Meu chefe indicou como leitura obrigatória o livro 'A Lógica do Cisne Negro', simplesmente 'The Black Swan' no original, que comecei a ler, e é muito interessante. É do libanês e megainvestidor Nassim Nicholas Taleb, e trata dos eventos inesperados que podem influenciar nossa vida decididamente. Inesperado como o aparecimento de um cisne negro, o que era considerado impossível por milênios, mas acabou acontecendo. Em seu livro, considerado um dos 12 mais influentes do mundo dos últimos 50 anos, ele alerta para a ocorrrência de outros black swans, dá exemplos de alguns que já aconteceram e mudaram a vida do mundo (11 de setembro, por exemplo), e ensina como se precaver de sua ocorrência.
Eis que surge ao mesmo tempo no cinema um filme de mesmo nome, e só me apercebi dele quando foi indicado ao Oscar em várias categorias. Googleei-o (novo verbo, que em inglês fica bem melhor - I've googled it) e vi que em princípio nada tinha a ver com o livro, afinal tratava-se de um filme de balé, em que uma companhia se prepara para encenar o 'Lago dos Cisnes'. Ou seja, tratava do cisne negro que já existe neste planeta. Mas precisava assistir ao filme para perceber se não havia alguma correlação. Fizemo-lo com um casal de amigos.
Pausa para o comentário sobre o local em que assitimos: aproveitamos para conhecer o Cinépolis Lagoon, complexo de salas de luxo na envoltória do Estádio de Remo da Lagoa. Nada de promoções de meia-entrada, a não ser para estudantes, claro. O filme estava numa sala normal (parece que há uma mais luxuosa), mas ao entrar, sente-se aquele cheiro de carro novo: bancos de couro bem confortáveis com uma reclinação idem. Bom espaço entre filas, agradável! Começa o filme e já na cena antes dos créditos, um espetacular e intrigante dueto, notamos uma mancha branca BEM NO MEIO da tela, um pouco mais próxima da borda superior, como se alguém tivesse riscado a lente. E assim ela continuou nos créditos, e no começo do filme. Irritante, pois sua existência atraía minha visão para ela, e eu não prestava atenção no filme. Quis levantar para reclamar, mas Neusa me impediu, várias vezes, até que desisti, relaxei e me esqueci dela. Eu só ia falar sobre a mancha, e que se ela continuasse por mais tempo, eu exigiria o dinheiro de volta, após assistir ao filme, claro. Mas não pude. À saída, esquecemo-nos da coisa e ficou por isso mesmo. À saída também percebemos que estávamos em outro mundo: no estacionamento, alguns Audi's, Mini-Coopers, Honda CRV's, Tucson's, e até um Porsche. Parecia São Paulo.
Cinépolis Lagoon ... aonde os ricos se encontram!!!
De volta ao filme! Começo pelo seu final, calma, sem dizer qual é: ao percebermos que ele havia acabado, olhamo-nos os quatro, com os semblantes sérios, com aquela cara de 'O que foi isso?' Não, não tire conclusões precipitadas! O filme merece ser visto! Mas é como diz minha filha: "Vejo nele todos os ingredientes de um campeão de Oscar, mas eu não gostei!", ou como um outro grande amigo comentou em meu blog: "Vi Cisne Negro e me lembrei de uma antiga empregada lá de casa que certa feita assistiu a um filme muito badalado na época e comentou com a minha mãe: 'Dona Isis, o filme é ótimo, mas eu não gostei'."
E o inesperado que eu procurava, para ver se tinha alguma correlação com o livro? Não, no exato significado não tinha, mas trata-se, sim, de um inesperado thriller psicológico muito tenso, com muuuitos sustos e pouquíssimos 'comic reliefs'. Os adeptos da dança dizem que o mundo do balé não é assim, sei lá, mas o exagero é prerrogativa do diretor. Aliás, a direção é super competente, com um jogo nervoso de câmera, e uns efeitos de espelho sensacionais. Interpretação perfeita de Natalie Portman, que deve levar a estatueta. Já levou o Globo de Ouro, e ela está irrepreensível. Ficou no passado aquela insossa que foi a Rainha Amidala de 'Star Wars Episódio 4' que na verdade era o 1º, coisa da cabeça de George Lucas, que tinha cenas ridiculamente mal-interpretadas. Depois, ela me impressionou positivamente em 'Closer', e em 'V de Vingança', e agora este é decisivamente o ano dela: está em outros três filmes com estréias próximas. E ela ainda está grávida, na vida real!
