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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Latim em Pó - de Caetano Galindo

 O nome do livro é genial mas é obra de outro Caetano, o Veloso, ao criá-lo para uma letra de música.

É sonoro por lembrar Leite Em Pó, muito usado por aqui, para a primeira idade.

E é revelador por lembrar que o nosso Português está muuuito distante do Latim Culto, especialmente do falado por Cícero, Sêneca e Virgílio... virou pó.

A começar pelo processo que ocorre em todas as línguas... a face culta já é bastante diferente do que é falado pela população. O idioma se espalhou pela Europa conquistada mas o que chegou nas pontas não foi nem o Latim dos Generais, que de per si, já era menos culto, mas sim da soldadesca que lá ficava para a ocupação dos territórios conquistados.... e havia a necessidade de se comunicar, e começava a fragmentação... e veio o Espanhol, e o Francês, e finalmente o Português, a última delas, e por isso aqui nos acostumamos com a definição de um soneto de Olavo Bilac (1865-1918) que a designou como ‘Última Flor do Lácio, inculta e bela’, a última língua derivada do Latim Vulgar falado no Lácio, uma região italiana.

Voltando à Europa, depois da dominação romana, vieram as invasões árabes, ou os mouros do norte da África, e olha, se eu já soube disso, havia me esquecido.... eles ficaram por lá quase 800, eu digo, OITOCENTOS anos, ou seja, muito mais do que a idade do Brasil ‘descoberto’ pelos portugueses, com muitas aspas aí... e a influência é, como não poderia deixar de ser, enorme.

Aí, passa-se para o lado do Atlântico..... o Português trazido pelos colonizadores era aquele da ralé, migrou para cá o que de pior existia na Matriz, só 300 anos depois veio a Corte, mas encontrou o continental país já muito influenciado pelos idiomas originários, mas muito mais importante, por quase 300 anos de escravatura! Ocorreu aquele mesmo fenômeno da necessidade de comunicação entre os colonos e os escravos, gerando o que foi chamado por um outro autor de Pretoguês, e, tendo a maioria dos escravizados sido roubados de Angola, foi que o autor nos brindou com uma magnífica conclusão:

“Apesar das diversidades, foi a língua falada por negros e mestiços que dominou o Brasil. Somos um país que fala Português como fruto direto da presença negra.

Talvez caiba deixar de lado a bela ideia da última flor do Lácio. 

O Português brasileiro foi um broto Africano, Flor de Luanda!”

Em suma, as diversas línguas foram se misturando, e tome fragmentação, até nosso querido idioma tupinquim poder ser definido pelo genial compositor baiano como Latim em Pó!

O livro traz muitos exemplos e história, e é de leitura indispensável!


3 comentários:

  1. Já estou procurando na internet para comprar! Amo Linguística e Etimologia!

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  2. Ribor: muito boa dica, Mero!
    Abraços

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  3. Excelente Homero! Vou comprar e ler. Parabéns pela resenha.
    Abraços
    Arlindão

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