UM ANO SEM ELE
Recordo-me como acompanhei aquele fim
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Era quinta-feira, dia 29, e eu assistia ao Estúdio I, na GloboNews...
Corria uma, como sempre, ótima reportagem direto de Brasília...
Quando, de repente, interrompe Andréa Sadi...
De imediato, pensei: Morreu Pelé....
E Sadi confirmou...
E eu chorei...
Hoje, terça-feira, dia 3, eu assistia ao Estúdio I da GloboNews
Andréa Sadi comandava novamente o show.
Entrava no Mausoléu Memorial de Santos o caixão real.
E eu enxuguei a última lágrima....
Nossa, quanta coisa aconteceu em 5 dias...
Na manhã daquele primeiro dia, eu havia mandado minha mensagem de fim de ano e disse que somente ouviriam de mim de novo no dia 4, quando celebraria, como sempre faço, meu próprio aniversário, atualizando meu post retroativo até o dia de minha chegada neste mundo... A NÃO SER... que algum valor mais alto se ‘alevantasse’.... usando o mesmo verbo que Camões usou na 3ª estrofe do Lusíadas.
E o tal valor mais alto se ‘alevantou’...
Morria um ídolo meu .... muito mais que isso, um ícone mundial....
E eu tinha que incomodar os amigos de novo...
Na sexta-feira, disse que não ia escrever nada de novo, e compilei tudo o que escrevi sobre o Rei num único post... eram 10 outros posts ... aqui, neste post... mas mesmo não-escrevendo, acabei fazendo uma ode às qualidades esportivas da entidade que se fora...
... afinal já publiquei bastante sobre ELE, como narrava o locutor Walter Abrahão, sempre que Pelé tocava na bola, nas transmissões da antiga TV Tupi. Era uma reverência fenomenal, o inominável, o que não precisa nomear, bastava ser, bastava estar presente, bastava nos encantar com sua classe (já viram ELE conduzindo a bola?), com sua velocidade (já viram ELE sair atrás e chegar na frente do zagueiro?), com sua habilidade (já viram ELE driblar?), sua com força (já viram ELE chutar?), com sua ambivalência (já viram ELE usar o pé esquerdo, apesar de destro), com sua impulsão (já viram ELE cabecear?), sua delicadeza (já viram ELE matar uma bola no peito?), sua malandragem (já viram ELE fazer falta no zagueiro e o juiz marcar pênalti a favor do time dELE?), sua malícia (já viram ELE tabelando nas pernas dos adversários?) e por que não, com sua felinidade (já viram ELE defender pênalti?), enfim...
E muitos amigos já gostaram do Não-Texto
O principal post meu sobre Pelé, e que abre a tal coletânea de posts, coletava frases que descreviam o Rei melhor do que qualquer texto que eu poderia produzir, este aqui, então resolvi liberá-las em doses, como chamei, homeRopáticas, e fui fazendo, de 5 em 5, na sexta, no sábado e no domingo.
Mas no sábado, morreu o Papa Emérito, fechando o ano de impressionantes perdas de gente famosa, e eu fiz uma breve coleção delas, dizendo:
“Hoje, 2022 nos levou um Papa, há dois dias, um Rei, antes uma Rainha, e também duas Divas, duas Imortais, uma Atleta, um Mestre, um Caipira, uma Galvão, um Cineasta, um Gigante e até um Gordo, e outros menos famosos, e também alguns importantes para cada um de nós...”
... não houve ninguém que acertou 100%... gabarito ao final...
E finalizei com mais uma espécie de desejo para o Ano Novo.
“Esperamos que 2023 seja isento de chamadas para o andar de cima dos que nos são caros...”
E no domingo, o novo Presidente foi empossado, e não há como não se emocionar com aquela subida da rampa cheia de diversidade... até os mais recalcitrantes devem ter admirado, ao menos.
E na segunda, começou o velório do Rei Pelé, corretissimamente adiado por 3 dias pela família real, para não confundir os corações com a posse presidencial...
Era na Vila Belmiro, local onde o Rei brilhou, e marcou mais que um gol por jogo que lá disputou. Vi alguns desses jogos, quando criança....
E vi o último deles, em 2 de outubro de 1974, em que ele não fez gol, mas pegou a bola, no centro do campo, ajoelhou-se e agradeceu aos quatro cantos do planeta, de braços abertos.
Era sua despedida do Santos.
E ele chegou em seu caixão, direto de um vestiário para o centro do gramado, como se tivesse chegado para disputar seu último jogo.
E começou a peregrinação...
Dezenas, Centenas, Milhares, Dezenas de Milhares, Centenas de Milhares.... sim, mais de 200 mil pessoas, de todas as classes, credos, preferências, torcidas e lugares do Brasil, e mesmo de fora do Brasil, pacientemente esperavam mais de duas horas em fila sob sol escaldante (ou ao frescor da noite e madrugada) para passar por alguns segundos em frente ao caixão, aonde apenas podiam ver um pouco da face do Rei e fazer sua breve oração, muitos com lágrimas nos olhos...