Dentre as estréias está 'Thor', que eu quero ver muito, em homenagem ao gibi (!) que eu adorava quando criança: Thor, com seu martelo super-poderoso, era meu preferido entre os cinco super-heróis que foram lançados simultaneamente (os outros eram Capitão América, Namor - O Príncipe Submarino, O Incrível Hulk e Homem de Ferro), e que tiveram na TV uns desenhos super mal-animados. Um pouco de mitologia nórdica que aliás, determinou a nomeação de dois dias da semana em inglês: Thursday, dia de Thor, e Wednesday, dia de Odin (o pai de Thor)... olha a cultura inútil aí, geeeente!!!.
Dentre as estréias está 'Thor', que eu quero ver muito, em homenagem ao gibi (!) que eu adorava quando criança: Thor, com seu martelo super-poderoso, era meu preferido entre os cinco super-heróis que foram lançados simultaneamente (os outros eram Capitão América, Namor - O Príncipe Submarino, O Incrível Hulk e Homem de Ferro), e que tiveram na TV uns desenhos super mal-animados. Um pouco de mitologia nórdica que aliás, determinou a nomeação de dois dias da semana em inglês: Thursday, dia de Thor, e Wednesday, dia de Odin (o pai de Thor)... olha a cultura inútil aí, geeeente!!!.
Ih, de volta ao filme, de novo.... A cena quase final, o clímax do balé itself, é impressionante!
Bem, o Cisne Negro para mim, é um paradoxo: não gostei muito mas vou ter que ver novamente. Preciso captar alguns detalhes, chegar à conclusão sobre o que era verdade ou imaginação em determinadas cenas. Uma outra vez em que isto aconteceu foi com 'O Sexto Sentido', de 1999, lembram? Tinha que se ver novamente pra saber COMO a gente não tinha percebido que o cara não estava mais entre nós.
Quer dizer, a gente toda, não! O Felipe, então com 11 anos, único dentre as sete pessoas que assistiam à sessão, percebeu, ainda no meio do filme, tocou em meu ombro e disse:
"Pai, ele tá morto!",
e eu disse:
"Fica quieto, filho!".
A diferença básica aqui, é que com aquele filme, que eu ADOREI, eu vi a segunda vez com enorme satisfação. Agora, com este, vou revê-lo por absoluta necessidade técnica.
Homero Ainda Abalado Ventura
Excelente Homero ! Parabéns pela iniciativa, trabalho, organizacao e prinicpalmente disciplina para manter sempre ativa esta meio.
ResponderExcluirUm abraco MAURI
Eu quero muito ir ver o filme! Mas ainda preciso de companhia (haha é, eu ainda fico sem graça de ir ao cinema sozinha), dai eu fico esperando minha família decidir um dia :/ Mas já li várias reviews e não acho que ficarei decepcionada! Vou procurar o livro também, parece interessantíssimo!
ResponderExcluirEu vi esse filme também, confesso que AMEI! Pelo simples fato de gostar de saber como o ser humano se comporta ao se deparar com um grande desafio, no caso dela, ela mesma! E outro detalhe, chegar ao final do filme, até a última cena, sem saber exatamente o que irá acontecer. Odeio filmes previsíveis que no meio já imaginamos o fim e quando este chega, é exatamente o que pensamos. Por mim, mais que merecido!
ResponderExcluirAbs,
Pri
Acho que tem sim muito a ver com o livro que você citou, "A lógica do Cisne Negro". (não li o livro, mas estou interpretando com base no filme que vi e no que você falou do livro)
ResponderExcluirA questão principal do roteiro é justamente a libertação do inesperado, do imprevisível. A bailarina perfeita não pode existir sem que haja essa libertação, fora do domínio técnico e da racionalidade. O "Cisne Negro" precisa vir à tona - os sentimentos dela, o instinto, a revolta, a sexualidade...
