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sábado, 19 de junho de 2021

She's A Woman who understands

Esta é a 15ª canção da coletânea Past Masters #1, 14º Álbum Oficial dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 27 canções falando de Amor por Garotas

                                        as demais 26 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

15. She's A Woman (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul conta: "Meu amor não me dá presente algum. Mas eu sei que ela não é rude. Ela é a única que até agora tem me dado amor, incansavelmente. Ela me deixa doido quando fico sozinho, as pessoas me dizem que ela só 'tá a fim de tirar onda', mas eu sei que ela não é disso."

Esta canção entra na seleta lista das 'Beatles-one-day-songs', ou seja, aquelas em que da ideia inicial até sua gravação completa, leva menos de um dia! Outras são Birthday , All Together Now e The Ballad Of John and Yoko. Na verdade, esta foi menos que 12 horas, porque estava pronta às 6 da tarde, e eu duvido que Paul tenha-a começado antes das 6 da manhã. Ele mesmo diz que foi durante a manhã de 8 de outubro de 1964 que teve a ideia em uma caminhada, voltou pra casa, escreveu o 1º Verso e, ao chegar ao estúdio, chamou John num canto, apresentou o que tinha, compuseram o que faltava (mais um verso e a ponte), mas ainda não o ritmo definitivo, que só chegou no 2º Take da sessão que começou às 2:30 e foi até o fim da tarde! 
 
Pausa para digressão educativa  
É bom dar aqui uma parada para esclarecer uma natural confusão com o termo 'verso' que venho utilizando em minhas análises até aqui. Em um poema, o verso é uma linha de uma estrofe, que é um conjunto de versos. Na estrutura de uma canção, verso é um conjunto de linhas que estabelece a melodia e a ideia principal da letra da canção. Neste caso de She's A Woman, quando John diz que 'Paul chegou com o 1º verso pronto',  não foi apenas com 'My love don't give me presents', mas sim com esta e outras 7 frases, até "fooling, I know she isn't'. Aproveitando a digressão, ´ponte' é um segundo elemento estrutural da canção, com melodia diferente do 'verso', às vezes em ritmo diferente também, que une, como toda boa 'ponte', dois versos, ou um 'verso' e um 'refrão' ou um 'coro'. A ponte serve também para quebrar a tensão de versos vigorosos ou, por outro lado, levantar a tensão de versos tênues. Finalmente, 'refrão' é o que carrega a mensagem mais mnemônica, que muitas vezes leva o nome da canção, uma mensagem mais definida, que fica na cabeça, mas não é sempre que se o usa. A maioria das canções dos Beatles não têm refrão, apenas versos e pontes. Aqui, a ponte é o ponto mais alto da canção e traz a conclusão das situações apresentadas nos versos,  "She's a woman who understands, She's a woman who loves her man", ela traz o nome da canção, também é o que fica na cabeça, mas não é considerada como refrão. 

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Fim da digressão  

 
John, como sempre ferino, bota a letra de She's A Woman como lixo. Sem dúvida, não é! Tem algumas pérolas em palavras e rimas. Por exemplo, para rimar as duas primeiras linhas da canção, Paul foi buscar 'peasants' para rimar com 'presents'. O significado básico da palavra é 'camponês', mas não faz sentido dizer que ele saque que sua garota não é uma 'camponesa', eu sempre fiquei intrigado com isso, que era aparentemente sem sentido, apenas recentemente descobri um segundo significado, figurado, que seria uma adjetivação do 'camponês', uma pessoa de baixo status social, não sofisticada, ignorante (no sentido correto, por não saber), e eu escolhi 'rude' na minha tradução ali de cima. Para completar a geiialidade, ele ainda termina rimando com as duas primeiras linha, com "I know she isn't". Ainda sobre rimas, o Verso 1 apresenta "make me jealous" pareando com "all the time as well as", simplesmente genial, também porque o raciocínio termina no começo da linha seguinte. No mesmo ponto do Verso 2, Paul repete a estrutura com uma rima aparentemente batida, mas que se salva pelo mesmo recurso de empurrar o fim do raciocínio para a linha seguinte, refiro-me ao "when I get lonely" com "that she's only". E ainda há as rimas ricas "eye-cry", no Verso 2 e "understand-man" na ponte. 
 
Não se sabe a exata extensão da contribuição de John na letra, mas, no mínimo, foi dele a inclusão do "turn me on when I get lonely", foi a primeira letra deles que faz alusão a drogas, pois dizia-se que elas "ligavam" a mente dos usuários. Não fazia nem dois meses que eles haviam sido apresentados ao hábito por Bob Dylan, durante uma excursão aos EUA. Nim ponto final sobre a letra, deixo com uma dúvida: o que Paul quis dizer na ponte com "Ela é uma mulher que entende. É uma mulher que ama seu homem"? Bem, na verdade, desconfio qual seja a resposta: sua namorada e ele mantinham um relacionamento aberto. Jane Asher 'entendia' que Paul não conseguiria resistir ao assédio das fãs, e aceita as traições como naturais... Será? 
 
