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quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Rubber Soul, o começo da revolução


 Rubber Soul completa 55 anos hoje!

Esse disco marcou minha alma!!!

  • Foi o terceiro LP ‘oficial’ que tive deles, depois de “Os Reis do Iê-Iê-Iê” e de “HELP”. Tive também “Beatles Again” mas esse era uma coletânea não-oficial que saiu aqui.
  • Se eu fosse eleger as canções que mais me marcaram, eu diria “Girl”, “Michelle”, “In My Life”, “Norwegian Wood”, “Nowhere Man”, “Drive My Car” e “You Won’t See Me”.
  • Ele foi o último LP que teve canções tocadas ao vivo em alucinantes excursões pelo mundo. Era o começo do fim da Beatlemania e o prenúncio de uma revolução que se desenvolveria apenas em estúdio após “Revolver”. Nele, o som começava a ficar mais sofisticado e eclético e ficava mais difícil reproduzir na histeria as nuances das gravações.
  • Marcante!!

Só que aí veio a reclamação de um primo querido, sobre as outras músicas não citadas.
Sim, adoro também! Gosto também de WHAT GOES ON, na voz de Ringo, I'M LOOKING THROUGH YOU, na de Paul, e IF I NEEDED SOMEONE, na do velho HARRISON. Show, como todos os outros, né!

Pois é… na verdade, eu gosto de todas as citadas, e também de “Run For Your Life”, “Think For Yourself”, “Wait” e “The Word”, que completam o álbum…. nós somos assim mesmo ... gostamos de tudo dos Beatles!

E notei que NUNCA havia escrito sobre esse álbum marcador de almas!!

Então, vou completar com algumas informações interessantes sobre o contexto do álbum e sobre algumas das canções!

O ano de 1965 foi o terceiro, e efetivamente, o último em que os Beatles lançaram dois álbuns num mesmo ano, o outro do ano sendo o excepcional “HELP” que tinha a trilha sonora do filme homônimo, segundo da carreira cinematográfica dos Beatles. Depois disso, foi "Revolver" em 1966, "Sgt. Pepper’s" em 1967, “The Beatles" (Álbum Branco) em 1968,  "Abbey Road" em 1969 e, finalmente, "Let It Be" em 1970, fechando a carreira. Claro que houve outros dois lançamentos que acabaram se configurando em LPs oficiais, em 1967, “Magical Mistery Tour” foi lançado como EP (Extended Play) com apenas 6 músicas do filme homônimo feito para a TV, com sucesso mediano, e que posteriormente foi complementado com 5 canções contemporâneas que haviam sido lançadas em compacto! E, em 1969, acoplado ao filme “Yellow Submarine” veio um LP com algumas inéditas que eram tocadas no filme e pérolas clássicas de George Martin que estavam na trilha sonora. Então, nenhum dos dois podiam ser chamados de álbuns, com 12 ou mais canções deles!!

Enfim, pode-se dizer que Rubber Soul fechou com chave de ouro esse ciclo… como falei em cima, que fechava a época da Beatlemania. A produção deles era tanta que eles se davam ao luxo de não colocar tudo em LP, sempre lançavam compactos com canções que não se materializavam em LPs. Contemporâneo às gravações de Rubber Soul, eles lançaram o fenomenal ‘Double A Side’ com “Day Tripper” e “We Can Work It Out”. Um luxo, realmente!!! E ainda fizeram dois filmezinhos com as duas canções, seguindo a onda começada em HELP naquele mesmo ano ... sim... os Beatles foram os INVENTORES do video-clip!

E as canções, ah, que canções!!!

Lado A



Canção 1

"Drive My Car" 
"Beep Beep, Beep Beep, Yeah!" de "Drive My Car" dispensa comentários, é definitivo!! É canção de Paul, que ele mantém até hoje em seu set list, até mesmo foi a única canção que ele tocou em sua última aparição, numa brincadeira genial do programa de Jimmy Fallon, em que apareciam de surpresa no hall de um elevador que parava num andar não desejado

Canção 2

"Norwegian Wood"
Sem mais nem menos, os Beatles apresentam ao mundo a cítara, instrumento indiano que George se apaixonou, e tocou na inesquecível introdução desta canção de John, que fala, possivelmente, de uma relação extra-conjugal dele mesmo (sim, eles pulavam a cerca!) ....

