-

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Ai... essas adaptações ....

Vovó chega na sala reclamando das dores de sempre... Renata a instala em sua poltrona, coloca um DVD na TV, dá Play, aparece Julie Andrews em meio a uma verdejante colina, a orquestra começa, ela se posta ajoelhada em frente à vó, e assim que Julie canta 'The hills are alive, with the sound of music', Renata canta junto e assim vai até o final, lindamente, então as dores da vovó passam, como que por encanto....

Seguimos adiante, selecionando as partes musicais, todas ótimas, e meu olho insiste em marear... há momentos até de soluços ... É sempre assim, quando vejo A Noviça Rebelde, já foram mais de 30 vezes.... neste ano o fenômeno completa 50 anos.

Por acaso, na semana passada, o amigo Fernando, admirador de pouquíssimos musicais, dentre eles a Noviça, passou-me relato de interessante ....e hilária... experiência por que passou!!!

______________________

Um texto de quinta - mais uma incoerência politicamente correta

O politicamente correto chega a pontos de total incoerência. Tenho certeza que todos já viram, ao menos uma vez na vida, o filme "The sound of music" que passou no Brasil com o título de "A noviça rebelde". Pois bem, neste filme o personagem da referida noviça, Maria, magistralmente interpretada por Julie Andrews, inicia o filme, após um deslumbrante voo panorâmico como que de uma águia pelos vales austríacos, cantando a música "The hills are alive", quando percebe que perdeu a hora da reza matinal no convento. Ao retornar, esbaforida e atrasada dá de cara com a madre superiora e mais duas freiras importantes na hierarquia do convento, uma tentando fazer a cabeça da madre superiora de que Maria não tem as características necessárias à vida no convento, a outra tentando convencê-la do contrário. As três cantam, a madre superiora e suas assistentes, divinamente uma música cujo título não me lembro mas que fala algo como "como prender um raio de luz em suas mãos?".

Recentemente deparei-me no netflix (ou foi no now ?) com uma versão moderna da peça. Algumas coisas chocam à primeira vista. Ver uma noviça rebelde que não Julie Andrews é sempre perturbador, embora isto possa ser debitado à emoção, mas acima de tudo deparar-me com o capitão Von Trapp interpretado por um rapaz que, com certeza, não poderia ser pai da filha mais velha de 16 anos (lembrem-se, ela cantava com o apaixonado namorado "I'm sixteen, you are seventeen...") foi algo que a razão não aceitou.


Pior, a madre superiora, interpretada magistralmente no filme por uma velha senhora com cara de "vó da gente" e que cantava divinamente, na peça era interpretada por uma cantora negra, mais nova. Seria apenas chocante, se a cantora negra cantasse de forma magnífica, assim como a velha senhora, mas não: não chegava a cantar mal, mas bem longe de poder se dizer que cantava bem. Agora pergunta-se: o que fazia uma madre superiora negra na Áustria do pré-guerra, pelos idos de 1938? Mesmo que estivesse no convento, dentre as freiras e noviças regulares, já seria pouco provável que no clima de então galgasse algum posto na hierarquia do convento. Madre superiora, nem pensar...  Era incompreensível, mas tentava sublimar tal absurdo querendo acreditar que tal madre superiora viera gerenciar um convento do interior da Áustria vindo de uma colônia africana qualquer. Que, depois de ter feito um bom trabalho no Congo belga ou na Rodésia, tinha sido transferida para a Europa como um up-grade na sua carreira.  

Mas acontece que Maria vai à sala da madre superiora para debater o seu futuro no convento. E começa a cantar uma música austríaca dos pastores montanheses locais. Canta a primeira parte e a madre superiora engata a segunda. Maria revela que apreendeu a música porque viveu toda a sua vida, até então, nas montanhas que cercam o convento ao que a madre superiora revela que também viveu ali toda a sua vida. No interior da Áustria, em 1938 ? Ora, faça-me o favor...

PS: falando em politicamente correto, vejam o reclame da Fly Emirates. Seis pessoas em volta de um balcão de bar, em pé no avião. Um casal formado por um negro e uma branquela, esquálida e sem graça. Uma velha, de cabelo branco, e um sujeito com um ar de que não costuma frequentar sequer avião, quanto mais a primeira ou a classe executiva. Um barman oriental e, como não poderia faltar, um casal de rapazes. O fato de um estar com a mão no ombro do outro e se olharem rindo não daria a certeza de serem um casal gay. Mas certamente nenhum homem usaria, impunemente, a echarpe branca que o barbudo traz, despreocupadamente ao pescoço. À semelhança da madre superiora no convento austríaco de pré-guerra, a possibilidade de você encontrar estes seis, juntos, no voo da companhia aérea é mais ou menos a mesma do Vasco não cair este ano para a segunda divisão. 


4 comentários:

  1. kkk. Muito bom. Dei muita risada com as tentativas de justificar a escolha da madre... Mas acredito que a intenção de colocar esta madre tenha sido causar uma certa graça, além do politicamente correto.
    Abraço,
    Grazzi

    ResponderExcluir
  2. Pode ser politicamente correto mas é historicamente e cinematograficamente totalmente incorreto! Ô gente sem noção!

    ResponderExcluir
  3. Se for assim nunca teremos pessoas que nao sejam Europeias como actores/cantores dado que a maior parte da producao Hollywood/Europeia, teatros. operas, concertos e resultado de livros/libretti/peças de teatro europeus ?? Entao o actor brasileiro vai ser sempre o bandido latino no filme americano, um brilhante Carlso Acosta -cubano- nunca poderia ser o Príncepe do Quebra-Nozes, uma cantora lírica brillante com é Eri Nakamura só poderia interpertar Madam Butterfly????

    Patricia Londres

    ResponderExcluir
  4. Homerix,

    É verdade. E escolha do elenco é fator crítico de êxito. Veja o caso da Série Brasil. Os doze últimos capítulos corroboram essa tese.

    ResponderExcluir