre fevereiro e novembro trabalhamos o máximo pro disco ficar o melhor possível.
A banda passou por algumas formações até se estabelecer como quinteto que é hoje. O que mudou no som de vocês nesse período de tempo?
Bem, as trocas de formação trouxeram algumas mudanças nas composições que já existiam e influenciaram bastante nas novas. Com a entrada do Guy, as músicas ficaram mais rápidas, por causa da influência punk dele. Com o Céia, os arranjos ficaram mais ricos e trabalhados, pelas possibilidades que duas guitarras trazem. Ganhamos mais peso, uma pegada mais firme e arranjos mais diversos.
Dois festivais no bolso (Festival Universitário MTV e NMB) sem nem mesmo um disco cheio na praça, mas um intervalo muito grande entre essas conquistas e um lançamento. O que ocasionou esse atraso? Pensaram em desistir?
Os festivais aconteceram em momentos muito distintos da banda. O Festival Universitário foi uma ótima oportunidade de divulgarmos nossas composições, que ainda não estavam fechadas, e eram frescas. Era 2009, mal tínhamos terminado de gravar o clipe de Elas São Lésbicas. No ano seguinte, em maio, lançamos o clipe, e então paramos, inexplicavelmente, de fazer shows. No fim de 2010, Daniel, ex-baterista, pediu pra sair e então a banda quase acabou. Ficou em suspenso, sem ninguém tomar as rédeas para nos dirigir. Foi aí que o convite do NMB nos acordou; nos convidaram pra tocar e topamos, mesmo sem baterista. Foi quando chamamos o Guy, despretensiosamente, para tocar conosco, e ele curtiu, e está (ainda bem) conosco até hoje. Vencemos o NMB, tivemos um ano de adaptação com Guy e Mauricio e em 2012 pudemos gravar nosso tão esperado disco.
Como vocês definiriam o som da banda? Quais são as principais referências de uma banda que vai do sertanejo até os riffs mais pesados?
Olha, a questão das influências no Los Bife sempre foi muito divertida para nós. Inventamos diversas respostas prontas, como “de Parangolé até Metallica”, mas nenhuma dava conta de fato de tudo. A verdade é que nós cinco escutamos coisas muito distintas, mas que tem pontos em comum. Eu, por exemplo, sou muito fã de rock anos 60/70, progressivo, até coisas mais lights dos anos 90 pra cá, comoBelle & Sebastian. O Igor, por sua vez, consome bastante rock dos anos 90/00, Felipe e Mauricioouvem todos os gêneros possíveis e impossíveis e o Guy foi educado na escola de punk e metal. É bem complicado dar artistas e bandas específicas, mas é mais ou menos por aí (risos). É bem natural estarmos voltando de ensaio no carro de um e começarmos ouvindo Bach e terminarmos em Rage Against The Machine.
Com tantas preferências musicais que cada um possui singularmente, como é o processo de criação? Existe algo que “dá a liga” entre vocês? Como vocês compartilham as responsabilidades na banda?
Nós, apesar de termos gostos musicais bem distintos, entendemos perfeitamente o estilo do outro. Sabemos mais ou menos como cada um pensa musicalmente, do que gosta, como toca. Inconscientemente, vai para o processo de composição. Achamos um equilíbrio natural ao longo do processo de amadurecimento de cada música, e acho que é isso que “dá a liga”.
O humor é algo latente na letra de vocês, um humor que causa provocação, como isso é pensado?
O humor surgiu ao longo dos anos de banda, uma composição aqui, outra ali. Percebemos que boa parte das nossas composições eram permeadas por sarcasmo, ironia, auto-crítica, e até mesmo auto-depreciação. As letras, normalmente, surgem de um só, e submetida a todos para opinarmos e debatermos. Então a forma como o humor é pensado varia de acordo com o integrante; o humor de Elas São Lésbicas é a cara do Igor, já Mamãe é característico do Guy e Figurinha Repetida é Felipe esculpido em carrara.
Uma banda “carioca de rock autodepreciativo” definiria a cena do Rio de Janeiro como?  Por que vocês se caracterizam assim?
A cena carioca, de certa forma, sofre basicamente de dois males: a falta de diversidade entre bandas e a falta de público interessado. Muitas bandas surgem querendo ser o novo Los Hermanos, completamente órfãos do estilo de composição deles. Então vemos uma repetição de estruturas, temáticas e uma falta de cuidado com as composições. Os que não fazem isso acabam por fazer um rock que, apesar de agradável, não traz nada de novo, ficam numa certa mesmice. Claro que há muita coisa boa, feita com esmero, depois de amadurecimento, mas a quantidade de novas bandas que sambam entre essas definições é bem grande.
 Já a questão do público é um pouco frustrante; o Rio de Janeiro não tem uma cena de rock definida. E isso se dá pela falta de interesse do público em geral. Por exemplo, ninguém vai a um show de banda se não conhecer algum integrante, gostando ou não, ou se não estiver acompanhado. É muito raro uma pessoa conhecer uma banda por ir ao show, e começar a falar pros amigos “tal banda é ótima”, puxar pra show, e tudo mais. E isso é fundamental para o crescimento de qualquer grupo. Todos querem público, mas ninguém se dispõe a sê-lo.  Ainda assim, acreditamos que com um pouco de boa vontade tudo possa melhorar!
A idéia de “rock autodepreciativo” aconteceu meio que por acaso. Muitas letras nossas acabam por retratar frustrações e situações do gênero, então acabamos definindo nosso estilo.
Rádio-Cabeça é uma meta música de refrão grudentos e riffs fortes. Atualmente muitas bandas fazem músicas metalinguísticas, mas os resultados são variados. É uma realidade da música atual?
Rádio-Cabeça é claramente uma música meta com uma crítica ao que vem sendo feito no cenário musical atual. Não acho que seja exatamente uma tendência (Rádio-Cabeça é de 2009), até porque é um recurso empregado freqüentemente em letras (o refrão de Nada a Declarar, do Ultraje, por exemplo). Claro, os riffs fortes e refrão pop ajudam a música a ficar na “rádio-cabeça” (risos).
Os shows são parte fundamental no amadurecimento de um artista. Como tem sido a experiência de palco do Los Bife? O que esperam do show de lançamento de Super Supérfluo no Studio RJ? Pretendem levá-lo para outros estados?
Sempre vimos os shows como o ponto forte do Los Bife. Por anos e anos, conseguimos estabelecer um público fiel sem material gravado de qualidade disponível, e fomos amadurecendo com isso. Testamos muitas músicas em shows, vendo quais agradavam, quais não funcionavam bem, e tudo isso culminou na seleção de faixas do “Super Supérfluo”. Uma das nossas maiores preocupações era trazer a nossa atmosfera de show para o estúdio, e por isso fomos absolutamente críticos nos timbres de guitarra, intenção da voz, ataque do baixo. E o resultado foi de que, finalmente, tínhamos acertado a mão e feito um disco que fazia jus à nossa energia no palco.
Estamos pilhadíssimos para tocar no Studio RJ; acho que nunca ensaiamos tanto (risos). Com certeza será uma das melhores oportunidades para conhecer a banda ao vivo. Em relação às apresentações fora do Rio e do estado, estamos engatinhando e procurando oportunidades em festivais, shows interessantes. Logo, se tudo der certo, teremos mais informações sobre isso.
Olhando para frente, quais são as ambições de vocês como banda?
Nossa ambição, especialmente pelos próximos anos, é espalhar ao máximo nossa música, fazer barulho.

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