Os Beatles produziram muito material ao longo de seus breves 7,5 anos de carreira. Foram 13 álbuns de estúdio e mais dezenas de compactos que foram consolidados em outros dois álbuns, os Past Masters, totalizando 211 canções gravadas!
É muito? Com certeza! Mas podia ter sido mais!! Bem mais!!
Pra começar, tem as canções que foram entregues para outros artistas brilharem, que invariavelmente granjearam algum sucesso. Existe até um álbum duplo com 20 dessas canções, chamado The Songs Lennon and McCartney Gave Away (Wikipedia Link), que afora a primeira, I'm The Greatest, feita por John em 1973, especialmente para Ringo brilhar, foram todas compostas ao longo dos anos Beatle, 1962 a 1969, e poderiam ser hoje reverenciadas como músicas dos Beatles.
Porém, o tema deste post são outras canções, também feitas nos anos Beatle, ensaiadas em Abbey Road, mas que não tiveram espaço nos discos da banda. Felizmente, muitas foram aproveitadas nos discos das carreiras solo discos da carreira solo dos rapazes, ou ainda, oficializadas nos lançamentos especiais cinquentenários!!
Comecei a percebê-las quando comprei o meu primeiro (e quase único) CD Pirata, que se chama Challenger One, triplo, adquirido na feira de Portobelo Road, em Londres. Depois, a maioria das músicas apareceu em alguns dos 3 CD's duplos do Projeto Anthology, de 1994 a 1996!
Vou tentar listar algumas, certamente deverei esquecer, se esquecer, me avisem, afinal, o blog é um animal dinâmico e sempre pode ser atualizado!
Começo com a que considero mais linda delas, que apareceu no álbum Imagine, de John Lennon, 1971, mas que já existia à época do Álbum Branco, com outro nome, "Child of Nature", e também outra letra, inspirada pelo lugar em que estavam (Índia) e o que faziam (Meditação Transcedental)!! É "Jealous Guy", magnífica balada! E eternizada num magnífico clip que chegou ao cinema, com John e Yoko num passeio idílico por sua propriedade de Londres. Destaco também "What's The News Mary Jane", que mereceu alguns takes durante o Álbum Branco, com uma letra mordaz, mas que foi rejeitada, e somente foi oficializada no lançamento dos 50 anos do álbum, em 2018!
Paul McCartney, com aquele lançamento tempestivo de seu primeiro álbum solo, sete dias depois do fim dos Beatles, e ainda antes do último álbum lançado pelos Beatles, e que chamou apenas McCartney, vem apropriado porque ele tocou todos os instrumentos... foi uma One-Man-Band. Ali, ele já oficializou um monte delas, quase todas, afinal não dava tempo de compor, gravar, masterizar, mixar, produzir, distribuir em uma semana! Brincadeira.. John, Paul e George já andavam dando suas escapadas. Destaco aqui algumas delas: "Junk", "Teddy Boy", "Every Night", "That Would Be Something". Novidade mesmo, e excelente, era "Maybe I'm Amazed", uma das melhores canções que ele fez na vida, e que seguramente seria um N.1 em muitos países!!
George Harrison é um caso à parte. Meio tímido no início da carreira, aliás, era o mais jovem deles, e tendo que se comparar a dois gênios, ele demorou a produzir material de qualidade, e muita coisa que produzia era rejeitada por John e Paul, e tal. Quando foram chegando ao final, a qualidade foi realmente aumentando até produzir obras primas como "While My Guitar Gently Wheeps", "Something" e "Here Come The Sun". Mas no meio dessas muita coisa boa era produzida e deixada de lado. Exemplos claros, três das grandes canções lançadas no primeiro álbum solo de George, All Thing Must Pass, lançado em dezembro de 1979, a canção título, e também "What Is Life" e "Isn't It a Pity", que foram sucessos em singles. Aliás, nada mais apropriado que o título do álbum, tudo deve passar.... inclusive os Beatles.
Ainda George (ele precisa de dois parágrafos!). Além das citadas acima, logo no primeiro álbum, outras três ótimas canções foram lançadas mais adiante, na carreira solo, ou oficializadas como Beatles Songs. Harrison lançou "Circles", em 1982, no álbum Gone Troppo, em versão solo, mas a versão dos Beatles foi oficializada em 2018, mesmo destino de "Sour Milk Sea", esta porém que havia sido entregue para lançamento de Jackie Lomax, uma artista do selo Apple. A terceira, bem, acho que essa terceira merece um parágrafo só para ela.
É "Not Guilty", vejam se me entendem. Composta na Índia (como muitas outras dele, John e Paul), foi tentada em estúdio, mas envolta num clima de amor e ódio por ela, tanto de John e Paul, como do próprio George, que não conseguia encontrar um vocal adequado, ou o arranjo de guitarra mais propício, ou ainda por vezes se arrependia da letra, meio sarcástica contra seus companheiros, enfim. O fato é que houve 102 (!!!) takes, um recorde absoluto, da banda, ou penso até que poderia ser incluído no Guinness. Finalmente, viu a luz em 1979, no álbum George Harrison, do próprio, e depois no Anthology 3, de 1996 e, finalmente oficializada como Beatles Song, no lançamento comemorativo do cinquentenário do Álbum Branco, em 2018. Para se ter um ideia da qualidade da canção, o grande George Martin, sempre inconformado com a insistência dos rapazes em lançar um álbum duplo, chegou a fazer uma seleção de 15 canções de um hipotético álbum simples, em que ele incluía "Not Guilty", para a saída de Piggies e Savoy Truffle, vê só!!! Portanto, a própria canção faz jus ao nome: ela é 'not guilty' por não ter sido incluída no Álbum Branco!!!
E tem também as rejeitadas do Ringo .... não .... não tem nenhuma seriamente considerada, além das duas que ele gravou, em 1968 e 1969.
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