Canção 3

"You Won't See Me"
Paul usou nesta canção sua proverbial construção de rimas diferentes, com o fim de um verso ligado ao meio do verso seguinte. Vejam: "Though the days are few/ Thei're filled with tears/ And since I lost you/ It feels like years". E note o uso de TRÊS palavras homófonas com uma proximidade estonteante: Few, Fill, Feels. Genial!  Notem também uma interessante nota LA que fica tocando sem parar do meio até o final da canção, harmonicamente perfeita (e tocada por um dos roadies do grupo, Mal Evans)  

Canção 4

"Nowhere Man"
Genial canção de John, considerada a primeira dos Beatles a não ter qualquer relação com relacionamentos amorosos... bem, eu acho que HELP também não falava de amores, mas, enfim ... Considero sim uma auto-análise de John que, mesmo já tendo sucesso mundial, se achava ainda sem um lugar nesse mundo (pode?!). A harmonia vocal é perfeita e tríplice, com John, Paul e George destilando suas habilidades ímpares no mundo de então.

Canção 5

"Think For Yourself", 
Primeira das duas canções de George no álbum, aliás, a primeira vez que isso acontecia! É mais uma demonstração de como os rapazes estavam amadurecendo, com sua letra de múltiplas interpretações

Canção 6

"The Word" é a primeira incursão de John no movimento de defesa do Amor como salvação. Uma seguinte seria a definitiva e espetacular "All You Need Is Love", transmitida ao vivo para o mundo todo da TV 18 meses depois. Eu particularmente acho que Love is Really All We Need, para consertar o mundo. Ninguém faria maldades, de qualquer tipo, se sentisse amor pelo outro, enfim...

Canção 7

"Michelle"
Balada genial de Paul, usando inclusive algumas palavras em francês, sucesso mundial imediato. Foi a PRIMEIRA e ÚNICA canção dos Beatles a ganhar o Grammy de Song Of The Year', e foi no ano de 1967, veja só! Nem "Yesterday" conseguira o feito, um ano antes! Paul a canta pouco ao vivo, entretanto, mas não deixou de fazê-lo na espetacular apresentação da Casa Branca em 2010, onde a cantou olhando para Michelle Obama, sob os olhares desconfiados de Barack....


Lado B


Canção 1

"What Goes On" 
A canção dá a Ringo a honra de abrir com a sua voz um lado de um LP dos Beatles! A composição tem créditos de Lennon/McCartney/Starkey, este último sendo ele próprio, o eterno baterista, mas o que eu acho realmente é que os dois grandes compositores fizeram uma homenagem ao querido amigo, por ter dado uma sugestão de palavras... Ringo não conseguia compor nada até então, ou sempre que tentava era barrado pelos dois, enfim. De qualquer modo, sua voz sempre esteve em todos os discos dos Beatles!

Canção 2

"Girl" ah Giiirl Giiirl ... 
John Lennon retrata aqui o relacionamento difícil com uma garota que ainda não existia, mas que procurava, e que encontraria no ano seguinte, que viria a ser sua alma gêmea. Harmonicamente são notáveis a respiração audível de John no refrão que foi objeto de revoluções no estúdio, e o tit tit tit de Paul e George durante a ponte (aquela parte intermediária 'She's the kind of girl that puts you down when friends are there you feel a foul...'. Notável também lembrar que a versão dela foi sucesso aqui no Brasil na voz de Ronnie Von e seus cabeloss miraculosamente lisos e invejados pelos demais cantores da Jovem Guarda. incluindo Roberto Carlos. 

Canção 3

"I'm Looking Through You"
Aqui, Paul começa a demonstrar que seu relacionamento de alguns anos com a atriz Jane Asher já não estava tão firme assim, apesar de ainda morar no sótão da casa dos pais dela (!!!) isso mesmo, eu visitei o local, em Wimpole Street. Folgado o rapaz!!

Canção 4

"In My Life"
Nada mais nada menos a canção que John considera sua melhor canção, rivalizando com "Across The Universe". Linda demais, filosófica, saudosa, e na gravação contando com uma pianola magistralmente tocada pelo grande George Martin. Meu amigo e guru Ricardo Quaresma não tem dúvida em apontá-la como a melhor canção dos Beatles!!!

Canção 5 

"Wait"
Esta canção de Paul havia sido rejeitada para inclusão em HELP, mas foi ressuscitada para completar as 14 do álbum, 7 de cada lado de Rubber Soul, quem diria, faltou música!! Mais um relato de problemas de relacionamento com Jane... ao que parece, os problemas já haviam começado antes...

