Morreu a Tenente Uhura!
Nichelle Nichols, aos 89 anos!
Rest in Peace ... in your last Star Trek!
A tripulação de Jornada nas Estrelas perde uma pioneira!
Vai fazer companhia ao Professor Spock!
Scotty deve ter comandado o teleporte final!
E McCoy deve ter prestado os primeiros cuidados em sua chegada!
Ela estava entre os que foram, audaciosamente, aonde nenhum homem jamais esteve, em busca de novos mundos, novas vidas, novas civilizações, numa missão prevista para durar cinco anos, e que já passou dos cinquenta.
Restam firmes por aqui Sulu, Chekov e o próprio Capitão Kirk, que inclusive teve seu alterego William Shatner viajando ao espaça efetivamente!
Há 55 anos, o mundo conheceu a Nave Estelar Enterprise, e começou a admirar a impagável relação entre o seu Comandante, o intrépido e intuitivo humano James Tiberius Kirk, e seu Oficial de Ciências, o racional e lógico vulcano Sr. Spock, com suas orelhas pontudas. Este último, nada surpreendente que fosse racional e lógico, afinal as duas virtudes estão no sangue de quem nasce em Volcano, e na educação que recebem, na doutrina que é seguida por todos. O que deixava a personalidade de nosso Spock mais fascinante é que ele tinha um pezinho na Terra: seu pai Sarek encantou-se com a malemolência de uma professora terráquea, e deu uma daquelas escorregadas a la Lugo, o bispo matador, que pecou pois o voto de castidade que tinha era paraguaio. Brincadeira, a coisa era séria, e eles eram casados de papel-passado, lá no planeta Vulcano, que só tinha gente séria!
Então, o interracial estelar Spock vivia em batalhas internas para tentar entender como pensava seu capitão, que fazia às vezes coisas contrárias à boa norma lógica e era bem sucedido. Spock pensava nas probabilidades, Kirk contava com a sorte. Os papos entre os dois personagens eram sempre pontilhados de ironias em que as diferenças entre humanos e vulcanos apareciam. E aos poucos, Spock foi aceitando Kirk como um amigo, coisa impensável se ele fosse um puro-sangue: em seu planeta natal, a amizade era acho que era um sentimento irracional. Ou talvez, fosse amigo dele por ser ético assim ser!
A interracialidade era uma constante na tripulação da Entreprise. Seus principais tripulantes, além do americano Kirk, e do extraterreno Spock, eram o médico americano McCoy, o inglês Scott, o russo Chekov, o japonês Sulu e a africana Uhura. Duas coisas impensáveis à época: em plena guerra-fria, um russo numa posição de comando à frente de americanos, e, num país que dois anos depois mataria o líder negro Martin Luther King, uma mulher negra co-habitava com não-negros em posição de comando. O próprio Dr. King elogiou a série por isto inclusive pediu ditretamente à atriz, que desejava sair após a 1ª temporada para trabalhar na Broadway, que continuasse no papel pela importância que isso causava no ânimo das mulheres negras. E com ela ocorreu a primeira cena de beijo interracial na TV americana, com o Capitão Kirk, que era o galinha da série. Aliás, vou deixar aqui o relato de Nichele Nichols, a nossa Tenente Uhura, de como foi o encontro dela com Dr. King... é de arrepiar!! Ela estava num banquete quando foi informada de que 'um fã' queria conhecê-la. Até chorei ao ler o relato dela... vejam
I thought it was a Trekkie, and so I said, 'Sure.' I looked across the room and whoever the fan was had to wait because there was Dr. Martin Luther King walking towards me with this big grin on his face. He reached out to me and said, 'Yes, Ms. Nichols, I am your greatest fan.' He said that Star Trek was the only show that he, and his wife Coretta, would allow their three little children to stay up and watch. [She told King about her plans to leave the series because she wanted to take a role that was tied to Broadway.] I never got to tell him why, because he said, 'you cannot, you cannot...for the first time on television, we will be seen as we should be seen every day, as intelligent, quality, beautiful, people who can sing dance, and can go to space, who are professors, lawyers." Dr. King Jr went further stating "If you leave, that door can be closed because your role is not a black role, and is not a female role; he can fill it with anybody even an alien."