Acho que o final é que confunde. Sem deixar de ser envolvente, o roteiro se transforma de repente num thriller de mistura entre realidade-sonho. Não achei difícil de acompanhar. Deu pra separar realidade de sonho e sonho de metáfora. Mas me parece que a opinião do autor ficou meio perdida por aqui.
Talvez por medo de se tornar previsível, o roteiro evadiu. Mas a imprevisibilidade não se força. O Cisne Negro só se solta quando quer.
Fico com uma dúvida, que vou descobrir depois que você rever o filme. No sexto sentido, realmente dá para descobrir o que é realidade e o que é o "outro mundo". Mas no Cisne Negro tive a impressão de que essa fronteira não é clara, mesmo assistindo várias vezes (embora eu só tenha assistido uma vez). Fiquei com a impressão de que o filme é algo artístico, que vai além da percepção entre realidade e imaginação. (PS.: também não sei se gostei, mas concordo que o filme é bom).
ResponderExcluirGostei muito do filme. Meus comentários iriam na mesma direção dos da Prix e do Felipe.
ResponderExcluirNão me parece ser um filme de balé (apenas um cenário para contar a história) mas um filme que mostra a superação da personagem. Li algumas criticas, em jornais, dizendo não terem gostado por não terem entendido ou não conseguirem identificar o que era real e o que era imaginação. Os mesmos que sempre reclamam dos filmes previsíveis!
Também não o percebi como uma história de libertação do perfeccionismo mas, até ao contrário, uma busca ainda mais forte por ele. A bailarina de Natalie busca em si os ingredientes necessários para conseguir se tornar um cisne negro perfeito em sua capacidade de conquistar e arrebatar tanto o coreógrafo quanto o príncipe e a platéia. E, neste caminho, liberta demônicos.
Um grande filme também permite interpretações diferentes.
Queria assistir o filme, mas depois de seu comentário, PRECISO assistir o filme. abraços a todos
ResponderExcluirHomero,
ResponderExcluirPra mim falta, além do "Cisne Negro", "O Vencedor". A propósito, recomendo "Bravura Indômita" e "O Discurso do Rei".
Abs.
oi Homero
ResponderExcluircomo vai?
como vc, que é um cinéfilo e apreciador da 7ª arte, não gostou do filme?
este filme tem todos os elementos que compõem um grande filme: ótimo atores - Natalie Portman, vc mesmo apontou no blog, Mila Kunis excelente, Vicent Cassel sempre misterioso e ótimo, Winona Rider muito bem depois de anos apagada (e processada!) e Barbara Hershey como a mãe neurótica, um show!
o roteiro é denso e nos faz acompanhar o processo psicótico da protagonista com um final surpreendente, digno de um estudo de caso para a Psicanálise; é um filme que nos deixa pensando uns 3 dias... e estes são os bons filmes, que deixam marcas...
o mundo competitivo dos bailarinos é retratado muito bem porque se já exageros é porque vemos pela perspectiva da protagonista, daí o caráter persecutório... mas que não é muito distante da realidade... qual grande bailarina que não teve seus pés várias vezes feridos por ensaios exaustivos?
quem vai esperando um filme de ballet se decepciona porque a dança é um pretexto... o filme é sobre relacionamentos, sobre desequilíbrios psíquicos e sobre a busca da felicidade, não importa que seja apenas por minutos...é claro que quem tem 11 anos não entende... e aí a pergunta é sobre quem morreu... perfeito!
enfim o filme mostra o grande drama humano: a necessidade de ser aceito, de ser notado, de ser valorizado e de obter sucesso... acho que no final todos temos um pouco de cisnes negros em nós...
