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quarta-feira, 23 de junho de 2021

As 4 Canções Cover de Past Masters#1

 As 4 canções estão nas posições 10, 12, 13 e 16 na coletânea Past Masters #1, 

14º Álbum Oficial dos Beatles, de 1988.

A numeração apresentada obedece à ordem em que aparecem neste álbum.

A história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

No início de 1964, os Beatles embarcavam de cabeça no projeto de seu 1º Filme Longa Metragem. A produção autoral era profícua, especialmente da dupla Lennon/McCartney. Entretanto, eles gravaram algumas canções de outros autores para complementar eventualmente o álbum da trilha sonora. Não foi preciso. A Hard Day's Night foi lançado com 13 canções autorais. Mas nada que os Beatles produziram seria deixado para trás. Pegaram então as 3 covers, juntaram com uma Lennon/McCartney, e lançaram as 4 em um EP (Extended Play), conhecido no Brasil como Compacto Duplo. 

Era 19 de Maio de 1964. Ele ficou conhecido com Long Tall Sally EP. E foi direto ao topo das paradas!Os compositores 'convidados' eram maiorais do rock'n roll americano, Little Richard, favorito de Paul, Larry Williams, favorito de John, e Carl Perkins, favorito de Ringo, que são os três vocalistas Beatles designados para homenagear seus autores nesse lançamento.

Um ano depois, e já terminadas as filmagens do 2º filme, os Beatles vieram ao estúdio de Abbey Road novamente para gravar covers de Rock'n Roll americano especificamente para atender pedidos da Capitol Records para capitalizar ainda mais a cena Beatle do outro lado do Atlântico. Nesse dia, ele gravaram duas canções de Larry Williams, um favorito de John, que foram lançadas em LP nos Estados Unidos, mas apenas uma delas se materializou no LP com a trilha sonora de HELP! A outra ficou para trás, mas foi lançada como a única novidade num LP Caça níqueis lançado no final de 1966 chamado A Collection of Beatles Oldies But Goldies. O nome dela era Bad Boy, que viu a luz de um lançamento oficial britânica apenas 22 anos depois, na coletânea Past Maters. Muito tempo para um rock sensacional que eu reputo muuuito melhor que a outra gravada naquela Larry Williams Night de 1965 em Abbey Road

Abaixo, uma breve análise sobre elas, porém sem o mesmo detalhe que dedico às autorais, principalmente no aspecto de assunto, letra, rima, que são de importância quando saem da mente de nossos rapazes, mas não faz sentido aqui. Coloco apenas um trecho da letra, em inglês, mesmo, que seja significativo.


10. Long Tall Saly (by Little Richard)

Paul grita:
I saw Uncle John with long tall Sally
He saw Aunt Mary comin' and he ducked back in the alley
Oh, baby, yeah now baby
Woo baby, some fun tonight
... explicando rapidinho, Tio John, safadinho, estava de trique trique na rua com a alta Sally, quando viu Tia Mary e se escondeu num beco. Mais adiante, dá-se a entender que Sally é um travesti. "Ela tem tudo de que o tio John precisa", ai ai. 
Paul é o vocalista, e ele faz aí uma das melhores gravações de sua vida! Vocal gritado, um tom acima do que cantou seu autor Little Richard. E a banda contribuiu tão bem, que foi necessário APENAS UM TAKE, ao efeito.  George Harrison fez dois solos perfeitos. Até George Martin entrou na onda, lascando seu piano com perfeição. Uma vez só! Quando acabou, todos se entreolharam espantados com a própria performance. Não tocaram mais nenhuma vez, não tem take alternativo, não fizeram nenhum overdub, nenhum ajuste ou edição foi necessário. Era a resposta de Paul para o show de John em Twist and Shout um ano antes, que também fez a proeza.
 