Legal pensar num mundo em que não existe o dinheiro, as necessidades de todos são atendidas, as doenças do planeta já estão todas mapeadas e curáveis. Um mundo sem países ou religiões, onde todos pertencem apenas à raça humana. ALGUÉM SE LEMBRA DE UMA CERTA CANÇÃO DE UM CERTO JOHN LENNON? Imagine! Americano, Russo, Japonês são apenas referências geográficas, a coisa subiu um nível, e o importante é saber se o indivíduo é Humano, Vulcano, Romulano ou Klingon. Ao escrever-se um endereço numa correspondência, tem que se acrescentar não o país em que se vive mas .... ‘Terra’. Escrevi e até fiz um áudio sobre isso, aqui, neste LINK.
A série durou apenas 3 temporadas, teve um relativo sucesso, mas não o suficiente para uma quarta. A admiração somente apareceu mesmo, e em níveis de histeria coletiva, quando ela começou a ser reprisada, nos anos iniciais da década de 1970. Termos como phaser, teleporte, dobra espacial, começaram a ser entendidos por mais gente. A coisa virou febre, fã-clubes pipocavam nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Kirk, Spock e sua turma viraram ícones.
Os principais responsáveis pela febre tiveram reações díspares ao fenômeno. William Shatner chegou a rejeitar a fama de Kirk, temeroso por ficar eternamente atrelado à imagem do personagem, criticava a onda, e dedicava aos que se aproximavam dele por causa de Kirk um mal-educado: "Get a life!". Entretanto, logo percebeu que a coisa era inevitável e que poderia seguramente se dar muito bem com o fenômeno, e acabou se rendendo às evidências, aparecia nos festivais de Star Trek, e era ovacionado, enfim, acabou gostando da coisa.
Já Leonard Nimoy foi mais resistente. Ator respeitável com uma carreira sólida no teatro, não admitia de jeito nenhum que ficasse eternizado apenas como o-ator-que-um-dia-interpretou-Spock. Ele chegou a escrever um livro intitulado
"I Am Not Spock"
que provocou uma revolução na comunidade, crises de choro convulsivo, cartas de decepção chegavam aos borbotões em sua caixa de correio. Ele acabou voltando ao grupo para as filmagens do cinema, dirigiu dois dos seis filmes iniciais, que tiveram grande sucesso, e acabou por resolver o conflito interior, quando lançou um segundo livro sobre o tema, quase 20 anos depois do primeiro, desta vez intitulado:
"I AM SPOCK"
Aquela não foi a única falha de avaliação de Nimoy com relação à franquia: foi-lhe oferecido participar da produção de uma segunda série de Star Trek, "The Next Generation", por volta de 1985, e ele recusou, achando ser impossível que a coisa desse certo uma segunda vez.
SÓ QUE DEU!!!
E deu certo mais um montão de vezes, afinal vieram "Deep Space 9" e "Voyager" e "Enterprise" e "Discovery" e "Picard" e "Lower Decks" e "Prodigy" e, agora, "Strange New Worlds" uma pre-quel da série original.
Veja-se na figura o montão de filhos de Gene Rodenberry, agora já chegando ao 4º Milênio!
Como se vê, a tripulação original fez 6 filmes na telona, a da "Nova Geração" outros 4, e mais recentemente teve um ótimo ensaio sobre como tudo começou, com 3 filmes com a mesma tripulação original.
"A Nova Geração" ficou bem oito anos em cartaz na telinha, numa Enterprise modernizada para o Século XXIV, e muito por causa do charme do ator shakespeareano Patrick Stewart interpretando seu francês capitão Jean Luc Picard, e da simpatia de Data, o andróide que queria ser humano! E ainda ganhou o direito de perpetuar a série na telona em mais 4 filmes. Data pode ter sido uma das razões para o fim dos filmes, afinal estava difícil manter o ator que fazia o papel de andróide com a cara imutável, já estava ficando constrangedor. Além disso, contribuiu o pouco sucesso do 10º filme. SÓ QUE NÃO! O ator voltou, há uns 4 anos com o mesmo personagem na séria "Picard"
Os últimos 3 filmes da telona foram uma retomada ou "reboot" que ofereceu uma boa linha de continuação da magia, justamente tentando recuperar a mágica interação entre os dois títeres, Kirk e Spock, contando como tudo começou. O resultado foi ótimo, bem recebidos pelos fãs, mesmo tendo destruído Volcano, provocando uma outra linha do tempo. A continuidade ainda está em jogo, principalmente depois da perda do astro que fez o novo Chekov, num incrível acidente doméstico.
E o nome do filme lançador da retomada na telona foi bastante interessante, super-apropriado para quem queria um recomeço....
... simplesmente ...
“Jornada nas Estrelas”.
Pudemos embarcar novamente!
‘Beam me up, Scotty!’