E vamos à gravação. Como falei, a canção não existia no dia 7 de outubro, e na noite do dia seguinte ela estava pronta para constituir o Lado B de I Feel Fine. No primeiro take, John propôs uma guitarra que não vingou.... dizem que era muito parecido com a de Eight Days A Week, mas não tenho como confirmar, pois não achei em nenhum lugar. Seja como for, a partir do Take 2, John já escolheu uma batida que foi marcante, pois é o que  mais ressalta na gravação: ele toca os acordes de maneira sincopada, meio que fora do tempo, e assim fica até o final. Paul toca seu baixo e canta a plenos pulmões todo tempo. Naquele take, Ringo ainda não se acerta com o tempo, e tentam até o Take 6, considerado bom para os próximos passos. Cadê George? Ele não estava! Em seguida, vieram os overdubs, de Paul ao piano o tempo todo, principalmente repetindo os vocais dos versos, e de John dobrando os acordes da introdução e de Ringo, com um chocalho! Vocês sabem que há um solo de guitarra, não é mesmo? Só não se sabe quem fez! Se George não estava, Paul poderia ter feito, mas não havia guitarra para canhoto àquele tempo. O mais provável é que George tenha aparecido depois e feito em overdub., ali, logo após a repetição do 1º Verso após a ponte, um delicioso 12-bar-blue que antecede mais uma ponte. A finalização da canção repete os compassos da sessão solo, recheada pelos pratos de Ringo.
 
Nesta que é a primeira canção dos Beatles mais chegada a um blues, todos os acordes dos versos são feitos em acordes dissonantes A7, D7 e E7, somente retornando aos consonantes na ponte, mais comportada, mesmo assim, começando num menor (C#m) até chegar ao único cheio, em D. E como os versos são dos mais longos da carreira dos Beatles, com 24 compassos, decerto She's A Woman é um recorde de acordes dissonantes em sequência, e ainda dobra-se tudo porque são dois versos em seguida. Se contar no relógio, é um minuto e 15 segundos sem sair de cima, até chegar a ponte.  É tanto acorde dissonante que John até erra algumas vezes, e se esquece de um ou outro, mas resolveram não partir para mais um take. E a escolha da nota LA como tom fez Paul cantar lá no alto o tempo todo, propositalmente, era mais uma homenagem a Little Richard, de quem era fã declarado, aliás, havia gravado recentemente Long Tall Sally num EP. E ele honrou o tom em dezenas de performances ao vivo, nos quase dois anos seguintes em que fizeram shows, até mesmo no último deles em agosto de 1966. Entretanto, quando ele a tocou novamente, 25 anos depois, no show Unplugged (o primeiro Acústico da MTV), ele baixou o tom. E é este que eu deixo aqui pra vocês, neste LINK. 

5 comentários:

  1. Eu adoro "She's a woman'. Ficava sem entender porque não estava no disco Help visto que ela é tocada numa sequencia do filme. Agora já sei: era o lado B de I feel Fine. Aqui no Brasil também? Não consigo me lembrar.
    Realmente o peasant é estranho rimando com present. E tem um significado polêmico. Pode não ser politicamente correto. Se bem que não naquela época.

    Turn on pode ser sobre drogas sim, como você disse. E parece que John também falou que sim. Mas é bem lembrar que turn on tem outro sentido. E que caberia bem na letra pois é algo que costuma acontecer quando um casal etá junto. Vejo aqui mais uma influência Beat nos meninos usando palavras com duplo sentido. E até mais de dois sentidos.
    Adorei essa informação do relacionamento aberto entre Paul e Jane. E sendo aberto não havia traição, não é mesmo? Traimos quando quebramos uma jura. Quando não existe acordo de fidelidade amorosa, ter outros casos não significa traição.
    Mas nessa mnúsica não há sinal disso porque ele informa que ela não ligava para outros rapazes e não dava motivo para ciúmes.

    Pensando aqui no peasant. Talvez fosse mesmo para Jane essa música. Ela descende de nobres. Pode ser que ele estava se referindo a isso, é não a falta de sofisticação ou ser rude. Eu inventando moda aqui.

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  2. Umas das melhores deles....sempre presente nos shows em 65 e 66.Macca andou tocando em2003, 2004,salvo engano.Tem um livro q diz q a letra eh pobre justamente por causa de "Peasants",mas vc matou bem a charada

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  3. Composta em poucas horas, este primeiro blues dos Beatles conta a história da mulher compreensiva, talvez Jane Asher, namorada de Paul, que “entendia” os relacionamentos dele com as fãs. Ao falar em “ficar doido quando sozinho”, possivelmente se refere às drogas, apresentadas por Bob Dylan. Paul a compôs, levou para o estúdio e mostrou para John, que a completou, mas nunca a valorizou. Na gravação, Paul toca baixo, piano, canta a plenos pulmões; John exibe sua guitarra, Ringo se perde um pouco, depois engrena, com chocalho, e George não aparece. Mas, como existe um solo de guitarra, num certo momento, ele deve ter aparecido, porque, sendo canhoto, Paul não conseguiria tê-lo feito. Cantando num tom acima do habitual, só 25 anos depois, fora do grupo, cantou em tom mais baixo.

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