Canção 6

"If I Needed Someone"
A segunda de George no disco é muito superior a "Think For Yourself", tanto que aquela foi esquecida e esta foi tocada em shows solo, quando ele se decidia a relembrar da época Beatle, inclusive no show de Tokyo de 1988, quando ele retomou a carreira, incentivado por Eric Clapton. Coincidentemente, no mesmo 1965, George produziu outra memorável canção com o verbo To Need no nome, "I Need You", em "HELP".

Canção 7

"Run For Your Life"
Puro rocker de John, que ele mesmo considera uma de suas mais fracas composições... talvez por causa do conteúdo machista "I'd rather see you dead, little girl, than to be with another man.", que ele começou a combater na carreira solo por influência de Yoko... é só lembrar de "Woman Is The Nigger Of The World"


UFA
Acabei falando sobre todas as canções!!!
Mas merecem, né!

8 comentários:

  1. Texto à altura do álbum. Fantástico, mestre!

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  2. Álbum fantástico e além do seu tempo
    Ótima análise

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  3. É um trabalho genial deles com certeza... MASTERPIECE 👏

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  4. Falar de BEATLES e comparar suas obras é sempre um grande desafio. Imaginem o impacto do seu som na meninada de 15, 16, 17 anos, como foi meu caso. Quando RUBBER SOUL veio à tona, pensamos que nada mais seria possível advir dos FAB4, pela qualidade e criatividade transbordantes do que nos era presenteado. Ledo engano! Veio muito mais, para gáudio das milhões de almas conectadas. 🙏🙏🙏👏👏👏

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  5. Rubber Soul é um álbum maravilhoso, ainda mais assim esmiuçado em seu texto.

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  6. prá variar, análise perfeita. parabéns homerix.
    um dos melhores albuns de todos os tempos, apesar de "run for your life"

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  7. Marcante para nós brasileiros porque pela primeira vez foi lançado aqui que nem lá na Inglaterra. E pela primeira vez deu para perceber, eu percebi, que tinnha de ser aquala ordem músical. Para mim é o primeiro álbum da História da Música, se pensarmos em album como algo diferente do LP. Bem sei que deve ser a mesma coisa. Mas penso em album como canções que se complementam. Quanto tudo é importante. A capa é importante. O nome e importante. Pela primeira vez ouvi amigos comentando sobe um albuml, e não apenas sobre algumas faixas. Todo mundo falava no Rubber Soul. " Já tem o Rubber Soul? Já chegou na Disco Brasa!" Ninguém falava que comprariam Michelle ou Girl. Era Rubber Soul E a partir daói foi semopre assim. REvolver, Stg Pepper's etc...Os Beatles inventaram esse tipo de album. E outros os seguiram. Beach Boys com seu Pet Sounds, Pink Floyd com...todos rs rs rs. A sequencia das músicas tinha importancia.

    Percebo que muitos ainda não se deram conta disso. Estavam lá, mas não notaram a mudança. Acho que John nunca mais falou em 'fillers'. Claro que todos nós citamos algumas músicas, mas o nome do álbum era muito mais citado. E a gente debruçava sobre eles, os albuns. querendo atá saber o significado dos títulos. E os presentes? Costumava vir bonus, fotos, posters...

    Eu não sei se há uma exigência que albums precisam ter doze musicas. E se havia tal exigência me desculpe, mas os Beatles não chegaram para cumprir exigências de estúdios. Eles inovavam. Então MMT para mim é album, mesmo que com apenas seis canções. Pois se tem sequencia, pois se uma se encaixa na outra, pois temos até uma história...as fotos em cada página, desenhos...Album de seis faixas.
    É verdade que os americanos nunca aceitaram suas novidades. Capitalistas demais para entenderem de arte. O formato tradicional venderia mais, então vamos enche-lo com os simples. Felizmente isso não aconteceu no Brasil. Um encanto de EP.

    Pois ainda me lembro quando ouvi Ribber Soul pela primeira vez. Era uma quinta feira. As 20 horas. Ouço pelo Serviço Brasileiro da BBC, programa Ié Ié Ié na BBC com Miguel Carlos. Fascinado pelo disco. Estreia! Deliriou com o piano de Martin em In My Life. Não lembro mais suas palavras, mas queria dizer que os Beatles tinham se suplantado. E como .

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