Sei que apenas parte dos seus leitores são aficionados da série, mas seria interessante também um post sobre as impressões após assistir ao filme.
ResponderExcluirMinha neta está se interessando pelo tema estelar.
ResponderExcluirOba!! Legal, acho que os seriados ficaram meio chatos, os filmes no cinema são mais legais..Tomei conhecimento da série na década de 70, nem sabia que já era repriese...achava o máximo aquelas viagens interesrelares! Depois eu vi um pouco o seriado novo com o Data, e os filmes, claro! Fiquei arrasada com a morte do Spock, mas para felicidade geral, ressucitaram ele...
ResponderExcluirBJs, e obrigada pelas notícias cinematográficas!
Um dos pontos mais importantes da segunda série e que foi pouco comentado foi a "regra máxima": Ao entrar em contato com outras civilizações, era proibido intervir na mesma de forma a tentar reproduzir seus próprios valores naquela cultura.
ResponderExcluirEsta regra deveria ser copiada pelos EUA em suas inúmeras aproximações e intervenções em outros paises.
Homerix, realmente minha praia não é muito de Beatles, John, etc...Mas quando falamos de Star Trek ou JB (os dois) aí realmente me interessa muito! Bom, também adorei a crònica do Rio e o Mar (lembrava dela), as fotos da noite da Renata (adorei a filhinha da Suzi e Da. Mira lá presentes). Mas os comentários sobre ST estão sensacionais, com detalhes que jamais havia imaginado...O comentário sobre o envelhecimento do Brent Spiner é awesome! Comento mais no e-mail...Para dar graça. Abçs, Arnaldo Coelho
ResponderExcluirE aquelas outras séries todas derivadas do fenômeno? Perdi até a conta: Deep Space 9, Voyager, aquela da primeira Enterprise... Acho que Star Trek e Star Wars marcaram definitivamente a minha infância!
ResponderExcluirMuito boa matéria, como todas que você faz. É sempre bom relembrar a história desta série.
ResponderExcluirAbraços
Beto Brito
Minha serie favorita e a voyager , janeway e sua trip me encantam.
ExcluirComome encantam kirk e picard
ResponderExcluirEstou de luto também!!!! triste demais.
ResponderExcluirCarol
Dia triste para todos os entusiastas da série.
ResponderExcluirLLAP.
Homerix,
ResponderExcluirExcelente postagem, que permite um momento de alienação da situação dramática que vivemos atualmente, desde a triste situação dos imigrantes que, deseperadamente, estão das atrocidades dos radicais terroristas que assaltam o direito de ir e vir; quer da situação em que os 12 doze anos de política equivocada, por falta de um melhor eufemismo que seja publicável.
Um bom filme a resgatar, em alusão à situação do Brasil, seria "Perdidos no Espaço". A propósito, não faltarão analogias para o Sr. Smith, tampouco para o simpático robot e seu bordão "perigo, perigo, não tem registro".
Viajei, na máquina do tempo, para 1970 e Que Boas Lembranças e que Saudades!!!!!.... Brigadãoooooo!!!!... Abs.
ResponderExcluirKirk não era apena O galinha. Parece também que era A galinha...
ResponderExcluirEu sempre gostei da série. E olhe que não sou de gostar de séries. Havia um charm especial e tão forte que mudou até o comportamento de alguns fâs. Passaram a ser chamados de Trekkies. Eles usam os uniformes, fazem encontros anuais até os dias de hoje. Um fenômeno, sem dúvida. Eu gostei também da Nova Geração com o Picard.
ResponderExcluirCurioso também o fato de que um dos roteristas para um dos filmes no cinema se inspirou em John Lennon e Paul McCartney para trabalhar o relacionamento de Kirk e Spock. Mas não sei quem seria quem. E para quem gosta de música dos anos 60...bom lembrar também de Michelle Phillips, uma das cantoras do Mamas and Papas que fez do elenco da série Nova Geração.
ResponderExcluirÉ sempre muito triste perder estrelas (no pun intended....)!
ResponderExcluirSou fã de carteirinha da série! O seu texto me fez voltar no tempo e recordar das noites de domingo e esperar, ansioso, episódio semanal, em pretoe branco ainda.
ResponderExcluirSaudades!!! Que descanse em paz e com muita luz.
ResponderExcluirAhhh Jornada nas Estrelas marcou minha geração! E como foi interessante ver surgindo os artefatos futuristas.como o celular, mas continuamos esperando o teletransporte!
ResponderExcluirQue 'Uhura' descanse em paz em sua última viagem.
Obrigada por nos proporcionar essa viagem Homerix!