Esse show foi dado num hoje histórico 1º de março de 1964. Não foi à toa, não foi difícil escolher qual seria a primeira cover a se candidatar a entrar no mais novo álbum da então mais famosa banda do mundo, posto que eles haviam acabado de conquistar a América. Long Tall Sally era uma favorita de John e Paul, aliás, desde seu primeiro encontro em 6 de julho de 1957 no pátio de uma igreja em Liverpool. Paul sabia os acordes e a letra (e cantá-la, o que não era fácil) e impressionou John com sua habilidade na guitarra. Tocaram-na ainda como Quarrymen, depois como Silver Beatles, e seguiram tocando-a, já com o nome definitivo da banda, ainda antes da chegada de Ringo, no Cavern Club e em noitadas compridas nas casas noturnas de Hamburgo na Alemanha. E ela estava em quase todos os shows já depois da fama, e com Ringo, normalmente fechando os shows, e levaram-na em excursões pelo mundo, em todos os 4 anos que durou sua carreira ao vivo da banda, interromperam sua presença brevemente quando chegou I'm Down, de Paul, que passou a fechar os shows, mas retornaram com ela aqui e ali, inclusive no último show em San Francisco, em agosto de 1966. Ela é a primeira canção do Lado A do compacto duplo. Deixo aqui este LINK, na 1º vez que tocaram a canção no Estados Unidos, em Washington, para terem uma ideia.

 

12. Slow Down (by Larry Williams)

John implora:
Well, come on pretty baby, won't you walk with me?
Come on, pretty baby, won't you talk with me?
Come on pretty baby, give me one more chance.
Try to save our romance!
Slow down, baby, now you're movin' way too fast.
You gotta gimme little lovin', gimme little lovin'
  
 
Ow! if you want our love to last
... nos outros dois versos, Larry, na voz de John, dá ainda mais argumentos para a garota dar mais uma chance pra ele
Pois é, John é o vocalista, e entrega um magnífico desempenho vocal, es-pe-ci-al-men-te no 3º verso, ele faz aí uma das melhores gravações de sua vida! Sua voz rouca se encaixou como uma luva no clima desse magnífico rock'n roll americano. São 5 vezes um 12-bar-blues duplo, pode contar, você vai ver que vai contar até 24 em cada um. O primeiro deles é instrumental, com piano e floreios de guitarra, depois dois versos são cantados (com direto a um sensacional "Brrrrr, if you wan your love to last"), e vem mais um verso instrumental, com solo de guitarra de George e, finalmente, o verso matador de John, não deixem de ouvir. Isso foi conseguido, não em um, mas 3 takes, dedicados à base, sem a voz de John, só com os instrumentos tradicionais.  Depois, vieram o piano de George Martin e o vocal inicial de John, e depois seu vocal dobrado, onde ele erra algumas vezes a letra, mas com direito a uma harmonização dele com ele mesmo no último 'slow down' da letra, percebam. vale a pena vale a pena, neste LINK!! Era 1º de junho. Slow Down fazia parte do set list do Cavern Club e de Hamburgo, mas não viu a luz do palco na era dos shows do Beatles, com exceção de uma participação num programa da BBC.

13. Matchbox (by Carl Perkins)

Ringo se resigna:.
  1. I ain't got no matches, but I sure, Got a long way to go
  2. I'll never be happy, cause everything I've ever did was wrong  
  3. I got news for you, baby, Leave me here in misery 
  4. And when your big dog gets here. Watch how your puppy dog runs

 A numeração corresponde à finalização de cada um dos versos diferentes da canção, naquela estrutura comum dos lamentos do blues, uma frase, depois ela é repetida, e depois vem a conclusão. O 1º verso é repetido na finalização da canção.

A letra, de autocomiseração, "ó vida, ó azar!", é típica das preferências de Ringo, que adorava esse tipo de declaração, de dar essa conotação de sad and lonely poor boy que viria em várias de suas outras 10 participações como vocalista na carreira dos Beatles, duas delas com autor da canção. E também seria a physique de role de seu papel como ator Beatle, em 3 dos 5 filmes da banda, abrindo com a sensacional cena de A Hard Day's Night, que é  acompanhada por uma This Boy instrumental, depois sendo O CARA que é perseguido por uma seita maluca em HELP!, e mesmo na animação Yellow Submarine, sendo O CARA que aperta o botão errado e é ejetado da nave que viajava por mares psicodélicos. Grande Ringão! 
 
