Show de Paul McCartney
São Paulo – 22/11/2010
Parte 1
Parte 1
Amigos, finalmente, aconteceu...
Trinta
e seis músicas em três horas inesquecíveis, proporcionadas por um
generoso artista, que sabe o que fazer para proporcionar felicidade a um
grupo de privilegiados, eu entre eles...
No
meu caso, aquelas três horas significaram, na verdade, mais de um dia
inteiro de dedicação exclusiva a esse sonho, acalentado desde que se
anunciou que the one and only Paul McCartney, viria novamente ao Brasil. Esses privilegiados tiveram que se embrenhar em alguma espécie de logística para conseguir apreciar o momento, com maior ou menor nível de dificuldade, mas nunca nula. Como ele não veio à cidade em que vivo, e como ainda não estamos no Século 23, e não temos o teleporte de Star Trek, no meu caso, teve uma viagem no meio. No caso de querer saber apenas do show em si, pule os próximos quatro parágrafos, e vá direto para o fim da descrição da logística. Senão, acompanhe-me no relato de minha aventura rumo à felicidade.
Quis
o destino, ou a indisponibilidade do Maracanã, ou a falta de ação da
Prefeitura do Rio, ou até mesmo a prejudicada imagem da cidade
maravilhosa, que ela fosse privada da presença do ex-beatle. Sem sombra
de dúvida que ele gostaria de visitar novamente a cidade onde bateu o
recorde de pessoas assistindo a um show pago de um artista solo. A
deterioração é flagrante. Veja o ocorrido neste último domingo: enquanto
os paulistas escolhiam entre Paul McCartney, Roberto Carlos e Lou Reed,
as opções dos cariocas eram Ovídio Brito, Pagode da Tia Doca e Pagode
do Arruda, como vi num tweet, na terça-feira. Pois é, Paul veio somente a
Porto Alegre e São Paulo. Sou fanático, mas não fiz como muitosamigos
meus, que foram às duas cidades, aos três shows. Escolhi a cidade mais
próxima, não consegui comprar para o domingo, mas consegui a
preciosidade para segunda-feira, 22 denovembro de 2010.
Saí
de casa às 9:00, manhã do dia do show, passei em um relojoeiro para
comprar uma bateria para o meu relógio Limited Edition com a foto e
assinatura de Paul McCartney, que eu somente uso em ocasiões especiais, e
esta era uma delas. Empreendi a aventura em conjunto com meu guru
Renato e seu filho Paulo idem. Chamo esse colega de empresa de guru,
pois se trata de uma enciclopédia viva sobre Beatles, além de possuir
nada menos que 5.000 discos do grupo ou de seus integrantes. Pegamos a
ponte aérea de 10:30, que saiu às 11:20, como soe acontecer no sistema
Santos Dumont/Congonhas; fast food neste último, táxi, check-in no
Novotel Morumbi, xixi, mesmo táxi, chegada ao estádio às 14:00, onde já
umas 250 pessoas aguardavam no portão 18, da pista prime,
civilizadamente, a hora de entrar no estádio, prevista para as 17:30. Já
nesta oportunidade deu pra perceber o fenômeno que é esse grupode
roqueiros, que deixou de existir há 40 anos. Jovens, uma grande maioria
de jovens compunha a fila. Eu e Renato e uns poucos gatos pingados de
barriga e cabelo branco, éramos pontos fora da curva. Entre eles, um
casal de peruanos que veio especialmente para o show. O tempo estava
fechado, os camelôs ofereciam as indefectíveis capinhas de chuva a 5
‘real’ e diziam ‘quando começar a chuva, é 10!!’. Nós já tínhamos as
nossas, e elas foram usadas menos de uma hora depois. Veio a chuva, e
ele foi só aumentando e lá ficamos, sem problema algum, felizes da vida,
apenas menos integrados ao ambiente. Com o tempo seco, certamente
formar-se-iam grupinhos para trocar experiências beatle, ou mesmo cantar
alguns sucessos.
