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domingo, 14 de março de 2021

Dear Prudence, venha brincar!!

Esta é a  canção d1° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 9 canções com Discurso a UMA pessoa

as demais 8 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

2. Dear Prudence (Person Speech Song by John Lennon)

John diz: "Querida Prudence, vem brincar aqui fora, deixe-me ver seu sorriso, o dia está lindo e você também!"
A atriz Mia Farrow e sua irmã Prudence eram companheiras dos Beatles no retiro espiritual em Rishikesh na Índia. Prudence era a mais dedicada à Meditação Transcendental, e não interagia com os outros. John fez a canção pra ela! E ficou linda! Mas ela nem ouviu, estava catatônica, queria ser a primeira a encontrar Deus!  A canção começava apenas com John ao violão num dedilhado novo para ele (que aprendeu lá, com o astro Donovan e que viria a utilizar também em Julia, outra do Álbum Branco), e depois vai crescendo ritmicamente, de maneira fenomenal. Paul foi o que mais trabalhou, porque, além do baixo (espetacular!), tocou piano e bateria, sim, porque Ringo havia abandonado os Beatles.... chateado com críticas que recebera de Paul na gravação de Back in The USSR.... mas ele voltou 10 dias depois... 

A estrutura da canção é simples, são quatro versos e uma ponte dividindo a canção. Versos 1 a 3 têm letras diferentes (regra Beatle) e o 4° repete a letra do 1°, mas com um arranjo arrepiante, veremos! Cada verso termina como começa, repetindo a primeira frase. As rimas seguem predominantemente 'ricas', 5x1, "play-day""blue-you, "smile-child""sing-everything""chain-again", a única 'pobre' sendo "eyes-skies".

A gravação da canção foi feita fora da EMI, no Trident Studios, que estava melhor aparelhado que a configuração disponível em Abbey Road. Eles já tinham um equipamento de 8 faixas, ao contrário do tradicional, de 4. Eles haviam gravado Hey Jude ali, e resolveram que a linda balada de John seria melhor aproveitada ali. Então, num belo 28 de agosto, John, Paul, George e ... só eles (remember! Ringo estava brigado com eles) se internaram para 14 (catorze!!!) horas de gravação de muuuitos takes, mais precisamente, UM!! (hehe) Explica-se, com a profusão de faixas disponíveis, 100% a mais que o normal, eles foram usando cada uma delas, levando à perfeição um instrumento por faixa, até terminar o exaustivo dia com o lindo dedilhado (e dobrado) de John na Faixa 8, a guitarra distorcida de George na 7 e a bateria de... Paul na 6. Na sessão seguinte, que começou no mesmo dia em que terminou a primeira, as 11 (onze!!!) horas de gravação terminaram com o baixo de Paul e um pandeiro de John na Faixa 5, o vocal principal de John na 3, e depois dobrado manualmente, e finalmente os vocais de apoio, não apenas de Paul e George, mas também dos presentes na sessão (o guitarrista Jackie Lomax, o roadie Mal Evans e até um primo de Paul, John McCartney), em momentos da ponte, e juntamente com palmas, nas Faixas 1 e 2. Ficou registrado o aplauso espontâneo ao final, de todos os presentes, impactados que ficaram com o resultado esplêndido daqueles dois dias! A Faixa 4 foi gravada no terceira sessão (mais tarde no mesmo dia), que durou 'apenas' 4 horas, e tinha mais guitarra de George e o piano de Paul. 

 