A sessão de gravação ocorreu no mesmo 1º de junho de Slow Down, acima descrita, e Matchbox foi a primeira gravada. E foram 5 takes, dos quais 3 completos, e com tudo dentro, todos tocando, inclusive George Martin ao piano, e Ringo cantando, em sua bateria. O curioso é que foi John quem fez o solo na guitarra, entre o 3º e o 4º versos. Posteriormente, Ringo dobrou seu vocal, depois triplicou seu vocal, o que dá pra ser notado explicitamente em algumas ocorrências do "Weeeell" no começo de alguns dos versos, que se ouve 3 vezes claramente. Uma figura ilustre estava nos estúdios, o próprio autor Carl Perkins, então em excursão pela Inglaterra, que foi convidado para testemunhar a primeira de 3 composições que ele autorizou, com muita satisfação, que os Beatles regravassem, as outras sendo Honey Don't, tambem com Ringo e Everybody Is Trying To Be My Baby, com George, outro admirador do roqueiro americano. 
 
Nos EUA, as duas canções do Lado B do EP foram lançadas em compacto simples, com grande sucesso, tendo inclusive a de Ringo alcançado melhor posição que a de John nas paradas americanas. Ringo era o mais popular dos Beatles naqueles tempos, terra de Tio Sam, sendo inclusive lançado para Presidente dos EUA! Hehehe!

 

16. Bad Boy (by Larry Williams)

John conta: 
A bad little kid moved into my neighborhood
He won't do nothing right just sitting down and looks so good
He don't want to go to school and learn to read and write
Just sits around the house and plays the rock and roll music all night
Well, he put some tacks on teachers chair
Puts some gum in little girl's hair
Hey, Junior, behave yourself!

... na verdade, Junior é apenas um garoto que não gosta de escola mas adora sua guitarra, e faz umas travessuras de vez em quando, numa letra muitíssimo divertida.

 
O trecho acima é o longo primeiro verso, em 20 compassos, da canção. Mais outros dois versos, com letras diferentes viriam, mas com mesma duração, sanduichando um solo de guitarra. Aqui cabe uma observação deste observado que vem observando estruturas de canção há pouco tempo em sua vida, e já com a bagagem de uma centena de canções analisadas dos Beatles. Estes últimos adotaram na grande maioria de suas canções uma configuração de versos e pontes, às vezes introduzindo um refrão. Nesta 4ª análise do bom rock'n roll dos anos 1950, eu notei um padrão diferente, de apenas versos na estrutura. As 4 apresentam 3 versos, com um ou dois solos de guitarra imiscuindo-se entre eles. Não sou doido de extrapolar, mas apenas apontar essa tendência! 
 
John é novamente o vocalista, e comandou a gravação da base, em 4 takes, na noite de 10 de maio de 1965. Ele fazia apenas um guia vocal, com o microfone desligado, tocando sua guitarra, e tendo Paul no baixo,  Ringo na bateria e George em outra guitarra, em que faz um solo durante 12 compassos entre os Versos 2 e 3 que seguem no padrão original do 1º Verso, de 20 compassos.  Ao longo dos versos, George estabelece um 'diálogo' de sua guitarra com as frases de John, sensacional. Depois, vieram os overdubs, de George e Paul em suas respectivas guitarras, de Ringo com um pandeiro e de John, com seu mais uma vez estonteante, áspero e rouco vocal de rock'n roll, e John também acrescentou aquele órgão esperto. Em minha opinião, Bad Boy seria muito mais merecedora de fechar o álbum HELP!, como foi o caso da outra de Larry Williams daquela noite, Dizzy Miss Lizzy. Essa má escolha fez com que eu conhecesse essa maravilha apenas por causa do Past Masters#1 em 1988. Confira comigo, neste LINK.

