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sábado, 5 de novembro de 2005

Quinta-feira 2: Halloween e Jogos Mortais

         A semana começou com a Globo emplacando na Tela Quente, em homenagem ao feriado tipicamente americano, o filme “Halloween 13”, ou “7”, ou “9 e meio”, sei lá. Não havia planejado perder meu fim de noite com um filmezinho de terror B, já que rolava no SporTV o ‘Bem Amigos’, o programa de toda segunda que sempre prende a atenção dos amantes do esporte,  apesar do comando irritante do Galvão Bueno. Só que, numa passeada do indefectível controle-remoto, vejo a marcante máscara de Michael Myers colada ao rosto de Jamie Lee Curtis, ambos pendurados, Michael aparentemente morto, enforcado. Jamie tenta tirar-lhe a máscara, para conferir, ao que ele ‘ressuscita’ pela 72 vez e enfia o facão que ainda segurava, nas costas da pobre heroína. Prestes a morrer, ela beija a boca da máscara e diz: “See you in hell” e despenca, morta, de algo como 10 metros.
Era, pelo horário, a cena inicial do filme. Jamie Lee havia sido a heroína do primeiro filme da série, uns 20 anos atrás. A cena foi plástica, interessante e resolvi continuar. Bad move. O resto do do filme foi uma repetição do mesmo esquema dos anteriores: adolescentes invadem casa escura, desdenham do perigo, e vão sendo implacavelmente eliminados, degolados, esmagados, perfurados pelo implacável vilão, um a um. O único ponto bom do filme é a expressão do psicopata nato Myers, por mais que pareça estranho admirar uma expressão em um personagem de máscara. Parece brincadeira, mas dá para se notar o prazer do assassino com o sofrimento da vítima, observando-a morrer, dando aquela inclinadinha na cabeça, sem expressar nenhum som. Acho que é esse o encanto do filme, talvez o fato que tenha mantido a franquia viva por tanto tempo.
“Sexta-Feira 13” segue na mesma linha: psicopata-mudo-aniquila-jovens-ingênuos-de-forma-sangrenta. Neste caso, o psicopata Jason Voorhees nasce normal mas se torna maníaco (nature x nurture). Teve várias sequências, cada vez mais sangrentas e menos interessantes. Depois, “Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado”, mesma fórmula, porém menos sucesso. “Pânico”, idem, porém caminhando um pouco mais para o lado do humor. Um pouco diferente, mas com grande sucesso, e muitas seqüências foi “A Hora do Pesadelo”: o feioso vilão Freddy Kruger vem dos pesadelos juvenis e aniqüila-jovens-ingênuos-de-forma-sangrenta.
“Quinta-feira 2” não é nenhum novo filme de terror, apenas é o dia em que vi, pela primeira vez na tela grande, um filme da nova sensação do terror “Jogos Mortais III”. Vi os dois primeiros na tela pequena, aproveitando uma maratona do Telecine, que mostrou os 2 primeiros em carreirinha, numa noite de sábado, e eu gravara em vídeo. O milênio virou e parece que a imaginação dos cineastas do terror melhorou bastante.  Vi os 2 filmes sem desgrudar os olhos, sem sair de cima.
O título em inglês, “Saw”, tem sentido duplo, já que remete a “serra”, um instrumento que aparece logo no começo do primeiro filme, mas também a “JigSaw”, alcunha com que a polícia nomeia o vilão, devido aos engendrados quebra-cabeças que o vilão apresenta. Se quiserem, um terceiro sentido pode ser aplicado: as vítimas viam (“saw”), não vêem mais nada depois do filme! Os ambientes são sempre escuros e lúgubres. As vítimas aparecem já presas em simples correntes ou em sofisticadas armadilhas, sem saber absolutamente como foram parar ali. Encontram pequenos gravadores ao seu alcance, ou aparelhos de TV que repentinamente ligam. Em ambos os meios, seja por voz, ou pela imagem de uma máscara aterrorizante, há uma mensagem do vilão, propondo um jogo à vítima, mais ou menos sempre com a mesma mensagem, em voz disfarçada: “Hello John Doe, você está ferrado, mas pode se safar dessa, se sofrer ‘um pouquinho’. Você não deu valor à dádiva da vida, mas eu lhe dou a chance de se redimir. Let The Game Begin!” Este último, o mote presente em todas as mensagens. Portanto, aqui, as vítimas não são jovens inocentes, mas adultos com algum tipo de culpa no cartório.
O que se segue, são momentos ainda mais tensos, dá pra sentir o desespero dos pobres tentando seguir as regras do jogo para escapar da armadilha. Algumas explicações aparecem em flashback (e só então vemos um pouco de luz do sol, bem pouquinho!). Há policiais tentando decifrar o misterioso quebra-cabeça. No primeiro, o obstinado é vivido por Danny Glover, o único ator de renome de toda a série. Ele devia ter seguido o mote de seu personagem em “Máquina Mortífera”: “I’m too old for this shit”. Pobre Danny, fica difícil enfrentar um vilão que não se vê e que parece conhecer profundamente a alma humana. E, interessante, um vilão que não mata suas vítimas. Elas se matam por si só, ou se matam entre si, como acontece no segundo filme. No segundo, o filho do policial investigador é uma das potenciais vítimas, deixando o cara doidinho. Neste, como direi, episódio, o vilão mostra sua cara e trava com o infeliz policial diálogos chocantes.
Não há momentos de alívio, ou ‘comic reliefs’, como dizem os cinéfilos. Muito menos um ‘sex relief’, como acontecia, invariavelmente, na fórmula tradicional, em que potenciais vítimas têm alguns momentos de alegria, se entrelaçando e aparecendo alguma parte feminina de relance. Aqui, é a técnica ’no relief’ 100% do tempo. Você não dá um sorriso, a face fica tensa o tempo todo, vez por outra você fecha os olhos, solta pequenos murmúrios de espanto, não acreditando a que é que o/a pobre está se submetendo lá na tela. A tensão só termina no “The End”. E mesmo assim, você não se levanta imediatamente, fica pensando, tentando entender aquilo que se passou.
Acresça-se ao clima, roteiros bem armados, coerentes, que sempre reservam uma surpresa aterrorizante e surpreendente (sem temer a redundância, dado o nível de inesperado da coisa) para o cinespectador. Pena que não dá para contar, senão perde a graça! Dá apenas para garantir que é d-e-m-a-i-s! O interessante é que algumas aparentes incongruências de um filme são explicadas nos filmes seguintes. Apesar de não ser essencial, é recomendável que se os veja na sequência natural. E, de preferência, sem a presença da cara metade. A não ser que ela seja forte e absolutamente resistente a susto e sangue. Deu pra ver na fila do cinema que a recomendação é naturalmente atendida: de 44 pessoas de uma amostragem que fiz, contei apenas 9 mulheres. Vi grupos de jovens, alguns poucos casais e vários solitários, como eu.
Está disponível, para empréstimo, a fita com os 2 primeiros. A qualidade não é a melhor possível, já que tive que usar a velocidade menor de gravação. Acho mesmo que a melhor opção seria alugar o DVD, já que se pode ter a melhor visão do estrago todo, na visão wide-screen, e no som digital, de preferência dolby, para que sintam um pouco, somente um pouquinho, do singelo ambiente.

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