Em paralelo, em meu particular mundo blogueiro, na segunda, cansei das frases SOBRE o Rei em doses homeRopáticas, mas um amigo me passou algumas frases DO Rei, sobre família e sobre Deus, e propiciou a feitura de mais um post, sobre um certo livrinho que ele tinha, que falava sobre Pelé, que pesava apenas 15 quilos. Mais detalhes aqui.
Ouviu junto com a família, todos emocionados, a encomenda da alma real e foi-se embora.
Em seguida, começaram os processos de fechamento do caixão, com toda a merecida pompa, a transferência a um carro de Corpo de Bombeiros, e começou o préstito, rumo à casa da mãe real, Dona Celeste, do alto de seus 100 anos de idade.
E os milhares de seres que ficaram a ver navios com o fechamento dos portões foram junto...
E juntavam-se ao longo, os moradores locais, que aplaudiam e gritavam e se emocionavam e desfraldavam enormes bandeiras.
Foram ao Canal 6, estava lá a irmã real, voltaram e entregaram o corpo para a cerimônia final, apenas entre família e poucos amigos...
A minha Cidade de Santos está de parabéns!
Fizemos uma despedida condigna de um Rei!E, segundo o João, parabéns também à Globo, por encerrar a transmissão do sepultamento do Rei com a música clássica Ode à Alegria, a 9ª do Beethoven. Que foi de arrepiar de emoção, e muito compatível com o que o nosso eterno Rei sempre nos proporcionou: ALEGRIA!
Quase 120 horas de ocorrências emocionais...
Hora agora de virar a página...
... mas antes, gabarito das celebridades listadas
um Papa: Emérito, Bento XVI
um Rei: Pelé
uma Rainha: Elizabeth II
duas Divas,: Gal Costa e Elza Soares
duas Imortais: Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon
uma Atleta: Isabel, do Vôlei
um Mestre: Sifney Poitier, de Ao Mestre com Carinho
um Caipira: ROlando Boldrin
uma Galvão: uma das irmãs Galvão, de Beijinho Doce
um Cineasta,: Arnaldo Jabour, mas aceitei Godard
um Gigante: Erasmo Carlos, conhecido como Gigante Gentil
um Gordo: Jô Soares
Como é de praxe, caro amigo Homero, você arrebentou presenteando-nos com uma resenha notável, completa, sobre a despedida do nosso Astro Maior.
ResponderExcluirPelé realmente foi o cara!
Viva o rei Pelé! Excelente resenha!!
ResponderExcluirObrigado. Abrs.Gerson Braune
Os céus conspiraram para não deixá-lo sem escrever por tantos dias. Já que os acontecimentos estão aí, Homerix neles!
ResponderExcluirMuito bom Homerix, ums verdadeira Ode para Pele...
ResponderExcluirQue maravilha de texto, Homero! Parabéns!!
ResponderExcluirQueridos amigos, pelo amor de Deus , não me levem a mal. A condição de Rei do Pelé é inegável . E como todo Rei é humano e como todos os humanos falham , não posso deixar de citar uma grande falha do Rei Pele. Refiro-me à sua filha Sandra, que nasceu em 1964, fruto de um relacionamento de Pelé com a empregada doméstica Anisia Machado e que faleceu aos 42 anos. Ela travou disputa na Justiça pelo reconhecimento de sua paternidade e morreu sem nunca ter tido, de fato, o reconhecimento como filha, e só conseguiu incluir o sobrenome do pai em 1996.
ResponderExcluirDe novo, esta lembrança não tem por objetivo julgar ninguém , muito menos tirar o brilho do magnífico texto do meu amigo Homero e nem mesmo diminuir a genialidade de Pele . Presta-se, portanto, apenas para complementar um episódio muito ruim na vida do Rei.
Cheguei a pensar em escrever isso diretamente para o WhatsApp pessoal do Homero, mas como não há nenhuma ofensa e desrespeito, achei melhor tornar este comentário público, até porque , ultimamente uma grande parte de nós se esqueceu do que é ser contestado em algum aspecto .
Homero, parabéns mais uma vez pelo belíssimo texto. Suas escritas fazem parte integrante da vida de cada um de nós .
Que Deus receba o Rei em sua infinita bondade.
Abraço a todos
Roberto Bazolli
Uma bela e emocionada resenha. Parabéns!
ResponderExcluirComecei a me encantar com essa crônica pela manhã, mas só consegui findar à tarde, pelo fôlego do texto e devido a compromissos urgentes. Me chamou atenção positivamente que o escritor tenha prestado homenagem, com brilhantismo, ao ser supremo do futebol, com o orgulho de um santista, bem como as figuras ilustre que partiram.
ResponderExcluirA dimensão extraordinária de Pelé foi reconhecida pela presença do presidente do Brasil, Lula, assoberbado pela posse no domingo.
Um desapontamento sutil do escritor foi que a trágica efeméride do sepultamento tenha ocorrido no dia anterior ao de seu aniversário.
O destino não conspirou para que datas tão importantes coincidissem.
A história da vida nunca é perfeita.
Parabéns Homerix, feliz aniversário. Laury
Bela homenagem (ou seria homeronagem!) que poucos teriam condições de fazer. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns Homero!
ResponderExcluirExcelente e merecida homenagem de um fã especial.
Armando