A analise das demais 14 canções, 

todas autorais, do álbum Past Masters#1,  

você encontra neste LINK


2 comentários:

  1. Ah, as covers. Sempre achei a parte mais fraca dos Beatles. Eu gostava daquele pessoal americano que eles adoravam. Eu gostava. Eu não adorava aquela turminha do rock. Os que eu gostava ...acho que não eram apreciados por eles, exceto Elvis. Mas Elvis não compunha. Eu gostava de Del Shannon embora só conhecesse uma única musica dele: Runaway. Muitos anos depois fiquei sabendo que George também adorava essa música e sua band Willbury a gravou. E George a chamava de 'a música de Del' mostrando que talvez também só conhecesse Runaway, que nem eu.
    Enfim, eu não sentia a mesma emoção ouvindo as covers que sentia ouvia suas conações originais. Mas algumas até que gostei. Eu amei a interpretação gritada em Long Tall Sally. Não sabia que fizeram tudo em apenas um take. Obrigada pela informação. Assim como não sabia que a granalhona da Sally era um travesti. Também gostei de saber. Que legal tal tema num tempo tão antigo. E dessa turma do rock digamos que, primitivo, Little Richard é meu favorito também. Até tenho um LP dele. Por mais incrível que pareça, meu pai também o admirava e até viu um filme com sua participação. Ele o chamava de Ricardinho e gostava do seu jeito de tocar piano em pé. E ainda colocava uma perna sobre o piano. Era bem animado o rapaz.

    Você disse que "Era a resposta de Paul para o show de John em Twist and Shout um ano antes, que também fez a proeza".
    Nâo consigo ver isso. Não há como ter espaço para a tal competição entre eles. Eu só vejo colaboração e amizade...até 1968, claro. Se eu pensar neles como tantos fâs pensam, quase inimigos, sempre querendo ser melhor que o outro, é perigoso eu deixar de gostar deles. Não quero que isso aconteça. Eu tenho até a impressão que George Martin se arrependeu de ter falado sobre isso porque ficou estranho demais. Ele tentou remediar dizendo que era uma competição extremamente positiva. Mas não foi bem sucedido na explicação. John se saiu um pouco melhor ao falar sobre isso em 1980. Só que não me lembro mais qual foi. Uma coisa assim: se um cineasta vê um filme de outro cineasta e se sente compelito a fazer algo ainda melhor estaria elogiando muito o filme que viu. Ninguém quer fazer algo melhor do que algo que era ruim. Isso queria dizer que o filme era excelente! Portanto quando ele queria fazer algo melhor que Paul era porque tinha gostado muito do trabalho de Paul. E Paul fazia a mesma coisa.

    Portanto não seria uma rivalidade. Seria mais uma inspiração. Um inspirava o outro. Assim eu consigo entender. Detalhe: não se inspiravam um no outro como participavam com empenho na composição do outro fazendo com que a canção se tornasse uma Beatle song. E não uma canção de apenas um deles.
    Quero crer que John também se empolgou não só com a interpretação de Paul,. mas com o trabalho feito por Ringo e George e por ele também. Afinal os quatro eram responsáveis pelo resultado final Não fizeram apenas um take graças ao bom desempenho de Paul. Foi graças ao bom desempenho dos quatro.

    Porém, é bem possivel que Paul tenha ficado feio ali naquele dia encarando tudo como uma resposta boboca a John pela sua performance sensacional em Twist and Shout. O quê? Twist and Shout foi cantada
    tammbém por Paul e George ...e o ahhh...ahhhh...ahhh...ahhh... E as respostas a cada frase de John? E aquele som das vozes unidas? Nunca foi sucesso apenas devido ao solo principal de John. Sem os outros não teria a significância que teve.
    Ah, eu não abro mão de ver a beleza da banda unida causando arrepios exatamente por estarem unidos.

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  2. As outras três comentadas fazem parte das que não me entusiasmaram. Eu as ouvia porque eram os Beatles cantando. E eles nem precisavam cantar. Eu ouviria um disco sem som porque eles tinham lançado. Um disco para a gente apenas imaginear eles cantando onde, de vez em quando eles falavam alguma coisa.

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