A
chuva fez a espera ficar mais solitária, cada qual em seu mundo. De
repente, um disco começou a tocar, mais especificamente aquele
localizado entre a 3ª e a 4ª vértebra de minha coluna, que me impede que
eu fique muito tempo sem me sentar. Assim o fiz, e lá se foi a intenção
de deixar minha calça quase seca. A capa, vagabundinha, protegia por
cima, mas o caminho das águas foi aos poucos encharcando meu bumbum, que
assim ficou até o fim do dia. Os sapatos, inicialmente resistentes, não
impediram o ensopar das pobres meias. Numa bela hora, passou uma
bondosa senhora com um saquinho na mão distribuindo bexigas
vermelhas,com a instrução de que fossem usadas quando Paul cantasse
‘Long and Winding Road’. Segundo ela, Paul ficara tocado com o que foi
feito no domingo, com bexigas brancas sendo balançadas ao som de ‘Give
Peace A Chance’.
A
chuva parou só para entrarmos no estádio, cujos portões se abriram,
pontualmente, atrasados em 20 minutos, e lá fomos nós, invadindo o
gramado coberto por placas especiais.Antes de tomarmos nosso lugar, que
já vimos ser espetacular, demos uma passada nos banheiros químicos para
dar aquela que seria a última mijada, no sentido explícito, para evitar
que levássemos uma mijada, no sentido figurado, se tentássemos mais
tarde abrir caminho na multidão para aliviar a bexiga. Essa corrida aos
banheiros certamente nos custou um metro e meio de proximidade do palco,
mas nada que impedisse uma visão magnífica, e privilegiada. Nem eu nem
meu amigo havíamos ficado tão perto do palco em nenhuma das
oportunidades anteriores com nosso maior ídolo, eu, no Rio (1990) e em
Houston (2002), e ele, duas vezes no Rio, Curitiba (1993) e em Porto
Alegre (outro dia). Ficamos observando os trabalhos no palco, sempre com
20 técnicos pra lá e pra cá, testando instrumentos, sons. Soubemos que a
chuva impediu a passagem de som, prática comum das bandas. Olhava prum
lado e pra outro e só se confirmou a impressão inicial: com minha boa
altura, podia ver por cima da galera, e pouquíssimas foram as cabeças
brancas, as expressões mais idosas, enrugadas, maduras, que
identifiquei. A grande, a imensa maioria, tinha menos de 30 anos, posso
garantir. Quando começou a escurecer, veio junto novamente a chuva.
Chegamos a ficar preocupados com um possível cancelamento, já que a áqua
era muita, a chuva respingava no palco, e os caras seguiam cobrindo os
equipamentos. Seria um desastre.
Às
19:30, tocou de novo aquele meu disco, e lá fui eu pro chão, isolado em
meu mundinho, concentrado para aquele momento que viria duas horas
depois. Sentei-me meio de lado em relação ao palco. Em meio à
concentração, ouvia atrás de mim uma vozinha de uma menina que dizia: ... puxa vida, baixinha desse jeito, quando esse moço aqui se levantar, eu não vou enxergar mais nada.
Ao olhar para o lado, notei as perninhas da menina: a altura do chão
até o joelho dela não era maior que 30 cm. Pensei cá comigo: sinto
muito, cada qual com a altura que Deus lhe deu, se eu for dar meu lugar
pra cada um que é mais baixo que eu, e isso significar 40 cm de
afastamento, daqui a pouco eu estou lá no fundo. I’m sorry! Mas não
falei nada. Quando me senti com as forças recobradas, mais ou menos às
20:30, levantei-me, dei só uma olhada na baixinha, até deu pena... ela
estava lááá embaixo, acho que não tinha nem metro e meio, novinha,
máximo 18 anos. Mas me mantive firme em meu propósito, e nem dei bola.
Atéque .... bem .. conto em seguida.
Fim da Logística .... Começo do sonho
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