é isso
abraço
Ainda não vi o filme, mas certamente o farei, provavelmente durante o carnaval, pois este ano não vou viajar, e os cinemas costumam ficar às moscas nesta época do ano. Também não li o livro, mas sei do que se trata, pois na minha área temos especialistas em risco, que comentaram sobre ele, agora o que eu posso recomendar fortemente é a leitura de DESAFIO AOS DEUSES, um livro simplesmente fascinante, que aborda a teoria do risco desde os primórdios mesmo,ou seja, conta a história e a pré-história do risco, da teoria dos jogos, etc., leitura fundamental,DESAFIO AOS DEUSES, se não me engano no original AGAINST ALL GODS. Taí a sugestão!
ResponderExcluirAbraço!
Esqueci-me de comentar sobre o diretor, vale a pena conhecer seu trabalho prévio, sobretudo o excepcional RÉQUIEM PARA UM SONHO. E CHAPTER 27, vais ver afinal quando, Homerix?????
ResponderExcluirE sobre Natalie Portman, recomendo fortemente assistir ao filme SOMBRAS DE GOYA.
ResponderExcluirAchei ótimo "Cisne Negro"! Mas acho que não cabe muito a comparação com "Sexto Sentido" pois este tem uma grande revelação no final, que te faz entender todo o filme. Em Cisne Negro, Nina (Natalie Portman) não distingue realidade e imaginação, fica desorientada, e a ideia do filme é passar a mesma sensação ao espectador. Ou seja, Homero, acho que você vai rever o filme e continuar sem 'entender nada' hehehe... Cisne Negro lembra, aí sim, a obra-prima de Nelson Rodrigues, "Vestido de Noiva", pelo uso dos planos realidade/imaginação (Vestido ainda tem o plano 'memória') e pelo senso de desorientação transmitido. Um abraço!
ResponderExcluirPaulus disse...
ResponderExcluirPor confiar no seu senso crítico.. que bate (sem choque) com o meu... irei sem falta ver esta película este fim de semana!!!!!!!!!!
lerei o próximo comentário
Tô com a empregada.
ResponderExcluirÓtimo filme, mas não gostei.
Eu normalmente gosto de filmes quando no fim eu me senta tocado pelo drama ou que colhi algum grama de conteúdo na construção da minha própria pessoa.
Saí dele perplexo, confesso, mas ele não me cativou.
Grande Homerix!
ResponderExcluirVer o Black Swan aqui na Nigeria seria tudo, menos algo interessante....
As salas deixam mto a desejar. O melhor é esperar o BD sair e ver em alta definição.
Abraços!
Rodrix
Meu comentários vão para o Lagoon.
ResponderExcluirNão tenho dúvidas: é lá que os ricos se divertem!
Gosto das salas, da pipoca doce, do estofado em couro, do ângulo de reclinação da poltrona e até do algodão doce industrializado, mas detesto não haver meia-entrada para clientes Itaú (isso não é sinal de riqueza, obviamente). Entro no estacionamento como um novato de carteira, pedindo a Deus que meu carro não ouse tocar nenhum outro.
Fui ao complexo várias vezes, e na última tive uma experiência ruim. Não por causa do cinema, mas por conta da riqueza que lá se diverte. Levei minha bandeja com pipocas e refrigerantes para a sala, bandeja essa fornecida pelo cinema e perfeitamente adaptável ao porta-copos. Um rapazinho bem educado sentou-se à minha frente com a namorada e começou a inclinar sua poltrona até bater na bandeja. Ao perceber que não poderia recliná-la alguns graus a mais, resolveu passar todo o filme dando pancadas na minha bandeja com o espaldar da poltrona, alguns com uma violência desnecessária. Se eu removesse incômodo sem avisá-lo, certamente eu ou minha esposa (à epoca, noiva) seríamos atingidos nos joelhos.
Eu, que não sou tão "buona gente" quanto pareço, resolvi manter-me imóvel. Deixei, inabalável, que ele guerreasse com a bandeja e não comigo. Deixei de propósito e, ao final, quase fui atrás dele para dizer que um simples "Por favor, você poderia mudar a posição da sua bandeja" seria suficiente para que ele tivesse assistido o filme e não praticado 1h50min de luta greco-romana.
Sobrou riqueza, faltou comunicação (e educação).