Onde o Judas perdeu as botas.
No cafundó do Judas.
Pra lá de Marrakesh.
No calcanhar do Judas.
Pra lá de caixa-prego.
E ... No cu da perua, do mundo, e, como não poderia deixar de ser, do Judas.
Todas expressões, frases feitas que denotam um lugar muito distante. Aliás, noto a frequência da presença de Judas, com certeza o Iscariotes, não o Santo Tadeu, acho que deve ser porque queremos distância de potenciais traidores e ‘muy amigos’. Interessante é imaginar um Judas com botas para perder, no tempo dos apóstolos, logo eles que andavam de sandálias. E onde será o seu cafundó? Na imaginação popular, acabou sobrando até mesmo para o fiofó da pobre perua.
Marrakesh é um lugar existente, é geograficamente imaginável, mas é meio vago, e tem muita terra mais pro oriente, pra lá del. Agora, sobre a expressão do título, já sei exatamente onde é, e não é assim tão longe, aliás, é logo ali: Avenida República do Chile com Rua do Lavradio, centro do Rio de Janeiro, esquina nordeste, onde fica o Edifício Metropolitan.
Marrakesh é um lugar existente, é geograficamente imaginável, mas é meio vago, e tem muita terra mais pro oriente, pra lá del. Agora, sobre a expressão do título, já sei exatamente onde é, e não é assim tão longe, aliás, é logo ali: Avenida República do Chile com Rua do Lavradio, centro do Rio de Janeiro, esquina nordeste, onde fica o Edifício Metropolitan.
É impressionante como aquilo ali venta! Especialmente, aquela esquininha do citado edifício. Pode estar um dia bonito, tranquilo, a 200, até mesmo 100 metros daquele ponto, que quando se vai aproximando dele, já se sente a movimentação do ar, ela vai aumentando, até que chega ao ápice naquelas exatas coordenadas. Há dias em que é o terror dos penteados e das meninas de saia, proporcionando a algumas, o seu ‘Momento Marilyn Monroe’. Quando chove, então, é divertido observar o efeito nos guarda-chuvas (nem tão engraçado assim quando é você a vítima), mormente quando está fazendo uso de um daqueles de alta qualidade a 5 ‘real’. Vendidos pelo mesmo sujeito que vendia balinhas ou distribuía panfletos outro dia, não se sabe de onde tira aquelas preciosidades quando começam a cair as primeiríssimas gotas... talvez um bueiro secreto, ou algo assim.
O fato é que venta pra dedéu! Tenho cá minha teoria de que o vento é parte do protesto da natureza contra a ação do homem, que tirou um morro inteiro dali, e agora incomoda com as armas que tem, aproveitando um espaço novo, outrora não existente; se bem que não deve estar tão brava assim, pois se estivesse mesmo, mandava uns terremotozinhos de leve, de 4 ou 5 graus na Escala Richter. E talvez assim não seja, pois reconhece que a mão do homem acabou proporcionando uma espetacular solução viária e urbana.
Pois é, poucos cariocas sabem que aquilo ali era um morro no final da década de 1950, o Morro de Santo Antônio. Mais especificamente, poucos petroleiros sabem que a sua pomposa Sede, aquele magnífico edifício cheio de buracos (ainda hoje uma maravilha arquitetônica, 50 anos depois de sua concepção), só está ali, pois o governador Lacerda decidiu mexer com a natureza, em prol da otimização do espaço urbano. Não sei se foi dele a idéia, mas foi ele quem a materializou.
E olha que foi uma boa idéia, os naturebas que me desculpem. Tirando aquela terra e rocha toda dali, ele criou imensa área urbana, no centro da cidade, onde ora estão, não só a Petrobras, mas os outros dois vértices do outrora conhecido como Triângulo das Bermudas (em sua versão econômica), por onde desaparecia o dinheiro brasileiro (maldade!), o BNDES e o antigo BNH, também a moderna e nova Catedral da cidade, belíssima, (por dentro, é de cair o queixo!) completando um Quadrado Mágico de respeito. Também tem um CIEP e três modernos edifícios comerciais.
Melhor que isso, entretanto, inventou duas avenidas ‘republicanas’, a do Chile e a do Paraguai, que equacionaram, como mágica, o trânsito da região. Vocês podem imaginar como seria, hoje, o trânsito, se tivéssemos um morro pitorescamente colocado ali? Dele, deixaram apenas a elevação onde se encontra o Convento de Santo Antônio. Deve ter sido esta a condição que o Santo impôs ao Governador, na época da negociação. Ele deve ter dito: Tudo bem, mas não desapropria minha casa!
E pra onde foi aquela terra toda, caríssimos e pouco curiosos vizinhos cariocas? Nunca notaram que a arquitetura daquela região do Centro, com prédios de arquitetura arrojada, é deveras destoante de tudo o que a circunda, com prédios velhos e carcomidos? E também nunca se perguntaram por que aquela magnífica via expressa que muitos usam todos os dias a caminho do trabalho, margeando a enseada de Botafogo, depois a Praia do Flamengo, depois a Praia do Russel, distraindo-se com a estonteante visão do Pão de Açúcar, chama-se ‘Aterro’? Pois é, aquela massa toda do finado Morro de Santo Antônio está lá, roubando um pouco do espaço marinho, mas proporcionando uma espetacular solução viária, viabilizando o trânsito de uma maneira definitiva. Para completar a maravilha, o genial paisagista Burle Marx, plantou aqueles magníficos jardins que fazem a festa da visão e dos fins-de-semana dos que querem escapar um pouco da selva de pedra, curtindo um pouco de natureza. E aqueles postes altíssimos, que pontuam o caminho, idéia da arquiteta Lota de Macedo Soares.
A visão de que 'aterrar é bom', apesar de genial, não foi original. A solução de aplainar morros criando áreas urbanas é utilizada há séculos, e já havia acontecido na nossa amada, querida e maravilhosa Rio de Janeiro. No começo do século passado, a região do Centro hoje conhecida como Castelo, na verdade, era o Morro do Castelo, que hoje sumiu do mapa, foi usada na década de 20 para criar espaço para parques e avenidas, e parte dele vem fazendo a festa dos usuários da ponte aérea, que não precisam se deslocar até o cafundó do Judas (desculpem-me, moradores da charmosa Ilha do Governador mas que é longe, é!), e utilizam o charmosíssimo e estrategicamente posicionado Aeroporto Santos Dumont.
Aos que sabiam disso tudo, que me desculpem a ironia aplicada, mas tenho certeza da grande maioria ignorante (porque ignoram o fato). Desde que eu descobri essas coisas, comentei com algumas dezenas de colegas cariocas, e a proporção foi de 1 pra 10.
Se eu estiver enganado, que me provem, que dou a mão à palmatória!
Nossa! Palmatória? O que é isso? Isso é do tempo do Morro do Castelo!
Brilhante.Existe o lugar onde o vento faz a curva.O que eu como ignorante, desconhecia. Importante a explicação explicita do termo ignorante....Assim tambem como se usa mal o termo MEDIOCRE, que significa MEDIANO. Nada há de errado em ser-se mediano.O Einstein era menos que mediocre em morfologia equina, assim como eu sou menos que mediocre na teoria da relatividade. Sem nos esquecermos que no velho e bom latim ...IN MEDIA ESTAT VIRTUS...OU NÃO ? hehehehe
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