Emocionante perceber o crescimento do arranjo instrumental ao longo da canção. Após o avião pousar, o Verso 1 começa leve, com John ao violão chamando a garota "Won't you come out to play?", o baixo do Paul em notas simples, até a terceira frase, quando o próprio Paul começa escorregar o dedo por sobre a corda, e entra a bateria de ... Paul, ainda num galope leve, mas com um marcante prato, concomitante com o "to play" final. No Verso 2, John pede pra garota "open up your eyes" e "see the sunny skies" já com o baixo de Paul em seu esplendor de slides, a bateria já desde o começo, e um apropriado pandeiro, e o vocal de apoio de Paul e George entrando agudo a partir do "skies", e o prato terminando com o último "eyes", e aí se nota a guitarra distorcida de George introduzindo a ponte, em que John convida a garota, que já estaria com os olhos abertos, para "Look around round", e vêm Jackie, Mal e John (o McCartney), os três vocalistas incidentais,  no "round round round round round" mais grave. John quer ver o sorriso de Prudence no início do Verso 3 que, além do mesmo arranjo do 2°, tem uma guitarra de George mais acentuada e o ritmo marcado por palmas, quando então vem a apoteose do 4° Verso, com a letra do primeiro, mas no estilo daquele comercial famoso "a minha letra continua a mesma, mas o meu arranjo, quaaaanta diferença!". Primeiro, Paul esquece o burocrático galope e incita subsequentes e intensas viradas na bateria, e ainda tecla um piano agudo em nervosos triplets, e depois com o polegar passeando de cima pra baixo nas teclas brancas, e não satisfeito com tudo isso, John muda o espaçamento das palavras em "The suuun is-up, the skyyy is-blue, It's beeeau ti-ful and sooo are-you", e a guitarra de George responde a suas frases lindamente, além da correspondente mudança na bateria de Paul, um verdadeiro clímax!! Merecedor dos aplausos que espontaneamente surgiram na gravação!! Estavam todos orgulhosos de seu trabalho, com razão! Pena que Prudence Farrow, a homenageada, que teve ninguém menos que um John Lennon entrando em seu quarto tocando violão, acompanhado de um Paul McCartney e de um George Harrison, entoando uma canção especialmente feita para ela, mas não ouviu nada, não abriu os olhos, não foi brincar, não viu o céu, não sorriu, porque estava em transe, e só foi ouvir a canção após seu lançamento oito meses depois, e ficou encantada para todo o sempre. Claro que, com tanta dedicação ao processo, ela virou doutora em Meditação Transcendental e pregou a técnica a vida toda. 

Aqui, The Analogues, imitando à perfeição! O som está sobre um vídeo que acomapanhava sua exibição no palco. Aí você pode imaginar que é John no vocal, George na guitarra, Paul no baixo e ... Paul na bateria. O som está idêntico! 

Aqui, uma excepcional versão de Alanis Mourisette num tributo a John Lennon, note que palco grandioso, note uma 'slide guitar' magnífica, e note que o guitarrista não fez o dedilhado de John. É difícil!

aqui, mais um brinde, com a sequencia de baixo, muito similar à de Paul!!

E  aqui, um brinde final, Alice Green, com o dedilhado de John, e um pouco da guitarra de George, com uma ótima edição e interpretação!

 

7 comentários:

  1. Curioso saber que Prudence, inspiração da canção dos Beatles - _Dear Prudence_, era irmã de Mia Farrow, e nem prestou atenção na música feita para ela, por estar completamente drogada...

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    1. Uma correção importante!
      Ela não estava sirgada!
      Nenhum deles estava!
      Ela estava em transe hipnótico profundo que ela atingiu por meditação!

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  2. Grande post, super interessante, "Dear Prudence" é uma ótima e brilhante canção que abre o maravilhoso "Álbum Branco", pena que o Ringo não participou, Eu sinseramente me arrepio nessa faixa, gosto muito ��

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  3. Muito interessante , não sabia que Prudence é irmã de Mia

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  4. Tenho quase certeza que ela ouviu a música sim. Eu li uma entrevista dela sobre o assunto. Faz tanto tempo que não sei os detalhes. Mas para mim ela disse que gostou demais da música. Me pareceu que a ouviu ali mesmo na India. Não tenho como afirmar. Sei que ela costuma fazer palestras e sempre conta a história de como serviu de inspiração logo para quem. Amou a experiência.

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  5. Fui procurar. Ela até escreveu um livro sobre isso. Pelo que entendi agora a música não foi cantada lá não. Realmente ela só a ouviu depois de gravada no disco. Mas John e George entraram uma vez no seu quarto e cantaram Ob la di Ob la da para ela. E ela ouviu e gostou muito. Ela se deu muito bem com os dois. Não se envolveu muito com Ringo e Paul, mas realmente conversava com John e Paul. Acho que a música foi feita depois que saíram da India. Pode até ter sido lá, mas eles não a cantaram para ela enquanto estavam lá.

    Ela disse algo que bateu comigo, que é o que penso. I think besides being great musicians, [the Beatles] really resonated on the level that they were going through and saying what we were all feeling, so they were kind of a voice [for] a lot of us.

    É o que sempre senti. Foram muito além da música.

    Isso aqui também é muito bacana. I liked them because they were on the same wavelength in many ways. They went through a lot of what we all were going through, and they were saying the same stuff. They were very real, all four of them. I think I said in the book that Maharishi wanted to put them in their own dining room because he didn’t want them to be disturbed. And they said, “No, we want to be with everybody else and be treated the same.”

    Eu nem sei se você aceita colar aqui outras matérias...E eu nem mesmo traduzi. Se não for permitido me informe e perdoe porque eu não sei ses pode ou não. Achei relevante devido ao ser texto ser sobre ela. Ou melhor, sobre a musica composta para ela.

    Eu ainda não entendi bem como foi que eu não estava lá também. Grande erro do roteiro da minha vida. :)

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